Fig. 01 – Projeto da Catedral de Porto Alegre – RS - Jesus Maria CORONA 1919.
BECKER, D. João. A Cathedral Metropolitana de Porto Alegre. Sétima Carta Pastoral. Porto Alegre : Selbach, 1919. 73p.
O Romantismo reagiu à crença absoluta na Razão humana, e propôs, no seu lugar, a ênfase na Emoção humana. O movimento deflagrado no movimento “Sturm und Drang” pelos jovens da geração de Johann Wolfgang GOETHE (1749-1832), , foi buscar as raízes desta Emoção e seu poder no seu próprio povo originário. Colocava esta Emoção de raízes étnicas em oposição da busca do ideal da Razão que se dizia emanado da Grécia de Péricles. A catedral gótica medieval criou uma genealogia historicista que se tornou visível no Gothic Revival de Eugène Emannuel VIOLET-LE-DUC (1814-1879). Este Gothic Revival substituia a genealogia gerada a partir de Winckelmann[1] nos seus estudos do mundo clássico greco-romano.
O imigrante europeu trouxe a sua cultura originária na sua mudança ao Novo Mundo. Nesta cultura historicista - das novas nações surgidas das imposições advindas da 1ª era industrial - constava como um dos pontos basilares a retomada dos valores de um povo do qual este imigrante se julgava herdeiro étnico e reivindicava as suas raízes culturais dos antigos habitantes da Europa.
Na América o estudo e as obras[2] de Violet-Le-Duc concritizaaram-se na construção da Catedral de São Patrick de Nova York[3] , iniciada em 1858 e conclusão 1878. No Brasil as catedrais de Petrópolis – RJ, iniciada em 1884, da Sé de São Paulo – SP (1913) e de Petrolina-PE (1925) falam desta tradição da identidade do poder originário que se contrapunha aos modelos estatais anteriores. No Império brasileiro este período anterior significava o Neo-clássico da Missão Artística Francesa. Missão forjada no Império Napoleônico que havia racionalizado mitificada a sua origem na Grécia Classica para impor a Razão e a ordem no caos da Grande Revolução. Os pais da revolução americana haviam optado pelo Neo-Clássico para sua futura capital. Nesta opção foram seguido pelos estados regionais. O Romantismo substituía esta Razão pela Emoção. As ordens gregas deram lugar às vertigens das alturas e a desproporção intencional com a pessoa humana
Como ministro em Weimar, Goethe estava muito bem informado em relação ao Brasil por meio do seu amigo Carl MARTIUS (1794-1868). Contudo, a construção de templos góticos Brasil, foi entravada pelas dificuldades iniciais e adaptação dos europeus à nova terra. Isto não impediu a construção das suas residências e benfeitorias na sua forma vernacular do enxaimel de sua origem.
No Rio Grande do Sul o projeto da Catedral Metropolitana[4] de Jesus Maria Corona (1871-1939) e não realizado, foi antecedido pela obra de João Grünewald, com formação na Catedral de Colônia DE.
Fernando Corona (1895-1979) publicou em relação a Johann Grünewald
“Um ponto que me parece culminante e característico na arte de construir pela influência que trazia, é a existência, entre nós, de Mestre João. Foi ele o admirável artífice de nome Johan Grünewald, nascido a 24 de maio de 1832 em Königswinter, perto Bonn, na Alemanha, que executou pela vez primeira no Rio Grande do Sul o estilo gótico. Em 25 de outubro de 1861 emigrou para o Brasil este homem artista de personalidade marcante. Fez seu estudos de 1855 a 1861 em Colônia, recebendo o título de “Dombaumeister” (Mestre em Construção da Catedral). Especialista no estilo gótico, o título lhe dava categoria de projetista, construtor e talhista em cantaria de pedra grês.
Ao chegar a este Estado, agosto de 1862, tendo estagiado um tempo em D. Francisca, Santa Catarina, foi para São João do Montenegro onde montou uma oficina de cantaria. Vê-se logo que ele procurava matéria prima, a pedra grês, e a encontro abundante e macia naquela região do Estado. Johann Grünewald – Mestre João – como aqui foi chamado, trabalhou primeiro em pequenos túmulos no estilo que ele sentia, até que foi requerido em São Leopoldo para projetar a igreja católica.. Iniciou, assim, seu primeiro trabalho com arquiteto e como construtor. Também projetou e construiu até o Colégio dos padres jesuítas. Especializado no estilo gótico, Mestre João não se adaptou ao meio-ambiente tradicional da nossa arquitetura barroca; pelo contrário, imprimiu em todos os seus trabalhos saudades de sua querência.
Os trabalhos deste admirável artífice, e possivelmente seu corretor proceder, chamaram a atenção do Bispo Dom Sebastião Dias Laranjeira. O Seminário de Porto Alegre estava em construção. Em 1865, o engenheiro francês Mr. Villain, encarregado das obras hidráulicas da cidade, foi contratado pela Cúria para projetar o grande edifício. O local seria o dos fundos da igreja matriz, com divisa pela rua do Arvoredo. Com o terreno de pronunciada declividade. O engenheiro Villain resolveu magnificamente a posição do edifício, traçando palacianamente uma escadaria de composição dupla, dando-lhe aspecto magnificamente, como era clássico em obras mounumentais.
Com o falecimento de Mr. Villain, em 13 da agosto de 1888, quando as obras estavam bastante adiantadas, o Bispo Dom Sebastião contratou o arquiteto Grünewald, mestre canteiro, para dar feliz termo a obra tão importante. Mestre João não levou muito em conta o projeto inicial de Mr. Villain, de barroco palaciano, sem maiores valores em detalhes; pelo contrário, ele terminou a obra em estilo gótico, á sua maneira, usando pedra gres em balaustradas, consolos, capitéis e outros ornatos colocados sobre a alvenaria de tijolo rebocado que lhe emprestam, no entanto, certa expressão sem lhe roubar a harmonia do conjunto.
De Grünewald são ainda muitos monumentos góticos em pedra gres do Cemitério Alemão, como o são também dos renanos Miguel e Aloys Friderichs. A igreja católica do menino Deus e a evangélica da Rua Senhor do Passos, são também da autoria do Mestre João.
Conservou sempre saudades da sua querência impressas no estilo gótico vivido na catedral de Colônia. Faleceu em 15 de abril de 1910, aos 78 anos de idade, dedicando quarenta e oito anos incompletos à coletividade rio-grandense”. Corona, 1968, pp.153/5
CORONA, Fernando Cem anos de formas plásticas e seus autores. in Enciclopédia Rio-grandense – O RIO GRANDE ANTIGO [2ª ed] Porto Alegre : Livraria Sulina 2º volume 1968, pp.140 – 161
[1] WINCKELMANN, Johannes Joachim (1717-1768). Historia del Arte en la antigüedad. Con un estudio crítico por J.W.Goethe. Introducción y traducción del alemán por Manuel Tamayo Benito. Madrid : Aguilar, 1955. 1285p.
[3] - http://en.wikipedia.org/wiki/St._Patrick
+ IGREJAS em NOVA YORK
http://www.nytimes.com/slideshow/2009/12/24/arts/20091225_CHURCH_SLIDESHOW_index.html
[4] BECKER, D. João. A Cathedral Metropolitana de Porto Alegre. Sétima Carta Pastoral. Porto Alegre : Selbach, 1919. 73p.
http://www.panoramio.com/photo/14819512
O mestre João iniciou, 1865, esta nova tipologia na matriz de Nossa Senhora da Conceição e Seminário de São Leopoldo[1], a continuou, em Porto Alegre, na Cúria Metropolitana na igrejinha do Menino Deus[2] e na torre inaugurada em 07.09.1902 da igreja Luterana da rua Senhor dos Passos[3].
No interior do Estado, o gótico historicista teve fortuna nas obras da igreja de Venâncio Aires, iniciada em 1884 com projeto de Simão Gramlich e da catedral de Santa Cruz do Sul (1928-1977)[4] e tantas outras.
[3] - O corpo do templo havia sido iniciado em 1865. Porém devido a constituição do Império, só com a República os templos luteranos puderam construir torres e conter sinos.
O Pastor Gottscald, com Jardim de Infância diante do templo em 12.12.1952
A tipologia do Gótico historicista uniu católicos e luteranos de forma ecumênica, como também aconteceu na conclusão da catedral de Colônia, símbolo da unidade alemã.
A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil de Novo Hamburgo, está em processo de tombamento da Igreja gótica da Ascensão iniciada em 1951
MUTIRÃO
O presente artigo é solidário com o MUTIRÃO de COMUNICAÇÃO AMÉRICA LATINA e CARIBE a realizar-se de 03 a 07 de fevereiro de 2010 na PUC-RS Porto Alegre –RS.
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