terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ARTE SACRA SUL-RIO-GRANDENSE - 09

JOSEPH FRANZ SERAPH LUTZENBERGER e o GÓTICO HISTORICISTA no RIO-GRANDE do SUL

Fig. 01 – Projeto para painel na Igreja São José – Porto Alegre - RS.

Aquarela original de Joseph Franz Seraph Lutzenberger

A simetria perfeita e absoluta- da composição acima- confere a coerência que arquiteto e artista plástico que Joseph Franz Seraph Lutzenberger [*1882 Alemanha +1951 Porto Alegre] demonstrou na detalhada criação na igreja São José de Porto Alegre. A figura central do Cristo é o fiel desta balança. Como no sistema solar as demais figuras estão imantadas num núcleo de um átomo que distribui a sua energia em todas as direções. As figuras que orbitam ao redor do núcleo da composição devolvem, pela direção dos seus olhares e seus gestos, esta energia ao Mestre no centro da composição. LUTZENBERGER escolheu o equilíbrio da balança Para a arte, o design e a arquitetura gozar o direito de coabitar pacificamente na mesma mente, coração e ação de um único indivíduo da espécie humana.


LUTZENBERGER representa a culminância e o equilíbrio de uma série de experimentos plásticos e visuais que remetem ao final das tipologias e parâmetros conceituais do gótico historicista no Rio Grande do Sul e abrem novos desafios para a sua própria contemporaneidade. Ao conceber - e trazer para o seu presente - o projeto da igreja São José de Porto Alegre ele conseguiu unir o pintor, o arquiteto e o designer numa única obra e pessoa como o haviam realizado os construtores das catedrais góticas históricas. LUTZENBERGER é do tempo no qual a arte, o design e a arquitetura gozavam o direito de coabitar pacificamente na mesma mente, coração e ação de um único indivíduo da espécie humana.


Assim JOSEPH LUTZENBERGER sublinhou a sua própria etnia e cultura germânica enraizada e cultivada há um século antes da ação deste intelectual artista em solo sul-rio-grandense. A igreja de São José de Porto Alegre celebra e marca o centenário [1825-1925] da presença desta comunidade na cultura e arte sul-rio-grandenses. É o que proclama a placa de bronze colocada face ao templo.

Fig. 02 – Igreja São José – Porto Alegre - RS.

Projeto de Joseph Franz Seraph Lutzenberger

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/25/Igreja_S%C3%A3o_Jos%C3%A9111.jpg



Não é por acaso que o sonho da noivas é reunirem o melhor da sociedade porto-alegrense neste ambiente e terem como cenário esta obra de arte única e coerente deste mestre da coerência entre a vida e a arte.



Apesar do prestígio, continuado no presente, anda não possuímos ainda o´catalogue raisonné` da obra de Joseph Lutzenberger[1] e nem o distanciamento no tempo para sentir e avaliar o potencial futuro das circunstâncias de sua obra.



Como intelectual deu, até os últimos dias de sua vida, aulas no primeiro Curso Superior stricto sensu de Arquitetura do Rio Grande do Sul[2].



Este bávaro é do tempo no qual a arte, o design e a arquitetura gozavam o direito de coabitar pacificamente na mesma mente, coração e ação de um único indivíduo da espécie humana. Além da igreja São José os prédios do Pão dos Pobres e do Palácio do Comercio de Porto Alegre, e tantos mais, testemunham esta unidade estética possível.



As suas lições de vida, deste bávaro que adotou o Rio Grande, brotaram e se desenvolveram nos germens das obras da ciência e da ecologia em seu filho ecólogo José Antônio Kroeff Lutzenberger (1926-2002) As duas filhas Maria Magdalena e Rosa Maria[3] enveredaram nas rotas das artes plásticas e educação. Assim podemos intuir o alcance do projeto civilizatório do pai Joseph que pautava a sua vida domiciliar pela sensibilidade humana e a arte. Cientista, ecólogo e educadoras pela arte os seus filhos seguiram os exemplos recebidos no lar, e por sua vez, como adultos, souberam dar o melhor de si mesmos.



Não há como esquecer que esta obra luminosa e humana teve como contraste desumano as sombras da 1ª Guerra Mundial. Na 2ª Guerra Mundial carregou o estigma que todo germânico carregou nas terras brasileiras neste período do Estado Novo. Contudo a sua obra foi capaz de superar e curar estas graves feridas e suspeitas infundadas. Obra que fala da competência pessoal do seu autor no meio da gente e nas terras sul-rio-grandenses nas quais veio exercer a sua arte como forma que transcende as misérias e os limites que cada criatura humana necessita carregar.



Além desta personalidade individual Lutzenberger trouxe um halo cultural da sua terra natal. Técnicos em arte e artesanato bávaros formaram em Porto Alegre, ao seu redor, um halo de profissionais que aqui desenvolviam as técnicas artísticas no vidro, na cerâmica, na pintura decorativa que haviam apreendido nas Escolas Técnicas sua Bavária. Passou adiante os seus sólidos ensinamentos para a nova geração no Instituto de Artes e nos seus projetos profissionais. Passaram pelos seus ensinamentos estudantes como Iberê Camargo[4] e Ernesto Frederico Scheffel[5] .



Como erudito JOSEPH LUTZENBERGER sabia que não podia repetir soluções plásticas de outros tempos e artistas. De outra parte havia necessidade de trazer - para a sua própria contemporaneidade - valores que transcendem pessoas e as suas circunstâncias. Como erudito mesmo tempo recria- no seu repertório em Porto Alegre - do artesanato da “Art and Craft” e dos pintores “Nazarenos” em voga no início do século XX na sua Baviera de origem. O clima gerado pelos múltiplos e coerentes projetos desta obra é inteiramente favorável aos signos mais caros à tradição germânica e herdados do “Ora et Labora” dos mosteiros beneditinos.




[2] : No 10 de dezembro de 1938 Joséph Lutzenberger inscreveu-se para concurso de professor contratado pelo Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul para lecionar no Curso Técnico de Arquitetura, onde teve como aluno Iberê Camrgo. Lecionou Arte Decorativa para o Curso de Artes Plásticas. Entre 1947 e 1950 leciona ‘Sombras Perspectiva e Estereotomia’ (2º ano) e ‘Composição Decorativa’ (3º ano) Do Curso Superior de Arquitetura do IBA No curso de Arquitetura foi sucedido por Luis Fernando Corona. No Curso Superior de Artes Plásticas, na disciplina de Arte Decorativa, foi sucedido por Aldo Locatelli. Após ,a morte precoce deste, pela sua filha Rosa Maria Kroeff Lutzenberger.

[3] - Ambas concluíram, em 1948, O Curso Superior de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.

[4] - Iberê Camrgo foi estudante, de 1939 do Curso Técnico de Arquitetura do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul que concluiu em 1941. Conheceu a sua esposa Maria Coussirat , no Curso Superior de Artes Plásticas do Instituto,onde se formou em 1940.

[5] - Scheffel é formando do ano de 1946 do Curso Superior de Belas Artes do RS

Fig. 03 – Seminário – Cúria e Antiga Matriz de Porto Alegre - RS.

Aquarela de Joseph Franz Seraph Lutzenberger

http://www.lutzenberger.com.br/porto_alegre_antigo_29.htm



Para conhecer outras dimensões de Lutzenberger recomenda-se

http://www.lutzenberger.com.br/ Uma criação numérica digital que se deve ao trabalho de Leandro SELISTER do http://www.artewebbrasil.com.br/




O presente artigo é solidário com o MUTIRÃO de COMUNICAÇÃO AMÉRICA LATINA e CARIBE a realizar-se de 03 a 07 de fevereiro de 2010 na PUC-RS Porto Alegre –RS.

http://muticom.org/cultural/

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