sábado, 31 de janeiro de 2015

ESTUDOS de ARTE 006

AQUELE que APRENDE COMANDA o PROCESSO.
Foto colorida, da aula de  um professor russo  registrada em 1912  do fotógrafo  Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorsky (1863-1944).
Fig. 01 – Os seres vivos buscam os meios de seu pertencimento e de sua aceitação no seu grupo, na sua etnia ou na sua cultura.  . Quanto mais complexa, antiga e elaborada, esta cultura, tanto mais demorado e difícil é este processo. Esta complexidade diversifica, ao mesmo tempo,  as concepções, as metodologias e os resultados das necessárias escolhas. No centro deste processo está a transferência, reelaboração e reprodução do acúmulo realizado por uma geração para uma nova geração que deseja conhecer, continuar e reproduzir este saber acumulado. A transmissão oral, fundada sobre códigos escritos,

Todos os sistemas de ensino centram a sua atenção sobre quem aprende. Atenção magnetizada em torno do ESTUDANTE transformado em OBJETO do seu SISTEMA. Atenção centrada na  profissionalização deste candidato a estudante num sistema onde ele necessariamente deverá ser feliz e totalmente realizado. 
Em educação isto só é possível quando alguém está dominado totalmente, anestesiado e se entrega incondicional e totalmente a quem de fato e eternamente pode propiciar estas circunstâncias absolutas. Em conclusão não existe esta realização e felicidade plena, muito menos no processo ensino-aprendizagem.   
Fig. 02 –  Apesar de toda complexidade, antiguidade e sofisticação de cultura o seu conhecimento, a sua aceitação e sua reprodução são de responsabilidade de cada ser humano. Desconhecer, transferir para outro ou se colocar na heteronomia - em face desta responsabilidade -  significa também abdicar da sanção moral, intelectual e econômica das suas ações e obras. Algo inaceitável para a autonomia de um autêntico artista.
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Isto é completamente distinto de transformar o estudante em SUJEITO de sua APRENDIZAGEM e capaz de deliberar e decidir sobre as suas competências e os seus limites.
O ESTUDANTE como OBJETO do SISTEMA é a norma da ESCOLA na ESCOLA INDUSTRIAL SUBMETIDA ao RELÓGIO, a LINHA de MONTAGEM e a ACUMULAÇÃO de ESTUDANTES, de RECURSOS e  de AGENTES num ÚNICO LUGAR. Este PROCESSO e este ACÚMULO destinam-se a realizar as tarefas ditadas por uma distante e  impessoal LINHA de DESIGN. O ESTUDANTE como OBJETO do SISTEMA é reino dos  atravessadores, dos mediadores e dos marqueteiros. Estes usam o seu PODER acumulado para comandar, por cima e por fora,  OBJETO do SISTEMA. Comandam ao estilo de LINHA de MONTAGEM. Os seus  GERENTES controlam e distribuem os lucros materiais e simbólicos nos critérios dos seus interesses. Este processo inclui a OBSOLESCÊNCIA PROGRAMAD. Quando os lucros cessam desativam esta LINHA de MONTAGEM escolar deficitária economicamente.
Fig. 03 – O chão da fábrica transformada em sala de aula. O desenho das tarefas vem de cima e voltam ao seu controle no final do processo. A cada estudante é separado rigorosa e geometricamente do seu colega. As tarefas cumprem-se  em silêncio e sem comunicação sob os ponteiros implacáveis do ponteiros ou dígitos do relógio Impensável para a formação da autonomia criativa e cultivo da deliberação e decisões a partir do estudante

Se a mesa e a gastronomia forem tomadas como índices significativos da cultura humana o fenômeno da industrialização, sua distribuição e consumo foram profundamente afetados pela era e os métodos da linha de montagem. Os produtos servidos nos fast-food, nos Mcdonalds foram modelados pelas receitas de  Frederick Winslow TAYLOR. A personalização dos produtos está fora de questão. O mesmo fenômeno ocorreu na Arquitetura na qual a era industrial tornou impossível personalizar, residências, aeroportos, prédios de fábricas sob pena de ficarem a margem do mercado imobiliário padronizado. Porém todos os produtos da era industrial carregam - profundamente no seu DNA - o processo da obsolescência programada. Os produtos da era industrial dependem desta obsolescência pois não seria possível surpreender o cliente com a moda da próxima estação.
Na medida em que as instituições escolares aderem a esta era industrial caminham para a concorrência e para surpreender os seus clientes com “produtos novos, diferenciados e originais”. O estudante é mero detalhe e só estorva esta lógica na medida em que desejar ser sujeito deste processo. Joseph Beuys deve ser esquecido,  considerado com falha e rejeito desta linha de montagem artística.
Fig. 04 –  A aprendizagem coletiva da ARTE, apesar de ser um momento altamente pessoal, encontra estímulo positivo no pertencimento a um grupo que trabalha no mesmo sentido. O único a compreender este esforço é o concorrente que trabalha lado a lado com este aprendiz e capaz de distinguir aquilo que diferencia os resultados finais de cada participante destes grupos.
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A aprendizagem das artes não escapou a este paradigma unívoco e linear. Os que não se enquadram são os naturais rejeitos ou sobras desta linha de montagem industrial.  O modelo das teses de Taylor (1980), a bem da verdade, nunca foram aplicadas de forma ortodoxa e canônica no processo ensino-aprendizagem das artes. Grandes e expressivos artistas contornaram a escola formal e coletiva.
Karl Wilhelm  STRECKFUSS (1817-1896) - Atelier de artista – 1860 - aquarela
Fig. 05 –  A condição do artista visual permite a sua concentração no processo da criação individual e garantir as condições da  permanência física da sua obra.    Este espaço individual situa-se entre o SER do ARTISTA e o MUNDO EXTERNO a qual o artista criador destina a sua criação. Na concepção da era industrial é o LABORATÒRIO EXPERIMENTAL entre a mente criadora da cientista e a aplicação TECNOLÓGICA nas linhas de montagem da fábrica. Assim uma das primeiras providência de quem quer estudara arte é ter o seu ATELIER.

Com a ERA PÓS-INDUSTRIAL é possível retomar as experiência da aprendizagem das artes a partir das provocações de um Joseph BEUYS ou as experiências ao modelo da ESCOLA de BARBIANA. Esta escola ou estética prepara a criatura humana para ser  capaz de lidar com diversos contraditórios e paradigmas.
Com o final da era industrial e as novas estruturas familiares, diminuição significativa o de filhos nos núcleos familiares. Externamente os processos de acompanhamento decorrentes da era digital, das descobertas e aplicações genéticas geraram novas circunstâncias nos processos de ensino-aprendizagem.
Fig. 06 –  A mitificação de uma obra de arte e o seu uso na pós-modernidade mostra o papel do observador, do trabalho e da fortuna das instituições e dos seus agentes profissionais. É o espaço da indústria do ócio e do lazer.  A potência da obra consiste neste peregrinar através do ESPAÇO (Weltgeist)  e do TEMPO (Zeitgeist) levando os seus múltiplos significados e os distribuindo para os mais diversos repertórios dos públicos(Volksgeist) que encontra no seu caminho.
  
Os programas de pós-graduação e os seus processos que orbitam ao redor do núcleo “orientando-orientador” mostram na prática estas novas circunstâncias.
O confronto com sistemas antagônicos abre possibilidades para as deliberações e decisões. Evidente que em qualquer sistema de ensino-aprendizagem sempre cabe o conhecimento pleno das possibilidades e os limites de diversos sistemas Conhecimento imensamente facilitados pela logística, estratégias e táticas provenientes das atuais de informações e tempo real.
Fig. 07 –  O taylorismo  é levado ao extremo no ensino de arte na atual China que une a era industrial de forma eclética com a pós-modernidade. Uma cultura que mitifica a obra de arte e seu uso reduz-se a treino de técnicas e valores estereotipados pelo marketing e propaganda de massa e ideologias.  Neste caso o MITO da ARTE como obra manual de um GÊNIO é NATURALIZADO pela sua produção em série industrial sob o comando da era digital. O estudante de arte, submetida a estas condições ecléticas, não pode esperar mais do que assimilar treinamentos técnicos.

As concepções socráticas ao redor dos conceitos e praticas da MAIÊUTICA foram continuadas na etimologia de “E-DUCERE” latina. O processo exige trazer algo do MUNDO interior ao MUNDO externo. Portanto é da competência de quem é sujeito deste parto ou nascimento
A História da Arte permite ao estudante contemplar o campo estético e perceber o que já foi realizado, o que é caduco e não é mais possível criar. 
Fig. 08 –  A individualização a projeção do repertório pessoal resultante da acultura de consumo  e acumulações compulsivas gerou estereótipos de instalações com as quais as concepções de Marcel Duchamp (1991) pouca tem a ver. A meia cultura adotou estas concepções mal digeridas e apressadamente  reproduziu no fazer inclusive em  escolas. Resultaram trapalhadas e acumulações, desta pressa no FAZER,  que não ultrapassam o mundo empírico além de serem realizados em ambientes canônicos de outros tempos.

 Os longos e subliminares hábitos sociais, políticos e econômicos precedem, evidentemente, estas deliberações e decisões dos estudantes. Nestes ambientes o MITO torna-se necessário nas concepções de Rollo May (1992)
Na educação - conduzida no âmbito da era pós-industrial - o principiante enfrenta um complexo acúmulo das informações, de diferentes testemunhos presentes nos meios numéricos digitais.  Para enfrentar se mover e construí a sua formação nestas circunstâncias o historiador Carlo Ginzburg alerta para a  necessidade de um projeto, pessoal e coletivo, para este:

A qualidade do fenômeno não é nova. O que importa é como lidar com a quantidade de informação disponível na Internet. Em primeiro lugar, há o problema de não ser esmagado pela imensidão dos dados e, em segundo lugar, de como lidar com as informações, fazendo perguntas relevantes e evitando as superficiais antes de se encontrar as respostas já criadas[1]

Torna-se penosa e temerária a ruptura com os padrões vigentes em culturas periféricas e com pouca tradição de uma sólida e experimentada  liderança cultural, simbólica e econômica. De outra parte nestas frágeis culturas e sem respaldo conceitual é temerário e arriscado qualquer discordância ou conflito com o modo de pensar do senso comum. Nelas é necessário ler e aplicar as concepções de Nietzsche (2000) que pede aos seus leitores muita atenção no que está assimilando, não o misture o OUTRO com o se próprio repertório pessoal e não os transforme logo, e de forma impulsiva, em projetos do FAZER.



[1]GINZBURG historiador analisa impactos da Internet: “Na rede, há o problema de não ser esmagado pela imensidão de dados”. In CORREIO do POVO ANO 116 Nº 61 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2010 p.18 Geral

http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=61&Caderno=0&Noticia=228609




Fig. 09 –  As condições da democracia na concepção de Joseph Beuys, estampadas numa sacola de supermercado. Certamente a DEMOCRACIA NÂO EXISTE. Ela existe e toma corpo nas suas expressões como deste artista.    As EXPRESSÔES de DEMOCRACIA se evidenciam nas medida em que enfrenta o contraditório da NÃO DEMOCRACIA .

Mary Parker Follet afirmou (in Carvalho, 1979) que no  Conflito Construtivo as divergências são extremamente importantes porque revelam uma diferença de opinião que cedo ou tarde se manifestará, de forma danosa ou não. Na educação ela enfatiza a importância e a responsabilidade de que cada ser humano seja competente para REPRESENTAR em SI MESMO o TODO a que PERTENCE. Uma obra de arte, por mais hermética, inútil ou pessoal que seja ela é portadora, no mínimo de sua forma, do máximo do seu TEMPO, LUGAR e seu AUTOR. Traz a força de uma célula viva na concepção de Maturana (1996). É da competência deste organismo vivo  interagir por meio da membrana formal, selecionar aquilo que é da sua natureza intrínseca e eliminar aquilo que não é.
Fig. 10 –   Francisco Brilhante (1901-1987), depois de sua formação na Escola de Arte do IBA-RS e uma rápida passagem pelo Rio de Janeiro,  enfrentou solitário a ação de praticar a sua arte a vista de todos. Democratizou esta ação em  Porto Alegre transferindo o seu atelier para onde estava o povo.  Rompeu com o mito do ARTISTA GÊNIO ou SAGRADO, contudo não renunciou a estar vestido como para uma festa.  Estava livre de patrões, de mediadores e de atravessadores, afirmando assim a sua autonomia.

O exercício e os trabalhos do processo ensino aprendizagem necessitam afastar-se tanto da MITIFICAÇÃO com da NATURALIZAÇÃO. Esta MITIFICAÇÃO é terreno fértil de ideologias. Ideologia que é império  dos  atravessadores, dos mediadores e dos marqueteiros que prometem o que não conseguem concretizar e entregar ao estudante. Enquanto a NATURALIZAÇÃO é o retorno ao mundo da entropia, do caos primordial e a barbárie do mais forte ou esperto.
O ARTISTA de RUA em AÇÂO em PORTO ALEGRE no dia  04.04.2014
Fig. 11 –  Os continuadores da obra de Francisco Brilhante em ação na Rua da Paria de Porto Alegre. O artista sabe que ele precisa estar onde está o povo numa concepção democrática.  Com este gesto rompe o mito do ARTISTA GÊNIO ou SAGRADO.  Este afirma a sua autonomia Na medida em que ele estiver consciente em praticar esta ação, e não se deixar corromper pelo aplauso ou deixar se abater pela desconsideração. Evidente qu esta autonomia resulta de sua formação e do convívio e interação com os demais artistas. Porto Alegre contava, em 2014, com um time de 12 praticantes desta autonomia.

Superado o surto da  MITIFICAÇÃO do NOME do ARTISTA não é possível a sua  NATURALIZAÇÃO que é reino do “ECLETISMO refúgio de todas as covardias”  na concepção de Mario de Andrade (1955).
Ainda que o artista disponha das técnicas manuais, os recursos da produção industrial e o acúmulo das informações da era pós-industrial nada o livra da INTEGRIDADE INTELECTUAL, ESTÉTICA  e ECONÔMICA.  A sanção moral, intelectual e material dos seus atos e obras o impulsiona a fazer o caminho ainda que “não haja caminhos” nas trilhas do poeta Antônio Machado (1995).

FONTES BIBLIOGRÁFICAS.
ANDRADE, Mário.  Curso de Filosofia e História da Arte. São Paulo: Centro de Estudos Folclóricos,1955. 119 f.

CARVALHO, Maria Lúcia R.D.  Escola e Democracia. Subsídios para um Modelo de Administração segundo as Ideias de Mary Parker. Follet (1869-1933).  São Paulo: E.P.U. Campinas, 1979. 102p.
MATURANA R., Humberto (1928-) e VARELA. Francisco(1946-).El árbol del          conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid: Unigraf. 1996, 219p.

DUCHAMP, Marcel, «L’artiste doit-il aller a l‘université?» in Duchamp du signe. Paris:  Flammarion 1991
GINZBURG, Carlo  “historiador analisa impactos da Internet: “na rede, há o problema de não ser esmagado pela imensidão de dados”. In CORREIO do POVO ANO 116 Nº 61 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2010 p.18 Geral
http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=61&Caderno=0&Noticia=228609
MACHADO, Antonio. «De Campos de Castilla» in .Antología poética. Madrid: Alianza. 1995.  pp.31 – 70.

MAY, Rollo.  La necesidad del mito: la influencia de los modelos culturales en el mundo  contemporáneo. Barcelona: Paidos Contextos, 1992. 297p.

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900) Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.      

TAYLOR , Frederick Winslow (1856-1915).  Princípios de administração científica.           7. ed.  São Paulo: Atlas, 1980, 134 p.

FONTES NUMÉRICO-DIGITAIS.
A ARTE e CRIANÇA conforme Herbert READ (1893-1968)

ARTE e POBREZA

ESCOLA de BARBIANA

ENSINO MÚTUO – Escolas

DECLINIO da ARTE na GRÃ BRETANHA?

FABRICA de ARTISTAS

GORSKY –   Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorsky (1863-1944).  fotos cor 1912

IMAGENS UNIVERSITÁRIAS

MAIÊUTICA

Mary Parker. Follet(1869-1933). 

POSSIVEL INOVAR  por meio de TRADIÇÂO ALHEIA ?

PRÁTICA DEMOCRÁTICA na ESCOLA
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Referências para Círio SIMON








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