As IMAGENS e o MAIO
de 1968
SUMÁRIO
01 - O MAIO de 1968 como
um EVENTO do PASSADO materializado na IMAGEM
- 02 RAZÕES para EVOCAR o MAIO de 1968
- 03 O MAIO de 1968 como um dos SIGNOs da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL EMERGENTE - 04
O ANTES e DEPOIS de MAIO de 1968 – 05
O MAIO de 1968 possui por LOCUS a
UNIVERSIDADE - 06 A UNIVERSIDADE BRASILEIRA e o MAIO de
1968 - 07 As ARTES no CONTEXTO do MAIO de 1968 - 08 APÒS o MAIO de 1968 CONTROLA-SE a RUA e se CRIPTOGRAFA a ECONOMIA - 09 -A REAÇÃO ao MAIO de 1968 - 10
O USO das IMAGENS SIGNIFICATIVAS no MAIO de 1968 11
-- O QUE de FATO MUDOU ao LONGO o ANO de 1968 - 12 -
TESE, ANTÍTESE e SINTES do MAIO
de 1968 - CONCLUSÕES – SEIS ANEXOS - FONTES BIBLIOGRÁFICAS e DIGITAIS
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 01 – A mentalidade da ERA INDUSTRIAL modelou o pensamento e os julgamentos
políticos, econômicos e sociais dos agentes da manifestações de Paris em maio
de 1968. O cartaz
evidencia a lógica da linha montagem do
sistema industrial orientada para uma ENTRADA
– ELABORAÇÂO- DESCARTE com vistas aos
PRODUTOS FINAIS rigorosamente iguais entre si num estreito padrão de qualidade.
- 01 - MAIO de 1968 como um EVENTO do PASSADO materializado na IMAGEM.
Os eventos do MAIO
de 1968[1]
evidenciaram as forças subliminares que
estavam movendo a cultura da ERA INDUSTRIAL em direção das circunstância da
ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL. No entanto um EVENTO do PASSADO, como o
MAIO de 1968, não se repete. O que permanece é o pensamento. Na
concepção de Le Corbusier (in
Boesiger, 1970, p.168) [2] “Nada é transmissível a não ser o pensamento”. A IMAGEM é o mais duradouro
suporte deste pensamento. O pensamento dos homens das cavernas, do mundo
egípcio ou dos incas nos é contemporâneo nas
IMAGENS que produziram nestes períodos remotos. Então é justo que as
IMAGENS do maio de 1968 mereçam a devida atenção, estudo e hermenêutica.
A HISTÓRIA NÃO SE REPETE a NÃO SER na FORMA
de uma FARSA. Nem mesmo como ENTE separado de uma civilização a EXISTE HISTÓRIA.
O CAMPO DE FORÇAS - do que se denomina de HISTÓRIA - trabalha nesta civilização
com expressões e manifestações que são
agrupadas em narrativas. Narrativas que se alimentam das migalhas, dos eventos ou
de simples mitos. Mitos que permanecem na memória humana como significativas de
um ideal ou de um ente primitivo denominado
HISTÓRIA. Ente primitivo que ganha materialidade nas suas imagens.
Um ESTADO ONIPOTENTE, ONISCIENTE,
ETERNO e ONIPRESENTE acionava o motor as narrativas geradas a partir dos mitos
da ERA INDUSTRIAL. Motor que fazia
funcionar a ESPERANÇA que estava naufragando no MAIO de 1968. Os eventos do
MAIO de 1968 buscam expor e desvendar este MITO e esta ESPERANÇA IMPONDERÁVEL
na INSTITUÇÃO UNIVERSITÁRIA.
Evidente que a mentalidade e os juízos dos próprios
agentes do MAIO de 1968 deviam um profundo tributo intelectual à lógica da ERA
INDUSTRIAL e esta UNIVERSIDADE. Os pensadores dos primórdios da ERA INDUSTRIAL
reconheciam este tributo e erigiram o SISTEMA INDUSTRIAL COM INDISPENSÀVEL para
manter aceso o motor da ESPERANÇA era
um ESTADO ONIPOTENTE, ONISCIENTE,
ETERNO e ONIPRESENTE. Assim tanto para Fichte (1984: 311) como
para Hegel (1980: 133), toda a ação
seria perigosa se não fosse vetorizada pela força coletivizadora sobre-humana do
ESTADO. Fica claro que a modernização do Estado nada tinha a ver efetivamente
com a democratização do Estado. No Brasil, o próprio Getúlio Vargas foi
explícito quando proclamou, no dia 08 de setembro de 1933, que “a chave de toda a organização política
moderna é a segurança e eficiência desse equilíbrio. Onde ele faltar, há
perturbação, entrechoques e dispersão de energias”. Esse equilíbrio, fixado
de antemão por cima e por fora e mantido pela segurança do Estado, só podia,
gerar uma universidade para ser mais um instrumento coletivizador e corporativo
a serviço da segurança do Estado e não da liberdade do cidadão.
Portanto todos os períodos não podem ser absolutos e
nem como último momento no tempo e no espaço. “Se fossemos tão inteligentes
como julgamos ser, já teríamos chegado à sabedoria” diria Sêneca[3]. Ou
habituar-se ao “exame do problema sob todos os ângulos” como Mao-Tse-Tung
prescrevia aos estudantes no seu Livro Vermelho, uma das bíblias ideológicas do
maio de 1968.
[2] BOESIGER, Willy . Le Corbusier Les Derniers œuvres Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, ,
v.8, 208 p.
[3] SÊNECA da TRANQUILIDADA
da ALMA p.16
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bk000487.pdf
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 02 – A lógica do funcionamento da ERA
INDUSTRIAL provocou um acúmulo de gente, de capital, de insumos, de maquinas e
dos modos de habitar Os eventos
do maio de 1968 evidenciaram esse acúmulo de gente nos meios
urbanos. Enquanto isto o MEIO RURAL se
DEGRADAVA e se ESVAZIAVA. Este MEIO RURAL
DEGRADADO e INTOXICADO pelos pesticidas, fungicidas, e plantas
transgênicas começou a preocupar os ecologistas e nutricionistas. Estes alertaram
que o MEIO RURAL era um lugar de venenos intensos e rejeitos dos produtos das
descobertas e aplicações do código genético em mãos e mentes nem sempre
preocupados com a ética, mas apenas com o lucro econômico.
02 - RAZÕES
para EVOCAR o MAIO de 1968.
O fugaz mês de MAIO de 1968 teve por
epicentro a INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA com alguns repiques entre o operariado
das fábricas francesas. No âmbito da INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA os movimentos do
MAIO de 1968 tiveram o mérito acender o interesse coletivo estudantil apesar dele saber que ele é passageiro e
desarticulado. A desarticulada e amedrontada INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA insistia
e arrastava os velhos hábitos MEDIEVAIS da ERA AGRÍCOLA. Se de um lado a lógica
pragmática - que comandava a ERA INDUSTRIAL - também era disfuncional e com
dias contados a lógica que comanda a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL. Estava nos leves
albores e engatinhava nos meios eletrônicos, nos computadores e os robôs estavam
longe de mostrar e evidenciar as suas potencialidades e os seus limites.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 03 – As engrenagens da ERA INDUSTRIAL
obsoleta não tinham mais sentido para uma realidade que se estava infiltrando
em toda s cultura humana cada vez sob o influxo da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL Porem
este caminho está num devir nebuloso no qual são visíveis os descartes sem que
tenha surgido um novo projeto que mereça
um contrato coletivo consistente para o trabalho humano.
O âmbito abafado da política nacional
brasileira do violento AI5, de dezembro
de 1968, somou-se com a REFORMA UNIVERSITÁRIA de 1968 na
EDUCAÇÃO. Os atos arbitrários do AI 5 e a REFORMA UNIVERSITÁRIA de 1968
exigiram a construção de um pensamento expresso no âmbito coletivo
institucional e não mais se refugiar nas intimidades alienadas da instituição.
A
UNIVERSIDADE BRASILEIRA tinha sido criada, em 1931, por um decreto de um
GOVERNO PROVISÓRIO. Este fato obrigou os
entusiastas do maio de 1968 a construir, no BRASIL, outra mentalidade diferente
do que estava acontecendo com universidades europeias consolidadas por séculos
de experimentos de toda ordem.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da
Biblioteca Nacional da França
Fig. 04 – A grafia, dos pichadores e dos grafiteiros tomou conta e se apropriou
de ruas, praças e prédios após o maio de 1968. Arruinou a logica visual
da Arquitetura e Urbanismo da ERA INDUSTRIAL. O que é evidente que as
imagem das ruas das cidades são completamente diferentes ANTES e DEPPOIS do
maio de 1968. Os pôsteres e os reclames de propaganda visual de empresas,
produzidos em série, deu lugar para as pichações e os grafites personalizados e
únicos. Evidente que não é possível estabelecer que os eventos do maio de 1968 foram
a causa deste movimento mundial. No entanto o ESTADO, após o maio de 1968, perdeu a iniciativa e o controle visual deste MEIO URBANO
DEGRADADO pelos cidadãos jogados na marginalidade pela ERA INDUSTRIAL em
franca retirada
03 - O MAIO de 1968 como um dos SIGNOS da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL EMERGENTE.
Diante das evidências da ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL não é possível examinar apenas o mundo empírico daquilo que
aconteceu, no mês de maio de 1968 em Paris. na América ou em Porto Alegre.
Na
manhã do dia 08 de agosto de 1945 os céus de HIROSHIMA foram rasgados pela arrasadora
energia nuclear mostrando ao mundo estupefato os primeiros signos da ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL. Os hippies cantaram, versejaram e reagiram a estas estranhas
“ROSAS de HIROSHIMA e de NAGASAKI”. As evidencias deste estupor ainda continuam
fazendo ecos cada vez mais fortes, em maio de 2018, assustando o mundo
O
mundo empírico dos movimentos desta época continham também o pensamento e que o
torna cada vez mais visível nos índices dos primeiros sintomas da ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL nas migalhas que sobraram dos eventos do mês de MAIO de 1968. Neste mês a criatura humana estava tateando para abrir e
domar as forças de novas fontes da energia, do código genético e se munia com
as ferramentas oriundas da lógica Booleana e aplicando-os ao processamento
eletrônico e na comunicação. Nas suas costas estava o medo do retorno ao
massacre universal da Segunda Guerra Mundial e na sua frente o potencial da
conquista do espaço extraterrestre. Pela mundialização irreversível eles
evidenciaram outras ferramentas de mundialização que conectava tanto Porto
Alegre com a América ou com Paris.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 05 – Para
Max WEBER a UNIVERSIDADE foi uma das raras criação tipicamente europeias O que é de se reconhecer que esta
UNIVERSIDADE sempre foi uma instituição supra
nacional is estudantes universitário de Maio de 1968 sublinham esta sua
natureza. Assim reforçam a rede mundial
que desenha com a ajuda da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL
No maio de 1968 a juventude sentiu-se
chamada a ocupar o seu lugar neste cenário pós Guerra da Coréia. Alimentava o
seu ideal na ideologia da Revolução Maoísta e contra o desastre em andamento no
Vietnã. Esta juventude ocupava o lugar e que era estrepitosamente reivindicado
pelo “FAÇA AMOR e NÃO a GUERRA” dos hippies, ou silenciosamente pela juventude
americana da pílula. Em nome destes princípios imponderáveis os estudantes de
Paris enveredavam para a desobediência civil por meio dos maiores escândalos mediatizados
pela TV. TV que estava se tornando planetária e tomando lugar dos rolos de
filmes enlatados exibidos nos cinemas de calçada da ERA INDUSTRIAL.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França + CORREIO do POVO ano 123, nº 221 - . Contracapa -
Dia 09..05. 2018 - LISTA DISRIMINATÓRIA
Fig. 06 – Maio de 1968 em Paris possui
semelhança ao maio de 2018 em Porto Alegre. A obsolescência da ERA INDUSTRIAL quebrou os
tradicionais contratos de trabalho. O poder econômico recuperou o queijo e faca
em relação a uma força de trabalho. Na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL o poder econômico não necessita mais do
esforço físico e nem as rotinas das linhas de montagem ocupadas pelos
incansáveis robôs.
04 - O ANTES e o DEPOIS do MAIO de 1968
As inflamadas discussões que cercaram o maio de 1968,
que se projetam até o presente[1], estão
acesas nas contradições, os desconfortos[2] e na
vontade da busca de uma unidade no pensamento. Durante a
revolta estudantil na França o consagrado filósofo Sartre colocou-se ao lado
dos estudantes da barricada para ajudar na
circulação do pensamento dos novos atores da história.
Pode-se usar o mês de MAIO de 1968 como indicador de
passagem tanto no mundo tecnológico como na economia como no modo de fazer
política. No mundo tecnológico o modo de produção se automatizou cada vez mais.
O esforço físico havia sido resolvido com as máquinas da ERA INDUSTRIAL. Depois
do mês de maio de 1968 os computadores,
os robôs e as rotinas da produção da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL dispensaram cada vez
mais conhecimentos intelectuais. Estes estão estocados e disponíveis “Just of
time’ na memória eletrônica. O crescimento do desemprego tornou-se assustador
em regiões que não acompanharam ou tiveram condições de entra neste novo modo
de produção.
Na economia a confusão - reinante a partir da GUERRA das IDEIAS - foi
hábil e pragmaticamente aproveitada pelo sistema financeiro que escolhia o lado
de maior lucro e de benefícios.
[1] O projeto torna a criatura
humana histórica. Marc
Bloch escreveu (1976, p.42) que: “é tal a força da solidariedade das épocas
que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois
sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do
passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado
se nada sabemos do presente”.
BLOCH, Marc
(1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE -
.Lisboa :Europa- América 1976 179 p.
[2] - FREUD, Sigmund.(1858-1939).O
mal estar na civilização (1930). Rio de Janeiro : Imago, 1974. pp.
66-150. (Edição standard brasileira de
obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.13)
MAIO de 1968
cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional
da Fran
Fig. 07 – Depois das lições do Dr. Joseph
GOEBELS no manjo do MEIO de COMUNICAÇÂO o maio
de 1968 em Paris possui semelhança ao maio de 2018 em Porto Alegre. Com a
obsolescência da ERA INDUSTRIAL e a entrada dos robôs, da informática na
produção de bens não só mudou as profissões, mas tornou obsoletas e inúteis as velhas práticas da linha de montagem
industrial dos periódicos.
No do de política as armas da PROPAGANDA e do
MARKETING tornara-se avassaladoras. A GUERRA das IDEIAS ganhou capítulos que
estão muito longe de serem entendidos, contraditos ou registrado em narrativas
consensuais. A GUERRA FRIA ganhou capítulos de jogadas planetárias nas quais os
ditadores anteriores ao maio de 1968 foram duramente testados. Impérios
construídos sobre ideologias desmoronaram, como a União Soviética ou se
adaptaram a sua ideologia aos meio eletrônicos
como a China.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional da França
Fig. 08 – Por mais que os mentores do eventos do MAIO de
1968 a episódios clássicos da REVOLUÇÂO como a inglesa, norte-americana,
francesa ou soviética não se concretizou
em Paris no maio de 1968. A História não se repete e se se alguém forçar no máximo conseguirá uma
farsa. De REVOLUÇÂO. A
ÉPOCA PÒS-INDUSTRIAL não só possui a ONU, mas a interlocução da economia,
da cultura e da técnica conseguem reverte estas forças ou condicioná-las à sua
verdadeira proporção.
Evidente que todos estes índices não tocaram na
essência e na natureza da criatura humana. Apenas acrescentaram e projetaram o medo,
a insegurança. Abriram rombos imensos
para aqueles que sabem fazer negócio com qualquer necessidade humana e em
qualquer circunstância. As armas individuais escaparam do controle do Estado
Nacional. Este fato gerou mais um capítulo do descrédito em relação ao ESTADO
NACIONAL incompetente para fazer justiça no contrato com o cidadão avulso que abdicara fazer justiça com as próprias
mãos e meios .
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional da França
Fig. 09 – Adjetivar uma Universidade consiste em cravar-lhe um
alfinete nas suas costas e exibi-la num quadro de exemplares semelhantes, porém
nunca realiza a sua essência . A universidade possui por essência o cultivo do
hábito de integridade intelectual, moral e estética. Transformaras ideias em ferramentas em cavalos de batalha e assim invadir ruas,
fábricas não acrescenta a algo que se denomina de partido. De outro lado a
transformação da universidade em cursos superiores profissionalizantes invade a
área das empresas.
05 O MAIO de 1968 possui por LOCUS
a UNIVERSIDADE.
Os eventos de maio de 1968 valeram
especialmente da universidade para dar visibilidade para as suas concepções. A
universidade brasileira não tinham atingido a maturidade e a massa crítica
autônoma para marchar ao lado das multisseculares e sólidas instituições
europeias. Anísio TEIXEIRA escrevia
(1989: 74) que
“Uma das funções primaciais da universidade é
cultivar e transmitir a cultura comum; não havendo o Brasil criado a
Universidade, mas apenas cursos profissionais superiores, deixou de ter o órgão
matriz da cultura nacional a qual elabora pelo cultivo da língua, da literatura
e das ciências naturais e sociais da universidade.” ,.
A universidade pode desempenhar, tanto o
papel de instrumento de consolidação da ordem social vigente, como atuar na
qualidade de órgão transformador, no dizer de Darcy Ribeiro (1982: 173). A interpretação de que a universidade poderia
representar um motor potente para o desenvolvimento nacional reforçou o
exacerbado nacionalismo da Era Vargas, como depois o Regime Militar, na década
de 1960. O progresso seria o resultado da aplicação da ciência através da
tecnologia. A exemplo de muitos países capitalistas, a universidade tornou-se
um instrumento de utilização do saber e não uma instância de saber. Fávero,
(1980: 23), escreveu “nos países capitalistas, as instituições
universitárias vivem sempre numa situação de ambigüidade, podendo se apresentar
ora como instrumento de utilização do saber, no sentido da eficácia, ora como
instância de saber, de geradora de conhecimento”. Ambigüidade que se
confundia com o ecletismo que Mário de Andrade fustigava (1955: 13) na época do
Estado Novo como “acomodatício e máscara
de todas as covardias”. Para tirar essa máscara de todas as covardias do
ecletismo, era necessário gerar, preliminarmente, uma identidade do universo acadêmico
adequado para o seu efetivo funcionamento[1]. Para
Ortiz (1985: 40), “não é por acaso que a
USP é fundada nos anos 30. Ela corresponde à criação de um espaço institucional
onde se ensinam técnicas e regras específicas ao universo acadêmico”. Era
primordial gerar o habitus acadêmico
brasileiro[2].
[1] - A universidade brasileira,
submetida ao regime militar brasileiro, serviu de cenário para a GOMES, Roberto, Alegres memórias de um cadáver. Curitiba : Criar, 1981 140 p. Essa
obra foi analisada, antes da edição, por DACANAL, José Hildebrando «Um cadáver
na universidade» in Correio do Povo Caderno
de Sábado Volume , ano VII, no 606, 08.03.1980, p. 2, onde ele afirmou que “num
país dependente as universidades estão destinadas a receber e não a produzir
ciência, mesmo porque não teriam para quem vender suas invenções e teorias”.
[2] - O único objetivo da
universidade é cultivar o hábito da integridade intelectual, ou como Max WEBER afirmou (1989: 70)
que:“o único elemento, entre todos os
“autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem,
legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela
vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso
acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos” WEBER, Max. Sobre a universidade. São
Paulo : Cortez, 1989. 152 p.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional da França
Fig. 10 – A aula magna da ocupação da tradicional UNIVERSIDADE da
SORBONNE exibia a autonomia deste ente face a possibilidade da livre toca de
ideias e coerentes com uma instituição desta natureza. Esta universidade se distingue das ESCOLAS
PROFISSIONALIZANTES de alto nível e nas o ESTADO FRANCÊS prepara e qualifica
os seus agentes administrativos
A democracia ficava apenas nos discursos motivadores
para esse habitus acadêmico
universitário brasileiro como Teixeira afirmou (1994: 170). De fato, a
democracia foi substituída por um nacionalismo populista corporativo e
acomodatício.
A universidade que institucionaliza arte
necessita um paradigma que sustenta a potência de um projeto civilizatório,
matriz para a totalidade da cultura brasileira.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional da França
Fig. 11 – OS LEVES SALÀRIOS e os PESADOS TANQUES era uma metáfora
também aplicável à universidade. Os salários deprimidos e os intensos expurgos dos intelectuais,
especialmente da Filosofia eram sustentados pels máquinas bélicas voltadas
contra a universidade brasileira
06 A UNIVERSIDADE BRASILEIRA e o MAIO de
1968
No Brasil os professores dos Cursos
Superiores da Primeira Republica eram intelectuais
submissos aos agentes o governo desde a sua origem. A burocratização dos
docentes dos Cursos Superiores era mais um local para o qual a política
indicava e mantinha aqueles submissos e rigidamente controlados por extensos
regulamentos. A Revolução de 1930 fez passar os eruditos da sua situação
deprimida e de submissão para a condição de agentes controladores da
instituição universitária. Assim revertiam a situação dos cursos superiores
livres da Primeira Republica e do regime imperial. Estes antigos cursos eram
dirigidos burocraticamente por políticos indicados pelas mantenedoras.
No campo da ética é necessário pensar em
Lück (1985: 148) ao afirmar “o que
acontece na escola depende, diretamente, e é influenciado efetivamente pela
maneira como os organismos controladores a concebem e sobre ela atuam”. No
entanto se o intelectual e o artista ganharam esse espaço, esse lugar e essa
instituição, não escaparão de um permanente reexame como Pécaut percebeu (1990: 33)[1] as ‘articulações entre o campo intelectual e a
esfera política’,
Com a Revolução de 1930 o intelectual foi
guindado e se constituiu num longo braço
do Estado brasileiro, agindo tanto dentro da universidade e o controle das funções
publicas[2].
O maio de 1968 alertou para este perigo de
agente duplo especialmente depois dos rigorosos expurgos e cassações promovidos
no seio da universidade. O GOLPE de 1964 não teve pejo e nem limites diante da
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA. Na lógica dos golpistas a universidade nada mais era
do que um longo braço do governo do qual eles se haviam apropriado e mantinham
na ponta das baionetas.
O maio de 1968 teve o mérito de evidenciar
que os expurgos dos professores universitários se voltavam preferencialmente
contra aqueles dedicados ao pensamento e à sensibilidade estética. A FILOSOFIA
foi desmantelada e perdeu o seu papel de matriz da universidade. Os expurgos
destes intelectuais evidenciam que não existem militares filósofos e nem
artistas, pois não podem pensar com autonomia e nem expressar os seus
sentimentos individuais.
Se em Paris do mês de maio de 1964
um militar era presidente, nada
mais natural a intervenção e a truculência militar contra a universidade.
Porém, se em Paris, esta intervenção militar foi pontual, na universidade
brasileira esta intervenção militar sentou praça em longos, longos anos de
chumbo para a universidade e que ainda encontra defensores em maio de 2018[3].
Quanto ao intelectual da universidade
ocupar cargos burocráticos ainda está para ser examinado o período de governo
de Fernando Henrique Cardoso[4] ocupar,
entre 1996-2002, o 1º posto burocrático executivo do Estado Brasileiro.
[1] No final do presente
capítulo segue-se a pauta de Ortiz (1995: 139) nesse reexame e que ficará mais
clara diante da interação dos agentes intelectuais artistas face à
universidade.
[2] - Com abertura dos duzentos
mil documentos do arquivo pessoal de Gustavo Capanema (Gomes, 2000: 38), essa
cooptação do intelectual dessa época, vista com olhos tão críticos por Faoro,
pode ser revisitada e contemplada por
outros olhares.
[3] DESCULPAS ESFARRAPADAS, no MAIO de 2018 das execuções
sumárias no REGIME MILITAR BRASILEIRO
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 12 – O grito humano é universal e liga a espécie humana aos
urros, aos berros e guinchos das espécie vivas. O grito humano é a expressam
maior de sua alegria, dor ou revolta. O maio de 1968 poe ser comparado a ea um alerta
de algo anda mal e prenúncio de uma catástrofe eminente. AS artes possuem esta
competência de expressar algo que ainda não se corporificou
07 – As ARTES no CONTEXTO do MAIO de
1968.
O Brasil foi um dos pioneiros mundiais em
institucionalizar a arte na universidade. Isto foi possível graças a coletivo desta
recente universidade ter adquirido, aos
poucos, a certeza de que a arte era competente para examinar as expressões
humanas e técnicas, sob todos os ângulos e era um caminho elevá-las ao SABER
ERUDITO. Assim a arte constitui-se em conhecimento e uma disposição da vontade,
pois ela conhece e sabe o ‘porquê’ e a
‘causa’ e não a experiência, que apenas sabe o ‘quê´ na expressão de Aristóteles (1972, p.212 Metafísica I cap.
I(7)).. Garantida esta competência do artista, o filósofo
concedia a autonomia à sua arte e o retirou da lista dos escravos que não
deliberavam e decidiam, portanto não eram humanos.
Supondo esta competência do artista passemos a
examinar as circunstâncias do Maio de 1968 nas artes.
A
pesada intervenção militar, econômica e política levou para a escola brasileira expressões
equivocadas de arte. Assim a partir do maio de 1968, as expressões equivocadas de arte serviram mais
para mascarar e estetizar. A pedagoga Ana Mae Barbosa conceitua (1983: 1090), a
obra desses pseudo intelectuais, como a “pedagogização
da arte”[1].
Touraine os recoloca (1992: 185junto com a
obsolescência da ERA INDUSTRIAL no seu devido lugar), pois, “os intelectuais se identificaram tão
completamente com a imagem racionalista, iluminista da modernidade, e após
terem triunfado juntos se decompuseram como ela, ao passo que as condutas
sociais e culturais em todas as partes do mundo se deixam cada vez menos
conduzir por essa representação”. Uma dessas condutas culturais possui umas
das suas melhores expressões na ação e na obra do artista.
Enquanto a indústria CULTURAL triunfava, a ARTE
perdia Marcel Duchamp no mítico ano de 1968 (2 de outubro). Ele havia entendido
e expresso em obras, de forma única, esta distinção
entre CULTURA e ARTE. O artista e ambientalista Joseph Beuys fundou em 1967 o Partido Alemão dos Estudantes onde
apregoava que "Todo mundo é um artista.", "Libertar as
pessoas é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade."
"Tornai os segredos produtivos." Em 1970 Beuys criava a Organização para a Democracia Direta enquanto
continuava ligado ao movimento Fluxus iniciado em 1962, e onde também atuava o
artista e músico John Milton Cage
(1912-1992).
Cage interagia com o bailarino Merce Cunningham e fora professor de
Rauschenberg que era um dos ícones da Pop Art.
O ano de 1968 assista
ao
apogeu do movimento Pop com Andy Warhol (1927-1987), Robert Rauschenberg
(1925-2008) e Roy Lichtenstein (1923-1997).em plena atividade criativa, Este
apogeu coincide com a culminância da filosofia existencialista, do movimento
Hippie e do grupo dos Beatles. A partir deste ano o movimento vulgarizou-se,
confundindo-se com o marketing cultural. A POP ART figurativa, simplificada e
explícita, colocava-se no contraditório do expressionismo abstrato, antes
vivido por Jackson Pollock
(1912-1956) e que virava ícone cult.
No Brasil a Bahia preparava,
no ano de 1968, a sua 2ª Bienal[2],
cuja abertura coincidiu com a edição do AI5. Este ato arbitrário repercutiu
intensamente Slavador, a 1ª capital brasileira. Para bafr estes repercussões o
Recôncavo vibrava com as melodias da Tropicália com venda discos em todas as
esquinas, dando som as imagens da TV em preto e branco e nos aparelho de rádios
transistorizados, cada vez menores e mais potentes. Melodias que rimavam com a
visualidade nas obras de Genaro
de Carvalho (1926 1971), Carybé (Hector Julio Páride Bernabó 1911 - 1997 e Jenner
Augusto da Silveira (1924—2003. Esta visualidade era sustentada pelo mundo
imaterial dos personagens da obra de Jorge Amado.
A
universidade incorporou as forças do campo arte quando ela percebeu esta
capacidade no artista examinar, sob todos os ângulos, o problema da sua
sensibilidade.
No presente encontro busca-se entender a circulação[3]
do pensamento da arte na
sua institucionalização e o que significou o MAIO de 1968 neste processo.
Deixa-se de lado uma possível estética e um ordenamento de obras e artistas.
Preliminarmente é necessário distinguir
CULTURA de ARTE. A indústria
CULTURAL está munida dos mais subliminares instrumentos de difusão
avassaladora, inculcação e a geração artificial de necessidades que levam aos
objetos programados para a obsolescência e ao kitsch.
08 - APÓS o MAIO de
1968: CONTROLA-SE a RUA e a ECONOMIA é CRIPTOGRAFADA.
A grande virada política da ABERTURA
POLÍTICA, acontecida entre 1979 e 1985, apesar de sua fragilidade, da sua pouca
densidade e suas evidentes contradições, devem muito ao MAIO de 1968. O artista
foi induzido a aprender esta capacidade de discutir coletivamente tendo por
parâmetro o que aconteceu neste mês mítico e passageiro. Viu-se compelido a
deliberar e decidir na autonomia, no seu direito de selecionar e usar todas as
concepções e as tecnologias atuais mais eficientes para expressar as suas
competências intransferíveis.
No polo oposto o sistema político
associou-se definitivamente e profundamente à uma economia inacessível ao PODER
ORIGINÁRIO. A economia raptou e arrastou a política para os porões da
criptografia que a informática possibilitou e
garantiu por senhas, por novas linguagens incompreensíveis ao grande
publico.
O lastro e o padrão ouro foram abandonados.
Vale o PIB nacional brasileiro[4] que
informa em relação ao crescimento do emprego e da produção de uma nação
09
-A REAÇÃO ao MAIO de 1968.
A toda a ação corresponde uma reação igual
e contrária. A reação, às esperanças e atitudes inusitadas, veio no final de
1968 com o adensamento dos anos de chumbo.
A reação ao Maio de 1968 veio com o AI5 - Ato Institucional nº5- (ver
anexo 04 ) e a REFORMA UNIVERSITÁRIA (ver anexo 06), ambos editados ao apagar
da luzes deste mesmo ano mágico. Esta reação não foi gratuita para uma cultura
cujas raízes e cerne eram o colonialismo e a escravidão, não só na memória
coletiva, mas ainda viva e praticada. A toda a originalidade de o Maio de 1968
incomodava quem não estava disposto, ou não podia, acompanhá-la. O argumento,
para implantar os anos de chumbo, eram que esperanças e atitudes inusitadas
eram estranhas ao “poder originário” que alguns donos perpétuos do poder
cultivavam como se fosse algo hereditário e congênito.
O “AME-O ou DEIXE-“ era o conselho
paternalista[5]
para quem não se sentisse confortável neste colonialismo, para quem
desconfiasse de ser vítima da escravidão brasileira latente e quem não sintonizasse
com o poder originário violado e corrompido inclusive ser eliminado fisicamente[6] .
“Querer
o bem com demais força e de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o
mal por principiar. Esses homens ! Todos puxavam o mundo para si, para
concertar consertando. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”
[1] - Ana Mae Barbosa ao estudar
a arte educação no Brasil verifica (in Zanini, 1983 p. 1090) que “O Estado Novo (1937-1945) é o início da
pedagogização numa utilização instrumental da arte na escola treinar o olho e a
visão ou para a liberação emocional”
[2] A segunda edição da Bienal da
Bahia, inaugurada em dezembro de 1968 no Convento da Lapa, sofre de perto as
conseqüências da ditadura militar: é fechada durante um mês, no dia seguinte à
sua inauguração. Dez das obras expostas são confiscadas antes da reabertura,
consideradas "subversivas". Com ela, encerram-se as Bienais Nacionais
de Artes Plásticas da Bahia.
[3] - Para uma concepção da
circulação do poder indica-se FOUCAULT, Michel. Microfísica do
poder. Rio
de Janeiro : Graal, 1995. 295
[5] Na época da Ditadura militar
1964/85 surgiram, os lemas e as músicas de apoio ao governo. As pessoas
(principalmente as crianças) eram incentivadas a usar adesivos "Brasil:
Ame-o ou deixe-o!" nas janelas dos automóveis, de casa etc. alusão a
uma obra escrita pelo conde Afonso Celso cujo título é “Por que me ufano
pelo meu país”. Foram criadas as mais diversas frases de efeito,
por exemplo:"Brasil: Ame-o ou deixe-o!", era usada por adultos
e crianças, ostentada em objetos e nas janelas dos automóveis. "Brasil:AME-O",
muitas empresas de transportes de valores utilizavam-na ostentada em seus
veículos. "Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no
Brasil. Na
copa do mundo de 1970, surgiu então o hino "Pra Frente Brasil",
"Noventa Milhões em Ação - Pra Frente Brasil” – Fonte Wikipédia.
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 13 – A GUERRA das IDEIAS alimenta a MÌDIA
que por sua vez legitima o uso dos APAREHOS AVERSIVOS do ESTADO NACIONAL O maio de 1968 criou e difundiu as suas IDEIAS
por imagens do repertório popular com o
mínimo, ou ausência, de texto escrito
10 - O USO das IMAGENS
SIGNIFICATIVAS no MAIO de 1968
Os agentes do maio de 1968 de Paris usaram
as imagens abundantemente. Pode-se
afirmar que o maio de 1968 foi um movimento social, politico e intelectual
conduzido e se expressou por meio de cartazes. Cartazes com poucas palavras –
as palavras de ordem – gravadas na memória coletiva com imagens fortes diretas
e com cores planas conseguidos com os meios gráficos essenciais. Quem escreve
em relação ao maio de 1968 sem referir ou publicar as imagens deste movimento.
Imagens que se constituem numa língua universal apesar das poucas e fortes
palavras de ordem em francês.
Contribui o fato de Paris ser - e continuar
a ser - uma das fortes matrizes das artes visuais universais. Esta tradição
está expressa na destreza e objetividade das imagens escolhidas.
A civilização ocidental também
confiou os seus pensamentos à representação icônica. Pode argumentar com Chartier (1998: 179)[1] de que “com a imagem não se discute”. Foi da imagem que nasceram os pictogramas das
primeiras civilizações humanas. A Idade Média traduziu a Bíblia esculpida e
pinta nas paredes das catedrais. A reação iconoclasta bizantina reforçou a
tradição muçulmana e israelita da desconfiança da imagem como objeto em si
mesmo.
O maio de 1968 tomou a imagem
de sua reprodutibilidade industrial em séries infinitas de imagens iguais
buscando. Reprodutibilidade buscando a saturação e ao mesmo impondo uma leitura
unívoca linear da propaganda e de marketing. Para ter êxito e se diferenciar
retornou ao grafismo elementar infantil, para as cores planas e recortadas.
Tecnicamente o maio de 1968 prefere os meios de sua multiplicação pela
xilogravura, pelo silkscreen e pela foto.
No contraditório é possível
afirmar que o maio de 1968 caiu na vala comum de reprodutibilidade industrial da
imagem somando-se ao ruído geral e uma civilização desajustada e cheia de
ruídos. Porém é competente para elevar este ruído ao máximo possível de sua
contundência visual e sem concessões
estéticas fáceis, confusas e ecléticas.
A indústria
CULTURAL está munida dos mais subliminares instrumentos de difusão
avassaladora, inculcação e a geração artificial de necessidades que levam aos
objetos programados para a obsolescência e ao kitsch.
11 O QUE de
FATO MUDOU ao LONGO o ANO de 1968
A lenta e imperceptível mudança se mistura
a aquilo que dura e atravessa o TEMPO
O mês de MAIO de 1968 já terá realizado a
teleologia, que lhe é imanente, se tiver ainda a fortuna de jogar luz sobre
estas contradições que habitam, muitas vezes, no mesmo cidadão.
Na arte o MAIO de 1968 foi um passo para o
artista tornar-se competente e adulto para doar mais de si mesmo do que
simplesmente receber, como na era natural na infância. Com esta maturidade
saberá por que o Instituto de Artes “será formado pelas doações e liberalidades
das pessoas que verdadeiramente se interessem pelo desenvolvimento das artes
entre nós”.
12 - TESE,
ANTÍTESE e SINTESE do MAIO de 1968.
Evidente que as TESES defendidas em MAIO de 1968 permaneceram nas mentes dos
seus agentes. O que estes agentes conseguiram materializar em textos, cartazes,
imagens e e ruidoso eventos não conseguiram
suportara, por muito tempo, a
ANTÌTESE representada pela cultura calejada e oportunista da ERA
INDUSTRIAL . Esta se valeu da PRPROPGANDA SUBLIMINAR, os CONTROLES ECNÔMICOS e
POLÌTICOS para fazer o mesmo que iria fazer no ano de 1969 com os HIPPIES em WOODSTOCK[2]. Todo
terminou nos últimos gritos e como s bolsos vazios para continuar a manter os
eventos. ao deliberar e ao decidir no contexto desta autonomia, erguem-se
exércitos de pseudo-artistas “NETOS e BISNETOS de TODAS as DITADURAS” que se
jogam na heteronomia do imaginado ESTADO ONIPOTENTE, ONISCIENTE, ETERNO e
ONIPRESENTE. Para este exército na heteronomia um “ESTADO PAI, AVÔ E BISAVÔ
IDEAL” deve PROVER tudo, isentar o artista e desculpá-lo por ele não ser
competente no seu deliberar e decidir autônomo e coletivo. Caso contrário o
ESTADO PROVEDOR será, para este aspirante da artista na heteronomia, o CULPADO
de TUDO, uma DESCULPA de PLANTÃO e PERMANENTE, para todas as emergências
aversivas que ele não quer enfrentar. Este exército, na heteronomia do ESTADO
PROVEDOR IMAGINADO, não sabe nada de política e nem quer saber do passado
recente. Estes “NETOS da DITADURA” praticam esta política para continuar o JOGO
de SOCIALIZAR o PREJUÍZO e EMBOLSAR eventuais LUCROS. Assim, conforme Johann von Goethe,
estas “ pessoas tendem a colocar palavras onde faltam
ideias” especialmente de uma nova
etapa na qual tudo está em permanente mudança, obsolescência e desafios sem fim.
Na SÌNTESE é possível perceber que a ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL estava mostrando que “TUDO o QUE SÓLIDO se DESMANCHA no AR”[3]. A
falência da FÀBRICA - da ERA INDUSTRIAL - com suas carreiras, seus empregos e
os seus contratos deixaram a criatura humana na necessidade de inventar um “OUTRO
MUNDO POSSÌVEL”, Contudo este “OUTRO MUNDO POSSÌVEL” possui também possui OUTRA
lógica, hábitos diferentes e mentalidades incompatíveis com a etapa anterior. O
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL de PORTO ALEGRE[4] foi um
eco distante do maio de 1968 e levou para rede planetária o seu projeto de que
“OUTRO MUNDO POSSÌVEL”
No contraditório a criatura humana enfrenta
o trauma de um parto para OUTRO MUNDO POSSÌVEL. Parto no qual é necessário
abandonar o conforto do Útero materno da ERA INDUSTRIAL. No lado externo impõe-se
enfrentar um mundo hostil e pouca amigável
da alvorada da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL.
A SÍNTESE
desta MUDANÇA da logica de ERA INDUSTRIAL é possível na medida do conhecimento,
aceitação consciente, da implementação e
manutenção da lógica coerente com ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL.
CONCLUSÕES.
A
coerência, a aceitação e a coerência com a lógica da ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL impõe rever, romper com as suas convicções anteriores e jogar o
futuro no mundo aberto.
Mundo aberto que impõe a conquista do
direito de deliberar e decidir sobre suas novas competências. Deliberar e
decidir, não só na sua cápsula individual, mas aprender a deliberar e decidir
em bases coletivas usando as novas circunstâncias.
Neste mundo, entreaberto pelo o Maio de
1968, a criatividade, o novo e original
sempre foi e território próprio das artes. Arte temida pelas mães, pois elas
nunca sabem os resultados dos primeiros passos dos seus filhos colocados face
ao mundo sob o qual ela não possui controle.
O mês histórico de maio de 1968, foi um ponto
de inflexão que obrigou o artista não ter deixado nas artes um legado sensível
e unívoco, este
O cidadão brasileiro sonhado por Riobaldo
Tatarana, valendo-se da luz do MAIO de 1968, poderá “querer o bem, a verdade
e a beleza com força adequada e de jeito certo” nas suas necessárias rotas
pelas veredas dos sertões brasileiros.
[1] - CHARTIER, Roger.
Au bord de la falaise: l´histoire entre certitudes et inquiétude.
Paris : Albin Michel, 1998. 293p.
[3] BERMAN, Marshall - Tudo Que E
Solido Desmancha No Ar - A Aventura Da Modernidade- São Paulo: Companhia Das Letras- 2007
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca Nacional da França
Fig. 14 – É possível resumir o MAIO de 1968 como uma AGRESSÂO
COLETIVA contra os MITOS NACIONAIS gastos pela MÌDIA e que disfarçam os APARELHOS
AVERSIVOS do ESTADO NACIONAL[1]
da ERA INDUSTRIAL No entanto
este maio de 1968 não trouxe om projeto exequível na ÉPOCA
PÓS_INDUSTRISAL
SEIS ANEXOS
ANEXO
01 – OS VENTOS da CULTURA FRANCESA e MUNDIAL no ano de 1968
Em maio, fortíssimos ventos europeus avivavam
o braseiro nacional. A cidade de Paris e, a seguir, a França, foram
convulsionadas pela estudantada universitária “enragé”. Muito logo, o movimento
operário iniciou dura e longa greve geral. O governo De Gaulle recuou, a ordem
burguesa tremeu, falou-se em governo popular, antes que o Partido Comunista
Francês canalizasse a mobilização da rua e as ocupações de fábrica para a luta
institucional, enterrando-as sob um estrondoso fracasso eleitoral.
O maio francês galvanizou o mundo, colocando
quase nas sombras as lutas estudantis e operárias igualmente muito duras na
Itália e na própria Alemanha Federal, avivada neste último país pelo atentado
ao líder estudantil Rudi Dutschke, em 11 de abril de 1968. No mesmo mês era
assassinado Martin Luther King, em Memphis, Tennessee. Na França, lutara-se
contra o autoritarismo, contra a discriminação, contra os privilégios, pelo
socialismo operário e democrático. Uma geração de líderes de vinte anos
conquistava a juventude do mundo, com seu radicalismo, inconformismo, desprendimento,
coerência - Daniel Cohn-Bendit, Alain Krivine, Jacques Sauvageot, etc.
A vitória cubana impusera o princípio de que
a revolução iniciaria pela ação exemplar de alguns guerrilheiros. Em 1967, o “foquismo”
seria teorizado, em "Revolução na revolução?", pelo jovem francês
Regis Debrey, intelectual de rápida vocação guerrilheira de pouco sucesso. Se o
foco não pudesse ser lançada no campo, seria iniciado na cidade. Desde janeiro
de 1967, o ativismo dos Guardas Vermelhas contra a restauração capitalista,
hoje plenamente vitoriosa, prestigiava o maoísmo, sobretudo entre os jovens
católicos radicalizados. A ação das organizações trotskistas na França
propagandearam o marxismo-revolucionário, o ante estalinismo, o anti-burocrático,
tornando a seguir Ernest Mandel figura pública mundial.
A Revolução Cultural na China foi lançada em 1966
por Mao
Tse Tung. Foi realizada basicamente pela Guarda Vermelha e teria
paralisado o progresso material e tecnológico do país. Seus princípios
inspiraram a constituição. A Revolução Cultural da China (ou, de modo
completo, Grande Revolução Cultural Proletária) foi um movimento
de massas na República Popular da China dentre os
anos de 1966 e 1976, por parte de
estudantes e trabalhadores, contra a burocracia
que tomava conta do Partido Comunista Chinês. Incidentalmente
ou intencionalmente, o movimento acabou enfraquecendo os adversários de Mao Zedong
que ganhavam força então. (A Revolução Cultural representou uma depuração
partidária, contra o revisionismo que se insinuava.) O processo foi
oficialmente terminado por Mao em 1969, mas os especialistas dizem que ele durou até o golpe
contra os seguidores próximos e Jiang Qing, esposa de Mao (a Camarilha dos Quatro), 1976. Entre 1966 e 1969
Mao encorajou a formação de comitês revolucionários (bases da Guarda Vermelha), compostos
pelas mais diversas forças (militares, camponeses, elementos do partido,
governo etc) e destinados a tomar o poder onde necessário. Como na
intelectualidade se encontravam alguns dos inimigos da revolução, o ensino
superior foi praticamente desativado no país.
[ Wikipedia em 25.05.2008]
A
Primavera de Praga, realizada em 1968 na Tchecoslováquia,
é o movimento liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco
interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e
social do país. A experiência de um "socialismo com face humana” foi
comandada pelo líder do Partido Comunista local, Alexander Dubcek. A proposta
surpreendeu a sociedade tcheca, que em 5
de Abril de 1968 soube das propostas
reformistas dos intelectuais comunistas.
O
objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os
vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava
aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido
prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e
os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido
comunista e a livre organização partidária, com uma Assembleia Nacional que
reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade tcheca. A liberdade
de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram
outras garantias expostas por Dubcek.
As
propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança
radical da Tchecoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética,
foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores sociais se
manifestaram em favor da rápida democratização. No mês de junho, um texto de
“Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární
Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e
assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que
acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam que era possível
transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para uma
social-democracia aos moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava
provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla
liberdade democrática.
A
União Soviética, temendo a influência que uma Tchecoslováquia democrática e
socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdades
à sociedade, pudesse passar às nações socialistas e às "democracias
populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia
invadirem a capital Praga em 20 de Agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados
soviéticos e levado a Moscou . Na cidade de Praga a população reagiu a invasão
soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase
espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores
construídos às pressas por membros do exército tcheco e aficcionados por
radiotransmissores: a Rádio Tchecoslováquia Livre. Cada emissora transmitia
instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar,
dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal.
Suas instruções eram para a população manter a calma e sobretudo não colaborar com
os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para
criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários tchecos com uma extrema
negligência, atrasaram a entrega e quando a estação chegou ao seu destino
estava inutilizável.
Os
russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um
impasse político, as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista
fracassaram e a população tcheca foi eficiente em minar a moral das tropas. No
dia 23 se iniciou uma greve geral e no dia 26 se publicou o decálogo da não
cooperação: não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não
darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
A
paralisação dos trens, interrompeu a comunicação com os países aliados e para
evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas foram invertidas e depois
pintadas com uma tinta comum, quando os soldados raspavam as tintas para verem
a indicação correta, acabavam indo na direção de Moscou.
Enquanto
isso, os raptores contavam a Dubcek que a população tcheka estava sendo
massacrada como fora a população húngara 12 anos antes, o que o levou a assinar
um acordo de renúncia.
As
reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na
Tchecoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach ateou fogo ao próprio corpo
numa praça de Praga em 16 de Janeiro
de 1969.
Um
dos livros que fazem referência à Primavera de Praga é o Livro "A
Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. Relata o Amor de dois
casais e seus conflitos amorosos. Bastante repetição de acontecimentos. Vistos
de outros ângulos. Ótima leitura para quem quiser se "familiarizar"
mais um pouco com a Primavera de Praga. Uma luta heróica de um Povo em busca da
verdadeira Liberdade [ Wikipedia em 25.05.2008]
MAIO
de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 15 – Com o final da ERA
INDUSTRIAL e com os EMPREGOS desaparecendo restou ao ESTADO NACIONAL prolongar
o máximo a permanência na escola Neste quadro a ESCOLA tornou-se uma PRISãO na
qual a nova geração gasta melhor de suas
energias percorrendo tábuas curriculares que em nada respondem ao ENTE do
estudante como SER HUMANO com os seus anseios
e necessidades básicas. No máximo esta escola - perdida no tempo, no espaço e
na sociedade errada - impõe um exercício de paciência, de treinamento e de submissão
ilimitada.
ANEXO 02 – No BRASIL a REAÇÃO ao GOLPE de 1964
Fragilizado pela derrota de 1964, o PCB
explodia em uma constelação de grupos radicalizados. Jovens chegados em boa
parte da Juventude Universitária Católica [JUC] e da Juventude Operária
Católica [JOC] aderiam à luta anti-imperialista e anti-capitalista. Então, o
Brasil conhece uma multiplicidade de pequenas organizações revolucionárias -
ALN, PCBR, AP, POLOP, VAR-Palmares, POC, Fração Bolchevique-Trotskista, MRT,
etc. - com algumas centenas de militantes, mais comumente de 17 a 25 anos, e
abrangência em geral regional.
A juventude universitária e secundarista
abraçava a luta política, cultural e ideológica, com destemor, magnanimidade e
impaciência. Saia às ruas pichando - literalmente, pois, na época, não havia o
spray - "Mais verbas e menos canhões"; "Um, dois, mil
Vietnãs", "O povo unido derruba a ditadura", "Viva a
aliança operário-estudantil". Conscientes que não há prática sem teoria,
os jovens militantes liam sem cessar, sobretudo história, economia, sociologia
- A revolução russa, de Trotsky; O diário na Bolívia, de Guevara; os três
Profetas, de Isaac Deutscher; A revolução brasileira, de Caio Prado Júnior; O
livro vermelho, de Mao[1]; os Poemas
do Cárcere, de Ho Chi Minh.
Em 1968, por primeira vez no Brasil, a
Civilização Brasileira publicava O capital, de Kark Marx. Militantes imberbes
devoravam os grossos volumes, de fio a pavio, página por página, sem
compreenderem muito. Estudavam-se e debatiam-se os mínimos detalhes da
revolução russa, chinesa e cubana, ainda que fosse bem menor o interesse sobre
a história do Brasil, sobretudo do período anterior a 1930, durante o qual as
categorias da sociologia do capitalismo não eram plenamente funcionais. Pelo
país afora, discutia-se e polemizava-se duramente. O futuro estava ao alcance
da mão. Abraçavam-se as nuvens, em um assalto aos céus.
ANEXO 03 – NO BRASIL
IMEDIATAMENTE ANTES do MAIO de 1968
Em 28 de março de
1968, três dias antes do quarto aniversário do golpe, as polícias militares do
Exército e da Aeronáutica invadem o restaurante do Calabouço, no Rio de
Janeiro, e disparam, a queima-roupa, contra os estudantes, matando Édison Luís
de Lima Souto, de 18 anos.
No
dia seguinte, sexta-feira, a antiga capital da República pára para que sessenta
mil populares acompanhem a despedida ao secundarista. A resposta é violenta.
Por diversos dias, a cidade tornou-se campo de acirrada batalha. De um lado,
estudantes e populares. Do outro, polícia e exército. Universitários,
secundaristas e populares são mortos. Ao deslocarem-se pelas ruas do Centro, os
soldados protegem-se debaixo das marquises dos objetos atirados desde os
edifícios. Um policial militar, a cavalo, morre ao receber na cabeça um pesado
balde ainda carregando cimento fresco, lançado desde um edifício em construção.
ANEXO
04 – O ATO INSTITUCIONAL Nº 5 (AI 5)
Durante o governo de Arthur da Costa e Silva
- 15 de março de 1967 à 31 de agosto de 1969 - o país conheceu o mais cruel de
seus Atos Institucionais. O Ato Institucional Nº 5, ou simplesmente AI 5, que
entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, era o mais abrangente e autoritário
de todos os outros atos institucionais, e na prática revogou os dispositivos
constitucionais de 67, além de reforçar os poderes discricionários do regime
militar. O Ato vigorou até 31 de dezembro de 1978.
O
AI-5 na íntegra,:
O
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , ouvido o Conselho de Segurança
Nacional, e
CONSIDERANDO
que a Revolução brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos
Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a
dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político,
assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à
dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias
às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo,
"os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira,
política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e
imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem
interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato
Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);
CONSIDERANDO
que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela
ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos
anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar
faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o
Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou,
categoricamente, que "não se disse que a Resolução foi, mas que é e
continuará" e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não
pode ser detido;
CONSIDERANDO
que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao
convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova
Constituição, estabeleceu que esta, além de representar "a
institucionalização dos ideais e princípios da Revolução", deveria
"assegurar a continuidade da obra revolucionária" (Ato Institucional
nº 4, de 7 de dezembro de 1966);
CONSIDERANDO,
no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos
setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a
Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e
bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;
CONSIDERANDO
que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados
os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a
tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e
social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra
revolucionária;
CONSIDERANDO
que todos esses fatos perturbadores, da ordem são contrários aos ideais e à
consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se
responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias,
que evitem sua destruição,
Resolve
editar o seguinte:
ATO
INSTITUCIONAL
Art
1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições
estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.
Art
2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional,
das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar,
em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando
convocados pelo Presidente da República.
§
1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica
autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas
nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.
§
2º - Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais,
estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.
§
3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e
orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será exercida
pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria,
julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e
valores públicos.
Art
3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a
intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na
Constituição.
Parágrafo
único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo
Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam,
respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas,
vencimentos e vantagens fixados em lei.
Art
4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o
Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição,
poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10
anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo
único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que
tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o
quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.
Art
5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa,
simultaneamente, em:
I
- cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II
- suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III
- proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV
- aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
a)
liberdade vigiada;
b)
proibição de freqüentar determinados lugares;
c)
domicílio determinado,
§
1º - o ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar
restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros
direitos públicos ou privados.
§
2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão
aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato
pelo Poder Judiciário.
Art
6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade,
mamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo
certo.
§
1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover,
aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas
neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou
sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar
militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os
vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.
§
2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados,
Municípios, Distrito Federal e Territórios.
Art
7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na
Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o
respectivo prazo.
Art
8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco
de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de
cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e
sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Parágrafo
único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.
Art
9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a
execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da
Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 da
Constituição.
Art
10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus , nos casos de crimes políticos,
contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
Art
11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de
acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os
respectivos efeitos.
Art
12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as
disposições em contrário.
Brasília, 13 de
dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
A.
COSTA E SILVA
Luís Antônio da Gama e
Silva
Augusto Hamann Rademaker
Grünewald
Aurélio de Lyra Tavares
José de Magalhães Pinto
Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Ivo Arzua Pereira
Tarso Dutra
Jarbas G. Passarinho
Márcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
José Costa Cavalcanti
Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
Afonso A. Lima
Carlos F. de Simas
Fonte: Acervoditadura.rs.gov.br
MAIO de 1968 cartaz do arquivo da Biblioteca
Nacional da França
Fig. 16 – O jovem ferido pelos APAREHOS
AVERSIVOS do ESTADO NACIONAL enfaixado pela MÌDIA GUERRA das IDEIAS Jovem condicionado pela SERVIDÂO involuntária e cuja revolta tornou-se
visível em maio de 1968. As cicatrizes nunca desapareceram na auto imagem de alguém inútil e sem projeto
próprio, aguardando de alguém as ordens do que deve fazer e parecer
ANEXO 06 - Reforma Universitária de 1968
Celso da Costa Frauches(*)
Transcorriam os "anos de
chumbo" da ditadura militar, instaurada em 1964. O general Costa e Silva
representava os militares na presidência da República. Em 1968, o Congresso
Nacional aprovou a Reforma Universitária, pela Lei n° 5.540, de 28/11/68,
fixando normas de organização e funcionamento do ensino superior, e o
presidente da República, invocando o Ato Institucional n° 5, de 13/12/68,
editou o Decreto-lei nº 464, de 11/2/1969, estabelecendo "normas
complementares à Lei nº 5.540". O gaúcho Tarso Dutra era o ministro da
Educação e Cultura.
Trata-se, na realidade, de uma LDB
para o ensino superior, revogando os dispositivos da Lei 4.024, de 1961, sobre
esse nível de ensino.
Características principais da Reforma
Universitária de 1968:
§ensino indissociável da pesquisa;
§ assegura autonomia das universidades
(didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira);
§ a universidade como ambiente
prioritário para o desenvolvimento do ensino superior, embora permita a
existência dos estabelecimentos isolados (vide Reforma Francisco Campos);
§ modelo organizacional único para as
universidades, públicas ou privadas (art. 11):
§ primeiro ciclo de estudos (ciclo
básico), tendo por objetivo a recuperação de insuficiências evidenciadas pelo
concurso vestibular na formação de alunos; orientação para escolha da carreira
e realização de estudos básicos para ciclos ulteriores;
§ elimina a cátedra e a sua
vitaliciedade;
§ estabelece o Departamento como "a menor
fração da estrutura universitária para todos os efeitos de organização
administrativa, didático-científica e de distribuição de pessoal",
compreendendo disciplinas afins;
§ impõe o regime de matrícula semestral
por disciplina, em substituição à matrícula por série anual (até então
vigente), com pré-requisitos;
§ o Crédito como unidade de medida para a
contabilidade acadêmica de integralização curricular;
§ a extensão como instrumento para a
melhoria das condições de vida da comunidade e participação no processo de
desenvolvimento;
§ vestibular unificado para todos os
cursos da mesma instituição;
§ renovação periódica do reconhecimento
de universidades e estabelecimentos isolados de ensino superior;
§ necessidade social como requisito para a autorização de instituições e cursos
superiores;
§ representação estudantil nos órgãos colegiados; estimula a criação dos
diretórios centrais dos estudantes e dos diretórios setoriais ou centros
acadêmicos;
A Reforma Universitária de 68 teve
início, efetivamente, em 1967, com a edição de decretos-leis voltados para as
instituições federais de ensino. A Lei 5.540/68 e o Decreto-lei 464/69 vieram
consolidar a reforma e ampliá-la para todos os sistemas de ensino.
A reforma de 1968 representa, sem
dúvida, considerável avanço na modernização da educação superior brasileira,
ressalvados os aspectos autocráticos, frutos do regime então vigente,
centralizador e ditatorial.
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GOMES, Roberto, Alegres memórias de um cadáver. Curitiba : Criar, 1981 140 p.
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LÜCK, Heloísa. Permanência e Inovação do Ensino:
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MAE BARBOSA, Ana
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PÉCAUT, Daniel. Intelectuais
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VARGAS, Getúlio. «Discurso do Chefe do Governo Provisório, Dr.
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WEBER, Max. Sobre
a universidade. São Paulo: Cortez, 1989. 152 p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
LE MONDE: o mês
de MAIO de 1968 de PARIS DIA a DIA
Final
e endereços eletrônicos
Cronologia do mês de Maio de 1968 em Paris
Execuções sumárias no REGIME MILITAR BRASILEIRO
CONTORNANDO as notícias das execuções sumárias no REGIME MILITAR BRASILEIRO
+
+
IMAGEM e CINEMA - NYT
17.05.2018 - APOCALIPSE 2018 – 1968
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
GOVERBO FHC
1995-2002
HIPPIES WOODSTOCK 1969
NYT : CARTAZES do MAIO de 1968 de PARIS
(*) Consultor sênior do Instituto
Latino-Americano de Planejamento Educacional, Brasília, DF.
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