¿ INOVAR por MEIO da TRADIÇÃO ALHEIA ?
BRASÍLIA
- Espanada dos Ministérios - Natal de 2008 - Foto Círio SIMON
Fig.01 – O
Hemisfério Sul do planeta é
coagido - pela cultura hegemônica
Hemisfério Norte - a seguir as suas festas, eventos e signos. Certamente
a heteronomia de uma cultura dependente não podia deixar de e exibir o absurdo
do que as casinhas cobertas de neve no
mês de dezembro do Brasil tropical. Não conta a longa tradição dos
presépios natalinos brasileiros. Na desoladora instalação, da foto, é
impossível inovar por meio deste tipo de cultura alheia. Esta estapafúrdia
instalação alheia desconsidera, atropela e desqualifica uma cultura, mesmo
consolidada, sem deixar nada de aproveitável.
O resultado é um cenário
desolador que não atrai sequer uma única presença humana..
REFLEXÕES relativas à
ARMORY SHOW, de 1913, e a OPORTUNIDADE e PERMANÊNCIA da MEMÓRIA ALHEIA.
Constituem obras
inglórias, senão ridículas, tentar romper com uma tradição que não se possui. E
tão inglório como tentar instalar uma nova estética sem possuir mínimas garantias
de seu êxito, de permanência e de sua reprodução. E tão trágico como a
aniquilação promovida por um bando de vândalos. Constituem propostas de tolos
que não possuem o lastro de uma história
pregressa, coerente e como identidade própria. Um autêntico projeto possui
meios objetivos para a sua implantação,
seu cultivo e a sua reprodução.
Fig.02 – Certamente é possível inovar por meio da
cultura alheia. Isto é possível, e recomendável, em nações que possuem o
contraponto próprio de uma cultura consolidada. Estas culturas conseguem polarizar as contribuições
alheias e as atenções coletivas sobre os signos eventos e festas que lhe são
próprios. O grupo de artistas e jornalistas, da foto acima, estava reunido para conhecer, registrar e
divulgar a Armory Show em 1913. Este coletivo possuía um nítido conhecimento do
acervo cultura de que eles e o se publico era portador. Coletivo da foto era formado
por jornalistas culturais e que reflete
e constitui um índice dos seus leitores e instituições culturais. Com este conhecimento foi possível selecionar
o que fato era revolucionário da arte de Picasso e os seus colegas. Para os
jornalistas conta a sua longa e sólida tradição do conhecimento das
competências e limites de seus instrumentos de trabalho. O resultado é um cenário de estímulo
recíproco. Cenário da presença humana como mediadora da concorrência reciproca
sob um objetivo superior comum, com fluxo renovado e das energias e das forças
da arte e da civilização.
A frase de que “o que permanece é o
pensamento” não é suficiente para um projeto coerente. Diante de um projeto
de mudança esta frase pode ter duas leituras antagônicas. Se prevalecer, neste
pseudo projeto de mudança, o conceito do conservador ele mantém as pessoas e os
grupos na segurança da caverna primitiva. Se for extremo oposto pode redundar na mudança pela mudança, o que
constitui outra forma do jugo da Natureza entrópica. Este jogo ambíguo foi
descrito, na década de 1960, pelo estudioso norte-americano, Alvin Toffler antes
das suas observações da sua obra “A 3ª Onda”.
Como tal a mudança pela mudança também é outra forma de retorno para a pré-história.
Porto
Alegre – Camelódromo - fila de ônibus em 04.07.2012 - foto Círio SIMON
Fig.03 – Uma fila de passageiros de um ônibus
urbano não possui maior vínculo do que o evento do transporte. Os integrantes
da fila pouco se importam com um pensamento que ultrapasse este evento do
qual pontualmente fazem parte. Os seus
olhares não se encontram, a atenção é para algo pragmático e passageiro. Estes
passageiros não possuem, não cultivam e nem reproduzem nada além deste evento. O resultado é um cenário desolador e não no
qual a presença humana nada tira ou acrescenta. Certamente em ambientes destes
a obra de arte seria mera estetização
formal e externa à algum sentido intrínseco.
Todo o patrimônio
imaterial e material do passado pode ser transferido para um novo tempo e
lugar. A mudança deste patrimônio imaterial e material do passado será consequente
se for competente na somatória da sua atualidade e das novas circunstâncias.
Soma-se a contradição do passado que se quer superar com o presente e, constituindo-se
numa forte energia complementar para a sua reprodução num futuro indeterminado.
Esta transformação da contradição em complementariedade e num todo orgânico foi
proposto por Mário de Andrade[1] para a UNE, em 1942.
“O direito permanente à pesquisa
estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização
de uma consciência nacional [..] A novidade fundamental, imposta pelo
movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência
coletiva”.
A memória está mais
associada à “atualização da inteligência”.
Porém este processo necessita se precedido pelo fazer do experimentar e do
pesquisar. Sem esta carga empírica a “atualização da inteligência” corre sempre
o risco de jogar pela janela a criança junto com água do banho. O entusiasmo
pelos estudos intelectuais das tradições populares no Brasil, realizados após o
fim da Segunda Guerra Mundial, o surgimento da UNO e da UNESCO, foram contemplados,
sistematizados e publicados pelo jovem Luís Rodolfo da Paixão Vilhena, cuja
vida foi ceifada precocemente por um acidente de trânsito, em 1994. Porém a sua
obra intelectual não encontrou grandes ecos e fortuna da publicidade numa
cultura ainda sujeita ao colonialismo e à escravidão voluntária. No máximo as
suas narrativas foram vistas na categoria de outro modismo intelectual
tradicional. Sob esta ótica contribuem apenas para manter o habitus do
colonialismo cultural sofisticado e importado. Na prática provocam uma
definitiva heteronomia da vontade cultivada na pedantearia e na concorrência
acadêmica pela fama e por cargos.
[1] - ANDRADE, Mario O
movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da
Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de
1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942, p.45.
Esta conferência evocava os resultados
culturais da Semana de Arte Moderna de 1922. Mario da Andrade havia sido umas
das figuras centrais desta Semana. Ele se indispusera em 1938 com o Estado
Novo. A conferência ocorria no auge desta ditadura que entrava em guerra com o
Eixo.
Mário coloca a nacionalidade como primeiro
principio os concluía com busca da construção de uma consciência coletiva.
DETROIT
- Delegacia - The Observer- domingo
02 de janeiro de 2011
Fig.04 – A ruina de uma delegacia de polícia de
Detroit. O acervo de fichas, de fotos e
registro policiais é algo passageiro e incapaz de ultrapassar este projeto
pragmático de vigilância e segurança. A hegemonia da era industrial
permitiu cultivar uma insistência absurda e trabalhar no automático. Os
promotores deste acúmulo estão longe, em outras terras e povos. Buscam aplicar
a mais valia do capital onde podem repetir a fazer frutificar este mesmo
absurdo. Passam ao largo do sentido inerente à Armory Show, de 1913. Despojando-a
inteiramente de sua carga civilizatória transformam-na em marketing e
propaganda tão somente. O resultado não podia ser diferente:
Detriot abandonada á população empobrecida.
As novas colônias virtuais improvisadas e acríticas recebem apenas um
produto com a marca da “generosidade” na busca de “escravos voluntários”.
A condição primordial
para uma ruptura epistêmica, estítica ou cultural é possuir um pensamento
próprio, uma tradição estética ou um hábito próprio com os quais se entra em
desacordo e se busca mudanças. Seria absurdo romper com o alheio. O que
acontece neste rompimento com o alheio é a singela troca de um tipo de
heteronomia ou colonialismo por outro colonialismo ou servidão.
ARQUIVO
da PREFEITURA de PORTO ALEGRE - CP 18.05.2013
Fig.05 – O
acúmulo da era industrial de processos padronizados em rígida ordem taylorista
constitui um acervo documental incapaz
de ultrapassar o seu próprio projeto pragmático de vigilância oficial e de
segurança. Pouco importan um pensamento que ultrapasse este evento. Os olhares não se encontram, a
atenção é para algo Estes registros não possuem não cultivam e nem
reproduzem nada além deste evento . O
resultado é um cenário desolador e não nem sequer uma presença humana.
Estas reflexões podem
orientar algumas observações relativas ao centenário da Armory Show
norte-americana de 1913. Uma cultura behaviorista e que age na acumulação de
bens certamente está alerta a qualquer
novidade que possa alterar esta acumulação. Se de um lado esta sociedade
torna-se resistente de mudança no seu processo acumulação diante do êxito
explícito, no lado oposto sabe que o cerne do seu processo patrimonialista é
atravessado pelas forças da obsolescência programada introduzido pela era
industrial.
DETROIT
- Palco de Teatro - in The Observer – domingo-
02 de janeiro de 2011
Fig.06 – A insistência em desconhecer o sentido da
Armory Show, de 1913, permitiu à hegemonia da era industrial. Era industrial
baseada no capital fugaz, capaz de criar ambientes nos quais predomina a
obsolescência programada e pontual e no qual celebraram eventos marcados para
sua ruína. A plateia e o palco do teatro Detroit são índice desta ruína. Ambiente
ao qual pouco importa um pensamento que ultrapasse esta obsolescência programada
e pontual. Os olhares não mais se encontram, a atenção é para algo que possa
virar peça de colecionador qualquer. Sem uma presença humana o resultado é um
cenário desolador.
Estas tendências
estéticas são pouco divulgadas, ou então divulgadas sob pautas e conceitos
inadequados à sua natureza, ou, ainda divulgadas no meio de uma nuvem de
preconceitos e desqualificações onde perdem todo o se sentido original. Mesmo
que não aceita estas tendências estéticas lucra com ela ao fazer contraste,
contraponto e o contraditório às suas estéticas preferenciais. Se não servem
para outro propósito, podem constitui-se numa pausa e um ponto do qual é
possível contemplar o panorama estético das artes entre 1920 e 1940.
OTAVIO CORRÊA e a utopia de um gesto
político
in http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html
Fig.08 – Na década de 1920 os movimentos populares de
rua preconizavam a Revolução de 1930 e continham os seus germens. O civil sul-rio-grandense
Otávio Correa somou-se aos militares no
episódio dos “Dezoito de Forte” e pereceu fisicamente com eles momentos após esta
sua penúltima foto. A memória deste seu gesto extremo permaneceu e sobreviveu na
cultura nacional.
Contudo as narrativas
que resultam da sua aproximação não podem omitir e nem ser um ponto de
alienação da nova infraestrutura industrial e urbana que emerge neste período.
Fig.08 – Preconizando,
em 1925, um dos lemas da Revolução de 1930
o artista Helios SEELINGER (1878-1965) intitulou esta obra de “Rio Grande de Pé pelo
Brasil”. Plasmou, na parte superior, a Memória Farroupilha de um
passado que se quer glorioso. Esta memória e glória foram adotadas por gerações
de estrangeiros que acudiram ao Brasil e que reviveram esta memória e glória
para seu tempo e lugar. Para tanto o artista carioca se inspira a parte
inferior da tela nos movimentos populares da década de 1920 como os da rua como
dos “Dezoito de Forte” até às dos salões, clubes e jornais.
A simples odisseia desta
pintura gigante certamente diz do entusiasmo das horas de sua concepção, da sua
execução e sua não colocação no lugar ao qual havia sido destinado. Passado
este momento ela foi esquecida nos porões do Palácio Piratini. Depois sua
descoberta por Fernando Corona e Cristina Balbão e que a destinaram ao Museu da
cidade de Piratini, onde cumpriu um exilio da memória oficial e, em 2013, encontra-se em recuperação no
“hospital” do MARGS
[Ver esboço
desta obra em MADRUGADA. Porto
Alegre; Revista (1926), Nº 5 junho de
1926]
A Armory Show pode ser
considerada com um divisor de águas. A
pintura seguiu ou se opôs radicalmente as tendências apontadas pela Armory
Show de 1913. Para reagir ao corpo estranho, ela mergulhou as tintas nas
realidades nacionais e regionais. Os pintores mexicanos José Clemente Orosco
(1883-1944), David Alfaro Siqueiros (1896-1974) e Diego Rivera (1889-1975)
exaltaram a história da sua gente e atraiam as atenções internacionais sobre a
sua obra. A pintura norte-americana, ainda sem os holofotes internacionais,
buscava os seus temas tipicamente regionais[1].
Assim a lírica de Edward Hopper (1892-1967) nos devolve sensações visuais puras
do seu quotidiano. As pinturas exaltadas de Thomas Hart Benton (1889-1975)
acompanham visualmente os sons country e mostram o sonho americano enraizado no
regional. Grant Wood pintou o seu clássico “Gótico
Americano”. em plena crise norte-americana.
[1] - Este povo
norte-americano ainda encabulado diante da cultura europeia, ainda é visível na
obra de
TOFFLER Alvin, O povo e a cultura. Rio de Janeiro :
Lidador 1965, 254
JORGE HERMANN -
CONFLUÊNCIAS - uma crônica visual da REDENÇÂO – 2012
Fig.09 – O
artista plástico Jorge Hermann propôs-se a buscar as diversas CONFLUÊNCIAS do
passado e do presente que se acumulam no espaço urbano do parque da Redenção (
Farroupilha) de Porto Alegre. Plasmou uma série de registros gráficos que
perscrutam e materializam expressões desta Memória coletiva e as suas diversas
manifestações materiais dos seus frequentadores. Num registro metafísico do seu
próprio fazer artístico surpreende um
concorrente na mesma atividade do que ele. A presente imagem afirma que esta
memória continua a se construir, modificar e projetar num futuro como
aqueles que querer os seus traços
fisionômicos registrados por um artista gráfico de rua. Um procedimento que era
proibido ao povo brasileiro ao longo dos 300 anos de Regime Colonial lusitano.
Bem sabiam os instruídos colonizadores que uma simples imagem fisionômica
específica de um sujeito do povo autóctone era um grande perigo para a sua hegemonia absoluta e predatória.
O uruguaio Joaquin
Torres Garcia (1874-1949) criou uma verdadeira escola em Montevidéu, por meio
de a sua pintura. Cândido Portinari (1903-1962) está despontando no Brasil com
as suas buscas nas temáticas nacionais O que estes artistas possuem em comum é
o conhecimento e o convívio com as tendências estéticas europeias. Os pintores
Ferdinando Leger (1881-1955) e André Lhotte
(1885-1955) ocupam lugar de destaque neste continente.
FONTES BIBLIOGRAFICAS
TOFFLER, Alvin – Questões básicas de sociologia cultural 2ª ed. Rio de Janeiro:
Lidador 1967 , 255 pp
-------O povo e a cultura. Rio de
Janeiro: Lidador 1965, 254 p.
VILHENA,
Luís Rodolfo da Paixão (1963-1994).
Projeto e Missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964. Rio de Janeiro: Funarte 1997. 332p.
FONTES NUMERICAS DIGITAIS.
ACAMPAPAMENTO FARROUPILHA 2013
O APOGEU e o VAZIO
de 2 IMPÉRIOS.
ARMORY SHOW
BIENAL de
CURITIBA
9ª BIENAL do
MERCOSUL
DEONTOLOGIA das
COLEÇOES PÚBLICAS
INSTITUTO
de ARTES e a DIVIDA de CIDADE de DETROIT
Vender VAN GOGH para salvar a
cidade de DETROIT
MUSEU do GAUCHO
em PORTO ALEGRE
NADA CRESCE na
SOMBRA das GRANDES ARVORES
[ RIEN NE POUSSE À L’OMBRE DES
GRANDS ARBRES]
VAN GOGH perde
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