ESTÉTICA
do QUARTO DISTRITO de PORTO ALEGRE
(2)
Fig.01 - O pequeno indígena atravessa uma rua do Quarto
Distrito portando a tradição estética de seus ancestrais. Tradição que assimila
e mistura usos e costumes enquanto faz o seu caminho. A industrialização lhe
emprestou elementos visuais que ele adapta à
forte identidade visual da tribo. Ele
não busca esconder ou dissimular esta identidade visual determinante na
sua presença e trânsito nomeio urbano. Também não faz proselitismo desta
tradição e visualidade.
A naturalização destes índices culturais favorecem a descaracterização e a
corrupção da natureza da criação humana da arte. Em contrapartida não são menos
perniciosos e corruptores a mitificação da arte e seu cultivo fora das suas circunstâncias
de origem.
Uma manifestação artística ou cultural corre
menor tentação e risco de ser vítima de generalizações injustas ou comparações
odiosas quando se conhecem, se
privilegiam e se aceitam os limites das competências da sua origem. Conhecimento
e vontade que afastam tentativas estéticas redutoras das sensações intuitivas e
diretas para os sentidos humanos. No lado oposto - esta mesma aceitação e o
conhecimento destes limites - afasta também esquemas mentais mistificadores de
uma mente exaltada, ideológica, hegemônica e a sua aplicação subliminar em
proveitos escusos.
Fig.02 - No Quarto Distrito estão ainda fortes os
vestígios da era industrial marcada pelo ritmo implacável e soberano do relógio
mecânico de rodas e engrenagens. Este tempo, marcado por instrumentos industriais,
cede terreno ao tempo marcado pela precisão e onipresença da era pós-industrial
comandada por instrumentos digitais sem rodas e engrenagens.
Mesmo no limite
distrital ocorrem expressões artísticas muito diversificadas. No sentido
inverso é possível argumentar que este distrito representa um fractal do universal de sua
época e da cultura loca. A dialética entre o diminuto distrito e o universal
não representa intriga e nem desqualificação.
Intrigas e desqualificações promovidas por grupelhos
de gabinetes - formados por atravessadores, mediadores ou pseudo tuteladores -
surpreendem este PODER ORIGINÁRIO e emitem, em seu nome, ordens de vida e
morte. O último que consultam é o PODER ORIGINÁRIO das questões essenciais
relativas a um bem simbólico ou material. Assim atravessadores, mediadores ou
pseudo tuteladores constroem, derrubam e aniquilam conforme seus interesses e FAZENDO
besteiras irreversíveis. É o que aconteceu - no Quarto Distrito de Porto Alegre
- com o solar de Dom Diogo de Souza, governador da Província e depois Vice Rei
da Índia. A lógica linear da Era
Industrial, unívoca e totalitária considerava este Solar Colonial lusitano não
só anacrônico sob todos os aspectos, mas ocupando um precioso espaço num país
imenso e até perigoso como esconderijo de “bandidos”. A lógica Industrial por
não conhecer e reconhecer a memória material e imaterial nos vestígios do
período que a precedeu por sua vez vem
sendo arrasada por atravessadores, mediadores ou pseudo tuteladores que
agora, agora, em nome da Pós-modernidade.
Fig.03 - Na medida em que o tempo passa a ser marcado pela precisão e
onipresença da era pós-industrial entregue aos instrumentos digitais sem rodas
e engrenagens surgem expressões insólitas no Quarto Distrito. Metáforas de um tempo de
ócio e de retorno à estética dos primórdios de todas as civilizações.
Civilizações que sondam sentimentos, buscam
diálogos com improváveis interlocutores por
meio de insólitas estéticas, materiais e obras gratuitas e fora de qualquer
sistema econômico
Um dos
traços da pós-modernidade reside nesta glória oculta do arquiteto e urbanista,
com a sua “fama por quinze minutos” que
é compartilhada por milhares e produtores, comerciantes e clientela que
circulam no Quarto Distrito. A era industrial faz-se no presente na administração
do tempo pelo relógio do se funcionamento. Porém tudo isto possui sólido
fundamento na era agrícola cuja produção aflui e é a energia. A onda de retorno ao campo, para a
informação, a seleção e a reprodução genética vegetal é praticada cada vez mais
de forma intensiva com a intervenção da informática.
Os pavilhões da CEASA do Quarto Distrito
constituem um nó de circulações, palpitações e interações urbanísticas. Obra e urbanismo concebidos pelo arquiteto
uruguaio Eládio Dieste (1917-2000). Obra e urbanismo aparentam tal naturalidade
que poucos dos seus frequentadores diários personalizam - ou mitificam - o
autor do projeto deste espaço e das coberturas em tijolos cerâmicos. Porém este
espaço urbano e arquitetônico não só orienta e abriga os seus milhares de
usuários. Ele também se constitui em chave da leitura e do entendimento e conexão das três
infraestruturas materiais e mentalidades com os seus modos de ser e vida
completares e distintos entre si mesmos.
Fig.04 - A saudade do campo - cultivada no meio
urbano - encontra no sítio destinado à estatua do laçador a expressão estética
e marca simbolicamente o Quarto Distrito.
O Quarto Distrito de
Porto Alegre, constitui um espaço urbano no qual é possível acompanhar a
implantação, o apogeu e o colapso da era industrial. No seu abandono é índice
do acúmulo de capitais, mão de obra, matérias primas e de máquinas que tiveram
seu tempo e se esvaíram ou se tornaram obsoletos. Ao mesmo tempo é testemunho
da reciclagem, readaptação ao seu papel de estacionamentos de eventuais
empreendimentos de passagem por este sítio urbano. De um lado é possível
perceber que tudo o que sólido desmancha no ar, como aconteceu no dia 03 e maio
de 1971 com a explosão de uma fábrica de fogos. De outro lado o PODER
ORIGINÀRIO é desafiado a entender este passado, romper com o que é obsoleto e
crer no seu imenso potencial de criatividade, de persistência e de renovação.
Na cultura imaterial este bairro é permeado pelo cortejo da Santa que empresta
o seu nome a este pedaço de Porto Alegre. No dia 02 de fevereiro de cada ano a
convergência é para este local. Por água pra dar sentido ao porto ou por terra
para visitar e estimular aqueles que são permanentes neste local.
A História não existe
como um ente separado. Ela possui manifestações e expressões. Estas
manifestações são realizadas preferencialmente por meio de narrativas orais,
escritas ou icônicas. Os amadores discutem as estratégias destas narrativas. Os
profissionais preferem a logística destas narrativas conforme Evaldo Cabral de Mello.
O bairro Navegantes de
Porto Alegre guarda um enorme conjunto logístico aguardando a ser transformado
em narrativas de toda ordem e em todos os níveis de repertórios dos seus
agentes. Este bairro foi o cenário da implantação,
do apogeu e do colapso da era industrial na capital do estado. Ao longo da era industrial a mão de obra
confluiu de todos os recantos deste estado e de fora dele. Esta concentração de forças também trouxe os mais variados
repertórios e visões de deste mundo. Estas forças e os seus respectivos repertórios e
narrativas decorrentes ainda estão em fase de decantação. O artista e político
Guido Mondin criou uma narrativa que enfeixa as visões e percepções de mundo do
PODER ORIGINRÁRIO e que, em reiteradas ocasiões, lhe confiou representá-lo
junto aos poderes constituídos da Nação brasileira.
Foto LuisEduardo ACHUTTI
Fig.05 - A vocação do Quarto Distrito para a CONQUISTA do ESPAÇO vem
desde os primórdios da aviação comercial em Porto Alegre. A lendária pista do
campo de São João já está no passado como as numerosas companhias comerciais
que ali iniciaram as suas operações ou as usavam para atingir e partir da
capital do Rio Grande do Sul.
.
A
estética de uma mesa é índice indiscutível da cultura do povo que a põe. Além
do mais é o cenário ao redor do qual os gostos se dividem, explodem as intrigas
e traições e é sobre esta mesa que se tenta consertar os cacos resultantes das
pelejas. Mas também nesta mesa conserva-se, se reproduzem e se atualizam os hábitos
civilizados. Nesta mesa civilizada afastam-se ressentimentos, desigualdades
e provações de toda ordem. Quem
transita, estaciona temporariamente ou vive no QUARTO
DISTRITO encontra um variado visual culinário. Para o PODER
ORIGINÁRIO ali radicado a sua mesa é o lugar do cultivo e da expressão das suas
mais puras energias positivas. No QUARTO DISTRITO também não
possui um prato típico ou especialidade culinária predominante como no restante
das expressões culturais. Na apresentação, desta mesa, reina uma
SALADA visual como ao redor dela
confraternizam estéticas e etnias ao modelo do que acontece nas IDEOLOGIAS
que ali circulam. Por sua vez a era industrial impôs rituais e
etiquetas coerentes com a pressa, a divisão de trabalho e sob estrito controle
do onipresente relógio. A migração, da área rural e da campanha sul-rio-grandense,
trouxe os hábitos alimentares do campo para o QUARTO DISTRITO. Porém
tiveram de serem reelaborados e tornados
coerentes com a indústria e produção em
série. Mesmo distantes no tempo e nos lugares de origem da mão de obra uma
grande série de restaurantes se adaptaram e cultivam, de outra forma, estes
hábitos campeiros. Estes rituais e etiquetas convergiram do paradigma da CHURRASCARIA
ao MODELO daquele que o empresário industrial Alberto Bins consagrou na
Exposição Farroupilha de 1935[1].
A tradicional CABANA dos SANTOS formou gerações que multiplicaram os rituais, a
etiqueta e a configuração visual deste modelo no espaço público tornaram-se verdadeiras
referências gastronômicas. Estas referências foram reforçadas na medida em que QUARTO DISTRITO
concentrou a sua vocação como grande espaço de estacionamento de
transportadoras. Os motoristas do interior, que demandam a capital, tornaram-se
os seus clientes preferenciais.
[1]
Exposição Farroupilha e Churrascaria http://lealevalerosa.blogspot.com.br/2010/05/centenario-da-revolucao-farroupilha.html
Fig.06 - A paisagem do Quarto Distrito é rasgada
por variadas vias terrestre, aérea e fluvial.
O QUARTO DISTRITO é uma área de transição e
permanentes andaimes de obras em construção. Nesta transição ele guarda traços
do passado é coerente com a atual o Pós-Modernidade e não para e projetar a sua
vida futura. Como todas estas realidades
não cabem num único paradigma poucos dedicam tempo, vontade ou
interesse em conhece-lo e trabalha-lo
numa dimensão abrangente. Os que se valem dele,
chegam de outra parte,
estacionam, trabalham e procuram outros
ares por terra, rio ou aeroporto e em lugar bem
diferente do seu burburinho de estranhos entre si. O seu SER está
marcado pelo TEMPO precário e fugaz, como a própria VIDA que palpita nele. O QUARTO DISTRITO leva uma vida precária e
efêmera. Assim é IMPOSSIVEL ser CONFORMISTA no QUARTO DISTRITO
de PORTO ALEGRE como lugar de passagem, de embarque e desembarque . Poucos passam toda a sua vida neste lugar do
planeta. Como lugar de estacionamento chegam
e outra parte, trabalham e ganham outros ares. Assim poucos tem tempo de
conhecer o Quarto Distrito como um todo ou
em alguns das aspectos aqui apontados. Assim os que chegam, os
permanecem ou partem possuem em suas mentes uma SALADA visual, estética e até
IDEOLÓGICA no meio destes vozerios de ‘efeito cock-tail’ na medida em que os
atores se aglomeram e tentam falar neste ambiente de sua impressões pessoais.
Fig.07 - As pontes do Quarto Distrito constituem um capítulo a
parte da paisagem e da estética do Quarto Distrito. Pontes que na concepção da
engenharia soa “obras de arte” certamente constituem, no Quarto Distrito, uma singular “arquitetura sem arquiteto”. Não são
como as do arroio Dilúvio com a carga estética que o artista Francisco Bellanca
que lhes conferiu. Além do mais fogem da lei municipal ou a contornam –
relativa a presença física de uma obra de arte para lhes propiciar uma identidade
visual própria e única.
Pontes e água forma uma
mesma realidade. A vida depende da ÁGUA tanto na sua origem, no seu
desenvolvimento e na sua reprodução. Até 2014 o planeta Terra é único conhecido
que possui ÁGUA suficiente para manter o processo da vida autossustentável. A
responsabilidade humana cresce na medida em que esta criatura toma estas forças
da vida em suas mãos e nelas interfere. Forças que se sustentam num equilíbrio
homeostático e cujas variáveis escapam ao entendimento e ao controle humano
como se percebe nas catástrofes climáticas recorrentes e cada vez mais
frequentes. É indubitável que a ÁGUA potável é um bem limitado. O esgotamento,
a poluição e envenenamento dos mananciais já é uma realidade gritante em
diversos pontos do planeta. O agravante é que esta criatura cada vez mais é
responsável pelo condicionamento em que deseja viver e se perpetuar através e
sucessivas gerações. A sanção dos atos humanos ultrapassa a moral e castigo é
físico. Esta sanção tira prêmio ou castigo físico diretamente no âmbito do bem
estar e na própria sobrevivência física da espécie.
Fig.08 - A vitrina física e concreta do comércio
varejista e popular foi um poderoso meio de difusão, conhecimento dos mais
variados produtos industriais e do artesanato. O Quarto Distrito teve várias
empresas que se dedicavam ao vidro e suas mais variadas utilizações incluindo
equipamentos para vitrines.
A
milenar arte do vitral e da cerâmica foi exercida por
artistas e artesões que instalaram seus ateliers e oficinas no bairro
Navegantes. Um entre tantos foi o Hans Veit. Ele era herdeiro de uma tradição
familiar na fabricação de vitrais e exímio artista da cerâmica. Consultor das
fábricas de cerâmica de Criciúma. E notabilizou pelos portentosos vitrais
espalhados pelo Rio Grande do Sul. Na cerâmica marcou presença nos emblemas das
fachadas dos prédios da UFRGS construídos na sua época. Quando aera industrial
começou a declinar no bairro Navegantes tentou passar adiante o seu saber teórico
e prática por meio da Escola Técnica UABOI. Porém a linha e montagem, a
produção em série e as escassas encomendas tinham os dias contados.
Hans Veit cultivou o seu
nome como o artista contemporâneo. No outro extremo não perdeu os seus vínculos
com o modo de trabalho da guilda medieval Mas este conjunto ele o conduziu para
a linha de montagem em série. Assim jamais perdeu o contato com o PODER
ORIGINÁRIO. Proveniente do repertório e da estética populares foi coerente na
sua Arte e na sua vida com esta origem.
As fábricas de vitrais
que atuaram no bairro Navegantes foram vestidos, estudados e sistematizados
pelo trabalho de Mariana WERTHEIMER
Evidente
que não existe uma ESTÉTICA OPERÁRIA. Existem manifestações e expressões
profundamente marcadas pela vida operária, o seu modo de ser e algo em
permanente mudança. Esta vida e mentalidade materializam-se pontualmente na
Arquitetura como é visível no estudo (1975) de Blanca Brites. As apropriações e
as adequações também são visíveis nos meio de comunicação visual como mostra o
estudo de João Batista Marçal (2004). Este percebeu uma SALADA, estética e
IDEOLÓGICA no meio destes vozerios de ‘efeito
cock-tail’ nos órgãos de imprensa que tinham o operariado por seu alvo e
clientela. Esta SALADA estética e IDEOLÓGICA está bem evidente produção e
inclusive na apresentação visual dos jornais redigidos, impressos pelo
operariado ou dirigidos a ele.
Porém o seu leitor adquire e reforça na escola seu
gosto pelo consumo dos bens simbólicos.
Mesmo que esta escola tenha as peculiaridades de uma descrita pelo ministro,
senador e artista Guido Mondin.
“... uma das mais singulares
escolas: a do 4º Posto. Corria o ano de1920. A promoção era do Delegado de
então, ali atuando por longo tempo, o Major Hercules Limeira, homem de admirável
espírito publico. [..] A escola do 4} posto era de um professor só. O primeiro
a lecionar naquela sala da delegacia foi o professor Armando Câmara, de tão
grande expressão na vida social, cultural e política do Rio Grande. Um homem
para brilhar na cátedra universitária, humildemente ensinava o bê-á-bá a
crianças proletárias. Maravilhoso. Sucedeu-o, inaugurando a palmatória no
castigo a assustados petizes, o professor Carlitos. Carlitos era aficionado de
duas coisas: Futebol e cachaça. Noutras página falei do Esporte Clube
Municipal, de que o simplório educador erigia-se no mais exaltado admirador. O
clube estava no bairro, nas cercanias da escola, à rua Pereira Franco.
Entusiastas também do Municipal eram os policiais lotados na 4ª Delegacia. Nós
os chamávamos, então, de ratos brancos, não sei com que explicação. No dia
seguinte a cada partida do time, não havia aula. Eram, professor e policiais, a
comentar vivamente o jogo, o giz correndo no quadro-negro, na reconstrução de
cada lance – e os alunos a divertir-se com a folia. A sala de aula ficava junto
ao pátio da Delegacia. Quando o Municipal perdia, o silêncio era sepulcral, com
o mestre amuado, só se ouvia, lá fora, o rascar das longas espadas dos ratos,
riscando o lajedo, Eram também dia pletórico de palmatória, mão vermelhas e
prantos, quando não do pouco pedagógico recurso de trancafiar os alunos
desatentos nas celas, juntamente com ladrões de galinha que superabundavam no
bairro. Sem dúvida uma escola franca, mas de risonha não tinha nada. Comas
bebedeiras do Carlitos, parece que o major Limeira resolveu acabar com o curso.
Se seus alunos porventura triunfaram na vida, tenha-se certeza de que não foi
produto daquela atormentada alfabetização.
(Mondin, 1987, pp.150-151)
MONDIN, Guido Fernando (1921-2000) Burgo sem água-
reminiscências do 4° Distrito - Porto
Alegre: FEPLAN,1987 187 p.
Fig.09 - O ativo mestre Francisco Brilhante
(1901-1987) manteve o seu atelier de desenho, pintura e fotografia no Quarto Distrito. Ali fazia companhia não só
outros mestres do bairro, mas também repassava a sua arte para jovens
discípulos. A sua despretensiosa e direta maneira de levar ao povo a sua arte estão
sendo seguido por uma legião de artistas de rua que o reconhecem como um
pioneiro.
O colapso da era
industrial em Porto Alegre é evidente no bairro Navegantes. No uso, na
reinterpretação e readaptação dos seus imóveis a decadência deixou camadas
sobre camadas. Índices perceptíveis nas cores soturnas e gastas pelas
intempéries, pela degradação dos materiais e pelas camadas de poeira
concentrada nestas obras urbanas e fuligem resultante das máquinas de antanho
engrossada pelos veículos que trafegam e usam este ambiente como
estacionamento. Esta realidade em
decadência foi a inspiração de artistas visuais, de jornalistas e cronistas
deste o cenário. Um deles foi Gastão HOFSTETTER. Vinda do ambiente gráfico forjou sólida
amizade com esta equipe da Editora Globo comandada por Ernest ZEUNER
(1895-1967), buscou profissionalização ao se juntar aos colegas na Associação
Francisco Lisboa. A sua obra é coerente com a sua vida. Vida capaz de perceber
as cores, as formas e a matéria dos seus temas e capaz de criar quadros que
sobrevivem e são testemunhos dos sentimentos e conceitos dos quais era portador
o autor destas pinturas. Os artistas e artesões
instalaram seus ateliers e oficinas no bairro Navegantes. Eles respondiam
cenário da implantação da era industrial em Porto Alegre. Entre eles estava o toreuta Romano Reif. Ele foi responsável
por numerosos quadros de formatura em diversos estabelecimentos de ensino da
época. Estas obras eram identificadas com a assinatura ‘ROMANO’. Figuravam e
eram ostentadas em Porto Alegre em portarias de diversas escolas tradicionais
da época. A matéria prima destes quadros-cenários era a madeira nacional
abundante, rica e variada. Emolduravam a arte dos mais festejados fotógrafos
estabelecidos em renomados ateliers da capital.
A inovação de Romano que permanece no final do século XXI numa firma que
comercializar chapas aglomeradas sintéticas no Quarto Distrito como
prolongamento de sua oficina de marcenaria. A memoria de ROMANO REIF é
cultivada no nome de Biblioteca Pública na Vila do IAPI de Porto Alegre, pelo
nome de rua e na lembrança dos seus alunos de Educação Física. Sua filha
Margarida Reif, foi aluna do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Ela
formou-se em escultura com o prof. Fernando Corona.
Detalhe de mosaico de Edmundo Colombo na
Avenida Farrapos do 4º Distrito de Porto Alegre
A Fig. 10 - indústria automobilística sempre teve representes ativos e
empreendedores no Quarto Distrito. Esta
vontade transfigurou se num MOSAICO público que EXALTA esta ERA INDUSTRIAL
centrada na imagem do automóvel.
A estética do Quarto
Distrito de Porto Alegre esteve profundamente marcadas pela infraestrutura da
industrial. As numerosas suas salas de cinema – eventualmente também teatros -
se destinavam massivamente para escoar a
produção cinematográfica dos países hegemônicos industriais. Isto não impediu a
produção local da 7ª Arte no Quarto Distrito nas mãos de Eduardo Abelim, nos
jardins de Antônio Mondin (atual Praça Pinheiro Machado). Este material era
distribuído pelo próprio Abelin que se tornava caixeiro viajante de sua
produção. Não mais em mulas e cavalos, mas em automóveis com os quais fazia
exibições ao vivo para as populações interioranas fascinadas com o novo modo de
vida e que tornava obsoletos as suas práticas dependentes absolutamente da
Natureza.
Vasco Prado 1967
Fig.11 - A figura de Ruben Martin BERTA (1907-1966) é um entre os numerosos
lideres empresariais que fizeram do Quarto Distrito a base física de suas
variadas empresas. BERTA levou a empresa, que comandava, para todos os
quadrantes do planeta. Ele como a geração de capitães de indústria desta parte
de Porto Alegre mantiveram o projeto estava firmemente ancorado nos
pressupostos da era industrial. Entre estes os autênticos líderes sabiam do
pressuposto de que todo poder circula e flui constantemente. Migraram para a
era pós-industrial eixando não so legado do seu exemplo, mas empresas que se
adaptaram e continuam a gerar o bem estrar, propiciando trabalho e
desenvolvimento coletivo em novas bases empresariais.
Poucos possuem tempo, disposição ou alcance
cultural para conhecer o QUARTO DISTRITO como um todo, mesmo nos diversos
aspectos apontados na presente postagem. As necessidades básicas da maioria que
transita por ele definem interesses e urgências claras das suas vidas e
diferente do que a pura contemplação estética. Transeuntes que chegam de outra
parte, trabalham ao modo de lugar de estacionamento e ganham outros ares. Poucos
passam toda a sua vida neste lugar do planeta.
Ao rever a presente
postagem com olhar mais distante, é possível constatar que as
necessidades básicas - da maioria que transita por ele – são
coerentes com a SALADA formal e conceitual apresentada pelo visual do QUARTO
DISTRITO. Diante disto procurou-se evitar que o QUARTO DISTRITO seja mitificado
e fosse apresentado e visto como um clássico. Em contrapartida esta vontade,
sentimento e ação da criatura humana - neste seu estágio embrionário –
também não podem ser reduzidos e naturalizados
em um eclético e imponderável juízo “GOSTEI” ou “NÃO GOSTEI”.
A ESCOLA do 4º POSTO.
A ESCOLA do 4º POSTO.
Fig.12 - A constante construção e demolição
afetaram os objetos físicos e patrimoniais da memória do Quarto Distrito. A
antiga sede da DELEGACIA – ou POSTO do QUARTO DISTRITO de PORTO ALEGRE foi
demolida para dar lugar para as OBRASA da TERCEIRA PERIMETRAL e ao VIADUTO José
Eduardo UTZIG [1]
sobre a Avenida Benjamin Constant., No
entanto este mesmo prédio abrigou uma ESCOLA PARTICULAR cujo diretor mantinha um CLUBE e um TIME de
FUTEBOL[2]
[1] https://www.tripadvisor.com.br/Attraction_Review-g303546-d12272585-Reviews-Viaduto_Jose_Eduardo_Utzig-Porto_Alegre_State_of_Rio_Grande_do_Sul.html
[2] MONDIN,
Guido Fernando (1921-2000) Burgo sem água- reminiscências do 4°
Distrito - Porto Alegre: FEPLAN,1987, 187 p.
O distanciamento é cada
vez mais possível na medida em que a era pós industrial vai envolvendo a tudo e
a todos. Enquanto isto a era industrial - tão presente em épocas passadas - vai
recolhendo as suas energias e métodos. Assim esta era industrial deixa um lugar
para saudade, um tempo de recordações
que se mudam para a História além de signos e objetos que vão para museus.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
BRITES, Blanca Luz – Le kitsch et l’art populaie en
Brésil – Tese - Orientação Marc Le Bot (1921-2001) - Paris: Université de Paris I (Pantheon Sorbonne)
1975, 105 p
LAYTANO, Dante (1908-2000) Festa de
Nossa Senhora dos Navegantes: estudo de uma tradição das populações
Afro-Brasileiras de Porto Alegre – Curitiba: Instituto Brasileiro de
Educação e Ciência (I.B.E.C.C.)- Vol.
6 1955 – 128 p.
MARÇAL João Batista A Imprensa Operária do Rio Grande
do Sul 1873-1974– Porto Alegre: do Autor – 2004, 288 p. il.
MELLO, Bruno César Euphrasio de "A cidade de Porto Alegre entre 1820 a 1890: as transformações físicas da capital a partir da impressões dos viajantes estrangeiros"[dissertação Orient. SOUZA, Célia Ferraz de] Porto Alegre: Faculdade de Arquitetura da UFRGS. 2010, 213 f.; il.;30 cm
http://www.archdaily.com.br/br/tag/bruno-cesar-euphrasio-de-mello
MIRANDA, Adriana
Eckert - Planos
e projetos de Expansão Urbana
Industriais e Operários em Porto Alegre (1935-1961) – Porto Alegre:
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbana e Regional – Faculdade de
Arquitetura da UFRGS Orientação de Günter Weimer – 2013, 371 p.
MONDIN, Guido Fernando (1921-2000) Burgo
sem água- reminiscências do 4° Distrito - Porto Alegre: FEPLAN,1987, 187 p.
WERTHEIMER, Mariana [Coordenação] - ESTUDO do PATRIMÔNIO de VITRAIS produzidos
em Porto Alegre no período de 1920-1980. Porto Alegre: DVD- Patrocínio
PETROBRAS [2009] -Indexação na Biblioteca da USP – julho 2009
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
QUARTO DISTRITO de PORTO ALEGRE:
¿ o que é isto?
A ESTÉTICA do 4º DISTRITO:
sumário do mês de fevereiro de 2014 em:
A FESTA das ÁGUAS de NAVEGANTES e de VENEZA
SOLAR COLONIAL do 4º DISTRITO
ARRASADO
FRANCISCO BRILHANTE
(1901-1987) homenageado
AS NECESSIDADES
BÁSICAS ATRAVESSAM as DIVERSAS INFRAESTRURAS.
WELTGEIST fig. DEAL
TUDO o QUE É SÓLIDO DESMANCHA
no AR .
01.02.2014
¿ A ÁGUA ainda é uma FESTA ?
02.02.2014
NAVEGANTES um BAIRRO de PASSAGEM e de ESTACIONAMENTO
03.02.2014
O DEMASIADO BEM QUERER.
04.02.2014
A ESCOLA do 4º POSTO.
06.02.2014
BURGO SEM ÁGUA.
07.02.2014
Uma GUERRA começa e termina numa MESA.
08.02.2014
A ESTÉTICA da DECADÊNCIA.
09.02.2014
ARTESÕES do BAIRRO NAVEGANTES PERPETUAM EVENTOS
http://www.poder-originario.com/news/artes%C3%B5es-do-bairro-navegantes-perpetuam-eventos/
http://www.poder-originario.com/news/artes%C3%B5es-do-bairro-navegantes-perpetuam-eventos/
ROMANO REIF
10.02.2014
ARTESÕES do BAIRRO NAVEGANTES COLOREM a LUZ.
HANS VEIT (1898-1985)
11.02.2014
ARTESÕES do BAIRRO NAVEGANTES e o USO do VIDRO.
CASA GENTA-SCHMIDT
12.02.2014
As LÁGRIMAS do COMANDANTE RUBEN MARTIN BERTA (1907-1966)
13.02.2014
TREM de PASSAGEIROS sem RETORNO
SANTA MARIA – PORTO ALEGRE 04 de fevereiro de 1996
14.02.2014
QUARTO DISTRITO de PORTO ALEGRE:
¿ o que é isto?
15.02.2014
A INDEPENDÊNCIA do BRASIL NÃO
FOI GRITO
16.02.2014
SOLAR COLONIAL do 4º DISTRITO ARRASADO
17.02.2014
NAVEGANTES e o CAMINHO NOVO.
18.02.2014
GODÓI – Um COLÉGIO do QUARTO DISTRITO
19.02.2014 –
ARTE DECÔ da PRAÇA PINHEIRO MACHADO.
20.02.2014 –
SAUDADES do CAMPO.
21.02.2014 –
SAUDADES da ERA INDUSTRIAL.
22.02.2014
O QUARTO DISTRITO VOLTADO para o FUTURO
23.02.2014
No QUARTO DISTRITO BUSCA-SE ENERGIA para o FUTURO
24.02.2014
QUARTO DISTRITO: CENTRO GEOGRÁFICO da REGIÃO METROPOLITANA.
25.02.2014
O QUARTO DISTRITO na INDÚSTRIA CULTURAL do ESPORTE.
26.02.2014 –
AS NECESSIDADES BÁSICAS ATRAVESSAM as DIVERSAS INFRAESTRURAS.
27.02.2014
O QUARTO DISTRITO um MICROCOSMOS em permanente TRANSITO para se
TRANSCENDER.
28.02.2014
SUMÀRIO: ESTÉTICA do QUARTO DISTRIRO
Este
material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de
ensino-aprendizagem
Não
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eventuais usuários
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