quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

079 – ISTO é ARTE


O INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL: ARQUITETURA e URBANISMO.

Nada é transmissível a não ser o pensamento
Le Corbusier[1] in Boesiger, 1970, p.168.


[1]   BOESIGER, Willy .  Le Corbusier Les Derniers  œuvres  Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8,  208 p
.


Imagens do Curso de GRANDES COMPOSIÇÕES que ocorreu em julho de 1948. Origem da foto: Arquivo do IA-UFRGS.
Fig. 01 – Arquitetos e urbanistas reunidos no bar do IBA-RS em julho de 1948. No pensamento aristotélico “a ARTE ESTA em QUEM a PRODUZ” Assim esta foto de julho de1948 reúne alguns criadores do pensamento arquitetônico ativos no Rio Grande do Sul, nesta época.

No registro e na análise do pensamento que permanece da Arquitetura e do Urbanismo em relação ao que foi construído, de fato, do Rio Grande do Sul é necessária muita atenção. De um lado é necessário contornar a frequentes mitificações como os recorrentes “estilos ecléticos” tão comuns nos discursos e nas narrativas da História da Arquitetura de Porto Alegre. Do outro é necessário desconfiar do reducionismo estilístico, desqualificações e naturalizações intempestivas.  Busca-se aqui as origens do pensamento na Arquitetura e no Urbanismo e alguns registros de suas expressões práticas em função do seu tempo, do seu lugar e do seu povo. No registro de suas expressões práticas evitam-se os antolhos das estreitas e cansativas mentalidades estéticas, políticas e ideológicas. Estas poderiam exibir argumentos fixos e maniqueístas como do embalsamento do acervo arquitetônico e urbanístico do Rio Grande do Sul em uma ou outra forma preconcebida e preconceituosa de marketing e de propaganda de meias verdades.


Fig. 02 – Na etimologia da palavra escola é  o “lugar do ócio”. Ócio conquistado e concedido à favor da concepção e ao desenvolvimento do pensamento. A formação escolar do Arquiteto no IBA-RS era de cinco anos. No caso do Urbanismo havia ma\ais dois anos a serem cursados
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Delimita-se aqui a origem e algumas materializações nas expressões do  pensamento  na Arquitetura e no Urbanismo no projeto do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS). Este foi concebido e colocado no  mundo, em 1908. Este projeto tinha por núcleo o pensamento que ele seria constituído por meio das doações e liberalidades daqueles que de fato gostavam das Artes. Pelos estatutos[1] desta instituição coube à sua ESCOLA de ARTES entre as suas competências, liberalidades e limites a tarefa do ensino da “pintura, a escultura, arquitetura e as artes de aplicação industrial. É forçoso reconhecer que as condições práticas só foram atingidas pelo IBA-RS na década de 1940-1950. Esta plenitude também declinou rapidamente.


[1] ESTES ESTATUTOS FORAM PUBLICADOS NO JORNAL OFFICIAL « A FEDERAÇÃO», A 22 DE AGOSTO DE 1908 E DADOS À INSCRIPÇÃO NO REGISTRO GERAL DE HYPOTHECAS, A 28 DO MESMO MEZ E ANNO, TENDO SIDO LANÇADOS SOB Nº 90 A FLS. 25 DO RESPECTIVO LIVRO.


Fig. 03 –  O Curso de Urbanismo do IBA-RS era oferecido aos estudantes que haviam cursado os 5 anos de do Curso Superior de Arquitetura ou de Engenharia. Na Escola de Engenharia da URGS o curso de Arquitetura era oferecido em 2 anos como especialização sendo estes estudantes diplomados como ENGENHEIROS ARQUITETOS.
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O observador necessita ter meios para buscar, com autonomia e vigor, o pensamento e a mentalidade provenientes do campo da Arquitetura. Especialmente num  lugar, num tempo e numa cultura sujeita as intempéries e as vicissitudes provocadas por  intrigas conceituais, estéticas ou econômicas sem medida ou autonomia. Autonomia e energia que ainda carece qualquer pensamento embrionário  e sem um projeto definido e evidente para todos.

Arquivo do Templo Positivista de Porto Alegre
Fig. 04 – O  projeto para as Balneário de Irai foi conduzido  pelo arquiteto Ernani Dias Corrêa (1900-1982). Ele viajou pelos balneários europeus para colher dados. Colega de turma Lúcio Costa e de Atílio Corrêa  na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). A sua formação de Arquiteto  incluía a de Engenharia. No Rio Grande do Sul trabalhou na urbanização de Arroio do Meio, Irai e Vila Floresta de Porto Alegre. Catedrático no IBA-RS, Escola de Engenharia e na Faculdade de Arquitetura da URGS. Primeiro presidente do IAB_RS.

O IBA-RS atingiu alguns índices destas condições práticas ao longo da II Guerra Mundial e logo  após ela. Neste período as  culturas hegemônicas tiveram outros problemas para os quais foram forçados a dirigir o seu pensamento, suas ações e os seus recursos.


Fig. 05 – O  Balneário de Irai foi inaugurado no dia 20 de setembro de 1935 no Centenário Farroupilha. A sua localização e de difícil acesso até o  presente também sofreu a decadência da concepção da busca da SAUDE NATURAL o que afetou a maioria deste tipo de balneário.

No Rio Grande do Sul os resultados não foram imediatos e evidentes para todos.  Mas é neste período que uma equipe de arquitetos se instituiu e trabalhou no IBA-RS. Equipe sob a orientação de experientes mestres na arte de projetar prédios e propor soluções urbanas criativas. Porém o mais importante é que esta equipe tratou de reproduzir as competências numa nova geração.

CORONA Fernando. Álbum do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de MODELAGEM
Fig. 06 – Maquete produzida por um grupo de estudantes do Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS e fotografada contra a paisagem urbana de Porto Alegre com a usina elétrica ao  fundo.  O atelier de Escultura do Professor e arquiteto Fernando Corona que lecionava as disciplinas de Modelagem e de Maquete. O trânsito entre três áreas erara natural e diária. Vinha se somar com o Mural Arquitetônico

Nesta reprodução tratou de garantir o fluxo do seu saber especifico. Este fluxo  da formação de Arquitetos e Urbanistas com  profundas vivências e mergulhos diários em todas as manifestações da Arte. Fluxo que evitava o absurdo de expor estas jovens e inexperientes mentalidades à uma verdadeira “indigestão universitária” ao currículo formal de saberes provenientes de 22 departamentos e sem um nexo interno. De outro lado correm o risco de serem submetidos a uma monocultura de um treinamento técnico e esterilizante da “perigosa e inútil” criatividade. Entre estes extremos a prática e a experimentação inerente às Artes Plásticas propicia aos novos arquitetos e urbanistas desde o primeiro momento da formação institucional, a natural contraposição a uma endogenia reforçada por um mundo livresco e teórico.  Se persistir o acúmulo de saberes desconexos e sem a pratica inerente às Artes,  o máximo que pode acontecer a um formando será reproduzir outra Faculdade de Arquitetura numa endogenia estéril e esterilizante.

CORONA Fernando. Álbum do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de MODELAGEM
Fig. 07 – Um conjunto de maquetes do Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. As pranchetas foram dispostas em forma de quadras urbanas. Em cada maquete é perceptível o pensamento intensamente discutido em cada grupo. Este pensamento transparece na ocupação e np aproveitamento do espaço. Cada conjunto revela uma forma diversa, mas que  não compromete a circulação humana e do ar entre os prédios

O pensamento arquitetônico, criativo e coerente com os seu tempo e lugar, fluirá longe desta endogenia. Esta se multiplicará ao infinito por meio de receitas redutoras e formulários inócuos para rupturas epistêmicas consistentes e coerentes com os seu tempo e lugar. No contraditório o mundo da Arte pode-se corromper pela mesma endogenia reforçada por um mundo livresco e teórico. Porém como a  Arquitetura é a Arte que soma tanto as artes das superfície como as tridimensionais ela não só renova os ambientes tridimensionais, como impõe um experimentalismo com superfícies inovadoras e correntes com novas circunstâncias.


Imagens do Curso de GRANDES COMPOSIÇÕES que ocorreu em julho de 1948 Origem da foto: Arquivo do IA-UFRGS :
Fig. 08 – Nesta foto é visível ainda a confecção direta da circulação do pensamento entre estudantes e professores. Estes formam um verdadeiro colóquio internacional. O austríaco Steinhof dialoga com os uruguaios Cravotto e Arosteguy e o espanhol Corona. Este por sua vez presta atenção aos brasileiros como o poeta escritor Damasceno e o administrado Tasso Corrêa.  A circulação de ideias, a presença de estrangeiros auspiciam  um pensamento arquitetônico renovado.
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O cultivo do campo de forças da Arquitetura necessita remover muito entulho do seu caminho no RS para mostrar o seu potencial e garantir para as novas gerações a vigência plena das suas circunstâncias. Entulhos de um Neo academicismo que esconde a sua falta de pensamento atrás de brilhantes e ofuscantes fachadas de pele de vidro e de esquadrias de materiais brilhantes.  


Fig. 09 – Faltam pesquisas para evidenciar, estudar e fazer circular informações relativas às obras e pensamento de cada um destes personagens presentes nesta foto.  Entre eles possível projeto do austríaco Steinhof para Porto Alegre e circulação do seu pensamento entre estudantes e professores.  As vezes que este pensamento possui algo em comum com a rápida entropia e degradação dos prédios  modernistas .
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O que se quer evitar, por meio desta postagem, é ficar omisso de não alertar em relação à acelerada marcha a ré  rumo a este neo-academicismo da pior espécie. Neo-academicismo favorável aos mediadores, atravessadores e aqueles que buscam tutelar arquitetos e urbanistas e com isto esterilizam e colocam a  sua criatividade na heteronomia. Tutela na qual vivem de pequenos favores que os senhores neo feudais lhes jogam para manter a continuidade da servidão voluntária de arquitetos, de urbanistas e de artistas. Tutela alimentada pelo falso marketing e propaganda de produtos que de fato trazem embutido o processo de obsolescência programada. Produtos que já perderam a validade do seu pensamento quando foram descartados  nas culturas que se consideram hegemônicas. Porém nas culturas periféricas são requentados em sistemas que respondem pelas etiquetas e fixados pelos alfinetes classificatórios como os de “contemporâneos” e “pós-modernos”.


Fig. 10 – O primitivo Auditório Araújo Vianna era a céu aberto na Praça da Matriz de Porto Alegre. Na sua transferência para o Parque Farroupilha o arquiteto Maximiano Fayet realizou, no mesmo pensamento, este projeto original deste novo Auditório. Certamente não faltam auditórios cobertos apesar de Porto Alegre não possuir ainda seu Teatro Municipal. Inclusive na mesma praça localiza-se o Salão de Atos da UFRGS. Fayet formou-se  nos cursos superiores de Artes Plásticas e de Arquitetura do IBA-RS

Evidente que uma mente flanadora – por cima e por fora- magnetizada e colonizada por uma ideologia, alienígena, fixa associada a uma estética única e linear,  não percebe e nem interessa perceber um pensamento que emana de obras arquitetônicas que buscam o seu aqui e agora. Obras arquitetônicas que pagam o preço de se livrar de heteronomias incômodas e alienantes. Obras arquitetônicas de autores que pagam o preço por não se submeterem aos preceitos do mercado, do marketing e da propaganda.

Fonte BERNARDES Dalto - 2000
Fig. 11 – A verticalização de Porto Alegre contou com a firme participação dos estudantes formados no Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. Assim os prédios Jaguaribe e CRT  possuem a assinatura de Luís Fernando Corona um destes estudantes. Carlos Mancuso, outro destes estudantes do IBA-RS ocupou o lugar de um projeto para o Prédio do IPE recusado de Oscar Niemeyer.

A Engenharia não é infensa á Arte e á Arquitetura. Os engenheiros como Rudolf Ahrons (1869-1947) e o engenheiro Edmundo Gardolinski (1914-1974) demonstraram esta interação em Porto Alegre no passado.  Nesta interação virtuosa gravitou ao redor deles a mais alta criatividade. Cultivaram a circulação do pensamento proveniente das Artes, da Arquitetura e do autêntico Urbanismo. Ahrons gerou uma verdadeira época que muitos identificam com seu nome. Gardolinski administrou o plano das obras do IAPI ao longo da II Guerra Mundial. Esta vila operária continua em plena vida e vigência. As  relações de Garlonsnski com o IBA-RS eram continuadas e profundas.
Por este minúsculo índice das relações da Engenharia com a Arte no Rio Grande do Sul supõe-se  um imenso campo no qual seja possível localizar a origem e as aplicações práticas do pensamento a partir desta fonte. Um destes desafios será localizar,  estudar e divulgar  índices do  pensamento de Eugen Steinhof.


Fig. 12 – O projeto de Oscar Niemeyer recusado para o Prédio do IPE a ser construído na Av. Borges de Medeiros. Neste lugar ira ser erguido o Pavilhão que a população apelidou de ”Mata Borrão. Mais adiante este lugar foi ocupado pelo prédio da Caixa Econômica Estadual e atualmente “Tudo Fácil”.  

Os estudos da História da Arte e da Arquitetura são muito recentes e sem um acumulados de saberes muito  menos um suporte logístico confiável e disponível. Assim ainda é necessário mostrar que este fluxo das suas forças pertence a um passado e o que possível  é apenas a construção de narrativas que possui ele como objeto. Impossível retornar a este tempo como também fixar-se em desafios vencidos ou frustrados que não podem serem transpostos ao presente.


Fig. 13 – O arquiteto Joseph Seraph Lutzenberger mantinha uma produção plástica constante e complementar  à sua obra construída. Este bávaro radicado em Porto Alegre e com série de prédios com a sua assinatura pessoal, como este da FEDERASUL, contribui com o seu conhecimento e pensamento estético autônomo para a formação das primeiras turmas do Curso Superior específico de Arquitetura com a duração de cinco anos que o Rio Grande do Sul teve.  

A História não se repte a não ser como farsa ou como máscara para esconder a falta de pensamento próprio e vivo. Compete a quem se entrega ao cultivo do pensamento que emana da Arquitetura do passado não repetir ou duplicar este pensamento.

Pesquisa de Cícero ALVAREZ.
Fig. 13 – ESPAÇO: revista de Arquitetura Urbanismo e Arte. Porto Alegre:  Estudantes do IBA-RS - ano 2, nº 4. dez. 1949 - capa

ALGUMAS FONTES desta POSTAGEM
ALVAREZ, Cícero- FARICIO, Lídia Maria Oliveira – PEREIRA, Claudio CaloviUm palácio para a justiça: as sedes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 2013.296 p  ISBN 9788589676076
BERNARDES Dalto – Jaguaribe e Espanada  o  edifício de apartamentos modernista no paradigma habitacional em Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS- Fac. Arquitetura PROPAR 2000, 216 p.
BOESIGER, Willy .  Le Corbusier Les Derniers  œuvres  Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8,  208 p
CORONA Fernando. Álbum do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de MODELAGEM. 21.09.1955  Documentário fotográfico de 1946 – 1947 – 1948 – 1949 – 1950 – 1951 + Viagem a Europa  1952  - Folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  como fotos coladas. Arquivo  do Instituto de Artes da UFRGS 
ESPAÇO: revista de Arquitetura Urbanismo e Arte. Porto Alegre:  Estudantes do IBA-RS – Direção de Carlos Fayet – Enilda Ribeiro – Nelson Souza- Jorge Brites Vives – Luis Fernando Corona - ano 2, nº 4. dez. 1949
FIORE, Renato Holmer. Arquitetura Moderna e Ensino de Arquitetura:  cursos em Porto Alegre de 1944-1954.  Porto Alegre:  PUC/ dissertação,  1992.  429 fls+ anexos.
RIOPARDENSE de MACEDO, Francisco.  «30o Aniversário do Ensino de Arquitetura no  Rio Grande do Sul : O Primeiro Curso de Arquitetura» série in Correio do Povo: Porto Alegre, Nov. dez 1974. Em especial os artigos de  10.11. 1974,  p.27 e dia 17.11.1974.

SZEKUT Alessandra RamboVertentes da modernidade  no Rio Grande do Sul:  a obra de Luís Fernando Corona. Porto Alegre: UFRGS- Fac. Arquitetura PROPAR 2008, 349 p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
AHRONS, Rudolf (1869-1947)

Arquitetura em Porto Alegrevisão geral
Arquitetura moderna em POA-RS

Auditório  Araújo Viana original


CRAVOTTO Maurício (1893-1962)

DEMÉTRIO RIBEIRO

Edifício IPE Oscar Niemeyer em Porto Alegre

Edifícios JAGUARIBE e CRT – Porto Alegre

Edmundo GARDOLINSKI

Eugen Gustav STEINHOF (1880-1952)
FACULDADE de ARQUITETURA da URGS – Relatório 1951-1952

HOSPITAL de CLINICAS de PRTO ALEGRE

PRESIDENTES do IAB-RS

ORIGENS DO INSTITUTO de ARTES do RIO GRANDE do SUL
UBATUBA FARIA Luiz Arhur
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300886157_ARQUIVO_ArtigoAnpuh.pdf

VISUAL de PORTO ALEGRE

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domingo, 8 de dezembro de 2013

078 – ISTO é ARTE


Um LEGADO de um  PARAIBANO ao

 RIO GRANDE do SUL

O paraibano Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) possui muitos traços em comum com o sul-rio-grandense Ruben Martin Berta (19071966). Um carregou o Brasil nas asas da imaginação e da informação. O  outro carregou o Brasil fisico nas asas da sua companhia de aviação. As empresas de ambos sucumbiram na ausência destes líderes e sem a sua ação  pessoal e determinante.

Chateaubriand recebe Nelson Rockefeller-  Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 637
Fig. 01 –Assis Chateaubriand, mostrou uma  poderosa a vontade de viver, de agir e de produzir e incomum numa pessoa nestas limitadas circunstâncias nos oito anos em que foi portador de severas necessidades especiais. Do outro demonstrou que uma civilização que necessita se educar, adequar e oferecer o acesso universal ao deslocamento de uma pessoa nestas circunstâncias.  O lucro é visível, tanto para o portador destas necessidades como para a sociedade e a sua cultura. Nesta cultura a  sociedade produz, conserva e faz circular aquilo que a torna mais viva, atenta e  cada vez mais presente em outros desafios existenciais. A Pinacoteca Ruben Berta constitui dos índices deste esforço tanto do seu mentor como da sociedade.  Esta sociedade redobrou a atenção para o seu legado da  Arte.Procurou e achou as condições de receber, permanecer e continuar a distribuir Arte mesmo na ausência  de quem se dedicou à  ela com o máximo  afinco e no limite de suas forças.

Estes pontos de semelhança convergiram para campo das artes plásticas no qual deu-se a permanência do melhor da memória da ambos. O presidente dos Diários Associados espalhou obras de arte, por onde andava,  enquanto vivo e pode. O gaúcho dava o suporte logístico para continuação desta aventura.

Chateaubriand recebe “Baby” Pignatari no MASP - Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 491
Fig. 02 – O MASP teve destacada participação no processo de formação dos Museus Regionais, que Assis Chateaubriand pretendia estabelecer com o objetivo de dotar as várias regiões do país com um núcleo consistente de arte brasileira,. Max Lowenstein, funcionário do museu, foi nomeado presidente não estatutário do MASP por Chateaubriand, por conta de seus relevantes serviços prestados para a implementação dos museus de Olinda (Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco), Campina Grande (Museu de Artes Assis Chateaubriand), Araxá (Museu Histórico de Araxá "Dona Beja"), Porto Alegre (Pinacoteca Ruben Berta) e Feira de Santana (Museu Regional de Arte). O sr. Max Lowenstein foi nomeado por Assis Chateaubriand presidente não estatutário por relevantes serviços prestados à formação dos Museus Regionais que Chateaubriand iniciou para dotar as várias regiões do país com um núcleo de arte brasileira, 

Assis Chateaubriand reuniu no Rio Grande do Sul um belo acervo e confiou a sua organização ao professor Ângelo Guido, crítico de arte do Diário de Noticias. Instalou esta seleção de obras de arte nos estúdios da TV Piratini. Vinha ao Rio Grande do Sul para acompanhar pessoalmente a sorte desta coleção mesmo depois de ser atingido no dia 27 de fevereiro de 1960 por severa trombose. É o que o escultor e professor Luiz Gonzaga narrou, em 02.12.2013, para este que escreve, que Assis Chateaubriand foi, em cadeira de rodas, ao Instituto de Artes da UFRGS para se entender com os seus mestres e estudantes sobre este acervo. Os convidou para uma reunião no prédio da TV PIRATINI para uma sessão na qual mostrou e celebrou, à sua maneira, esta conquista para a Arte no Rio Grande do Sul.
Aqueles que herdaram e administram este acervo das obras de arte Ruben Berta o definiram e o limitaram conceitual e fisicamente como uma “estrutura fechada”. Assim a sua origem e a vontade daqueles que lhe deram origem permanecem mais evidentes. Poucos acervos nacionais possuem esta característica de terem estrutura fechada para entrada de novas obras de arte, além daqueles de dedicados a um único artista já falecido. Há necessidade de se interrogar o que significa esteticamente o limite imposto da entrada de novas obras de arte no acervo do Ruben Berta.



Fig. 03 – A Pinacoteca Ruben Berta pertence a um vasto projeto  que continua vivo e  atuante em diversas instituições brasileiras, conforme o quadro acima.   Assis Chateaubriand liderou e esteve fisicamente presente apesar dos oito anos em que  foi portador de severas necessidades especiais. Demonstrou ao mundo a necessidade de uma civilização se educar, adequar e oferecer o acesso universal ao deslocamento de uma pessoa nestas circunstâncias.  O lucro é visível na Arte que conserva, renova e reproduz  no seu mínimo físico o máximo de uma civilização viva. Civilização que atravessa o Tempo tonando contemporâneos e materializando os pensamentos dos homens das cavernas com a cultura mais complexa e sofisticada.
Clique sobre o quadro  para ler

Este limite aponta para uma homenagem estética e para a preservação das circunstâncias de origem do pensamento de quem formou tal coleção. Esta coleção possui a sua origem no pensamento de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello  e as circunstâncias vividas por esta personalidade.  Nestas circunstâncias é necessário estar atento à política e ao pensamento do projeto civilizatório que este jornalista paraibano exerceu junto aos empresários nacionais para os quais ele promovia a circulação dos seus produtos. Nesta circulação consta a homenagem ao empresário da aviação Ruben Martin Berta. Assis Chateaubriand e Ruben Berta viveram e foram protagonistas dos mais fortes projetos políticos que cavaram o leito acidentado no qual puderam correr as Revoluções de 1930 e de 1964. Assim acervo Ruben Berta é mantido na íntegra para preservar o pensamento de sua origem e das circunstâncias de sua formação.


Fig. 04    Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1903) não esteve no RS nem interpretou algum tema gaúcho. Este  artista, filosofo e com decisiva  ação política-  a ponto ser constituinte de 1891 -  tomou ao pé da letra os ensinamentos do seu mestre e orientador Araújo Porto-Alegre. Mais do que isto  a sua esposa era filha de Manuel Aráujo. O artista, filósofo e político paraibano Pedro Américo está representado por duas obras  no acervo das obras de arte Ruben Berta. O primeiro doutor brasileiro em Filosofia absorveu as mais adiantadas concepções políticas na Universidade Livre de Bélgica na qual defendeu a sua tese. Com a proclamação da Republica no Brasil foi constituinte republicano pelo seu estado natal desenvolvendo intensas teses sobre a institucionalização das artes no Brasil. Realizou esta tarefa apesar de seu profundo vínculo com o regime imperial.  Esta autonomia Pedro Américo é característica dos seus concidadãos paraibanos e que se desenvolveu em grau expressivo em Chateaubriand, doador do acervo Ruben Berta.  De outra parte Assis Chateaubriand e o  mestre de Areia-PB traziam o  mesma determinação e traço comum ao povo  paraibano que ostenta a bandeira do NEGO.

No presente - ao percorrer as obras do acervo Ruben Berta - salta a nossa memória a moldura política das circunstâncias dos projetos civilizatórios do cultivo das artes nas quais foram colecionadas. Projetos civilizatórios que recebem sentido pleno e que mostra todo  o seu potencial após a leitura  e assimilação de textos como os deArgan (1992: 23), de Marques dos Santos (1997: 132) de  Chaves de Melo (1974: 25) e de Bulhões  (1992, pp.05 - 58). Sentido que baliza os caminhos da busca da universalidade e da perenidade tanto de quem foi homenageado como dos agentes e do publico deste acervo de Arte.

A coleção não se limitou a uma tipologia estética, apesar de ser constituída, e concluída numa época de intensa busca de identidade brasileira, mas nem por isto fechou-se nas fronteiras nacionais. Como resultado constam, no acervo das obras da  Pinacoteca Ruben Berta, numerosos fermentos que conferiram vida e forma às mais intensas e específicas estéticas no Brasil[1] e em territórios culturais de além fronteiras.


[1] -, O crítico paulista Tadeu CHIARELLI cita e estuda (2007- 325p.) nominalmente muitos artistas que constam no acervo das obras de arte Ruben Berta ou então estuda a condições estéticas brasileiras nas quais se moveram estes artistas na concepção de Mário de Andrade


Chateaubriand entrega para Winston Churchill a “Ordem do Jagunço” -Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 493
Fig. 05  O  Os artistas ingleses que constam no acervo das obras de arte Ruben Berta representam uma boa equipe do pós-guerra britânico e a preparação da Pop-art. De outra parte ela representa a irrestrita admiração de Chateaubriand  pela cultura, política e capacidade de iniciativa inglesa.

Se de um lado se observam muitas obras não figurativas das artes visuais, não faltam, neste acervo, aquelas que apontam a estética da “volta à ordem” corrente na época da criação de muitas obras.

Se nas obras de arte do acervo Ruben Berta, estão presentes os resultados de inúmeros fermentos estéticos.  Estes fermentos também são coerentes, na sua multiplicidade e contradições, com as circunstâncias políticas da época da origem desta coleção. Como a obra de arte expressa e evidencia as inúmeras contradições políticas. As obras de arte do acervo Ruben Berta também são índices estéticos das contradições vividas no Brasil nos primórdios da adoção do regime republicano. Um olha atento também percebe as oscilações estéticas vividas ao longo do século XX e os índices das escolhas políticos das formas de governo no Brasil.

Ângelo GUIDO Gnocchi, Cremona, Itália, 1893 - Pelotas, RS, 1969 . “Paisagem”.  1949..- óleo sobre tela.  55,0 x 70,5 cm
Fig. 06  – O  pintor e professor Ângelo Guido reforçou,  no Rio Grande do Sul, a obra do seu conterrâneo Pietro Bardi.  Os dois foram mentores das escolhas estéticas de Assis Chateaubriand. Ambos reforçaram as conexões conceituais da Arte com o público dos veículos de comunicação do paraibano Chateaubriand. Ângelo Guido veio  veio Brasil ao três anos. Estudou na Escola de Artes e Ofícios de São Paulo tendo interagido com os membros da Semana de Arte Moderna. Teve a resenha de uma das obras de jornalista em Santos analisada na revista KLAXON. Foi  consultor estético dos Concursos de Miss Brasil promovidos pó este órgão impresso no Diário de Notícias de Porto Alegre onde era o crítico de artes visuais. Além de pintor foi catedrático de História da Arte do Instituto de Belas Artes do RS.

As concepções políticas não devem ser procuradas nos temas explícitos das obras do acervo Ruben Berta. Os temas explícitos destas obras podem parecer antípodas destes dois personagens. Contudo deve-se procurar a coerência entre política e estética nas referências da fama que estes artistas gozavam e estão expressos nas molduras de suas obras. Estes dois personagens procuravam transpor o gosto pela fama, nos seus termos, expressos na sua sede de mando e seu profundo sentimento nacionalista sem xenofobia das outras culturas no que estas possuíam de melhor. Numerosos paraibanos e gaúchos foram agentes de proa da política republicana brasileira. Campina Grande e Porto Alegre foram destinos privilegiados de coleções com seu centro irradiador nos primórdios das aquisições e constituição do MASP[1] e local das decisões do império do mentor e condutor dos Diários Associados


[1] Morais, 1994, p. 584 (e seguintes)


Judith FORTES  ( -) “Retrato” – 1938 - óleo sobre cartão   45,0 x 34,5 cm..                 
Fig. 07    Muitos artistas, deste acervo, não tiveram grande fortuna na constituição de colecionadores, observadores e muito menos em estudos mais nutridos. Só para destacar o nome poderia ser evidenciado o nome de Judith Fortes formada em 1919 no centenário Instituto de Belas Artes do RS na turma de Francisco Bellanca. Ela tentou carreira solo quando isto era impensável para uma mulher,  ainda sem direito ao voto. As três obras que constam no acervo Ruben Berta talvez seja um dos conjuntos mais representativos das suas obras numa única coleção. Politicamente presente  Judith Fortes foi uma das fundadoras da Associação Francisco Lisboa. Para a sua sobrevivência mantinha na frente do prédio do Instituto de Artes um curso de preparação para o vestibular. 

  O acervo Ruben Berta resultou de um projeto inconcluso do embaixador Assis Chateaubriand e proprietário, em Porto Alegre, do jornal Diário de Noticias, Rádio Farroupilha e a TV PIRATINI. Nos quadros do Diário de Noticias ele teve o professor Ângelo Guido. Os textos deste crítico de arte devem ter reforçado a convicção do seu chefe para a criação de  um Museu de Arte em Porto Alegre, como uma extensão nacional do MASP somando-se às iniciativas do italiano prof. Pietro Maria Bardi. A Pinacoteca Ruben Berta veio para as dependências dos Diários e Emissoras Associados, em Porto Alegre como parte do projeto de Assis Chateaubriand de criar museus regionais, de alto valor artístico, em vários pontos do País. O acervo do Museu Rubem Berta foi entregue à cidade de Porto Alegre no dia 06 de março de 1967. Porém, apenas cinco foram implantados, sendo um deles a atual Pinacoteca Ruben Berta. Esta Pinacoteca é formada por obras de reconhecidos artistas nacionais e estrangeiros. Este acervo permaneceu junto aos estúdios da TV Piratini e Rádio Farroupilha -  no alto do Morro Santa Teresa -  até 1971 quando o prefeito Thompson Flores e recebeu das mãos do senador João Calmon, sendo doada à Prefeitura de Porto Alegre, em 1971, pela direção dos Diários Associados.

A Lei Municipal nº 3.558, de 10 de novembro de 1971, assinada pelo prefeito Telmo Thompson Flores, criou a comissão da Prefeitura de Porto Alegre, para este acervo. Esta comissão emitido o seu relatório, em dezembro de 1986. Cumpriu e  atendeu o que consta na Portaria nº 051, de 30 de julho de 1986 do processo nº 51/86. Este relatório estava acompanhado pela  lista de obras do Museu Rubem Berta que é sua composição original sendo fechado e permanece inalterada.


PORTINARI, Cândido Torquato Brodósqui, SP, 1903 – Rio de Janeiro, RJ, 1962 “Retrato de Rodolfo Jozetti  1928..- óleo sobre tela  200,0 x 90,5 cm..                 
Fig. 08  – As obras de Portinari não são muito numerosas em Porto Alegre. Pietro Mari Barde e  Ângelo Guido  incluiram uma das suas obras na Pinacoteca que  Assis Chateaubriand estava destinando ao Rio Grande do Sul  

Fortes mudanças políticas e econômicas vieram atingir o acervo das obras de arte Ruben Berta com a retirada dos Diários Associados – o jornal Diário de Notícias, da TV PIRATINI - do Rio Grande do Sul e com o regime de exceção, implantado no dia 31.03.1964. A política dos regimes de exceção sempre estimularam e “toleraram” a estetização superficial e a liberalização da criação individual e solitária. Assim o poder discricionário se mascara na aparente liberalização e a “tolerância” cultural e artística.   O preço que o artista deve pagar - em compensação desta “tolerância” da estetização e da liberalização da criação individual e solitária - é de não contestar e deixar incólumes os instrumentos de poder discricionário.  As tratativas, em 1971, para a entrada massiva da carga das obras de arte do acervo Ruben Berta na posse e na economia da Prefeitura apontavam para esta política de estimulo e “tolerância”, tendo como preço a heteronomia dos artistas vivos e da sua produção ainda “não consagrada” pelo mercado e sistema de artes
Carlos Frederico  BASTOS, Salvador, BA, (1925-2004) .“Arraial da Glória” 1966. óleo sobre tela. 57,5 x 90,5 cm
Fig. 09  – O regionalismo  não é hermético e excludente nas escolhas do acervos deixados por Assis Chateaubriand. As escolhas estéticas de Assis Chateaubriand e dos seus mentores Pietro Bardi e Ângelo Guido estabeleceram conexões de complementariedade. Os veículos de comunicação do paraibano ofereciam assim estas riquezas  regionais, nacionais e internacionais através dos museus espalhados pelo território nacional. O núcleo da Pinacoteca Ruben Berta possui, no seu núcleo, forte presença da Arte do Rio Grande do Sul. Porém convive perfeita e harmoniosamente com os nordestinos, como Carlos Bastos.

No contraditório, a estrutura fechada para entrada de novas obras de arte no acervo Ruben Berta, possibilita-lhe inúmeras vantagens na busca da sua autonomia. As competências fechadas permitem operar ao modelo da célula viva, na concepção de Maturana.  Maturana &Varela mostram (1996: 41) na biologia o exemplo da autonomia da célula viva que necessita da membrana para proteger a competência da vida. Só a partir da célula viva é possível determinar o que é relevante. De um lado a película externa da membrana protege a célula viva da sua dissolução no meio externo e na entropia da indefinição daquilo que é prioritário. Do seu lado a célula viva escolhe, neste mundo externo, o que lhe interessa como prioritário para continuar a sua vida. A célula sadia devolve – numa perpetuo comércio - o que interessa ao meio externo. O acervo das obras de arte Ruben Berta, com este pensamento de autonomia (competências e limites) se institucionaliza e se fecha na sua membrana protetora. Nesta dialética pode organizar a sua competência e se reorganizar num constante intercâmbio com o meio cultural próximo e com acervos de outras culturas.

Busto de RUBEN BERTA  obra de VASCO PRADO - foto Círio – Ver Jose Francisco ALVES 2004 - p. 126
Fig. 10  Ruben Martin Berta foi um empresário brasileiro e ex-presidente da Varig. Foi contratado por Otto Ernst Meyer, aos dezenove anos tornou-se o primeiro funcionário da Varig, como auxiliar de escritório e secretário de seus diretores fundadores. Em 1941, tornou-se diretor-presidente, cargo em que permaneceu até sua morte, em um período em que a empresa teve grande expansão. A homenagem de Chateaubriand ao presidente da VARIG, integrava-se ao seu projeto de projeto de manter aeroclubes e estimular a aviação civil brasileira.

No futuro da política cultural de Porto Alegre desenha-se uma intensa ação civilizatória por meio deste acervo. A obra de arte confere uma potencialidade única e primordial para esta ação civilizatória municipal a ser conduzida pela sua Secretaria de Cultura. Quanto ao PROJETO e ARTE. Argan enfatiza (1992: 23) que o projeto  fundamenta a ideia da ação histórica”. Projeto civilizatório para Marques dos Santos (1997: 132)  compreende, a contrapartida da afirmação política da institucionalização dos Estado autônomo, uma espécie de missão civilizatória”. Enquanto  Chaves de Melo distingue cultura de civilização quando afirma (1974: 25) que, civilização supõe instituições. Bulhões argumenta (1992, pp. 5 e 58) que “na sociedade brasileira, onde tudo parece estar por ser feito, a recorrência a projetos modernos enunciados como ideais, já é uma tradição. A cada projeto socioeconômico e político corresponde um projeto estético a ele articulado num processo de mútuo reforço”.

A obra de arte - única e primordial – preserva também o pensamento de quem a colecionou. O pensamento que emana do acervo das obras de arte Ruben Berta constitui um forte elo no sistema da arte da capital, do estado e nação com os seus múltiplos vínculos internacionais. Assim este elo extrapola a circulação local, pois, desde a sua origem, o acervo das obras de arte Ruben Berta faz parte do projeto civilizatório brasileiro, possibilitando retomar o sistema nacional com os demais acervos de obras de arte criados pelo jornalista embaixador.  O pensamento que regeu a criação destas instituições novamente poderá ser evidenciado na soma destas instituições -não só sonhadas - mas efetivamente iniciadas por Assis Chateaubriand. Instituições, que na sua soma, continuam em plena vida e ação como desdobramento do seu projeto civilizatório nacional.


Fig. 11   A celebração da transferência no dia 02 de dezembro de 2013 para sua sede especialmente recuperada e preparada   para tanto na rua Duque da Caxias,  nº 973 . Imagens das obras do   acervo Ruben Berta deixam simbolicamente o Prédio Histórico da Prefeitura de Porto Alegre.  No seu peregrinar pousou nos Estúdios da TV PIRATINI, migrou para a reserva do MARGS e deste para a sólida reserva técnica e profissional no qual continuará enquanto se renovam as exposições de algumas das obras originais  no prédio que leva doravante o seu nome e a função exclusiva.
 
Uma coleção é  a origem de um museu inicia conforme Gervereau. A coleção de obras de arte reunidas por iniciativa de Assis Chateaubriand possui agora o abrigo de uma instituição consolidada. Consolidação que recebeu o abrigo de sólida mansão. Esta mansão representa esta esperança humana colocada na Arte num momento de generalizada crise de valores.

Esta crise possui o dom de evidenciar as competências e os limites aos artistas vivos. Limites de sua heteronomia e o preço ainda devem pagar de sua produção ainda “não consagrada” pelo mercado e sistema de artes. Se os artistas do passado recente produziram sua obra apesar da política da “tolerância”, este acervo, ora consagrado, mostra como transformam, com o passar do Tempo, esta contradição em complementariedade.  

Sempre cabe o contraditório para as estreitas e cansativas mentalidades estéticas, políticas e ideológicas. Estas poderiam exibir argumentos fixos e maniqueístas como do embalsamento de um acervo e um segundo e um definitivo funeral para Assis Chateaubriand e Ruben Berta. O exame isento da política municipal de Porto Alegre mostram o contrário e outros argumentos. A renovação de exposições no prédio histórico municipal como espaço nobre para as obras de artistas atuantes, a fidelidade do Atelier Livre em se renovar continuadamente desde 1960 e a sintonia com a Secretaria de Cultural - das quais a Pinacoteca Ruben Berta é uma das suas expressões -  contradizem qualquer estética fixa comandada po um único dono que se orienta pelos parãmtres do estreito marketing e propaganda. 

Mas o que convém sublinhar nestas expressões é a continuidade deste projeto civilizatório compensador da violência. A politica que prevalece na Pinacoteca Ruben Berta é a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. O município de Porto Alegre, como célula primeira  do Estado Brasileiro, cumpre assim o projeto que lhes descreve o caput do artigo 37 da Constituição Brasileira  de 1988. Certamente nenhum cidadão é maior do que seu município ou de qualquer uma das suas instituições.




FONTES BIBLIOGRÁFICAS.



ALVES Jose Francisco - A Escultura Pública de Porto Alegre- história, contexto e significado.  Porto Alegre: Artifolio, 2004 - 262 p.



ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992).   História da arte como história da cidade.   São Paulo :  Martins Fontes. 1992.



BULHÕES GARCIA, Maria Amélia. Artes Plásticas: participação e distinção. Brasil            anos 60/70. São Paulo: USP. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. 1990, 283 f. (Tese).

____. «Modernidade como projeto: mudança e conservação» in  A Semana de  22

           e a emergência da modernidade no Brasil. Porto Alegre : Secretaria Municipal da  Cultura, 1992. pp. 58-61.



CHAVES de MELO. Gladston. Origem, formação e aspectos da cultura brasileira.  Rio de Janeiro : Padrão , 1974.  277p.



CHIARELLI, Tadeu Pintura não é só beleza ; a crítica de arte de Mário de Andrade. Florianópolis : Letras Contemporâneas,  2007, 325 p.



KRAWCZYK, Flávio. O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em        Porto Alegre. Porto Alegre : Programa de Pós Graduação em Artes Visuais, 1997. 526 fls.. (dissertação)



LEON, Aurora.  El Museu: teoria, práxis y utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.



PETTINI Ana Luz e KRAWCZYK, Flávio Pinacotecas ALDO LOCATELLI e RUBEN BERTA:  acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre - Porto Alegre : Pallotti, 2008, 216 p.il color



MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia Imperial de Belas Artes e o projeto   Civilizatório do Império»  in  180 anos de Escola de Belas Artes.  Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997, pp. 127/146.



MATURANA R., Humberto (1928-) e VARELA. Francisco (1946-). El árbol del  conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid: Unigraf. 1996, 219p



MORAIS, Fernando (1940- ) Chato : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubrinad. São Paulo ; Companhia das Letras, 1994, 732 p

SILVA, Úrsula Rosa da - A fundamentação estética da crítica de arte em Ângelo Guido : a crítica de arte sob o enfoque de uma história das ideias  Porto Alegre: PUC-RS, 2002 Tese (Doutorado em História) - PUCRS, Fac. de Filosofia e Ciências Humanas .

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS


BERTA, Ruben

DIÁRIO de NOTICIAS de PORTO ALEGRE 1925-1979

GERVEREAU, Laurent OS MUSEUS ESTÃO em CRISE

GONZAGA, Luiz –

Museu de Arte de São Paulo (MASP)   http://masp.art.br/sobreomasp/historico.php
PINACOTECA RUBEN BERTA inauguração da sede

Projeto civilizatório  compensador ver as fontes bibliográficas no site  www.ciriosimon.pro.br no tópico PRODUÇÃO DIDÁTICA onde consta no texto do arquivo HISTÓRIA da ARTE INSTITUCINALIZADA no RIO GRANDE  do SUL


[1] GERVEREAU, Laurent OS MUSEUS ESTÃO em CRISE  http://www.latribunedelart.com/les-musees-sont-en-crise




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