quarta-feira, 1 de agosto de 2018

0-236 – ESTUDOS de ARTE



O que PERMANECEU da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no 
RIO GRANDE do SUL.

SUMÁRIO
01 – PROBLEMA: -  ¿ O PROJETO de UNIDADE e IDENTIDADE a MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA e que teve EXPRESSÃO  no RIO GRANDE do SUL?.    02 – NATUREZA da MISSÃO ARTISTICA FRANCESA de 1816  03 – A DIALÉTICA entre o CENTRALISMO NACIONAL e A  DIÁSTOLE rumo ao PERIFÈRICO e REGIONAL  04 A CONTROVERSA  PRESENÇA e DEBRET no RIO GRANDE do SUL   05  – O  DISCÍPULO MANUEL ARAÚJO PORTO-ALEGRE é MELHOR do QUE a PRESENÇA FÌSICA de DEBRET no RIO GRANDE do SUL 06-  O CULTO da MEMÓRIA de  MANUEL ARAÚJO PORTO-ALEGRE no RIO GRANDE do SUL    07-  RAROS ESTUDANTES do RIO GRANDE do SUL na IABA    08 - Os DISCÌPLULOS  da IABA  o RIO GRANDE do SUL   09    As TENTAÇÔES VINDAS do RIO da PRATA  . 10 – A UNIVERSIDADE BRASILEIRA e ARTE.  11 – ESTUDO de CASO: A CARTA de JOAQUIM LE BRETON ao CONDE da BARCA -12 - CONCLUSÕES  e NOVOS PROJETOS   FONTES BIBLIOGRAFICAS e NUMÈRICAS DIGITAIS
 PORTO-ALEGRE num desenho de JEAN BATISTE DEBRET  que denominou a obra de PARANAGUA
Fig. 01 –  Uma vista PORTO ALEGRE    de Jean Baptiste DEBRET um dos mestres  mais qualificados da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA. O titulo equivocada está sendo corrigido. Trata-se da imagem da estrada do atual Bairro Navegantes com a chácara de Dom Diogo de Souza, a esquerda, de quem olha o quadro. Acima da estrada são visíveis os Moinhos de Vento. No lado direito a colina da Praça da Matriz o velho Palácio e na praia o Praça da Alfândega  .  No entanto não é possível afastar as influências dos esboços e dos desenhos realizados - in loco e em memória - por Manuel Araújo Porto-alegre de sua cidade e daquelas da sua viagem terrestre da capital do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro. Pode-se adiantar a hipótese de que estes esboços e  desenhos - do discípulo sul-rio-grandense de Debret - seriam preciosos  elementos para o mestre elaborar as pranchas, dos  desenhos das obras editados e publicadas em Paris em 1834.

01 - PROBLEMA:  ¿ O PROJETO de UNIDADE e IDENTIDADE a MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA e que  teve EXPRESSÃO  no RIO GRANDE do SUL?.   

 Rio Grande do Sul ainda era capitania de SÃO PEDRO no ano de 1816 da vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil. Metade do seu atual território integrava a BANDA ORIENTAL com sede em MONTEVIDEU e com resultado do processo de intervenção do Brasil no atual Uruguai.  O Rio Grande do Sul estava  ligado ao BRASIL por uma nesga de terra firma do atual Estado de Santa Catarina. O restante deste território, ao Oeste de Lages era reivindicado pela Argentina e pelo Rio Grande dos Sul cujos limites iam até a capitania de São Paulo. O atual Estado do Paraná só separou de São Paulo no ano de 1853[1]  No ano de 1818 começou a funcionar o Correio entre São Paulo e Porto Alegre indo até Rio Prado duas vezes por mês[2]. Este isolamento geográfico desenvolveu uma identidade sul-rio-grandense e que os viajantes[3] da época ressaltavam com singular.
 O Rio Grande do Sul não oferecia nenhum terreno favorável para as sementes da MISSÃO ARTÌSTICA FRANCESA. Na produção havia a falta absoluta de qualquer industrialização. Limitava-se a uma pecuária extensiva e de subsistência. O trabalho era dos escravos. A cultura sentia as consequências da desativação das MISSÕES JESUÍTICAS e a falta de qualquer curso superior. Eventuais entradas de imigrantes era de perseguidos pela justiça ou sobras de mão de obra europeia. As exceções confirmam a regra.
De outro lado os registros objetivos, os documentos confiáveis e as tradições das INTERAÇÕES do RIO GRANDE do SOL com a MISSÃO ARTISTICA FRANCESA  não ganharam evidência, visibilidade e ainda não mereceram um estudo sério e crítico. Assim a presente postagem merece severa antítese.
No entanto o olhar do estrangeiro[4] mesmo que não conseguir captar nada da nação visitada, é tomado, pelos nativos, como neutral e capaz de perceber potencialidades que os locais não conseguir perceber e muito menos aproveitar de uma forma insuspeito para eles


[3] SAINT-HILAIRE, Auguste (1779-1853) . Viagem ao Rio Grande do Sul Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, 215 p.,
ISABELLE, Arsène (1806-1888) Viagem ao Rio Grande do Sul ( tradução de Teodomiro Tostes)  Brasília: Senado, 2006, 349 p

[4] Papel do ESTRANGEIRO em:   SIMMEL, Georg  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid: Alianza. 1986,  817.  2v.

Fig. 02 –  O mapa de Jean Baptiste DEBRET - editado em Paris após o fim da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA - certamente tinha como objetivo orientar geográfica e superficialmente o leitor europeu sobre o vasto território brasileiros  No entanto mostra que o artista - ou seus assessores -  esqueceram de colocar PORTO ALEGRE no RIO GRANDE do SUL e que figura entre Espírito Santo  e Porto Seguro

02 – A NATUREZA da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA de 1816

A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, que desembarcou no  BRASIL em 1816,  vinha de várias DERROTAS. Ela vinha da DERROTA dos primeiros ardores da REVOLUÇÃO FRANCESA impostos por NAPOLEÃO BONAPARTE. A DERROTA do CORSO valeu, a LE BRETON, o chefe da MISSÃO,  a perda do TÍTULO de SECRETÁRIO PERPÉTUO do INSTITUTO de FRANÇA que sucedera a UNIVERSIDADE de SORBONNE. Outra DERROTA foi o retorno da UNIVERSIDADE da SORBONNE e a CRIAÇÃO da "ECOLE de BEAUX ARTS" de Paris em 1816. Nenhum dos membros da MISSÃO ARTISTICA FRANCESA recebeu convite para integrar estas duas instituições restauradas.
Uma vez em solo brasileiro foram rigidamente policiados pelos representantes do REGIME do BOURBONS no Rio de Janeiro. Afinal Napoleão estava preso numa ilha entre o BRASIL e a ÀFRICA.
 No entanto pior DERROTA da MISSÂO ARTÍSTICA FRANCESA foi no MUNDO CONCEITUAL , dos seus PROJETOS e das sua qualificações. Em 12 de agosto de 1816 foi decretada a REAL ESCOLA de BELAS ARTES e de OFICIOS. Esta, no entanto, só começou a funcionar, de fato, em 1826, já no IMPERIO, como a IMPERIAL ACADEMIA de BELAS ARTE (IABA). No entanto tratava-se de uma forma institucional que acobertava MAIS uma das tantas REPARTIÇÕES PÚBLICAS GOVERNAMENTAIS.
Fig. 03 –  A imagem de um esboço de Manuel ARAÚJO PORTO_ALEGRE marca a influência da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no jovem sul-rio-grandense O recurso ao imaginário dà cultura e da  mitologia greco-romana provem do Iluminismo passando pela Revolução Francesa e que atinge o clímax no IMPERIO NAPOLEÔNICO. O ESTADO NACIONAL da ERA INDUSTRIAL necessitava de um eixo e de uma poderosa figura  central Tanto na empresa fabril como no governo de uma nação. No Brasil este centralismo recaia sobre a figura imperial. No entanto a ERA INDUSTRIAL estava num porvir muito distante e fraco.

O projeto original desta Escola, na forma de uma carta assinada , em 1816, pelo presidente da MISSÂO ARTÍSTICA FRANCESA foi parar nas prateleiras de uma repartição governamental. Este precioso e fundamental documento, só foi desenterrado e publicado, em 1959, por Mário Barata. A as ideias que enfatizavam DUAS ESCOLAS , presentes na carta, foram substituídas por uma repartição de pseudo artistas portugueses na qual os FRANCESES tinham papel subalterno. O projeto original da carta visava a INDUSTRIALIZAÇÃO do BRASIL por meio de uma instituição enxuta  na qual seriam cultivadas tanto as “ARTES NOBRES” como os OFÍCIOS. A Escola de Ofícios veio ao mundo só em 1856, com o nome de LICEU de ARTES e OFÍCIOS[1]  e fora do GOVERNO IMPERIAL
Fig. 04 –  As figuras dos SUL-RIO-GRANDENSES de Jean Baptiste DEBRET eram o registro destas figuras do extremo sul do Brasil na sua chegada à corte do Rio de Janeiro depois de longa e exaustiva viagem, por terra , até a corte brasileira A presença destas figuras humanas - das diversas  capitanias  brasileiras somado com as suas narrativas - forneceram ao artista francês os elementos das suas observações publicadas “Voyage pittoresque et historique au Bresil editada  em Paris em 1834 junto com as pranchas dos seus desenhos

03 – A DIALÉTICA entre o CENTRALISMO NACIONAL BRASILEIRO e DIÁSTOLLE rumo ao PERIFÉRICO e o REGIONAL SUL-RIO-GRANDENSE

Talvez o Rio Grande do Sul seja o único estado brasileiro a fazer opção constante pelo Brasil. Prova disto é a carta de Bento Gonçalves quando deixa ao regente ao padre Feijó[1] a escolha entre “ruína da Província, ou formação de um novo estado dentro do Brasil
No entanto o longo período da dependência, do Brasil de Lisboa, criou o hábito pautar tudo e a todos pelo que a capital deliberasse e decidisse até os menores gestos, obras ou mesmo decisões urgentes e inadiáveis.
         A distância com a metrópole, os parcos e inseguros dos meios de comunicação  fez com que o sul-rio-grandense tomasse decisões pouco ortodoxas para o  pesado e alienante regime colonial - aplicado por Portugal ao BRASIL. Estas circunstâncias impuseram um modo de SER do sul-rio-grandense posteriormente padronizado nas eventuais expressões regionais


Fig. 05 –  A paisagem de TORRES - numa obra de Jean Baptiste DEBRET - desperta apaixonados debates sobre a presença deste artista central da  MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no Rio Grande do Sul Evidente que estes debates evidenciam  o carinho e a importância deste artista ainda nos dias presentes na cultura brasileira inicial no Rio Grande do Sul. 

04 – A CONTROVERSA PRESENÇA e DEBRET no RIO GRANDE do SUL
 As numerosas imagens de Jean Baptiste em relação à paisagem, costumes e viajantes do Rio Grande do Sul[1]
Não é possível afastar as influências dos esboços e dos desenhos realizados - in loco e em memória - por Manuel Araújo Porto-alegre após uma viagem terrestre da capital do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro. Pode-se adiantar a hipótese de que estes esboços e dos desenhos - do discípulo sul-rio-grandense de Debret - seriam preciosos  elementos para o mestre elaborar as pranchas, dos  desenhos das obras editados e publicadas em Paris em 1834. Faltam arquivos, documentos e textos comprobatórios.  
 Estas especulações mostram o quão pouco o brasileiro e o sul-rio-grandense, estão dispostos a investir em pesquisa. Pesquisa necessária, urgente e indispensável para colocar, em primeiro lugar, a sua gente, a sua paisagem mesmo que seja em tempos remotos e dos quais possui frágeis e controversos documentos. O que é certo é que a presença, dos membros da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, rompia com este modelo monocrático e dominador colonial lusitano. No entanto eram obrigados a publicar na EUROPA, após o seu retorno da AMÈRICA.

05 – O  DISCÍPULO MANUEL ARAÚJO PORTO -ALEGRE é MELHOR do QUE a PRESENÇA FÍSICA de DEBRET no RIO GRANDE do SUL

Manuel Araújo PORTO-ALEGRE (1809- 1879)  foi um dos discípulos mais qualificados da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA.  Porém muito cedo sentiu a burocratização - no qual deslizou a IMPERIAL ACADEMIA de BELAS ARTES (IABA)[2] - nada fiel aos autênticos ensinamentos exemplos e obras dos seus mestres vindos de Paris.  Renunciou a direção da AIBA quando sentiu que os estragos eram irreversíveis.
Os membros desta MISSÃO buscavam meios para elevar o BRASIL para uma realidade estética muito além da capacidade e da competência em assimilar as consequências da REVOLUÇÃO FRANCESA e do IMPÉRIO NAPOLEÔNICO dos quais estes artistas europeus era originários.
Foram poucas mentalidades e personalidades que perceberam e acreditaram na seriedade, na competências e na obra destes mestres franceses. Apesar de corridos pela sorte de sua terra, dos seus cargos e carreiras, buscavam espaço no Novo Mundo em vias de se tornar nação soberana. Certamente o futuro Barão de Santo Ângelo escolheu estes mestres como orientadores em geral. Fixou-se em Jean Baptiste DECRET como aquele que lhe podia abrir o caminho da arte  universal do seu tempo. Esta nova perspectiva livrava Manuel Araújo Porto-alegre  de um bando de ignorantes, de continuadores dos hábito coloniais e servis. Pagou muito caro pela escolha.
Porém o seu deslumbramento pelas novas e inéditas perspectivas,  que estes mestres lhe propiciaram, fez com ele experimentasse o gosto pelos mais variados caminhos. Afinal tudo estava para se fazer na sua própria pátria, parada ao longo de três séculos, cercada de fortalezas, interesses e preconceitos absurdos.

06 – O CULTO da MEMÓRIA de  MANUEL ARAÚJO PORTO-ALEGRE no RIO GRANDE do SUL    

A memória de Manuel Araújo Porto-alegre possui um culto no Rio Grande do Sul tanto como literato com artista visual.
Nas artes visuais não é sem razão e que a Pinacoteca  Instituto de Artes da UFRGS é denominada de Barão do Santa Ângelo[3]. Esta escolha foi amplamente fundamentada pelo pesquisador Paulo Jaurés Pedroso XAVIER, (1917 - 2007)[4]  numa obra publicada pelo Departamento de Artes Visuais[5]  do Instituto de Artes da UFRGS


[3] PINACOTECA BARÃO de SANTO ÂNGELO Instituto de Artes – UFRGS CATÀLOGO GERAL 1910-2014  Organização Paulo Gomes et alii- Porto Alegre: Editora UFRGS - 2015 -  2v - 688p. il. 21 x 28 cm  ISBN 978-85-386-0268-2 –

[5] XAVIER, Paulo Jaurés Pedroso (1917 - 2007)[5] .CADERNOS de ARTES - nº 01 - Porto Alegre : Instituto de Artes da UFRGS Jun 1980.  (Dedicado integralmente a Manuel Araújo Porto Alegre)
---------Família de um povoador: contribuição à genealogia de Manuel Araújo Porto-Alegre (1806-1979) Porto Alegre: UFRGS Departamento de Artes Visuais IA, 1980, 49 p.
 -----------. «Ascendência Brasileira de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado . Volume XCVI , ano VII , n o 596, 29.12.1979.   p. 16

Fig. 06 –  O culto à memória de Manuel Araújo PORTO-ALEGRE (1809- 1879)  ganhou dimensões de uma verdadeira guerra quando da concurso, encomenda e inauguração do seu busto em na capital Sul-rio-grandense   um dos discípulos mais qualificados da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA..  Porém após a vinda dos seus restos mortais para Rio Pardo o seu túmulo desperta pouca atenção nada fiel ao aos autênticos ensinamentos dos seus Mestres vindos de Paris..  Renunciou a direção da AIBA quando sentiu que os estragos eram irreversíveis

A polêmica da encomenda do seu busto foi vencida, por Eduardo de Sá,  com o tema da  glorificação da sua obra literária. O resultado foi  colocado e inaugurado, no dia 15 de junho de 1918, na Praça da Alfândega de Porto Alegre. 

Túmulo e retrato em relevo de Manuel Araújo Poro- alegre devido o escultor André ARJONAS GUILLÉN (1885-1970) no túmulo de Rio Pardo e concluído em 1939.  Foto gentileza de IVAN WINK MACHADO
Fig. 12 –  O Brasil repatriou, em 1922,  os restos mortais  de Manuel Araújo erigiu  um mausoléu, na sua cidade natal, Rio Pardo, que recebeu os seus restos mortais  No entanto foi um segundo enterro e que fez silenciar a voz do Rio Grande do Sul nas homenagens,  no estudo, e na circulação constante desta memória.

Talvez a pesquisa bem mais produtiva, seria o de se deter num estudo, objetivo e sério, de numa única das suas obras visuais[1] A partir desta baliza, percorrer de forma pedestre a produção oceânica de Manuel Araújo de Porto-alegre. Assim se contorna na mesma “TENTAÇÃO do MÚLTIPO” na qual este escritor, literato, professor, dirigente, caricaturista e diplomata dispersou as suas energias. TENTAÇÃO que redundaria  num mero mimetismo e sem acrescentar novos resultados. Evidente que possui plena justificativa colocar-se no TEMPO, no LUGAR e na SOCIEDADE, deste artista primordial da instauração e afirmação da soberania brasileira.
No contraditório, um dos melhores estudos e merecidas homenagens e estudo do conjunto do BARÃO de SANTO ÂNGELO veio da lavra do escultor português Rodolfo PINTO de COUTO, (1888-1945) Este  escreveu um livro primoroso[2] após Eduardo  de Sá ter vencido o concurso do busto presidido por literatos. PINTO do COUTO deixa em letra de forma os méritos de artista visual de Manuel Araújo Porto–alegre que ele defende como muito mais importante nas ARTES VISUAIS do que os eventuais méritos  com escritor e literato. Ele escreveu e publicou, este livro, fazendo o retrospecto do  intenso debate entre os favoráveis a Manuel Araújo como literato ou artista visual. Debate aceso, pela imprensa, onde os dois lado apresentam o seus argumentos.


[2] PINTO de COUTO, Rodolfo (1888-1945)  O MONUMENTO ao BARÂO de SANTO ÂNGELO : algumas notas, e informações  do caso das maquetes. Rio de janeiro: Pimenta de Melo, 1918, 102 p
Antônio Cândido  de MENESES (1826-1908) - Dom Pedro II  - 1872 – Museu Júlio de Castilhos
Fig. 08 – Antônio Cândido de MENEZES[1] foi um dos raros estudantes sul-rio-grandenses da Imperial Academia de Belas Artes sucessora da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA A imagem hierática do Imperado Dom Pedro II[2] pintada pelo artista sul-rio-grandense Antônio Cândido de Menezes[3] . Como aluno da IABA, ele devia o seu repertorio simbólico e o se fazer  técnico da pintura a óleo que a Missão Artística Francesa trouxe ao Brasil  A Missão Artística Francesas estendeu - no extremo oposto desta produção oficial, hierática e simbólica -  a pintura do retrato à óleo para a imagem cidadã  sem restrições. O notável nesta obra – apesar da tradição de exaltar o chefe supremo da nação - é o NOME do ARTISTA preservado conforme a tradição da AUTONOMIA do ARTISTA e cultivado no legado da MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA implantada oficialmente no BRASIL a partir do ano de 1816. . Antes desta data a pintura brasileira era anônima e sem assinatura pessoal do artista.

07 RAROS ESTUDANTES do 
RIO GRANDE do SUL na IABA    
A oportunidade de mudança, da estética colonial para a imperial, redundou em mais uma seção burocrática imperial. A Imperial Academia de Belas Artes [4],foi loteada por interesses e cargos que eram cabides de emprego oportunos para os sócios da corte. A verdadeira promessa de um projeto de uma escola não saiu das mentes dos franceses.
Após Manuel Araújo Porto-alegre  são raros os estudantes  sul-rio-grandenses que cursaram e concluíram a Imperial Academia de Belas do Rio de Janeiro.Era mais fácil e proveitoso um estágio na Europa. Foi o caso de Pedro Weingärtner que buscou diretamente as fontes.  De outra parte a vinda e a circulação constante de artistas europeus  e platinos não permitiam a um jovem optar por uma profissão de alto risco, e sem a menor perspectiva de apoio oficial ou particular no se retorno a Porto Alegre.
Prova desta falta de mercado de arte para artistas sul-rio-grandense no seu retorno à terra natal são as escassas vendas das obras de Weingärtner, Boeira e mesmo artistas mais recentes nos seus retornos para Porto Alegre. Nesta recepção da obra do artista local a MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA não pode abrir caminho e futuro no Rio Grande do Sul.
Este caminho e este futuro - apontado pela MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA - permaneceu, na verdade de posse de uma classe muito distante e acima da média cultural brasileira. Estabelecer laços, interações e  a circulação - entre estas duas realidades e  classes sociais, culturais e econômicas- necessita,  até os dias atuais,  de jovens talento muito acima da média intelectual, cultural e competência estética de altíssimo nível.  
Antônio PARREIRAS (1860—1933  Acervo da  Pinacoteca  Barão do Santa Ângelo – Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 09 –  A personalidade controversa e a  obra de Antônio PARREIRAS redundou num ativo propagandista dos ideais republicanos em Arte nos diversos Estados Brasileiros onde destacou nas suas telas este ideal político. Em confronto  com a Imperial Academia de Belas Artes, ligou-se ao grupo de Georg GRIMM (1846-1887)  e começou seu caminho autônomo da arte. No Rio Grande do Sul contratou um quadro para o “PALACIO PRESIDENCIAL”[1] e construção com tema da PROCLAMAÇÂO da REPUBLICA do PIRATINI. O quando acima do “CRISTO nas MARGENS do LAGO GENESARÉ há muito de autobiográfico de Parreiras[2], Nascido em Niterói, empregado no comércio, vagava pelas praias como a  do ICARAI  onde ele encontrava os discípulos de GRIMM. A alva túnica dos enforcado. combina com metamorfose de TIRADENTES na FIGURA de CRISTO realizado pelo recente  Regime Republicano

08 - Os DISCÍPLULOS  da IABA  no
 RIO GRANDE do SUL
Não se conhece nenhuma missão institucional envaida ao RIO GRANDE do SUL pela IMPERIAL ACADEMIA de BELAS ARTES e pela ESCOLA NACIONAL de BELAS ARTES nem o inverso. Como também nenhum protocolo de intenções ou algum convênio.
Foram professores ou ex-alunos que vieram ao RIO GRANDE do SUL em caráter particular e sem qualquer missão oficial. Isto acontecia quando a Europa estava convulsionada e inacessível devido a das frequentes guerras do Velho Continente
O pensamento e a estética de Antônio PARREIRAS estão numa clara oposição aos paradigmas vigentes na IABA do seu tempo. No entanto, apesar desta oposição, não deixa de ser uma continuidade, ainda que involuntária e as avessas, das ideias expressas por LE BRETON na sua carta. Parreiras percebeu e acrescentou a dimensão de "SOBERANOS" a TODOS os ESTADOS do TERRITÓRIO BRASILEIRO, constituídos como tais, no início do Regime Republicano em 15 de novembro de 1889. Estas ideias "SOBERANOS"  tiveram franca repercussão no Rio Grande do Sul que vinha cultivando este ideal político desde 1835.


[1] O CENTENARIO do MONUMENTO a JÚLIO de CASTILHOS como ÍNDICE de um TEMPO e de suas CIRCUNSTÂNCIAS

[2] PARREIRAS, Antônio. História de um pintor: contada por ele mesmo. Niterói: Diário          Oficial, 1943. 255 p.

Fig. 10 –  A práticas dos SALÔES de ARTES foi uma prática introduzida pela MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no Brasil  No RIO GRANDE do SUL esta prática ganhou corpo, periodicidade e apoio do governo estadual como IBA-RS já no REGIME UNIVERSITÁRIO

Outra equipe de ex-alunos da ENBA esteve no Rio Grande do Sul, entre  1914 e 1918,  como uma espécie de  REFUGIADOS da I GUERRA MUNDIAL. Impossibilitado de seguir para a EUROPA, Lucílio de ALBUQUERGE, Eugênio LA TOUR, Eduardo de Sá, Antônio Augusto de FREITAS e Helios SEELINGER passaram temporadas em Porto Alegre.
Oscar BOEIRA (1883-1943)  Acervo da  Pinacoteca  Barão do Santa Ângelo – Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 11 –  Oscar BOEIRA foi estudante da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro Com profundo domínio do desenho e com um palheta cromática  própria, traduziu os temas selecionados na  intimidade da sociedade que o cercava em Porto Alegre. Transformou a Pintura na sua predileção e praticou a sua arte silenciosamente sem se preocupar em vender ou comercializar a sua extensa produção. No conjunto de sua obra é possível perceber aquilo que LE BRON queria se referira ao escrever em relação às “ARTES NOBRES” distintas das “ARTES e OFICIOS”..   

Os irmãos DIAS CORRÊA nasceram no Rio Grande do Sul mas a sua formação foi no Rio de Janeiro. Ernani DIAS CORRÊA cursou a ENBA em ARQUITETURA na turma de Lúcio Costa e Atílio CORRÊA, O seu irmão Tasso Bolívar cursou e concluiu o Instituto Nacional de Música já separado da EBA. Ernani foi fundamental para criar condições para o início do ensino da Arquitetura no Rio Grande do Sul. As ideias e as práticas de Tasso Bolívar DIAS CORRÊA introduziram o ensino das Artes no Instituto de Belas Artes ainda na autonomia na modalidade e principio da Universidade BRASILEIRA nos moldes do Decreto nº  19.852 de 11 de abril de 1931. Com estes moldes jurídicos ele estreitou os vínculos com a ENBA trazendo o ensino da Arquitetura da ENBA para Porto Alegre e que foram implementados pelo seu irmão Ernani.
Helios SEELINGER (1878-1965) - Acervo da  Pinacoteca  Barão do Santa Ângelo – Instituto de Artes da UFRGS http://www.ufrgs.br/acervoartes/obras/pintura/pintura/helios-seelinger/image_view_fullscreen
Fig. 12 –  Porto Alegre sempre teve ao seu dispor a conexão do Rio Guaíba com a Lagoa dos Patos e desta para o porto de Montevidéu e Buenos Aires. Conexão  que colocaram PORTO ALEGRE  e o RIO GRANDE do SUL em contato mais íntimo com a cultura e a ARTE PLATINA. Além disto,  a MENTALIDADE  REPUBLOCANA, arraigada dos sul-rio-grandenses,  sintonizava  com o REGIME vigente na Argentina e no Uruguai. No contradizia Oswaldo ARANHA  afirmava que , “no Rio Grande do Sul os ventos de superfície sopravam em tidas as direções. No entanto as altas correntes de ar sempre se dirigem ao BRASIL”..

09    As TENTAÇÕES VINDAS do 
RIO da PRATA 
O Rio Grande do SUL ganhou sentido e perfil lusitano com a fundação da COLÔNIA do SACRAMENTO em 1680. Se a permanência física e os lucros nesta cidade lusitana foram tumultuados, controversos e breves permanecer as  TENTAÇÕES e o MUNDO SIMBÓLICO  projetou-se nas vontades, nas inteligências e nos sentimentos ligados às metrópoles do RIO da PRATA Mais próximas e atraentes do que LISBOA, SALVADOR e MESMO do RIO de JANEIRO a cultura que se desenvolveu do RIO da PRATA  era determinante para ECONOMIA, MODO de SER e PENSAR do sul-rio-grandense.
Arquitetos, empresários, artistas e intelectuais europeus que frequentavam  BUENOS AIRES e MONTEVIDEO não encontravam nenhuma fronteira intransponível,  pois era o mesmo PAMPA, as mesmas etnias básicas, as mesmas águas do Rio Uruguai e vento Minuano que  imperavam nestas terras.
Assim o legado da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA teve de esperar até o REGIME REPUBLICANO vigente no RIO da PRATA também fosse adotado no BRASIL INEIRO. A partir deste momento amiúdam as visitas dos artista da agora ENBA sucessora IABA
Documento do ARQUIVO GERAL do INSTITUTO de ARTES da UFGS
Fig. 13 –  O logo dos 50 anos do Instituto de Belas Artes do Rio Grande o Sul, do ano de 1958,  expressa e atualiza o projeto em Porto Alegre  da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA  O IBA_RS fundado sob a égide das leis e normativas do REGIME REPUBLICANO Manteve autonomia me relação à burocracia governamental e este na autonomia até  o dia 30 de novembro de 1962 quando seguiu o a sina da EBA e se integrou - como uma das unidades subordinadas à uma UNIVERSIDADE REGIONAL que assumiu todo o seu patrimônio material e simbólico acumulado ao longo de 54 anos de proveitosa autonomia para o CAMPO das FORÇAS da ARTE

10    A UNIVERSIDADE BRASILEIRA e a ARTE .

A criação da UNINIVERSIDADE BRASILEIRA foi TARDIA, mas abrangente de TODO SABER ERUDITO e uniforme para TODOS os ESTADOS  do TERRITÓRIO. A partir da Revolução de 1930 o ESTADO NACIONAL intervinha da UNIVERSIDADE, unificava e se colocava de forma SOBERANA acima de qualquer outra hierarquia.  A ENBA foi incluída nesta UNIVERSIDADE pelos DECRETOS nº  19.851 e de nº  19.852 de 11 da abril de 1931.
Fig. 14 –  O contrato  e avida de Ado Malagoli  no RIO GRANDE do SUL reforçou os laços entre EBA e o IBA-RS. Malagoli acompanhou a passagem da ENBA para a Universidade Brasileira Com especialização nos Estados Unidos durante a II GUERRA MUNDIAL trouxe as experiências norte-americanas das instituições museológicas.  

O resultado foi que agora a ENBA e o IBA-RS possuíam um canal interno no ESTADO BRASILEIRO. Ainda que as suas administrações fossem distintas,  a interação via currículo único foi imediato e determinante. Teoricamente os seus estudantes podiam circular entre estas instituições. Porém na prática esta circulação se limitava a  alguns catedráticos avulsos  em BANCAS de INGRESSO de docentes em CONCURSOS PÚBLICOS. Posteriormente esta prática se estendeu para bancas de concluintes de Programas de Pós-graduação.
Manuel ARAUJO PORTO-ALEGRE presumido retrato de Evaristo da VEIGA  ´Pinacoteca APLUB
Fig. 15 –  Manuel Araújo Porto-alegre precisou ajudo do governo imperial para poder acompanhar os eu mestre  Jean Baptiste DEBRET  na sua volta para Paris no final da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA. Evaristo da VEIGA interferiu na corte e conseguiu estes subsídios. Julga-se,-  ainda sem documentação adequada - que a figura acima seja o retrato do seu benfeitor. Caso isto se confirmar seria mais uma evidência que o governo imperial estava apostando num autêntico e verdadeiro PROJETO CIVILIZATÓRIO COMPENSADOR da VIOLÊNCIA como  Afonso Carlos MARQUES dos SANTOS defendeu no Seminário 180 anos da EBA realizado em 1996[1]

11 – ESTUDO de CASO: a  CARTA de LE BRETON ao CONDE da BARCA

O que permanece é o PENSAMENTO. O PENSAMENTO da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA permaneceu 143 anos distante de qualquer conhecimento além do seu autor JOAQUIM LE BRETON e alguns desconhecidos. Este PENSAMENTO foi formalizado no dia 12 de junho de 1816  numa longa e detalhada CARTA  que algum zeloso funcionário publico embalsamada por no fundo de uma  gaveta de um serviço burocrático. O projeto de 1816 para um seleto grupo de intelectuais brasileiros ficou mofando no papel até 1959 o pesquisado Mário Barata achou, traduziu e  divulgou  a carta de Le Breton chefe da Missão Artística ao Rei Dom João VI, publicou[2] Mário comentou que: 
nas indicações dadas pelo texto comprovam a influência de Humboldt sobre Le Breton, no tocante à criação de uma escola de Artes, mas delas se deduz, definitivamente, o fato de que a Missão Artística foi concebida pelo antigo secretário do Instituto de França, ficando com o Conde da Barca e D. João VI o mérito  (já bastante grande) de terem aceito a proposta e procurado de certo modo realizá-la.  O decreto de  12 de agosta, posterior apenas de um mês e três dias a data do segundo rascunho, já não seguia, porem, as linhas do plano de Le Breton, nem  o projeto de lei por ele elaborado”.
Nestes 143 anos a Imperial Academia de Belas Artes convivia com os arraigados hábitos da escravidão e com as práticas do regime colonial pesado e alienante. Neste meio tempo, a seção burocrática e imperial nominalmente das BELAS ARTES era sustentada pelas províncias, como o Rio Grande do Sul. No entanto estas nada recebiam em troca além da  obrigação de enviarem os seus filhos de elite para a corte  centralizadora do Rio de Janeiro.
As províncias não tinham direito à uma destas INSTITUIÇÕES de ARTES, nem a algum evento das Artes Visuais ou mesmo a alguma obra de arte digna deste nome. As capitais das províncias imperiais continuavam com a sua aparência visual e a sua vida cultural do período colonial lusitano.

OLÉGIO SANTA TERESA _ Porto Alegre - Projeto Auguste GRANDJEAN de  MONTIGNY 1845


Fig. 16 –  Logo após o final da Revolução Farroupilha Dom Pedro II visitou demoradamente Porto Alegre, quando inclusive recebeu com todas as honras ao líder Bento Gonçalves No atual MORRO de SANTA TERESA, de Porto Alegre, o Governo Imperial criou pelo decreto nº 439  de 02.12.1845, o  Colégio SANTA TERESA (SCHNEIDERS,1993 p. 74)[1] e mandou construir o respectivo prédio . O projeto, deste prédio, coube ao arquiteto Auguste GRANDJEAN de MONTIGNY (1775-1850)[2] um dos integrantes  da MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA Preservou-se o nome do morro porem existem poucos documentos desta obra  de um dos membros originais da Missão Artística Francesa, de 1816, em solo sul-rio-grandense
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[1] - SCHEIDER, Regina Portela A instrução Pública no Rio Grande do Sul (1770-1889)- Porto Alegre: UFRGS 1993,496 p.
[2] GRANJEAM MONTIGNY https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Henri_Victor_Grandjean_de_Montigny
Assim o ESTADO IMPERIAL concedia  SEGURANÇA JURÍDICA e ECONÕMICA ao preço da renúncia da AUTONOMIA do CAMPO das ARTES. O ESTADO NACIONALISTA, da ERA INDUSTRIAL, lançou a semente no CAMPO da ESTÉTICA e da INDÚSTRIA CULTURAL.
A Carta de LE BREON continuava estrategicamente na gaveta. Na essência este projeto propunha duas escolas. Uma para as BELAS ARTES  e outra para as ARTES e os OFICIOS
eu proporei não se esperar a sucessão de tempo necessária para que a influência de vossa principal escola chegue às oficinas do Artesão, e ofereço-me para organizar, com o ensino das Belas Artes, a propagação simultânea do desenho nas artes e ofícios que dele podem tirar proveito”.
 O que fato incomodava os cortesões - no aguardo de uma POSSE de um CARGO PUBLICO- era  a proposta de uma dupla  instituição, porém com os mesmos professores e em número pequeno e eficiente “Professores de uma dupla escola das artes do desenho bastarão para todo o ensino dessas ates, e mesmo de suas aplicações aos ofícios.” Esta economia era impensável.
A premonição de Le Breton tinha endereço certeiro:
 é essencial que se determine bem o emprego de cada um, e não se deixe ao patronato, desprovido de luzes, nem às pretensões pessoais dos artistas, a possibilidade de intervir ou enfraquecer a ordem do ensino pela invasão de qualquer Professor medíocre ou não clássico, pois a escola, desde o início, germes de fraqueza e de torpor que não tardariam a prejudicá-la”.
O castigo desta falta de projeto e planejamento seria imediato e atroz. ”sem isto teríeis rapidamente, sr. Conde, um formigueiro de artistas-abortos, saídos de vossa escola, e que seriam mais importunos que úteis”. Certamente isto aconteceu mais do que conhece e divulga. O erário público foi gasto sem garantia de resultados e eficiência de espécie alguma. O descrédito do campo de artes é proveniente tanto da não divulgação dos projetos, dos contratos e dos resultados mesmo que sejam de longo prazo.
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Fig. 17 –  O imenso prédio do Hospital São Pedro, de Porto Alegre, foi mandado construir pelo Governo Imperial após a Guerra do Paraguai. O projeto guarda, ainda, traços da estítica dos integrantes da Missão Artística Francesa.  No entanto ele perrence já a uma etapa na qual esta opção estética havia se consolidada em grande numero de prédio oficiais e particulares.

LE BRETON previu a necessidade que a população detenha acesso a esta produção artística desenvolvida no Brasil:
 por este meio bastante natural, cuja despesa não seria assustadora, a escola brasileira, desde o nascimento, iniciaria um Museu Nacional interessante, que se enriqueceria, cada ano, e logo se estenderia até a descrição pitoresca do País”. Mais adiante continua “é, portanto, necessário reunir quadros de diversas escolas, telas que possam servir às lições práticas, como demonstração, ao mesmo tempo em que guiem e mesmo inspirem professores
E qualifica este Museu escolhendo bem e pondo de lado a pretensão e a mania de possuir coisas demasiados raras”. Na sua CARTA Le BRETON já previu um DIA da ARTE “todos estes trabalhos se exporiam publicamente no aniversário natalício do Rei. O folheto explicativo da exposição poderia ser vendido em proveito da escola”. Este evento fixou-se no dia 12 de agosto em função de decreto que criava a Escola Real de Belas Artes e Ofícios, no ano de 1816[3].
Ao reportar-se às províncias brasileiras, LE BRETON  cita o exemplo da interiorização deste saber na França:
” os Intendentes e os Bispos abriram várias dessas escolas nas províncias a exemplo de Paris, com regulamento feito por Bachelier; assim, imprimiu-se à indústria francesa um movimento de melhora que se fez sentir em toda parte, e que nada custou ao tesouro público.
De fato o posterior Regime Republicano demonstrou que a criação,  tanto de instituições de Belas Artes como de Arte e Ofícios,  praticamente nada custaram os erário nacional. Os bispos da época eram funcionários do governo real Em contrapartida a distribuição de renda e os impostos derivados foram e continuam ser uma fonte ainda não esgotada
No entanto o hábito da dependência, da heterônoma da vontade, da inteligência e dos sentimentos continuaram a se pautar pelo colonialismo, pela escravidão e burocratização derivado de um sistema jurídico adequado à inércia, a encontrar um culpado de tudo e transformar qualquer assunto, sério e consequente, em piada,  deboche e desqualificação de qualquer crédito.


[1] MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia Imperial de Belas Artes e o projeto   Civilizatório do Império»  in  180 anos de Escola de Belas Artes Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro : UFRJ, 1997, pp. 127/146
[2]
EVISTA do PATRIMÔNIO ARTISTICO NACIONAL - nº 14 -  1959
[3] Os advogados escolheram o dia 11 de agosto em função da primera Faculdade de Direito fundada 11 anos depois
Manuel ARAUJO PORTO-ALEGRE presumido retrato de Evaristo da VEIGA Pianacoteca APLUB
Fig. 18 –  Manuel Araújo Porto-alegre introduziu e oficializou a caricatura no Brasil. No entanto esta arma da imprensa,  voltou-se rapidamente contra o seu introdutor e que pagou muito caro esta novidade na imprensa brasileira. A caricatura, acima, reflete não só espirito irreverente do carioca, como ataca os resultados do legado MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA e um dos seus principais continuadores. O autor desconhecido e anônimo desta desqualificação visual tinha razão na sua frustração incontida. Mas não tinha razão ao  personalizar e achar um CULPADO de TUDO em quem sempre relutou e ser professor e diretor de uma instituição sabidamente muito distante do ideal esboçado na Carta  de LE BRETON  foge de todo e qualquer  PROJETO CIVILIZATÓRIO

Não seria LE BRETON, Manuel Araújo Porto-alegre ou qualquer um dos membros isolados da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA que reverteriam a falta crônica da industrialização do Brasil. Impossível dar um final para o trabalho escravo e , nos seu lugar implantar uma mentalidade favorável à LIBERDADE, à CIDADANIA e à ARTE. Nesta impossibilidade, de um sistema, cada um fez a sua tarefa contra as piores condições. Assim muito devem muitas coisas a alguns poucos abnegados que acreditaram na mudança de uma mentalidade parada no tempo e acomodada com o sistema secular imperante no Brasil até os dias atuais.



Desembarque de Dona Leopoldina no Brasil, gravura de Charles-Simon Pradier segundo Jean-Baptiste Debret.
Imagem:
Biblioteca Nacional de Portugal


Fig. 17 –  Uma da primeiras manifestações da MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA a chegarem ao Rio Grande do Sul foram as gravuras de Charles Simon Pradier (1786-1847)[1] sobre pinturas de Jean Baptiste DEBRET. Manuel Araújo Porto-alegre  ainda jovem, conheceu estas gravuras na capital do Rio Grande do Sul como novidade produzida no Brasil . Pradier era um dos técnicos altamente especializados e que acompanhava e reforçava os artistas criadores da  MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA. Deveria ser um dos elos entre as ARTES NOBRES e a INDÚSTRIA CULTURAL no Brasil. Não encontrou esta base industrial e retornou para Paris em 1818. 


O espirito inquieto, aguerrido e sempre se reinventando, de Manuel Araújo Porto-alegre,  projetou esta mentalidade da cidade na qual cresceu, da qual adotou o apelido e o sobrenome pelo qual é conhecido como pessoa, a sua obras, seu pensamento e o seu legado.
O impulso para universalizar o seu legado, o seu pensamento, a sua obra e sua pessoa, ele o deve às preciosas e oportunas interações com os mestres da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA.

FONTESBIOGRÀFICAS
DAMASCENO. Athos (1902-1975) Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900). Porto Alegre : Globo, 1971, 520 p

DEBRET Jean Baptiste Voyage pittoresque et historique au Bresil Paris: Firmin Didot Frères. 1834 – 3 vol

ISABELLE, Arsène (1806-1888) Viagem ao Rio Grande do Sul ( tradução de Teodomiro Tostes)  Brasília: Senado, 2006, 349 p

MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia Imperial de Belas Artes e o projeto   Civilizatório do Império»  in  180 anos de Escola de Belas Artes Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro : UFRJ, 1997, pp. 127/146

PARREIRAS, Antônio. História de um pintor: contada por ele mesmo. Niterói: Diário          Oficial, 1943. 255 p.
PINACOTECA BARÃO de SANTO ÂNGELO Instituto de Artes – UFRGS CATÀLOGO GERAL 1910-2014  Organização Paulo Gomes et alii- Porto Alegre: Editora UFRGS - 2015 -  2v - 688p. il. 21 x 28 cm
ISBN 978-85-386-0268-2 –

PINTO de COUTO, Rodolfo (1888-1945)  O MONUMENTO ao BARÂO de SANTO ÂNGELO : algumas notas, e informações  do caso das maquetes. Rio de janeiro: Pimenta de Melo, 1918, 102 p



SAINT-HILAIRE, Auguste (1779-1853) . Viagem ao Rio Grande do Sul Belo Horizonte: Itatiaia, 1999, 215 p.,

SCHEIDER, Regina Portela A instrução Pública no Rio Grande do Sul (1770-1889)- Porto Alegre: UFRGS 1993,496 p.
 SIMMEL, Georg  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid:         Alianza. 1986,  817.  2v.

XAVIER, Paulo Jaurés Pedroso (1917 - 2007)[1] .CADERNOS de ARTES - nº 01 - Porto Alegre : Instituto de Artes da UFRGS Jun 1980.  (Dedicado integralmente a Manuel Araújo Porto Alegre)
---------Família de um povoador: contribuição à genealogia de Manuel Araújo Porto-Alegre (1806-1979) Porto Alegre: UFRGS Departamento de Artes Visuais IA, 1980, 49 p.
 -----------. «Ascendência Brasileira de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado . Volume XCVI , ano VII , n o 596, 29.12.1979.   p. 16

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
O DIA da ARTE: 12 de agosto.

A MISSÃO ARTISTICA e a ERA INDUSTRIAL no BRASIL

A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA e a INICIATIVA CIDADÃ no BRASILhttp://profciriosimon.blogspot.com.br/2016/03/161-estudo-das-artes-arte-e-iniciativa.html

A MISSÃO ARTÌSTICA FRANCESA no BRASIL – Sumário
COLÉGIO SANTA TERESA - Porto Alegre - Projeto Auguste GRANDJEAN de  MONTIGNY - 1845
Controvérsia da presença de Debret no Rio Grande do Sul
Debret em OSÒRIO-RS?
Debret em TORRES ?

Uma obra de Manuel Araújo Porto-alegre
Carta se Bento Gonçalves ao Regente Padre Feijó

Imagens do RIO GRANDE do SUL em DEBRET

Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro

Estado do Paraná

O CENTENARIO do MONUMENTO a JÚLIO de CASTILHOS como ÍNDICE de um TEMPO e de suas CIRCUNSTÂNCIAS

ESTUDOS de CASOS
1 – Carta de LE BRETON ao REI DOM JOÃO VI

2 LE BRETON e os IRMÂOS HUMBOLD

3 – PAPEL da ARAÚJO PORTO ALEGRE como CONTINUADOR  e HERDEIRO da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA- Uma obra de Manuel Araújo Porto-alegre =
http://profciriosimon.blogspot.com.br/2016/09/181-iconografia-sul-rio-grandense.html
                     
 4 – A ARTE na UNIVERSIDADE BRASILEIRA


Tradução de MÁRIO BARATA  (*20.09.1921 +14.09.2007)
Publicado na REVISTA do PATRIMÔNIO ARTISTICO NACIONAL - nº 14 -  1959

DOCUMENTOS CONSERVADO com o título “ Relação dos manuscrito a respeito do Brasil, existentes no Arquivo da Secretaria de Estados dos Negócios Estrangeiros”, pp. 394398. Na p. 395 estão indicadas “Cartas e Memórias do Mr. Chevalier Jochim (sic) Le Breton para o estabelecimento  das Escola das Belas Artes no Rio de Janeiro”.

                [1]   CORREIO entre SÃO PAULO e PORTO ALEGRE

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