11.02 - UMA OBRA de ARTES VISUAIS AFRO-SUL-RIO-GRANDENSES.
Continuação e complemento de Artes Visuais
afro-sul-rio-grandenses
11.2.1 – Uma obra de arte afro-sul-rio-grandense. 11.2.2 - A origem da humanidade e a arte africana.
11.2.3 - A obra de arte
afro-sul-rio-grandense nas condições da escravidão. 11.2.4 – Transformando o
tabu em totem. 11.2.5 – Leituras estilísticas, iconológicas e iconográficas da
obra arte afro-sul-rio-grandense 11.2.6
A diacronia e sincronia da arte afro-sul-rio-grandense. 11.2.7 – As influências
das obras de arte afro-sul-rio-grandense
11.2.8 – O lugar institucional da obra de arte afro-sul-rio-grandense 11.2.9 O lugar pertencimento planetário
da arte afro-sul-rio-grandense
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO”[1].
Ver figura 18 e nota da presente
postagem.
Fig. 01 – A busca da identidade afro-sul-rio-grandense vale-se especialmente do
corpo humano. Os sons, os gestos, os ritos,
as vestimentas, os alimentos e as cores são apropriados de uma longa
tradição ou de algo que é atual e das suas circunstâncias. A arte se dá na medida da apropriação, da
intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,
11.2.1 – Uma obra
de arte afro-sul-rio-grandense.
Ao contemplar
uma obra do pintor Carlos Alberto Oliveira (1951-2013) saltam milhares de signos,
índices e símbolos da infinita riqueza existentes nas artes visuais
afro-sul-rio-grandenses. O pintor nascido em Santo Ângelo, na região das Missões,
teve ocasião de criar uma consciência
profunda de sua própria identidade no trabalho como carteiro e no
contaste de outra etnia de origem germânica na comunidade de Novo Hamburgo. Ao
longo de décadas ele foi fiel à sua temática afro-sul-rio-grandense, sustentada
por formas plásticas a sua identidade
numa pesquisa visual continuada.
As artes visuais
afro-sul-rio-grandenses - como acontece também com a arte indígena
sul-rio-grandense - possuem imensas lacunas
de pesquisa, institucionalização e circulação de informações. A presente
postagem aponta a existência de alguns índices, do que nesta cultura, se
denomina arte.
[1] ARTE AFRO SUL-RIOGRANDENSES
exposição CENTRO CULTURAL CEEE AGOSTO de 2016
https://www.facebook.com/events/885708248202251/?notif_t=plan_user_invited¬if_id=1471558248285308
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 02 – A afro-sul-rio-grandense encontra
o seu caminho sem se prender a técnicas, recursos extraordinários e caros.
Constrói a sua mensagem e busca a sua identidade
de uma direta e universas. Apropriados das formas visuais que somam com os
sons, os gestos, os ritos, as vestimentas,
os alimentos e as cores do que é atual e das suas circunstâncias. Foi a
essência da mensagem que Pablo Picasso aprendeu na interação com VIDA do AQUI e
do AGORA ao longo da sua visita ao
“depósito” da exibição que o “Museu do Trocadero” mantinha na medida da apropriação, da intervenção
colonial francesa na ÁFRICA.,
11.2.2- A origem da humanidade e a arte africana.
A criatura
humana teve a sua origem no continente africano. Assim a ARTE AFRICANA
precedeu, no tempo da longuíssima duração, as demais manifestações da cultura
humana. Civilizações imemoriais tiveram ali as suas origens. A civilização
egípcia clássica resultou destas civilizações imemoriais e das miscigenações
com etnias e culturas negras. A cultura europeia procurou reduzir num único
tipo esta diversidade, como também fez com o indígena sul-rio-grandenses,
não entendendo a racionalidade desses clãs
e nações. Baralhou estas culturas e línguas distintas. Com este reducionismo
desqualificava de tal ponto que estas etnias não pudessem retornar à sua
identidade tribal da sua origem africana.
Em cada obra, no
que denominamos arte, constitui uma criação própria no interior da lógica de “expressar o máximo com o mínimo”. A arte
afro criou objetos utilitários que se reduzem ao mínimo, com o máximo de
eficiência possível, com os materiais de que dispunham. Nas obras das artes
visuais afro-brasileiras percebe-se, que desde um tempo remoto, os seus autores
eram herdeiros das práticas da agricultura e do uso de metais. Os objetos
destinados aos cultos religiosos, referentes aos seus imensos panteões,
inscrevem-se na linhagem da proximidade da Natureza deste agricultor primitivo,
tendo ultrapassado a fase das vítimas humanas. As entidades desses panteões são
metáforas e representações dos
demais valores culturais. Estas
metáforas revelam, nas suas formas puras, a riqueza e a diversidade desses panteões africanos.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 03 – A apropriação, a intervenção subversão na arte do europeu, pelo
afro-sul-rio-grandense, inverteu a relação do dominador em relação ao dominado
e do espoliado. A subversão da obra de JEAN VERMEER toma esta liberdade e a
transfigura em arte na medida da
apropriação, da intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA como o
colonizador praticou em relação a matriz estética africana.,
11.2.3 A obra de
arte afro-sul-rio-grandense nas condições da escravidão
O africano teve de adaptar os seus panteões às
prescrições islâmicas dos seus captores a partir da Idade Média europeia. Ato
contínuo o seu dono branco europeu impôs o panteão católico, e ele passou a
receber ordens e expressar verbalmente em português com o mínimo que lhe
permitido responder. A violência de sua captura quebrou as suas referências ao
seu clã e à nação de sua origem, isolando-o, apenas como mais um objeto na
forma de um negro cativo. O seu dono branco europeu intervinha diretamente na
sua reprodução, gerando uma imensa população crioula e mulata. Esta população
mulata e crioula, trazida ao Rio Grande
do Sul por fazendeiros[1]
do nordeste e do sudeste brasileiro, teve dificuldades redobradas para se
articular com o meio campeiro de fronteira e encontros de um mosaico de
culturas. No meio urbano o “escravo de
ganho” conseguiu uma articulação tolerada sob o pretexto das irmandades de
Nossa Senhora do Rosário. Nos quilombos dos escravos fugidos, os cultos volviam
à origem das suas articulações religiosas com as entidades próximas da
natureza.
[1] - Se houve comparação entre
as condições dos cativos africanos do Nordeste, Centro e Sul do Brasil o mesmo
anda não ocorreu entre os seus donos e proprietários. A concentração de renda
na capital fazia que os proprietários de estâncias e charqueadas sulinas não
possam ser comparados às condições dos donos de “casas-grandes” do Nordeste e do Centro do país.
Enciclopédia
Rio-grandense. Canoas: La Salle, 1956, volume II, p.26 b
Fig. 04 – As Irmandades do Rosário congregava as nações africanas cativas e
dominadas pelo panteão, hábitos e ritos católicos. Muitos destes cativos tinham
hábitos religiosos islâmicos das recitações das suras corânicas. Estas
recitações foram substituídas pelas recitações dos Rosário. Os muçulmanos
herdarem este costume religioso das recitações ininterruptas dos mantras das
culturas indús. e tibetanas. No prédio de Porto Alegre funcionou inicialmente o
Colégio Rosário e que leva até os dias atuais este nome..
A igreja do Rosário de Porto Alegre, destruída em
1952, era um índice da capacidade de adequação das artes visuais
afro-sul-rio-grandenses aos códigos dos seus captores. Os seus humildes
materiais de construção, comprados pelo escravo com grandes sacrifícios e
elaborados nos seus dias livres do trabalho se inscrevem na tipologia das
igrejas da época. O afro-brasileiro, libertado desta condição, não tinha mais
como recuar para o espaço físico e cultural das artes visuais africanas.
Abandonado a si mesmo, e, mergulhado em mundo cultural e econômico, cuja
identidade lhe era alheio, refugiou-se
na religião e em festividades. Estas atividades foram um fio condutor
para as suas raízes. As obras afro-sul-rio-grandenses valeram-se da natureza formal dos materiais, das
técnicas e dos instrumentos dos seus captores, e os foram aproximando novamente
com a natureza. O ritmo da dança, o som dos seus instrumentos de percussão,
algumas palavras de ordem em diversos dialetos, oferecem - às obras
afro-sul-rio-grandenses - variada
matéria prima para criar um pano de
fundo para as suas artes visuais.
O escravo está
impedido de deliberar e de decidir. Apesar desta heteronomia de suas vontades,
as artes visuais afro-sul-rio-grandenses possuem as
dimensões apropriadas aos seus cultos, à moda e aos seus folguedos, apesar
destas dimensões não serem de sua escolha direta. O condicionamento maior
estava no meio urbano e o geográfico nas fazendas e nas
charqueadas. Estas dimensões retornaram às proporções e a ritmo das estações da
natureza no âmbito dos quilombos, formados por escravos fugidos, que se entregaram
a uma entropia que os reconduziu ao estágio de coletador.
Obras do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e nota
da presente postagem
Fig. 05 – A produção, a circulação e a guarda de peças que denunciassem a identidade afro-sul-rio-grandense
foram rigorosamente proibidas ao longo dos quatro séculos da escravidão
brasileira. O renascimento da identidade de origem africana deu-se com
materiais pobres e baratos como a madeira e a argila. Em compensação este
desprendimento material deu oportunidade para esta manifestação de arte evidenciar na medida da apropriação, da
intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,
As condições
materiais, econômicas, sociais e religiosas conferem índices para as obras de artes visuais
afro-sul-rio-grandenses. Nestes índices é possível aferir o meio cultural do qual se originaram.
Para as classes dominantes, dos seus antigos dominadores, estas obras constituem
um tabu estético intransponível no dias atuais. As classes dominantes
desqualificaram esta obra afro-sul-rio-grandense na mesma medida em que não
podiam adotar os paradigmas deste pensamento ou consagrar-lhe algum sentimento
de empatia. O sistema escravocrata era sustentado por este abismo com o outro e
a ruptura permanente entre as duas culturas.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 06 – As instalações, os objetos encontrados e a sua transfiguração em busca da identidade afro-sul-rio-grandense
incorporaram com toda a facilidade e naturalidade a decadência e a substituição
da ERA INDUSTRIAL pela ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL Assim a expressão da VIDA pela arte
praticada por afro-sul-rio-grandenses se
aproxima do AQUI e do AGORA,
11.2.4-
Transformando o tabu em totem.
A coragem do jovem Pablo Picasso elevou ao
nível de obras de arte as obras africanas. A arte de Picasso rompeu este tabu
com um olhar desimpedido dos filtros da dominação do OUTRO. O autor das “Demoiselles d’Avignon” rompeu, em 1907,
as consequências de um projeto colonial europeu que aniquilava o projeto
estético de OUTRO que considerava inferior.
O contexto e a
obra de afro-sul-rio-grandense são objetos
de raros estudos. Os estudos que existem, são honrosas exceções[1].
Mais raras são as instituições que promovem estes estudos sistemáticos e sua
circulação ao mesmo nível de outras instituições da cultura erudita sul-rio-grandense. Esta dificuldade
deve-se ao fato de que a arte afro-sul-rio-grandense mover-se em paradigmas
diferentes e não conscientes das suas distinções. O pior acontece quando estes
paradigmas são antagônicos entre si. O
mito da escravidão benigna das fazendas sulinas foi contestado duramente, na
década de 1950, por teóricos de São Paulo. Contudo estes teóricos não estudaram
e ofereceram paradigmas para recompor a totalidade comparativa das condições
regionais brasileiras nas quais estão condicionadas as conquistas e as perdas dos
afrodescendentes,.
[1] - CORRÊA, Norton F. Os
vivos, os mortos e os deuses: um estudo antropológico sobre o batuque no Rio
Grande do Sul
. Porto
Alegre :IFCH-UFRGS, 1988, 474 f –Disert. Orientador Brochado, José Joaquim
WENDLING, Líbia Maria
Martins. A arte no vale do Sinos.
São Leopoldo: UNISINOS, 1999. 183 p.
----------Casa
velha - convívio de arte : um episódio na luta pela
cultura em Novo Hamburgo, RS. São
Leopoldo. UNISINOS,
dissertação, 1998. 2 v.
Obra do projeto coletivo da exposição “PORTO NEGRO” Ver figura 18 e nota da presente postagem
Fig. 07 – As cores e formas conferem identidade as obras de arte afro-sul-rio-grandense.
Para tanto o tema do corpo humano é tema
recorrente para gerar a empatia e a interação com o observador, mesmo o mais
desatento. De outra parte, nesta estética direta de apropriação, intervenção e a interação com VIDA do AQUI e
do AGORA, existem poucas considerações ou concessões com outras estéticas
estranhas a estas escolhas.,
11.2.5 Leituras
estilísticas, iconológicas e iconográficas da obra arte afro-sul-rio-grandense.
Nas obras de arte afro-sul-rio-grandense
predominam formas estilísticas capazes de atingir os sentidos humanos, com toda
a intensidade, por meio de cores primárias e das palavras guardadas e que
atingem todo o seu potencial na poesia de Oliveira Silveira (1941-2009).
O artista visual
criador afro-sul-rio-grandense escolhe formas e ritmos de linhas fortes e
planos definidos para causar o máximo de impacto sensorial do que é essencial e
com o máximo de economia material numa
leitura estilística. Nesta economia material instala as condições para que
os elementos formais para que as obras de arte façam o máximo sentido no interior de uma estética coerente.
Esta revelação da unidade - na
diversidade das partes entre si - atraiu a pureza do olhar do jovem Pablo Este olhar de Picasso estava despojado de todos os
tabus, preconceitos e desqualificações, sofridos por esta etnia dominada.
As obras de arte
afro-sul-rio-grandense possuem um sentido especial para as regiões empobrecidas
e na heteronomia cultural. Buscam a sua verdade no seu próprio paradigma
visível nas suas escolhas estilísticas
de matérias pobres, para atingirem a
coerência da organização por meio deles. Os afro descendentes lançam mão de
recursos materiais muito próximos da sua
realidade física para executarem as suas obras. Nesta proximidade evitam
bloquear a criação pela imposição de materiais ricos, de alta elaboração e de difícil importação.
As obras de arte afro-sul-rio-grandenses são coerentes com as lições do “Poverelo” de Assis e de Giotto.
ROSA, Renato et alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto
Alegre : Pinacoteca Aldo Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre 2013 , s/p. .
Fig. 08 – A rigorosa busca estética levada
a efeito por Maria Lídia dos Santos (1946-2012) levou
MAGLIANI tanto para a erudição de um curso superior - antes de qualquer
cota de afrodescendentes - como a de continuar a busca de um mercado de arte
onde pudesses expressar a sua identidade
afro-sul-rio-grandense. Sem cair em
clichês gastos se apropriou da sua VIDA do AQUI e do AGORA, interveio e
interagiu por meio de pinceis e tintas transformando-a em OBRA de ARTE.
Salta uma riquíssima leitura
iconológica afro-sul-rio-grandense na contemplação das obras das artes
visuais de Carlos Alberto Oliveira ou Maria Lídia dos Santos, a Magliani.
Nestas imagens, carregadas de sentido, a temática busca afirmar os mitos do passado, a concretude do presente e
as esperanças de uma cultura mais humana. É verdade que nesta busca da sua
identidade estão ausentes os mitos, as verdades e as esperanças dos seus
antigos captores. Mas que ninguém espere azedume, revolta ou subversão panfletário da ordem a seu favor.
Ela contorna este azedume, revolta ou subversão da ordem canônica, transmutando
estas forças negativas da humanidade, pela elegância e com grande saber das
imagens carregadas de sentido de uma civilização diferente.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 09 – Pelópidas THEBANO é uma referência como artista
afrodescendente. Ele trabalha continuadamente em arte há várias décadas tendo
exposições individuais e coletivas,
sempre cercado pela sua gente e amigos que ele conquistou pela sua obra
ao longo desta carreira. Emprega a
cor intensa, o ritmo e preenche toda a superfície disponível com figuras
cerradas em linhas negras.,
As obras visuais
afro-sul-rio-grandenses instauram uma nova série
cultural nesta busca de sentido de uma civilização diferente. Nova serie que se vale da
transmutação, subversão e na fuga do imaginário do antigo dominador. Este se
percebe subjugado pela magia, pela objetividade dos recursos estilísticos e
pelas infinitas possibilidades oferecidas. Haverá uma ruptura epistemológica da
sua cultura materialista ocidental no caso deste antigo dominador optar em
prestar atenção a esta estética de paradigma diferente. Encontrará, nos bastidores das séries
culturais das obras visuais, elegância com sabedoria frutos de esforços heroicos
para fugir da heteronímia à qual foram condenados os afro-sul-rio-grandenses ao
longo de quatro séculos
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 10 – A apropriação de materiais, de texturas e de cores de uso cotidiano e a
sua transfiguração em instalações poéticas e visuais é explorada nesta amostra
de objetos de arte da tendência afro-sul-rio-grandense. A transfiguração em
OBRA de ARTE se dá na medida em que a tendência afro-sul-rio-grandense
interage com a VIDA - do AQUI e do AGORA
– e da qual se apropria, intervém e
remete ao observador de todos os tempos e lugares por meio da materialidade da
obra ,
11.2.6 A
diacronia e sincronia da arte afro-sul-rio-grandense
Na diacronia destes quatro séculos de heteronímia
encontram-se sucessivos mundos imateriais que lutaram politicamente para se
distinguir em paradigmas próprios. Ainda não mereceram suficientes estudos as
sucessivas suas revoltas, fugas e transfigurações passivas que empreenderam. As
pesquisas arqueológicas no contente africano ainda não tiveram os êxitos e a
divulgação que arqueologia do continente europeia teve ao longo do século
vinte.
Fig. 11 – A busca da identidade afr0-sul-rio-grandense vale-se especialmente do
corpo humano. Os sons, os gestos, os ritos,
as vestimentas, os alimentos e as cores são apropriados de uma longa
tradição ou de algo que é atual e das suas circunstâncias. A arte se dá na medida da apropriação, da
intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,
[Clique sobre o gráfico para ler]
Muito menor é
este esforço na arqueologia dos quilombos brasileiros e sul-rio-grandenses, nos
arquivos e vestígios materiais do trafico negreiro e da cultura de que eram
portadores estes cativos. Estes cativos perderam a ilusão de poder agir e
pesquisar esta diacronia com um único
paradigma externo a estas civilizações.
As séries
culturais dos índices culturais das obras visuais afro-sul-rio-grandenses
merecem leituras apoiadas pelas pesquisas quânticas e apoiadas pela última
tecnologia da informática. Esta não é nenhuma novidade para a pesquisa estética
pós-industrial pois o campo cultural do seu dominador está dividido e lutando
consigo mesmo. Mas que ninguém seja ingênuo.
Pois, ao longo de toda a linha de tempo de qualquer diacronia travam-se
lutas simbólicas mortais na busca de uma hegemonia do poder simbólico da arte.
As armas da desqualificação recíproca, da invenção de novas tradições e da
sedução para o repertório estético do mais forte e do mais competente
tecnicamente jamais foram constantes no
passado e nem irão estagnar por passo mágico no futuro.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 12 – A síntese plástica das formas dos arquétipos são recorrentes identidade
as obras de arte afro-sul-rio-grandense. O tema universal do corpo humano é tema recorrente para gerar
a empatia e a interação com o observador, mesmo o mais desatento. De outra
parte, nesta estética direta de apropriação, intervenção e a interação com VIDA
do AQUI e do AGORA, existem poucas considerações ou concessões com outras estéticas
estranhas a estas escolhas.,
A partir da
matriz africana - na qual a humanidade teve a sua origem - há possibilidade de buscar sincronia com as demais culturas
escravagistas que se desenvolveram no continente americano. A obra do negro
norte-americano desenvolveu-se numa cultura na qual as questões escravagistas
sempre foram declaradas. Ali as discriminações explicitadas e as lutas, entre
as culturas europeias e afras, foram sustentados por ambos os lados e com as
suas próprias armas. Na região caribenha a miscigenação étnica e cultural= entre a cultura europeia e afro - foi mais
profunda. No entanto esta miscigenação deu-se entre as camadas mais
desfavorecidas, pois, nas colônias espanholas, o dominador jamais abdicou de
sua sucessão da nobreza de origem. Para preservar a sua nobreza manteve-se
afastado da mistura do seu sangue nobre com o indígena e muito menos com o
descendente afro. Na constituição do Estado Português a nobreza não era
hereditária. O pretendente ao título o comprava e assim sustentava a nobreza. O
objetivo do pretendente a nobre era enriquecer o mais rápido possível. Para
tanto era extremamente ativo no comercio universal, inclusive o comércio
fálico inter étnico. Portugal conquistou prodigiosas projeções com um pequeno
território com número limitado de habitantes por intermédio das motivações
deste pretendente à nobreza.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 13 – A presente obra afro-sul-rio-grandense possui profundos índices da
ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na medida que joga com imagens poéticas distorcidas e
apropriadas por lentes e espelhos côncavos e convexos. Esta obra pode ser
aceita como ARTE na medida em que se apropria, intervém e interage com a VIDA do AQUI e do AGORA
transformando-se em metáfora das profundas e radicais distorções provocadas
pelo trânsito de uma para outra tendência estética.
11.2.7 As
influências das obras de arte
afro-sul-rio-grandense.
As obras visuais
afro-sul-rio-grandenses necessitam ser estudadas e inscrever-se na sincronia
com a cultura lusa em contato e no comércio com a etnia e a cultura africana. O
vigor da vida anímica africana, atinge e comporta-se como um verdadeiro código
genético na elaboração de sua obra na sincronia com a cultura luso-brasileira .
Os trabalhos do Mestre Ataíde e de Aleijadinho são testemunhos vivos destas influências de origem
afro-brasileiras. Já no Rio Grande do
Sul, este vigor anímico, da envergadura dos mestres mineiros, não teve ocasião
de se expressar em obras. Faltava uma
infraestrutura adequada e ocasião para exercer a sua autonomia em relação à
dominação dos imponderáveis que comandavam a cultura lusa.
Fig. 14 – Se a cultura brasileira não conseguiu se transformar em CULTURA de
EXPORTAÇÃO, o afro-sul-rio-grandense Wilson TIBÈRIO (1923-2005) conseguiu o
feito de se transformar em embaixador da cultura francesa de exportação para
todo o planeta. Quando estava se preparando para retornar ao Rio Grande do
Sul reaprender o português - graças ao
poeta Oliveira Silveira e o irmão de Wilson - a morte o surpreendeu.
11.2.8 O lugar
institucional da obra de arte afro-sul-rio-grandense.
As obras de
artes visuais afro-sul-rio-grandenses carecem de estudo, circulação e
institucionalização, por isto esta e outras conclusões, são evidentemente
precipitadas. Estas carências determinam também a falta de renascimentos e valorizações periódicas. A falta de estudos
sistêmicos, circulação e institucionalização não permitem a reversibilidade
para as fontes de estudo.
A falta de
circulação das imagens, dos textos, da bibliografia e os meios eletrônicos
falam dos tabus e lutas pela hegemonia que estão ainda muito longe de um
equilíbrio homeostático entre o dominador e o dominado. As instituições
brasileiras, como aquelas das religiões dos dominadores, estão muito longe de
um pedido de perdão pelos quatrocentos anos de escravidão e muito menos ainda
da busca objetiva de reparação por esta agressão física, moral e estética.
Obra do projeto coletivo da exposição
“PORTO NEGRO” Ver figura 18 e
nota da presente postagem
Fig. 15 – A presente obra é uma amostra da economia dos meios estéticos para
expressar a busca da identidade afro-sul-rio-grandense valendo-se especialmente
do referencial ao corpo humano. As periódicas retomadas da essência e das
matrizes das artes visuais são capazes
de aproximar a pinturas rupestres, a obra de Giotto e os mergulhos mais
profundos estéticos dos pintores impressionistas ao retornarem aos tintas e
pinceis.
Os museus das
metrópoles hegemônicas das coloniais acumularam os “depósitos” de obras
africanas. Esta institucionalização - sem estudo - desqualificou estas peças
como exóticas, sem a lógica e as tornou naturais. Este acúmulo seguiu o rastro
da cupidez do europeu pela posse patrimonial a qualquer preço. Repetiu-se o
mesmo que tinha acontecido com as grandes obras de arte das civilizações
pré-colombianas da América. Esta obra afro-sul-rio-grandense não possui no Rio
Grande do Sul sequer um lugar específico
no qual poderia a menos encontrar abrigo, ainda que temporário.
Porém a
contradição está sendo transformada complementariedade por meio de totens
espalhados pelo “MUSEU do PERCURSO NEGRO da CIDADE de PORTO ALEGRE”. Assim o tabu - da proibição de um lugar específico para as artes visuais
afro-sul-rio-grandenses em totens
abertos, gratuitos e universais. Este
MUSEU do PERCURSO NEGRO reconstrói os passos dos africanos, os seus caminhos e
seus percursos que lhe eram permitidos, diante do fato de não ter direito a
qualquer propriedade, imóvel e nem mesmo ao seu próprio corpo. Com esta
transformação- do tabu em totem - a obra do
afro-sul-rio-grandense ingressa na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na qual os espaços
imateriais, coletivos e universais constituem a matéria prima da memória, da identidade
e do pertencimento.
Fig. 16 – A instalação de uma serie de totens busca evidenciar o transito afro-sul-rio-grandense
controlado pelo olhar, mente e vontade do dominador. Assim ganha corpo e
evidência o “MUSEU de PERCURSO do NEGRO em PORTO ALEGRE”. Projeto que se
inscreve na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na medida em que ele materializa o silencio, apropria-se civilizadamente do
ESPAÇO PUBLICO e se prolonga sem se materializar numa instituição da ERA
INDUSTRIAL. Instituição da ERA INDUSTRIAL que exige uma densa e cara estrutura
administrativa e hierarquicamente conduzida por um sistema de linha de
montagem para se efetivar no mundo
prático
11.2.9 O lugar
pertencimento planetário da arte afro-sul-rio-grandense.
A vida e a obra
de Wilson TIBÉRIO (1923-2005) constitui precioso índice da busca do potencial
da identidade e do pertencimento planetário permitido pelas raízes da estética
africana. Barreiras culturais e estéticas que Pablo Picasso apontava e
derrubava nas suas pesquisas estéticas.
O imenso potencial humano, estético e empírico
das manifestações das artes afro-sul-rio-grandense supõe um imenso esforço para
erguê-lo ao mundo das ideias, estéticas e teorias consistentes e universais.
As excomunhões
reciprocas - no interior das manifestações das artes afro-sul-rio-grandense -
poderá ser um dos muitos problemas e anular o imenso potencial humano, estético
e empírico. Esta sempre foi a estratégia do dominador no rastro da cultura
hegemônica romana que dividia os dominados para poder reinar sobre o caos.
Funcionam os mecanismo de desqualificação, o silêncio da línguas do oprimido e
imposição intelectual, jurídica e econômica.
Fig. 17 – Uma das obras do “MUSEU de
PERCURSO do NEGRO em PORTO ALEGRE” que
busca evidenciar o transito afro-sul-rio-grandense controlado pelo olhar, mente
e vontade do dominador ao longo de quatro séculos. A silenciosa presença desta obra de arte se
apropria, intervém e interage na VIDA do AQUI e do AGORA a partir de um projeto
cuidadosa e civilizadamente elaborado e com cuidados mínimos de conservação e
de eventuais manutenções.
Este trabalho
possui duas mãos. Não basta enviá-lo ao mundo externo. O seu retorno - destas
culturas externas - é tão, ou mais, importante do que a missão das artes
afro-sul-rio-grandense tem a cumprir nas cultura hegemônicas.
Não havendo
retorno (feedback) - a partir destas culturas externas ao Rio Grande do Sul -
será um mero TRABALHO destinado a “embasbacar gringos” e sem outro efeito a ser
deletado no mundo externo como “MAIS UM
EVENTO EXÓTICO”. No máximo será mais material exótico de outro “MUSEU DO
TROCADERO”[1]
do tempo de Picasso.
No lado otimista,
a ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA - em
relação á ARTE PLANETÁRIA EXTERNA - irá encontrar o devido SENTIDO, LUGAR e
TEMPO para as PESQUISAS ADEQUADAS
relativas âs artes afro-sul-rio-grandenses.
https://www.facebook.com/pelopidas.thebano
https://www.facebook.com/groups/126268324102483/1205710889491549/?notif_t=group_activity¬if_id=1472090684324955
Fig. 18 – O projeto coletivo da exposição “PORTO NEGRO” contraria o hábito da ERA INDUSTRIAL de individualizar as obras de arte carimbando-as com o nome pessoal do seu autor. O projeto “PORTO NEGRO” coloca no centro a busca da identidade afro-sul-rio-grandense. Esta tendência da arte da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL se apropria da intervenção e da interação com VIDA COLETIVA valendo-se e concretizando em obra o AQUI e o AGORA do GRUPO. Não se trata do anonimato e nem um coletivo heterodoxo. O projeto possui um fio condutor ao qual se associam artistas com obra própria e diferenciada. Artistas que deliberam e decidem em relação a um contrato em comum de socialização, de identidade e de pertencimento.
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Fig. 18 – O projeto coletivo da exposição “PORTO NEGRO” contraria o hábito da ERA INDUSTRIAL de individualizar as obras de arte carimbando-as com o nome pessoal do seu autor. O projeto “PORTO NEGRO” coloca no centro a busca da identidade afro-sul-rio-grandense. Esta tendência da arte da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL se apropria da intervenção e da interação com VIDA COLETIVA valendo-se e concretizando em obra o AQUI e o AGORA do GRUPO. Não se trata do anonimato e nem um coletivo heterodoxo. O projeto possui um fio condutor ao qual se associam artistas com obra própria e diferenciada. Artistas que deliberam e decidem em relação a um contrato em comum de socialização, de identidade e de pertencimento.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
CORRÊA, Norton F. Os vivos, os mortos e os deuses: um estudo
antropológico sobre o batuque no Rio
Grande do Sul. Porto Alegre :IFCH-UFRGS, 1988, 474 f –Dissertação -.
Orientação de Brochado, José Joaquim.
----------Batuque no
Rio Grande do Sul- antropologia de
uma religião afro rio-grandense. São Luís - Maranhão : CA-Cultura & Arte,
2008, 295 p
LAYTANO Dante de (1908-2000). -
Festa de Nossa Senhora dos Navegantes
Estudo de uma tradição das populações
Afro-Brasileiras de Porto Alegre. Porto Alegre: UNESCO- Instituto
Brasileiro Ciência e Cultura- Comissão Estadual de Folclore do Rio Grande do
Sul - 6º Vol. 1955, 128 p. il
------------FOLCLORE do RIO GRANDE do SUL:
levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed) Porto Alegre: escola
Superior de Teologia São Lourenço de Brides – 1987, 350 p ISBN 8570610718
ROSA, Renato et alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto
Alegre : Pinacoteca Aldo Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre 2013 , s/p. il col.
SILVEIRA,
Oliveira Ferreira da (1941- 2009) , Obra
Reunida- Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro- CORAG, 2012. 370
p.
WENDLING, Líbia Maria Martins. A arte no vale do Sinos. São Leopoldo: UNISINOS, 1999. 183 p.
----------Casa
velha - convívio de arte : um
episódio na luta pela cultura em Novo Hamburgo, RS. São Leopoldo.
UNISINOS, dissertação, 1998. 2 v.
Fig. 19 – O poeta, professor e agitado político
Oliveira Ferreira da SILVEIRA, (1941- 2009) usou a palavra
- tantas vezes negada aos
afro-sul-rio-grandense – e empregou a linguagem erudita nas suas aulas.
Sem violência garantiu que as comemorações do dia 03 de maio - da Lei Aurea- fossem deslocadas para o dia 20 de novembro morte de Zumbi, em 1695. A sua arte de distinguir, de nomear e de reiterar a VIDA do AQUI e do AGORA abriu um imenso
espaço público e irreversível para a arte afro-sul-rio-grandense ,
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
BATUQUE
CARLOS ALBERTO OLIVEIRA
CULTURA NEGRA e ARTE
Cultura NEGRA e
FEMINISMO
ESCRAVOS LIBERTOS:
MAS SEM EMOÇÂO ou RISOS
ESCRAVIDÃO NÃO FOI ABOLIDA NO GRITO
ESCRAVIDÃO no RIO GRANDE do SUL
ESTÉTICAS ANTAGÔNICAS
ESTÉTICA
AFRO-SUL-RIO-GRANDENSE 082- ISTO é ARTE
http://profciriosimon.blogspot.com.br/2014/02/082-isto-e-arte.html
DIVERSIDADE COMO FORÇA
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Internacional/2016/09/597431/Obama-diz-que-diversidade-americana-nao-e-uma-fraqueza-e-sim-uma-grande-forca
INTOLERÂNCIA com
RELIGÃO AFRO-BRASILEIRA
MAÇAMBIQUES – OSÓRIO RS
http://www.selomundomelhor.org/
Maçambique
de Osorio-RS - Festa de Nossa Senhor do Rosário em Osório 2008Arquivado em Novo, VIDEOS por Alfredo Bello | 24, December
2009 Vídeo
MAGLIANI – Maria Lídia
MUSEU do TROCADERO https://en.wikipedia.org/wiki/Mus%C3%A9e_d%27Ethnographie_du_Trocad%C3%A9ro
NAVEGANTES e A FESTA das ÁGUAS de VENEZA: ou sendas
abertas para o seu estudo erudit
OLIVEIRA SILVEIRA
Oliveira Silveira [1941-2008]. Trajetória do militante do
Movimento Negro e a construção da data de 20 de novembro
MEMORIAL da CÂMARA de PORTO ALEGRE (22 bannners) http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=1508&p_secao=117
PELOPIDAS
THEBANO
SALÃO AFRO-SUL-RIO-GRANDENSE
SANTOS, Carlos da Silva (1904-1989) deputado
estadual
SOCIEDADE BENEFICIENTE CULTURAL FLORESTA
AURORA 1872
Religiões afro-brasileiras - recomenda-se o
texto disponível em
VIA SACRA do NEGRINHO do PASTOREIO de Aldo
Locatelli no Palácio do Governo
VINTE de NOVEMBRO de 1695.
WILSON TIBÉRIO
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.100/107 entre artistas afro-brasileiros
WILSON
TIBERIO por OLIVEIRA SILVEIRA http://ligadacanelapreta.blogspot.com.br/2007_11_01_archive.html#7878911617001941883
ARTE AFRO SUL-RIO-GRANDENSE:
exposição CENTRO CULTURAL CEEE
https://www.facebook.com/events/885708248202251/?notif_t=plan_user_invited¬if_id=1471558248285308
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