sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ARTE SACRA SUL-RIO-GRANDENSE – 11

João COUTO SILVA e a etnia e cultura lusitanas

Fig. 01 – Entalhe em madeira.

IGREJA da CONCEIÇÃO porta de entrada do templo.



As obras assinadas por Couto Silva (Lisboa? – Porto Alegre 1883), nas Igrejas Nossa Senhora e das Dores[1] da Conceição[2] (1858), evidenciam a arte periférica e descompassada das tipologias estéticas dos grandes centros hegemônicos. Aconteceu também em Goiás com o Mestre José Joaquim da Veiga Valle (1806-1874), em Minas Gerais do Mestre Ataíde (1762-1837) e mesmo no Nordeste. Neste tempo arte evoluía para a tipologia neo-clássica trazida ao Brasil pela Missão Artística Francesa, sob os auspícios do trono imperial brasileiro. Enquanto João Couto Silva[3] produzia em Porto Alegre o templo católico ligado e protegido legalmente pelo trono imperial e pela constituição brasileira. Mas eram as irmandades que administravam as construções das igrejas. O trono ganhava em troca lugares que podiam servir em tempo de guerra como lugares privilegiados de observação e de defesa da cidade. Assim as igrejas Nossa Senhora das Dores e da Conceição foram colocadas em lugares estratégicos para a defesa de Porto Alegre



Fig. 02 – Interior da Igreja Nossa Senhora das Dores.

Entalhes em madeira policromados e colocados nas parede lateral e altar-mor obra de João COUTO SILVA http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Nossa_Senhora_das_Dores



Nas províncias afastadas da corte era possível ainda a persistência das fórmulas e de tipologias barrocas. É o caso do toreuta lusitano João Couto Silva que trabalhou em Porto Alegre após a Revolução Farroupilha (1835-1845).



Athos Damasceno traçou[1] assim o seu perfil

“A julgar por informações colhidas em diversas fontes, Couto e Silva era homem de poucos amigos, suspicaz e retraído, nada inclinado a expansões e confidências. É esta a principal razão de não se ter nenhum conhecimento de sua vida pregressa – ascendência, tradições artísticas estudos e atividades em Portugal. Fora de dúvida, porém, e já haver chegado aqui sabedor do seu ofício e dono de um estilo que denunciava logo a escola portuguesa de entalhe, particularmente em obras de igreja, nas quais imprimia o corte, o gosto e a feição do manuelino peninsular.. Veio portanto, não precisando de aprender o ofício mas em condições de dar lições dele – coisa que, a bem dizer, não faria, pois como Manoel gentil, o retratista baiano, quebrava o corpo quando alguém lhe pedia o ensino da arte – não que lhe faltasse jeito para isso mas por puro egoísmo, consoante ao que se propalava, e afim de adora-se da praça, sozinho, sem a sombra incômoda da concorrência” ( 1971, p. 133).




Este retrato é coerente com uma cidade que não fazia questão de ostentação nas palavras de Saint-Hilaire[2]. Coerente também com a vertente açoriana da etnia e da cultura lusa. Porto Alegre, a maior cidade criada por açorianos, era habitada por uma população de hábitos domésticos, de fala baixa e comedida, sem recorrer à publicidade do ofício que a geração seguinte usou como regra.




A cultura lusitana do gosto pelas pequenas jóias, moldadas em metais preciosos na grande tradição da filigrana, sublimou as obras em madeira cobertas com finas folhas de ouro para refletir os esplendores intimistas e em ambientes de pouca luz.




Tradição que mantinha a unidade de um templo e de uma irmandade que encomendava os seus serviços. Ao mesmo tempo este templo estava intimamente ligado a um Estado que se expressava por meio destas obras destes mestres.






[1] - DAMASCENO. Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900). Porto Alegre : Globo, 1971, 520 p

[2] Auguste SAINT HILAIRE (1779-1853) in http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01417800

Fig. 03– Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Entalhes em madeira policromados colocados na parede lateral e altar-mor obra de João COUTO SILVA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Nossa_Senhora_da_Concei%C3%A7%C3%A3o_(Porto_Alegre)



Damasceno é puro elogio quando trata (1971, p. 134) dos dois lavores maiores do mestre lusitano e que o tempo e os seus admiradores preservaram até os tempos presentes

Couto e Silva pos, com maior esmero, todos os recursos de seu ofício e dos dons de suas fantasias e talento na decoração das igrejas de N. Srª das Dores e de N. Srª da Conceição, cujos empreiteiros não dispensaram nem poderiam dispensar a colaboração positiva do competente entalhador.[...] na decoração destas duas igreja, salienta-se a excelência das obras de talha que as enriquecem – indiscutivelmente das mais bem executadas e das maior efeito artístico da arquitetura religiosa da Província. Não diremos que rivalizem e muito menos que excedam os lavores que opulentam muitas igrejas brasileiras do Rio de janeiro, Bahia, Minas e Pernambuco. Mas não fariam papel feio, ao lado destes lavores, os que decoram, tanto a Igreja das Dores quanto da Conceição – suas capelas, seu altares, suas tribunas, seus balcões, seu baldaquinos sustentado por colunas torneadas, seu filigranados dosséis e rendadas portas ricas de fantasioso vazamento”

Dos numerosos casarões e palacetes que João Couto Silva abrilhantou e humanizou com a sua arte, só restaram as descrições no registro de Athos Damasceno[1].

O artista morreu em Porto Alegre em 04 de outubro de 1883





[1] DAMASCENO, 1971, 133/4p.




Fig. 04– Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição.

Assinatura de João COUTO SILVA



O presente artigo é solidário com o MUTIRÃO de COMUNICAÇÃO AMÉRICA LATINA e CARIBE a realizar-se de 03 a 07 de fevereiro de 2010 na PUC-RS Porto Alegre –RS.


http://muticom.org/cultural/

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