segunda-feira, 26 de outubro de 2009

EMPRESÁRIOS do ESCÂNDALO.

O pragmático empresário norte americano afirma que “onde existe uma necessidade existe um negócio”.

Existem empresários para preencher a necessidade do medo suscitado pela solidão no meio da multidão, do ócio compulsório - quando falta de trabalho para todos - e da carência de estímulos e de motivações pessoais.

Evidente que o fenômeno não é novo. Os romanos já entendiam do negócio. Os empresários do “pão e circo” ou os sacerdotes maias - e dos astecas em escala genocídio - mantinham a indústria cultural de sacrificar espetacularmente a vida de jovens no Antigo e Novo Mundo.

A arte foi chamada, muitas vezes, para legitimar e estetizar estes negociantes do escândalo. O que deveria servir para transformar o TABU em TOTEM, permanece no TABU ou no puro CRIME primário e imperdoável. E ao artista - que deveria cultivar a sua autonomia para merecer este posto na sociedade - cai ingenuamente na heteronomia destes empresários do escândalo. Para sair desta heteronomia o conselho de Nietzsche pode ajudá-lo

A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário

Niettzsche 2000, p.134[1]

O fim da era industrial também acabou com o trabalho na sua forma até hoje conhecida. As improvisações, destes empresários do escândalo, respondem às necessidades para ocupar as mentes, os corações e braços de uma população cada vez mais numerosa. Respondem às necessidades de uma visão de que 97% da produção pode ser equacionada pelos robôs ou maquinas. Mas os empresários do escândalo não resolvem as novas necessidades da percepção da essência do mundo. Atacam os efeitos por meio da banalização do escândalo, pelo afrouxamento da moral e pela corrupção da estética na qual arte ainda é autônoma .

A rebelião do clima, o esgotamento do oxigênio do planeta - e não só dos recursos fósseis - não pode ser tapado e escamoteado mantendo a população presa e alienada deste macro-problema pela indústria do escândalo. Indústria do escândalo pré-anunciado e aguardando eventos pontuais que não só distraem dos magnos problemas da humanidade do planeta e, mas embotam sentidos, coração e mente da criatura humana.

A indústria do escândalo também é a matriz de muitas ideologias, partidos ou religiões que se afirmam e crescem em cima de denúncias e que fabricam escândalos para afirmar e reproduzir as suas posições ideológicas. As obras dos ideólogos nazistas, que se aproveitam dos descalabros de uma Alemanha - humilhada pela 1ª guerra mundial - para construir um monstro monolítico que assusta até os nossos dias e que necessita ser combatido.

O administrador público necessita potenciializar o curto período de sua fama. Valem também para ele os 15 minutos de fama prognosticado por Andy Wahrol. No curto e limitado período de sua administração ele necessita demonstrar para o que veio. Geralmente o seu projeto não passa de ocupar o cargo para seu proveito e dos que o conduziram ao cargo. Nem pensar nas funções para as quais existe este cargo público. Nada melhor do que a indústria do escândalo para desqualificar as administrações anteriores e castigar qualquer concorrente que se aproxime dele ou tenha pretensões de sucedê-lo. Por sua vez a oposição não perde a ocasião para atacar com a indústria do escândalo a quem ocupa qualquer cargo público.O poder originário é colocado como publico cativo e deste espetáculo deprimente

A indústria do denuncismo é um braço da indústria do escândalo. Os mais bem intencionados cidadãos não escapam da indústria do denuncismo e são as suas vítimas preferenciais. O Cardeal Richelieu mestre da política do denuncismo já afirmava “dêem-me um texto de cinco linhas do mais respeitados súdito deste reino, e eu encontrarei cinco razões para enforcar o se autor deste texto”.

A indústria do escândalo usa moral que como base do seu direito. Este direito possui a mesma lógica das sátiras romanas cujo lema o “Ridendo castigat mores não resiste ao menor exame da razão e da ética. Este moral traz no seu bojo a moral da escravidão. Escravidão que mantinha os sábios de todo o mundo mediterrâneo sob o tacão do poder romano da época imperial. Na atualidade tal tacão imperial usa os instrumentos da indústria do escândalo para manter submetidos os povos. Indústria do escândalo que renova e potencializa e avassala as consciências atuais pelo meio dos instrumentos numéricos digitais.



[1] NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900) Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.

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