sábado, 31 de outubro de 2009

A ARTE NÃO MENTE.

EM ARTE NÃO ADIANTA PEDIR DESCULPAS.

“O ente no ser”

Heidegger

A arte não mente e o que permanece é pensamento que a gerou. Quando o pensamento descuidou dos mais elementares princípios da sua concepção e recepção de uma obra de arte, ela submerge no universo da entropia universal da Natureza. Nesta condição ela é destinada ao lixo. Se este trabalho, desta obra, foi concebido e realizado em nome da arte, poderá ser objeto da Arqueologia num futuro próximo ou remoto.

Nestas condições surge mais um sitio arqueológico de um passado próximo. Desta vez em Porto Alegre e no espaço antes ocupado pelo Guaíba. Trata-se das obras deixadas no Parque Marinha do Brasil pela Bienal do Mercosul, pelo Fórum Mundial, pela Prefeitura de Porto Alegre e outros.

Estas obras cumprirem, em 2009, o ciclo de sua obsolescência ao modelo da mentalidade de toda obra produzida no pensamento que orienta a era industrial. Modelo que induz a criatura humana o produzir e receber objetos e idéias coerentes com a obsolescência programada de pessoas e coisas ao ritmo da maquina. Esta mentalidade pode instalar os campos de extermínio humano em larga escala ou deixar seus artefatos na Lua ou em outros planetas.

Mentalidade que comandou a construção de cenários que se pautam a celebração de qualquer evento, na trilha da Propaganda da Fé nas Missões jesuíticas e dos cenários cinematográficos de Hollywood.

Não se trata aqui da “obra de arte na era da reprodutibilidade”, da industria cultural. Trata-se do ritmo “just-of-time” que a maquina atingiu e impõe como lógica do que pretende ser original. Esta mentalidade torna-se algo em si mesmo e com todas as consequências daquilo que deveria ser instrumento da produção, da circulação e da recepção de uma obra de arte.

As obras do Parque Marinha do Brasil não mereceram- e não receberam -um potencial índice da receptividade. Índice da receptividade digna de uma obra de arte. Recepção da arte que, desde a humanidade aprendeu a escrever e a ler, mereceu uma epígrafe mínima.

Nesta falta - de índices unívocos e lineares de uma potencial receptividade - retornam para a entropia e volta à Natureza. Isto se a população desinformada não colabora ativamente nesta entropia. A premissa para esta licença é dada pela frase “todos são artistas”.Se a aposta era desestabilizar a identidade local: o objetivo foi atingido.

- Mas o que se colocou no lugar desta identidade?

- Sucata?.

A sucata é um mal generalizado em todas as culturas fortemente atingidas pela industrialização, não se distinguindo capitalismo o socialismo. Evidente que existem empresas de sucata e que acham ouro na sucata. Os monumentos do regime soviético tornaram-se objetos de cobiça ou alvos de anarquistas.

A mediação institucional foi interrompida na realização e na entrega das obras do Parque Marinha do Brasil. As instituições de arte foram desqualificadas e anacronizadas pela mentalidade industrial. Juridicamente não houve um contrato ou faltou cumpri-lo.

As obras do Parque Marinha do Brasil de Porto Alegre, no estado em que se encontram, em 2009, dão uma aula para a população como se pode usar o dinheiro publico para o efêmero e o evento para o consumo imediato. Estas obras cobram - na sua impotência física - o direito da arte buscar a verdade no desenvolvimento coerente da vontade e do conhecimento.

O Rio Grande do Sul possui agora dois sítios arqueológicos; um das Missões e outro em Porto Alegre no Parque Marinha do Brasil. Ambos resultaram da propaganda de um projeto que deixou amargas lições para quem acreditou neles. Um da Propaganda da Fé e outro da Propaganda da era industrial. Contudo em ambos ficaram apenas as ruínas como consolo e tarefa destinada ao poder originário que nelas trabalhou e contribuiu na sua construção original. O lucro encontra-se em mãos alheias e muito longe do poder originário que os pagou e neles trabalhou fisicamente.

Busca-se, no presente texto e imagem, não a denúncia, mas a integridade intelectual que suscita toda de obra autêntica num PROJETO em NOME da ARTE. Obra como índice do melhor que uma civilização pode legar aos contemporâneos e que deveria permanecer para um futuro ideterminado. Civilização na qual uma obra de arte necessita cumprir, para merecer este nome, de integridade intelectual que aponta para o seu ciclo completo. O conhecimento, a vontade e o direito de possuir e legar uma obra de arte autêntica para as novas gerações, supõe a existência de uma civilização que lhe deu origem. Uma civilização na qual seja possível realizar contratos que respeitam e garantem o poder que lhe deu origem. Supõe instituições que entendam estes contratos, tenham condições para mantê-las no tempo indeterminado para que nelas uma nova geração se possa espelhar. Espelhar-se nelas não para admirá-las, mas para superá-las e por sua vez melhorar o conjunto desta civilização. Neste aspecto a obra de arte não é diferente de tudo o mais o que ocorre numa civilização. Obras de arte, que não tenham só a pretensão de serem fontes de inspiração para as inteligências, mas estímulos da vontade para que uma nova geração as receba para as transcenderem. Obras de arte que guardam como dados e que transmitem um pensamento digno de ser incluído em um novo projeto coerente com o novo tempo.

- Qual o pensamento resultante das obras deixadas no Parque Marinha do Brasil?

No estado atual, transmitem, para uma nova geração e estrangeiro, o pensamento deixado por eventos efêmeros e herméticos Pensamentos herméticos que remetem aos misterinhos inconseqüentes.

No seu estado atual não transmite nada além da mentalidade do misterinhos de brinquedos de casinha. Mentalidade que comandou a construção de cenários ao modelo da Propaganda da Fé das Missões jesuíticas, dos cenários cinematográficos de Hollywood e que pautam a celebração de qualquer evento. Não transmitem nada além do “pão e do circo”. Circo que amanhã estará em outro lugar. Aos donos do circo não se interessam pelos restos que a sua mentalidade do efêmero e do espetáculo deixam atrás de si.

A arte não mente e, em arte, não adianta pedir desculpas por uma mentira.

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