segunda-feira, 19 de outubro de 2009

4 - A UNIVERSIDADE e o ESTADO BRASILEIRO

A universidade Federal Brasileira na Heteronomia:

A universidade brasileira continua a vegetar, em 2009, num estado carente de um projeto de Nação. Nação que não reconhece o seu poder originário em todas as suas instâncias, devido à projeção da sua cultura servil.

No seu estágio atual a Universidade brasileira, encontra-se na heteronomia esperando ser vítima do primeiro interesse ideológico ou político. Não faltam candidatos para este assalto. Candidatos que são provenientes de classes profissionais ávidos para se apoderar do poder desta universidade disponível. Candidatos cujo único projeto é corromper o que é ótimo e inerente à natureza da própria instituição. Como tal esta universidade brasileira não só passa a ser inútil, mas perigosa devido à corrupção do núcleo moral do projeto de uma nação verdadeira, justa e coerente com o seu povo.

Tomada de decisões e uma ação coerente

Tendo presentes estas questões, as soluções dos problemas apontados aqui são:

1 – O fluxo do poder no interior da universidade é o mesmo do poder originário da nação brasileira.

2 – Como tal possui - de fato e de direito - vontade e condições para discutir a problema do EQUÍVOCO UNIVERSIDADE no BRASIL com todas as implicações provenientes desta discussão

3 – A luz desta deliberação: reforçar o conhecimento do poder originário da universidade e a decisão prioritária para este poder tenha o direito a um projeto que explicite o contrato decorrente do poder originário da universidade. Projeto no qual se confere representação efetiva aos docentes das universidades federais brasileiras na condição de agentes do ensino, da inovação e da extensão transformadora.

“A formação universitária dos professores não é somente uma necessidade da função educativa, mas o único meio de, elevando-lhes em verticalidade a cultura, e abrindo-lhes a vida sobre todos os horizontes, estabelecer, entre todos, para a realização da obra educacional, uma compreensão recíproca, uma vida sentimental comum e um vigoroso espírito comum nas aspirações e nos ideais”[1].

Formação universitária dos professores apesar da cultura brasileira de escravidão e da servidão seculares. Cultura de escravidão e servidão duma nação nascida e mantida num regime colonial. Cultura que manteve afastada e escondida toda possibilidade da autonomia de um poder originário, inclusive o docente da universidade federal brasileiro. Docente mantido incentivado por associações espúrias que reproduzem a heteronomia da cultura brasileira de escravidão e da servidão seculares.

DISTINGUNDO ALGUNS TERMOS.

Academia: jardim de Atenas onde se reuniam os discípulos da Platão. As academias substituíram as guildas medievais ao longo do Renascimento Italiano. Na Revolução Francesa foram criadas as diferentes academias conforme a classificação iluminista dos saberes mas sem estudantes que eram remetidos para as suas respectivas Escolas.. No Brasil a Academia Brasileira de Letras retomou o sentido da Revolução Francesa como o lugar do saber literário e sem a presença do estudante.

Autonomia: principio da sanção moral dos atos humanos. Autonomia compreende uma competência interna e um limite. Na imagem de Maturana, uma célula viva necessita da membrana que a delimita, permite assimilar o que lhe interessa e proteger-se do que não

Contrato social: legado iluminista para o exercício pleno da cidadania e contra a vontade divina dos príncipes, reis e eclesiásticos.

Endogenia corporativa e O grupo que se forma no interior de um grupo humano e que busca a hegemonia do exercício do poder procura reproduzir-se na corporação através de contratos a margem dos objetivos originais da fundação original

Ensino Superior: ensino de terceiro grau

Escola: na etimologia grega como “lugar do ócio”, em contraposição ao neg-ócio ou “sacerd-ócio”. Durante a Revolução Francesa a escola era o lugar do ensino e mantida através de um saber específico das Academias reunidas no alto patrocínio do Institut de France. Assim a França atual mantém as suas Escolas de ciências, profissionais e artísticos e com formador dos agentes qualificados para o Estado Francês. A Sorbonne destina-se para saberes mais gerais, vulgares e populares.

Escravo: não é gente, na concepção de Aristóteles, pois ele não delibera e nem decide[2]

Estado brasileiro: No 1º decreto republicano atribui-se “a soberania” ao Estado Regional. Os federalistas e opunham a competência. Hoje o Estado Regional é considerado “autônomo” enquanto o Estado Brasileiro é “soberano”

Faculdade: O estatuto da UFRGS escreve no “Art. 30 - As Unidades Universitárias destinam-se ao exercício das atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. §1º - Os Institutos Centrais são Unidades que atuam, predominantemente, no domínio do conhecimento fundamental. §2º - As Faculdades e Escolas são Unidades que atuam nas áreas do conhecimento aplicado”.

Fazer x Agir: o homo faber (Hannah Arendt) como princípio e fim do ensino superior profissionalizante.

Federal – As “Universidades Temporãs do Brasil” ( Cunha, 1980) não tinham o projeto da sua competência para todo o território nacional.

Heteronomia Florestan Fernandes escreveu (1966, p.105) “o escravo não se liberta a si mesmo: ele é libertado”.

Homo Faber: Expressão de Hannah Arendt que percebe no homem contemporâneo a compulsão do FAZER, a qualquer preço, sobre o AGIR. O resultado é o TRABALHO, e NÃO a OBRA. Trabalho condenado à obsolescência e ao lixo de tudo que o “homo faber” produz, inclusive ele próprio. A OBRA é o que permanece e não e consumido. A universidade ocidental reproduz esta compulsão, a ensina e não vê drama moral algum no lixo e na obosolescência.

Instituto: Pensa-se no formato e papel do “INSTITUT de FRANCE” com as suas “ACADEMIES” e suas “ÉCOLES” em substituição ao papel e formato da Universidade de Sorbonne do “Ancien Regime”.

Instituição: uma civilização existe e se mantém na medida das suas instituições.

Lei Brasileira: precede o fato. A universidade para todo o território brasileiro criada por lei.

Liberdade: como atribuição da decisão da reprodução deliberada. O patrício romano podia deliberar e decidir a sua reprodução e a transferência das suas prerrogativas para a sua descendência, a partir do memento de atingir a sua maturidade sexual (líber). O escravo, não.

Poder originário: poder anterior a qualquer delegação ou contrato social.

[veja o desenvolvimento deste conceito em http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html]

Populismo: o autêntico poder originário é corrompido e enganado por um grupo interno legitimado num determinado ponto. Este equívoco é alimentado com aparências do exercício do poder, e que ao contrário disto, impede, ao restante do grupo assumir mudanças significativas e coerentes com a realidade que este grupo vive.

Projeto civilizatório compensador Se o cidadão renuncia ao exercício da violência a favor do Estado, de outro este Estado necessariamente necessita responder a este delegação. Se o exercício desta violência que lhe é delegada pelo cidadão avulso e auto-despojado da violência, de outro este mesmo Estado necessita compensar este exercício da violência, propondo um projeto positivo e aqui se entende como “projeto civilizatório compensador” : Lefort anuncia (1983, p.79) o Estado aparece a todos e se representa a si mesmo como o princípio instituinte, como o grande ator que detém os meios de transformação social e do conhecimento de todas as coisas

Reprodução: todo ser vivo busca formas de perpetuara-se

República dos estudantes da Universidade de Bolonha como promotores das Repúblicas Italianas do Renascimento. A defesa do doutorado na rua e como desafio ao catedrático

Servidão voluntária: como refúgio da heteronomia irresponsáve[3]l.

Sístole x diástole: Em movimentos contrários a República Brasileira proclamou a “soberania” dos seus Estados (15.11.1889) dispersando (diástole) o poder por todo o território nacional. Em 19.11.1937, queimou as bandeiras destes Estados retomando (sístole) a sua soberania.

Tese: uma afirmação contra a opinião geral.

Universidade: uma das poucas criações ocidentais segundo Max Weber.

O único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos Max WEBER 1989: 70 [4]

Voto: na Universidade o poder é distribuído conforme o acento eleitoral. Na Universidade de Bolonha este acento era dos estudantes. Na Sorbonne predominava a dos docentes. A Universidade Nacional de La República do Uruguaia agrega, ao acento eleitoral, a comunidade e, em especial, os sés ex estudantes.

O texto que segue é disponibilizado no interior dos princípios contratuais de:

Creative Commons



[2] Na concepção de Santos (1975, p.25) o professor só administra o seu repertório e ensina aquilo que ele é. “Nem o escravo e nem o proletário, podem ensinar para a responsabilidade, para o futuro, porque o seu futuro é hoje. Nem um nem outro podem transmitir valores. Sua situação é de inconsciência. São desvalores. Educar para o desvalor e para o hoje é uma contradição lógica, um absurdo sóciológico, um erro pedagógico”. SANTOS, Ely Souto dos. Os Proletários da Cultura. Porto Alegre: Gráfica Dom Bosco, 1975. 209p.

[3] La Boetie percebeu no Renascimento Francês quando escreveu (1974, 1982, p. 25) que: a primeira razão por que os homens servem de bom grado é que nascem servos e são criados como tais. Desta decorre uma outra, que sob os tiranos, as pessoas facilmente tornam-se covardes e efeminadas. BOÉTIE, Etienne La (1530-1563). Discurso da Servidão Voluntária (1549). Tradução de Laymert G. dos Santos. Comentários de Claude Lefort e Marilena Chauí. São Paulo : Brasiliense, 1982. 239p

[4] - WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.

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