O INSTITUTO de BELAS
ARTES do RIO GRANDE do SUL: ARQUITETURA e URBANISMO.
“Nada é transmissível a
não ser o pensamento”
Le Corbusier[1] in
Boesiger, 1970, p.168.
[1] BOESIGER, Willy . Le Corbusier Les Derniers œuvres Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, ,
v.8, 208 p
.
Imagens do Curso
de GRANDES COMPOSIÇÕES que ocorreu em julho de 1948. Origem da foto: Arquivo do
IA-UFRGS.
Fig.
01 – Arquitetos e urbanistas reunidos no bar do IBA-RS em julho de 1948. No pensamento
aristotélico “a ARTE ESTA em QUEM a
PRODUZ” Assim esta foto de julho de1948 reúne alguns criadores do
pensamento arquitetônico ativos no Rio Grande do Sul, nesta época.
No registro e na análise
do pensamento que permanece da Arquitetura e do Urbanismo em relação ao que foi
construído, de fato, do Rio Grande do Sul é necessária muita atenção. De um
lado é necessário contornar a frequentes mitificações como os recorrentes
“estilos ecléticos” tão comuns nos discursos e nas narrativas da História da
Arquitetura de Porto Alegre. Do outro é necessário desconfiar do reducionismo
estilístico, desqualificações e naturalizações intempestivas. Busca-se aqui as origens do pensamento na Arquitetura
e no Urbanismo e alguns registros de suas expressões práticas em função do seu
tempo, do seu lugar e do seu povo. No registro de suas expressões práticas evitam-se
os antolhos das estreitas e cansativas mentalidades estéticas, políticas e
ideológicas. Estas poderiam exibir argumentos fixos e maniqueístas como do
embalsamento do acervo arquitetônico e urbanístico do Rio Grande do Sul em uma
ou outra forma preconcebida e preconceituosa de marketing e de propaganda de
meias verdades.
Fig.
02 – Na etimologia da palavra escola é o
“lugar do ócio”. Ócio conquistado e concedido à favor da concepção e ao
desenvolvimento do pensamento. A formação escolar do Arquiteto no IBA-RS era de cinco anos. No
caso do Urbanismo havia ma\ais dois anos a serem cursados
Delimita-se aqui a
origem e algumas materializações nas expressões do pensamento na Arquitetura e no Urbanismo no projeto do Instituto
de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS). Este foi concebido e colocado
no mundo, em 1908. Este projeto tinha
por núcleo o pensamento que ele seria constituído por meio das doações e
liberalidades daqueles que de fato gostavam das Artes. Pelos estatutos[1]
desta instituição coube à sua ESCOLA de ARTES entre as suas competências, liberalidades
e limites a tarefa do ensino da “pintura, a escultura, arquitetura e as artes
de aplicação industrial”. É
forçoso reconhecer que as condições práticas só foram atingidas pelo IBA-RS na
década de 1940-1950. Esta plenitude também declinou rapidamente.
[1] ESTES ESTATUTOS FORAM PUBLICADOS NO JORNAL OFFICIAL « A
FEDERAÇÃO», A 22 DE AGOSTO DE 1908 E DADOS À INSCRIPÇÃO NO REGISTRO GERAL DE
HYPOTHECAS, A 28 DO MESMO MEZ E ANNO, TENDO SIDO LANÇADOS SOB Nº 90 A FLS. 25
DO RESPECTIVO LIVRO.
Fig.
03 – O Curso de Urbanismo do IBA-RS era
oferecido aos estudantes que haviam cursado os 5 anos de do Curso Superior de
Arquitetura ou de Engenharia. Na Escola de Engenharia da URGS o curso de Arquitetura era
oferecido em 2 anos como especialização sendo estes estudantes diplomados como
ENGENHEIROS ARQUITETOS.
O observador necessita
ter meios para buscar, com autonomia e vigor, o pensamento e a mentalidade
provenientes do campo da Arquitetura. Especialmente num lugar, num tempo e numa cultura sujeita as
intempéries e as vicissitudes provocadas por
intrigas conceituais, estéticas ou econômicas sem medida ou autonomia.
Autonomia e energia que ainda carece qualquer pensamento embrionário e sem um projeto definido e evidente para
todos.
Arquivo
do Templo Positivista de Porto Alegre
Fig.
04 – O projeto para as Balneário de Irai
foi conduzido pelo arquiteto Ernani Dias
Corrêa (1900-1982). Ele viajou pelos balneários europeus para colher dados.
Colega de turma Lúcio Costa e de Atílio Corrêa
na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). A sua formação
de Arquiteto incluía a de Engenharia. No
Rio Grande do Sul trabalhou na urbanização de Arroio do Meio, Irai e Vila
Floresta de Porto Alegre. Catedrático no IBA-RS, Escola de Engenharia e na
Faculdade de Arquitetura da URGS. Primeiro presidente do IAB_RS.
O IBA-RS atingiu alguns
índices destas condições práticas ao longo da II Guerra Mundial e logo após ela. Neste período as culturas hegemônicas tiveram outros problemas
para os quais foram forçados a dirigir o seu pensamento, suas ações e os seus
recursos.
Fig.
05 – O Balneário de Irai foi inaugurado
no dia 20 de setembro de 1935 no Centenário Farroupilha. A sua
localização e de difícil acesso até o
presente também sofreu a decadência da concepção da busca da SAUDE
NATURAL o que afetou a maioria deste tipo de balneário.
No Rio Grande do Sul os
resultados não foram imediatos e evidentes para todos. Mas é neste período que uma equipe de
arquitetos se instituiu e trabalhou no IBA-RS. Equipe sob a orientação de
experientes mestres na arte de projetar prédios e propor soluções urbanas
criativas. Porém o mais importante é que esta equipe tratou de reproduzir as
competências numa nova geração.
CORONA Fernando. Álbum
do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de MODELAGEM
Fig.
06 – Maquete produzida por um grupo de estudantes do Curso Superior de
Arquitetura do IBA-RS e fotografada contra a paisagem urbana de Porto Alegre
com a usina elétrica ao fundo. O atelier de Escultura do Professor e
arquiteto Fernando Corona que lecionava as disciplinas de Modelagem e de
Maquete. O trânsito entre três áreas erara natural e diária. Vinha se somar com
o Mural Arquitetônico
Nesta reprodução tratou
de garantir o fluxo do seu saber especifico. Este fluxo da formação de Arquitetos e Urbanistas
com profundas vivências e mergulhos
diários em todas as manifestações da Arte. Fluxo que evitava o absurdo de expor
estas jovens e inexperientes mentalidades à uma verdadeira “indigestão universitária” ao currículo
formal de saberes provenientes de 22 departamentos e sem um nexo interno. De
outro lado correm o risco de serem submetidos a uma monocultura de um
treinamento técnico e esterilizante da “perigosa
e inútil” criatividade. Entre estes extremos a prática e a experimentação
inerente às Artes Plásticas propicia aos novos arquitetos e urbanistas desde o
primeiro momento da formação institucional, a natural contraposição a uma
endogenia reforçada por um mundo livresco e teórico. Se persistir o acúmulo de saberes desconexos
e sem a pratica inerente às Artes, o
máximo que pode acontecer a um formando será reproduzir outra Faculdade de
Arquitetura numa endogenia estéril e esterilizante.
CORONA Fernando. Álbum
do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de MODELAGEM
Fig.
07 – Um conjunto de maquetes do Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. As
pranchetas foram dispostas em forma de quadras urbanas. Em cada maquete
é perceptível o pensamento intensamente discutido em cada grupo. Este
pensamento transparece na ocupação e np aproveitamento do espaço. Cada conjunto
revela uma forma diversa, mas que não
compromete a circulação humana e do ar entre os prédios
O pensamento
arquitetônico, criativo e coerente com os seu tempo e lugar, fluirá longe desta
endogenia. Esta se multiplicará ao infinito por meio de receitas redutoras e
formulários inócuos para rupturas epistêmicas consistentes e coerentes com os
seu tempo e lugar. No contraditório o mundo da Arte pode-se corromper pela
mesma endogenia reforçada por um mundo livresco e teórico. Porém como a Arquitetura é a Arte que soma tanto as artes
das superfície como as tridimensionais ela não só renova os ambientes
tridimensionais, como impõe um experimentalismo com superfícies inovadoras e
correntes com novas circunstâncias.
Imagens do Curso
de GRANDES COMPOSIÇÕES que ocorreu em julho de 1948 Origem da foto: Arquivo do
IA-UFRGS :
Fig.
08 – Nesta foto é visível ainda a confecção direta da circulação do pensamento
entre estudantes e professores. Estes formam um verdadeiro colóquio
internacional. O austríaco Steinhof dialoga com os uruguaios Cravotto e
Arosteguy e o espanhol Corona. Este por sua vez presta atenção aos brasileiros como
o poeta escritor Damasceno e o administrado Tasso Corrêa. A circulação de ideias, a presença de
estrangeiros auspiciam um pensamento
arquitetônico renovado.
O cultivo do campo de
forças da Arquitetura necessita remover muito entulho do seu caminho no RS para
mostrar o seu potencial e garantir para as novas gerações a vigência plena das
suas circunstâncias. Entulhos de um Neo academicismo que esconde a sua falta de
pensamento atrás de brilhantes e ofuscantes fachadas de pele de vidro e de
esquadrias de materiais brilhantes.
Fig.
09 – Faltam pesquisas para evidenciar, estudar e fazer circular informações
relativas às obras e pensamento de cada um destes personagens presentes nesta
foto. Entre eles possível projeto do
austríaco Steinhof para Porto Alegre e circulação do seu pensamento entre
estudantes e professores. As vezes que este
pensamento possui algo em comum com a rápida entropia e degradação dos
prédios modernistas .
O que se quer evitar, por
meio desta postagem, é ficar omisso de não alertar em relação à acelerada
marcha a ré rumo a este neo-academicismo
da pior espécie. Neo-academicismo favorável aos mediadores, atravessadores e aqueles
que buscam tutelar arquitetos e urbanistas e com isto esterilizam e colocam a sua criatividade na heteronomia. Tutela na
qual vivem de pequenos favores que os senhores neo feudais lhes jogam para manter
a continuidade da servidão voluntária de arquitetos, de urbanistas e de
artistas. Tutela alimentada pelo falso marketing e propaganda de produtos que
de fato trazem embutido o processo de obsolescência programada. Produtos que já
perderam a validade do seu pensamento quando foram descartados nas culturas que se consideram hegemônicas.
Porém nas culturas periféricas são requentados em sistemas que respondem pelas
etiquetas e fixados pelos alfinetes classificatórios como os de “contemporâneos” e “pós-modernos”.
Fig.
10 – O primitivo Auditório Araújo Vianna era a céu aberto na Praça da Matriz de
Porto Alegre. Na sua transferência para o Parque Farroupilha o arquiteto
Maximiano Fayet realizou, no mesmo pensamento, este projeto original deste novo
Auditório. Certamente não faltam auditórios cobertos apesar de Porto
Alegre não possuir ainda seu Teatro Municipal. Inclusive na mesma praça
localiza-se o Salão de Atos da UFRGS. Fayet
formou-se nos cursos superiores de Artes
Plásticas e de Arquitetura do IBA-RS
Evidente que uma mente
flanadora – por cima e por fora- magnetizada e colonizada por uma ideologia,
alienígena, fixa associada a uma estética única e linear, não percebe e nem interessa perceber um
pensamento que emana de obras arquitetônicas que buscam o seu aqui e agora.
Obras arquitetônicas que pagam o preço de se livrar de heteronomias incômodas e
alienantes. Obras arquitetônicas de autores que pagam o preço por não se
submeterem aos preceitos do mercado, do marketing e da propaganda.
Fonte BERNARDES Dalto - 2000
Fig.
11 – A verticalização de Porto Alegre contou com a firme participação dos
estudantes formados no Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. Assim os
prédios Jaguaribe e CRT possuem a
assinatura de Luís Fernando Corona um destes estudantes. Carlos Mancuso,
outro destes estudantes do IBA-RS ocupou o lugar de um projeto para o Prédio do
IPE recusado de Oscar Niemeyer.
A Engenharia não é
infensa á Arte e á Arquitetura. Os engenheiros como Rudolf Ahrons (1869-1947) e
o engenheiro Edmundo Gardolinski (1914-1974) demonstraram esta interação em
Porto Alegre no passado. Nesta interação
virtuosa gravitou ao redor deles a mais alta criatividade. Cultivaram a
circulação do pensamento proveniente das Artes, da Arquitetura e do autêntico
Urbanismo. Ahrons gerou uma verdadeira época que muitos identificam com seu
nome. Gardolinski administrou o plano das obras do IAPI ao longo da II Guerra
Mundial. Esta vila operária continua em plena vida e vigência. As relações de Garlonsnski com o IBA-RS eram continuadas
e profundas.
Por este minúsculo
índice das relações da Engenharia com a Arte no Rio Grande do Sul supõe-se um imenso campo no qual seja possível
localizar a origem e as aplicações práticas do pensamento a partir desta fonte.
Um destes desafios será localizar,
estudar e divulgar índices
do pensamento de Eugen Steinhof.
Fig.
12 – O projeto de Oscar Niemeyer recusado para o Prédio do IPE a ser construído
na Av. Borges de Medeiros. Neste lugar ira ser erguido o Pavilhão que a população apelidou
de ”Mata Borrão. Mais adiante este lugar foi ocupado pelo prédio da Caixa
Econômica Estadual e atualmente “Tudo Fácil”.
Os estudos da História
da Arte e da Arquitetura são muito recentes e sem um acumulados de saberes
muito menos um suporte logístico confiável
e disponível. Assim ainda é necessário mostrar que este fluxo das suas forças
pertence a um passado e o que possível é
apenas a construção de narrativas que possui ele como objeto. Impossível
retornar a este tempo como também fixar-se em desafios vencidos ou frustrados
que não podem serem transpostos ao presente.
Fig.
13 – O arquiteto Joseph Seraph Lutzenberger mantinha uma produção plástica
constante e complementar à sua obra
construída. Este bávaro radicado em Porto Alegre e com série de prédios com
a sua assinatura pessoal, como este da FEDERASUL, contribui com o seu
conhecimento e pensamento estético autônomo para a formação das primeiras
turmas do Curso Superior específico de Arquitetura com a duração de cinco anos
que o Rio Grande do Sul teve.
A História não se repte
a não ser como farsa ou como máscara para esconder a falta de pensamento
próprio e vivo. Compete a quem se entrega ao cultivo do pensamento que emana da
Arquitetura do passado não repetir ou duplicar este pensamento.
Pesquisa de Cícero
ALVAREZ.
Fig.
13 – ESPAÇO: revista de Arquitetura Urbanismo e Arte.
Porto Alegre: Estudantes do IBA-RS - ano
2, nº 4. dez. 1949 - capa
ALGUMAS FONTES desta POSTAGEM
ALVAREZ, Cícero- FARICIO, Lídia Maria Oliveira – PEREIRA, Claudio Calovi – Um palácio
para a justiça: as sedes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 2013.296 p ISBN 9788589676076
BERNARDES Dalto – Jaguaribe
e Espanada o edifício de apartamentos modernista no
paradigma habitacional em Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS- Fac.
Arquitetura PROPAR 2000, 216 p.
BOESIGER, Willy . Le Corbusier Les Derniers œuvres Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, ,
v.8, 208 p
CORONA Fernando. Álbum do CURSO de ARQUITETURA do IBA-RS: Cadeira de
MODELAGEM. 21.09.1955 Documentário
fotográfico de 1946 – 1947 – 1948 – 1949 – 1950 – 1951 + Viagem a Europa 1952 -
Folhas de arquivo: 297 mm X 210 mm
como fotos coladas. Arquivo do
Instituto de Artes da UFRGS
ESPAÇO: revista de Arquitetura Urbanismo
e Arte. Porto Alegre: Estudantes
do IBA-RS – Direção de Carlos Fayet – Enilda Ribeiro – Nelson Souza- Jorge
Brites Vives – Luis Fernando Corona - ano 2, nº 4. dez. 1949
FIORE, Renato Holmer. Arquitetura Moderna e Ensino de Arquitetura: cursos em Porto Alegre de 1944-1954. Porto Alegre: PUC/ dissertação, 1992.
429 fls+ anexos.
RIOPARDENSE de MACEDO, Francisco. «30o
Aniversário do Ensino de Arquitetura no
Rio Grande do Sul : O Primeiro Curso de Arquitetura» série in Correio do Povo: Porto Alegre, Nov. dez
1974. Em especial os artigos de 10.11.
1974, p.27 e dia 17.11.1974.
SZEKUT Alessandra Rambo– Vertentes
da modernidade no Rio Grande do
Sul: a obra de Luís Fernando Corona.
Porto Alegre: UFRGS- Fac. Arquitetura PROPAR 2008, 349 p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
AHRONS, Rudolf (1869-1947)
Arquitetura em Porto Alegre
– visão
geral
Arquitetura moderna em POA-RS
Auditório Araújo
Viana original
CRAVOTTO Maurício (1893-1962)
DEMÉTRIO RIBEIRO
Edifício IPE Oscar Niemeyer em Porto Alegre
Edifícios JAGUARIBE e CRT
– Porto Alegre
Edmundo GARDOLINSKI
Eugen Gustav STEINHOF (1880-1952)
FACULDADE de ARQUITETURA da URGS
– Relatório 1951-1952
HOSPITAL de CLINICAS de PRTO ALEGRE
PRESIDENTES do IAB-RS
ORIGENS
DO INSTITUTO de ARTES do RIO GRANDE do SUL
UBATUBA
FARIA Luiz Arhur
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300886157_ARQUIVO_ArtigoAnpuh.pdf
VISUAL de PORTO ALEGRE
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