A ARTE entre o NATURAL e o IMATERIAL.
Fig. 01 – Na lógica do poeta Fernando Pessoa “a Natureza
não possui por dentro” e. por isto é “coisa ou res”. Porém, a imagem
acima, já não é mais a Natureza. O
volume, o paladar e a fragrância foram lhe retirados, ou abstraídos além de todas
as propriedades cinéticas inerentes à sua Natureza. Além disto, esta fotografia
resultou do projeto, da intenção e do
trabalho humano que tomou em conta, para a sua criação, a luz, a cor, a composição projetado sobre uma
superfície plana. De outra parte esta imagem representa algo ausente ou que neste instante é
diferente do momento em que foi captada e registrada e está sendo veiculada.
Assim esta imagem foi construída entre a Natureza e o pensamento Imaterial.
O campo da Arte manobra
as suas forças entre o mundo Natural e o universo Imaterial. Não pertence à Natureza, pois perderia a sua competência para deliberar e decidir sobre as leis que comandam
a entropia universal e assim perderia a sua autonomia. Não pertence ao Imaterial, pois o campo das forças da
Arte não pode dispensar um corpo físico para se manifestar e atingir os
sentidos humanos.
Maurizio CATTELAN 1960 - -Rotunda GUGGENHEIM New York Times em 08.11.2011
Fig. 02 – Esta obra do artista Maurizio CATTELANequilibra-se, como metáfora entre a Natureza
e o imaterial das ideias abstratas. Ele materializa,
nesta obra, os dois polos da Natureza [da carroça e do burro] suspenso num
cúpula do qual lhe provém a luz [ideia].
Entre a Natureza e o
Imaterial, existe um enorme campo de forças inexploradas, tanto na área da
inspiração como no trabalho físico humano. Se “a Arte está em quem a faz e não no que produz” ela potencializa e
manifesta o ENTE humano. ENTE humano que potencializa suas forças como origem da
sua Arte. ENTE humano que manifesta o seu SER a sua inspiração de forma
sincronizada e coerente. A Arte ao confundir-se com a Natureza corrompe a sua
potência Imaterial. No outro extremo a
Arte corrompe-se também, ao entregar-se à busca do puro SER metafísico,
caminhar no imponderável e sem corpo sensorial. Os extremos da Natureza e do
Imaterial, presente simultaneamente numa obra de Arte fora resumidos por
Leonardo da Vinci na medida em que ele afirmou de que a “Pintura é uma coisa mental”.
Ou então Giulio Carlo
Argan ao afirmar (1992, p. 23) que o projeto “fundamenta
a ideia da ação histórica”, retornando à concepção de Leonardo.
TICIANO VECELLIO c.1490-1576 -Alegoria do Tempo governado pela Prudência - c.1556 - National Galery Londre~
Fig. 03 – A atenção focada sobre cada instante único e
irreversível esfarela e atomiza a percepção do contínuo do Tempo. A capacidade de costurar cada momento - sem
fundo e fugaz - é um projeto humano e artificial e fora da Natureza. O contínuo
deste projeto humano estende redes que tornam artificialmente coerente, no
plano mental, esta sequência de pontos no
tempo atomizado e esfarelado em si mesmos
únicos e separados. O perigo de afundar em cada momento e o tornar absoluto o
instante é contornado pela PRUDÊNCIA HUMANA.
A clássica imagem, produzida por
Ticiano é metáfora e visualizar esta
interminável e insondável busca para conectar a Natureza e o Imaterial. Imagem
que cria o contínuo das três idades humanas guardadas pela representação
zoomorfa do cão Cérbero,.
De um lado o artista
explora criativamente este enorme espaço entre a Natureza e o Imaterial e
encontrando nele sempre novas forças e fontes de inspiração. Contudo, a Arte
necessita admitir que nem tudo é possível em qualquer tempo e lugar. Este limite do campo de forças da Arte renega
e luta contra a onipotência que poderia sugerir equivocadamente este enorme
espaço. Outro limite das forças da Arte é contra a onisciência por mais que a
Razão queira ser sinônimo deste mesmo campo de forças. Em todos os tempos a
Emoção foi uma das suas mais fortes energias da Arte que a moviam para
empreender a saída da Natureza dada, para experimentar outros mundos possíveis
e ilógicos na primeira vista. De outra parte a simples oscilação entre a Razão
e Emoção não produz Arte. A Arte também não resulta de um jogo maniqueísta
entre Natureza e o Imaterial, entre forma e conteúdo, Luz e Sombra entre Bem e
Mal. No campo das forças das energias da Natureza e do Imaterial existe uma
busca perpétua de um ponto de equilíbrio. Este equilíbrio comporta-se numa
homeostase incerta e sem um ponto fixo, unívoco ou pré-fixado entre a Natureza
e o Imaterial.
Fig. 04 – A TÉCNICA do MOSAICO de PISO de MODERNA MESQUITA de
MARROCOS obedece ao desenho do Padrão Infinito islâmico. Este desenho do Padrão
Infinito, não soi cobre pesos paredes e cúpulas, ele recobre objetos, segue na
trama dos fios de tecidos e tapetes. A introdução e uso do ZERO e do INFINITO
na Matemática, herdados dos hindus, estabeleceu uma nítida competência, na
cultura islâmica e humana entre a Natureza e divindade que não pode ser nomeada
muito menos representada em imagem antropomorfa ou zoomorfa.
O campo das forças Arte entre
a Natureza e o Imaterial não se esgota também na descrição, nem se transveste
no mimetismo ou na narrativa. As descrições e as narrativas visuais dos povos
primitivos, por mais próximas sejam da Natureza, seguem uma tendência
intrínseca para que enveredem, mais cedo ou mais tarde, para a abstração geometria.
Alguns povos, mesmo em culturas muito adiantadas não recaem mais nas mimeses
primitivas. Assim um Padrão Infinito, tão comum na arte islâmica, retorna
periodicamente e se atualiza como aconteceu na tendência da Op Art da década de
1960.
Bridjet RELEY 1931 - OP ART 1931 obra de -1964
Fig. 05 – As obras da OP
ART criam um jogo com as percepções
visuais, os mecanismo e limites a provoca a retina do olho humano gerando
percepções que revelam o projeto do artista. Este renuncia á percepção apenas
fotográfica construindo com poucos elementos e cores uma obra, que atinge
construções próprias, mas que nos leva a observar fenômenos e estruturas que a
natureza produz num outro plano.
A
tendência para naturalizar - tanto o mimetismo como a mais elevada abstração geométrica
– possui a sua fonte nas leis que comandam a entropia universal. Assim o hábito
e a repetição mecânica de qualquer fórmula consagrada, leva ao artesanato. A
repetição mecânica comanda o mundo do trabalho que consome a tudo e a todos, aniquilando as forças criativas e inéditas
necessárias ao campo da Arte. Quem segue este caminho penetra no largo e
imponderável mundo da cultura humana e vai se distanciando da Arte sem sentir e
sem se dar conta do desvio. No final deste caminho ergue-se o totem do HOMO
FABER na concepção de Hannah Arendt. HOMO FABER que não só mecaniza e ritualiza
tudo a que toca, mas entende esta ritualização e mecanização imprescindível como
sua própria Natureza. Porém o mais grave acontece no mundo Imaterial onde se
julga a si mesmo como isento e acima de qualquer sanção moral. A sua ética é a eficiência e o resultado final é a medida de tudo. A sua recompensa, muitas vezes, é a sua
própria danação definitiva e irreversível consumindo-se como produto e como
“coisa-res” no rebanho da multidão no caminho de mais um matadouro de mais uma guerra.
Fig. 06 – A arte islâmica produziu na Alhambra de Granada, na Espanha,
uma poderosa arte que impressiona pela capacidade de unir coerentemente o mundo
Natural das pedras, madeiras e dos metais com o mundo Imaterial d’”Aquele que
É” [Allah].Esta coerência, na união entre extremos, revela uma série de
estágios criativos e ao mesmo tempo pela renúncia do que não pode ser dito,
muito menos transformado em imagem mimética e antropomórficas. Evidente que
cabe a crítica de que esta síntese está muito longe de exaurir a Natureza e o Imaterial.
A ruptura epistêmica - acompanhada
da ruptura estética - certamente não é um dado natural. Ao contrário, ela exige
profunda competência para quem irá praticar esta dupla ação. Muitos
pretendentes á artista foram marcados, dura e definitivamente, por este
equívoco que ameaça a ação das rupturas epistêmicas e estéticas simultâneas,
empreendidas sem as condições requeridas para tanto. A falta destas condições,
e a competência pessoal requerida, faz
com que o artista carregue a sina da loucura efetiva, patológica e improdutiva
para a Arte. A falta destas condições e competências para o salto no escuro
acaba, de fato, num no abismo de danos ou de patologias mentais. O despreparo,
muitas vezes, é da própria civilização humana na qual vive o artista. O
xamanismo busca fazer esta ponte com o mundo das forças a serem exploradas,
tanto para a inspiração como para o trabalho físico humano coerente com esta
inspiração. Contudo não é mais o campo de competência da Arte, pois o artista - quando entregue a estas
forças imponderáveis - priva-se de decidir e de deliberar.
Fig. 07 – Distante de toda a figuração antropo ou zoomorfa o Padrão Infinito estrutura mentais e efeitos
visuais que se contrapões às pesada e solidas estruturas construtivas dando oportunidade à fantasia. Esta não
estando soba a tirania da unicidade, linearidade e estático da imagem
figurativa permite alçar voos mentais que caracterizaram esta cultura, As Mil e
Uma Noites, a Álgebra e a preservação do pensamento clássico grego escrito.
Nestes escritos apontam para a frase de Platão “depois de observarmos as estrelas, deixemos os astros em paz e façamos
Astronomia”.
A “Arte é longa e a Vida é curta”, já sentenciavam os latinos. Este longo período de amadurecimento passa
por diversos estágios e que são impossíveis de desconsiderara ou queimar
etapas. Cada andar deste prédio, a construir, segue os passos da criatividade. Estes
estágios da criatividade pontam e culmina numa sólida e inexpugnável a
coerência de organização. Em Arte é um dos sinônimos de estilo. Numa obra com
estilo não existem excessos, nem existem carências ou contradições.
Fig. 08 – A construção do mundo da Arte não está entregue ao
acaso. A Arte constrói o seu mundo entre a Natureza e o pensamento. Contudo a
construção de toda obra de Arte segue passos que são delineados nos processos
criativos, ainda que a criatividade não seja Arte em si mesma. Este processo
necessita ter bem presente que ela inicia pela Sensibilidade ao Problema
proposto. Avança, depois por etapas cumulativas e dos quase não é possível
ignorar nenhum elo. Ao atingir a Coerência de Organização a obra de arte apresenta
a condição de não faltar e não sobrar nada. Neste estágio ele atinge o ESTILO
ou sua identidade legível, única e inédita.
Para ler o quadro, clique sobre o gráfico.
O papel do acaso e
sugestão da mancha só favorece a quem já possui um projeto e sabe avaliar o
sentido do percalço e catástrofe que qualquer interferência externa exerce ao
longo da criação. Leonardo da Vinci valia-se das manchas na parede, nas nuvens
ou nos materiais pra estimular e desafiar e prover o novo em suas obras.
Contudo o acaso só representa a onipotência e o retorno para a Natureza e uma
manifestação da entropia universal e implacável levando tudo para o caso
primordial se não existir o projeto, o
pensamento e a intenção.
Fig. 09 – A catástrofe de um borrão no momento da criação final
de uma obra certamente estraga todo o sentido e legibilidade de uma obra de
Arte. A desculpa não cabe nunca em Arte como no esporte ou na política. A única
coisa possível é recomeçar com prudência redobrada para evitar a catástrofe final.
Contudo, o acaso, o borrão e o improviso podem ocorrer no início ou ao longo do
processo da construção da obra de Arte. Ganha sentido na mediada em que houver
um projeto que paira sobre eles e permite incluir o rejeito na obra que tiver
este mundo imaterial como guia da Natureza da obra de Arte. Como tais são
reelaborados e aproveitados no estágio da “flexibilidade”
e da “habilidade para redefinir” no
processo da criatividade.
Se esta fonte oculta o sobrenatural necessita
de um corpo físico, este necessita guardar um estrita coerência do organização
física com a sua origem. A despojada e
simples palavra escrita e falada pode realizar este papel de guardar este coerência
de organização. Contudo numa cadeia de palavras, na narrativa ou no discurso
podem acontecer acasos e catástrofes mais subliminares e bem piores do quer uma
mancha imprevista sobre o texto. Porém a
frase bíblica no “iniciou era o Verbo” não pode ser ignorada e muito menos
subestimada. Diante das demais artes o Verbo possui a função imprescindível de
apontar, para os sentidos humanos, a
direção e o sentido da obra física mergulhada na sua materialidade.
Fig. 10 – A Arte da Arquitetura - além da sua Natureza funcional
e utilitária - sempre foi vista como um abrigo de grande parte das
manifestações artísticas e criativas humanas. Não ultrapassando este patamar da
sua simples função e utilidade nada mais são do da própria Natureza do HOMO
FABER que mecaniza e ritualiza tudo a
que toca entende-a imprescindível. O resultado será uma
criatura humana que terá - esta mecanização e ritualização - como prêmio e
limite. Por mais premente e urgente que seja o abrigo humano para as suas
necessidades básicas, a criatura humana em todos os tempos e lugares expressou
o seu mundo Imaterial do seu carinho nas construções materiais de seus abrigos
arquitetônicos. Em todos os tempos também o ENTE projetou o seu SER e a sua
própria identidade em prédios que levam esta mensagem para todos os lugares e
tempos.
O espaço entre a
Natureza e o pensamento humano é imenso e inteiramente aberto e disponível ao
campo da Arte para criar as suas obras. Evidentes que ali também livre curso as
proclamações e reinvindicação pioneirismo e de propriedades que pretendem
estabelecer cercas, limites e até promover constante corrupção. A longa e
difícil preparação para a qualificação dos agentes deste espaço aberto exige
uam atenção redobrada. Os hábitos de heteronímia, a falta de projeto significa
a volta à Natureza. O artista privado da sua competência para deliberar e
decidir fora das leis que comandam a entropia universal não produz nada de
novo, significativo e permanente. No outro extremo escapismo do problema o
coloca no campo da metafísica, do sobrenatural e do imponderável incapaz de
gerar um corpo físico novo, significativo e permanente competente para se
manifestar e atingir os sentidos humanos.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition
de l’homme moderne. Londres :
Calmann-Lévy, 1983.
ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992). História da
arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes. 1992.
____. Arte Moderna. São Paulo
: Companhia de Letras, 1996
SAUNDERS, Robert. A educação criadora nas artes GUILFORD e LOWENFELDT AR’TE 10. ano III n o 10, São Paulo :Max
Limonad, 1984., pp.18-23
Texto é parte do Capítulo “Using Creative Mental Process in Planning Art
and Humanities Programs”, do livro Relating
Art and Humanities to the Classroom, de Robert J. Sauders. (Dubuque, WM.C.
Brown Company Publishers, 1977.) Tradução
: Silvia Macedo e D.T. Chiarelli.
Fig. 11 – O artista russo
André Rublev (c.1370 – c.1430) aceitou a tradição bizanri posterior ao período
pos iconloclasta quando a imagem foi
Altamente estilizada e criado no interior de uma rígida
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
IMAGENS de
Cartunistas Norte-Americanos
IMAGENS
FIGURATIVAS e os seus TABUS
FERNANDO PESSOA - LI HOJE QUASE DUAS PÁGINAS
MUSEU DA ARTE
MODESTA –
Paris- France
OP ART
PELAES Maria Lucia Wochler Uma
reflexão sobre o conceito de criatividade e
o ensino da Arte no ambiente escolar
PERIGOS
em SUBSTITUIR O TRABALHO CORPORAL pelo
MENTAL
VERDADE da NATUREZA e VERDADE do
ESPÍRITO: - quem estabelece os limites entre as duas?
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