quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

055 – ISTO é ARTE

A ARTE entre o NATURAL e o IMATERIAL.

Fig. 01 – Na lógica do poeta Fernando Pessoa “a Natureza não possui  por dentro” e. por isto é “coisa ou res”. Porém, a imagem  acima, já não é mais a Natureza. O volume, o paladar e a fragrância foram lhe retirados, ou abstraídos além de todas as propriedades cinéticas inerentes à sua Natureza. Além disto, esta fotografia resultou do projeto, da intenção e do  trabalho humano que tomou em conta, para a sua criação,  a luz, a cor, a composição projetado sobre uma superfície plana. De outra parte esta imagem representa algo ausente ou que neste instante é diferente do momento em que foi captada e registrada e está sendo veiculada. Assim esta imagem foi construída entre a Natureza e o pensamento Imaterial.

O campo da Arte manobra as suas forças entre o mundo Natural e o universo Imaterial. Não pertence à Natureza, pois perderia a sua competência  para deliberar e decidir sobre as leis que comandam a entropia universal e assim perderia a sua autonomia. Não pertence ao Imaterial, pois o campo das forças da Arte não pode dispensar um corpo físico para se manifestar e atingir os sentidos humanos.
Maurizio CATTELAN  1960 - -Rotunda GUGGENHEIM  New York Times em  08.11.2011
Fig. 02 – Esta obra do artista Maurizio CATTELANequilibra-se, como metáfora entre a Natureza e o imaterial das ideias abstratas. Ele materializa, nesta obra, os dois polos da Natureza [da carroça e do burro] suspenso num cúpula do qual lhe provém a luz [ideia].

Entre a Natureza e o Imaterial, existe um enorme campo de forças inexploradas, tanto na área da inspiração como no trabalho físico humano. Se “a Arte está em quem a faz e não no que produz” ela potencializa e manifesta o ENTE humano. ENTE humano que potencializa suas forças como origem da sua Arte. ENTE humano que manifesta o seu SER a sua inspiração de forma sincronizada e coerente. A Arte ao confundir-se com a Natureza corrompe a sua potência Imaterial.  No outro extremo a Arte corrompe-se também, ao entregar-se à busca do puro SER metafísico, caminhar no imponderável e sem corpo sensorial. Os extremos da Natureza e do Imaterial, presente simultaneamente numa obra de Arte fora resumidos por Leonardo da Vinci na medida em que ele afirmou de que a “Pintura é uma coisa mental”. Ou então Giulio Carlo Argan ao afirmar (1992, p. 23) que o projeto  “fundamenta a ideia da ação histórica”, retornando à concepção de Leonardo.
TICIANO  VECELLIO c.1490-1576 -Alegoria do Tempo governado pela Prudência  - c.1556 - National Galery Londre~
Fig. 03 – A atenção focada sobre cada instante único e irreversível esfarela e atomiza a percepção do contínuo do Tempo.  A capacidade de costurar cada momento - sem fundo e fugaz - é um projeto humano e artificial e fora da Natureza. O contínuo deste projeto humano estende redes que tornam artificialmente coerente, no plano mental,  esta sequência de pontos no tempo atomizado e esfarelado  em si mesmos únicos e separados. O perigo de afundar em cada momento e o tornar absoluto o instante é contornado pela PRUDÊNCIA HUMANA.  A clássica  imagem, produzida por Ticiano é metáfora e  visualizar esta interminável e insondável busca para conectar a Natureza e o Imaterial. Imagem que cria o contínuo das três idades humanas guardadas pela representação zoomorfa do cão Cérbero,.

De um lado o artista explora criativamente este enorme espaço entre a Natureza e o Imaterial e encontrando nele sempre novas forças e fontes de inspiração. Contudo, a Arte necessita admitir que nem tudo é possível em qualquer tempo e lugar.  Este limite do campo de forças da Arte renega e luta contra a onipotência que poderia sugerir equivocadamente este enorme espaço. Outro limite das forças da Arte é contra a onisciência por mais que a Razão queira ser sinônimo deste mesmo campo de forças. Em todos os tempos a Emoção foi uma das suas mais fortes energias da Arte que a moviam para empreender a saída da Natureza dada, para experimentar outros mundos possíveis e ilógicos na primeira vista. De outra parte a simples oscilação entre a Razão e Emoção não produz Arte. A Arte também não resulta de um jogo maniqueísta entre Natureza e o Imaterial, entre forma e conteúdo, Luz e Sombra entre Bem e Mal. No campo das forças das energias da Natureza e do Imaterial existe uma busca perpétua de um ponto de equilíbrio. Este equilíbrio comporta-se numa homeostase incerta e sem um ponto fixo, unívoco ou pré-fixado entre a Natureza e o Imaterial.

Fig. 04 – A TÉCNICA do MOSAICO de PISO de MODERNA MESQUITA de MARROCOS obedece ao desenho do Padrão Infinito islâmico. Este desenho do Padrão Infinito, não soi cobre pesos paredes e cúpulas, ele recobre objetos, segue na trama dos fios de tecidos e tapetes. A introdução e uso do ZERO e do INFINITO na Matemática, herdados dos hindus, estabeleceu uma nítida competência, na cultura islâmica e humana entre a Natureza e divindade que não pode ser nomeada muito menos representada em imagem antropomorfa ou zoomorfa.

O campo das forças Arte entre a Natureza e o Imaterial não se esgota também na descrição, nem se transveste no mimetismo ou na narrativa. As descrições e as narrativas visuais dos povos primitivos, por mais próximas sejam da Natureza, seguem uma tendência intrínseca para que enveredem, mais cedo ou mais tarde, para a abstração geometria. Alguns povos, mesmo em culturas muito adiantadas não recaem mais nas mimeses primitivas. Assim um Padrão Infinito, tão comum na arte islâmica, retorna periodicamente e se atualiza como aconteceu na tendência da Op Art da década de 1960.

Bridjet RELEY 1931 - OP ART  1931 obra de -1964
Fig. 05 – As obras da OP ART  criam um jogo com as percepções visuais, os mecanismo e limites a provoca a retina do olho humano gerando percepções que revelam o projeto do artista. Este renuncia á percepção apenas fotográfica construindo com poucos elementos e cores uma obra, que atinge construções próprias, mas que nos leva a observar fenômenos e estruturas que a natureza produz num outro plano.

  A tendência para naturalizar - tanto o mimetismo como a mais elevada abstração geométrica – possui a sua fonte nas leis que comandam a entropia universal. Assim o hábito e a repetição mecânica de qualquer fórmula consagrada, leva ao artesanato. A repetição mecânica comanda o mundo do trabalho que consome a tudo e a todos,  aniquilando as forças criativas e inéditas necessárias ao campo da Arte. Quem segue este caminho penetra no largo e imponderável mundo da cultura humana e vai se distanciando da Arte sem sentir e sem se dar conta do desvio. No final deste caminho ergue-se o totem do HOMO FABER na concepção de Hannah Arendt. HOMO FABER que não só mecaniza e ritualiza tudo a que toca, mas entende esta ritualização e mecanização imprescindível como sua própria Natureza. Porém o mais grave acontece no mundo Imaterial onde se julga a si mesmo como isento e acima de qualquer sanção moral. A sua ética é a eficiência e o resultado final é a medida de tudo.  A sua recompensa, muitas vezes, é a sua própria danação definitiva e irreversível consumindo-se como produto e como “coisa-res” no rebanho da multidão no caminho de mais um matadouro de mais uma guerra.
Fig. 06 – A arte islâmica produziu na Alhambra de Granada, na Espanha, uma poderosa arte que impressiona pela capacidade de unir coerentemente o mundo Natural das pedras, madeiras e dos metais com o mundo Imaterial d’”Aquele que É” [Allah].Esta coerência, na união entre extremos, revela uma série de estágios criativos e ao mesmo tempo pela renúncia do que não pode ser dito, muito menos transformado em imagem mimética e antropomórficas. Evidente que cabe a crítica de que esta síntese está muito longe de exaurir a Natureza e o Imaterial.

A ruptura epistêmica - acompanhada da ruptura estética - certamente não é um dado natural. Ao contrário, ela exige profunda competência para quem irá praticar esta dupla ação. Muitos pretendentes á artista foram marcados, dura e definitivamente, por este equívoco que ameaça a ação das rupturas epistêmicas e estéticas simultâneas, empreendidas sem as condições requeridas para tanto. A falta destas condições, e a competência pessoal requerida,  faz com que o artista carregue a sina da loucura efetiva, patológica e improdutiva para a Arte. A falta destas condições e competências para o salto no escuro acaba, de fato, num no abismo de danos ou de patologias mentais. O despreparo, muitas vezes, é da própria civilização humana na qual vive o artista. O xamanismo busca fazer esta ponte com o mundo das forças a serem exploradas, tanto para a inspiração como para o trabalho físico humano coerente com esta inspiração. Contudo não é mais o campo de competência da Arte,  pois o artista - quando entregue a estas forças imponderáveis - priva-se de decidir e de deliberar.
Fig. 07 – Distante de toda a figuração antropo ou zoomorfa  o Padrão Infinito estrutura mentais e efeitos visuais que se contrapões às pesada e solidas estruturas construtivas  dando oportunidade à fantasia. Esta não estando soba a tirania da unicidade, linearidade e estático da imagem figurativa permite alçar voos mentais que caracterizaram esta cultura, As Mil e Uma Noites, a Álgebra e a preservação do pensamento clássico grego escrito. Nestes escritos apontam para a frase de Platão “depois de observarmos as estrelas, deixemos os astros em paz e façamos Astronomia”.

A “Arte é longa e a Vida é curta”, já sentenciavam os latinos.  Este longo período de amadurecimento passa por diversos estágios e que são impossíveis de desconsiderara ou queimar etapas. Cada andar deste prédio, a construir, segue os passos da criatividade. Estes estágios da criatividade pontam e culmina numa sólida e inexpugnável a coerência de organização. Em Arte é um dos sinônimos de estilo. Numa obra com estilo não existem excessos, nem existem carências ou contradições.
Fig. 08 – A construção do mundo da Arte não está entregue ao acaso. A Arte constrói o seu mundo entre a Natureza e o pensamento. Contudo a construção de toda obra de Arte segue passos que são delineados nos processos criativos, ainda que a criatividade não seja Arte em si mesma. Este processo necessita ter bem presente que ela inicia pela Sensibilidade ao Problema proposto. Avança, depois por etapas cumulativas e dos quase não é possível ignorar nenhum elo. Ao atingir a Coerência de Organização a obra de arte apresenta a condição de não faltar e não sobrar nada. Neste estágio ele atinge o ESTILO ou sua identidade legível, única e inédita.
Para ler o quadro, clique sobre o gráfico.

O papel do acaso e sugestão da mancha só favorece a quem já possui um projeto e sabe avaliar o sentido do percalço e catástrofe que qualquer interferência externa exerce ao longo da criação. Leonardo da Vinci valia-se das manchas na parede, nas nuvens ou nos materiais pra estimular e desafiar e prover o novo em suas obras. Contudo o acaso só representa a onipotência e o retorno para a Natureza e uma manifestação da entropia universal e implacável levando tudo para o caso primordial se não  existir o projeto, o pensamento e a intenção.
Fig. 09 – A catástrofe de um borrão no momento da criação final de uma obra certamente estraga todo o sentido e legibilidade de uma obra de Arte. A desculpa não cabe nunca em Arte como no esporte ou na política. A única coisa possível é recomeçar com prudência redobrada para evitar a catástrofe final. Contudo, o acaso, o borrão e o improviso podem ocorrer no início ou ao longo do processo da construção da obra de Arte. Ganha sentido na mediada em que houver um projeto que paira sobre eles e permite incluir o rejeito na obra que tiver este mundo imaterial como guia da Natureza da obra de Arte. Como tais são reelaborados e aproveitados no estágio da “flexibilidade” e da “habilidade para redefinir” no processo da criatividade.

 Se esta fonte oculta o sobrenatural necessita de um corpo físico, este necessita guardar um estrita coerência do organização física com a  sua origem. A despojada e simples palavra escrita e falada pode realizar este papel de guardar este coerência de organização. Contudo numa cadeia de palavras, na narrativa ou no discurso podem acontecer acasos e catástrofes mais subliminares e bem piores do quer uma mancha imprevista sobre o texto.  Porém a frase bíblica no “iniciou era o Verbo” não pode ser ignorada e muito menos subestimada. Diante das demais artes o Verbo possui a função imprescindível de apontar, para os sentidos humanos,  a direção e o sentido da obra física mergulhada na sua materialidade.
Fig. 10 – A Arte da Arquitetura - além da sua Natureza funcional e utilitária - sempre foi vista como um abrigo de grande parte das manifestações artísticas e criativas humanas. Não ultrapassando este patamar da sua simples função e utilidade nada mais são do da própria Natureza do HOMO FABER que  mecaniza e ritualiza tudo a que toca entende-a  imprescindível.  O resultado será uma criatura humana que terá - esta mecanização e ritualização - como prêmio e limite. Por mais premente e urgente que seja o abrigo humano para as suas necessidades básicas, a criatura humana em todos os tempos e lugares expressou o seu mundo Imaterial do seu carinho nas construções materiais de seus abrigos arquitetônicos. Em todos os tempos também o ENTE projetou o seu SER e a sua própria identidade em prédios que levam esta mensagem para todos os lugares e tempos.

O espaço entre a Natureza e o pensamento humano é imenso e inteiramente aberto e disponível ao campo da Arte para criar as suas obras. Evidentes que ali também livre curso as proclamações e reinvindicação pioneirismo e de propriedades que pretendem estabelecer cercas, limites e até promover constante corrupção. A longa e difícil preparação para a qualificação dos agentes deste espaço aberto exige uam atenção redobrada. Os hábitos de heteronímia, a falta de projeto significa a volta à Natureza. O artista privado da sua competência para deliberar e decidir fora das leis que comandam a entropia universal não produz nada de novo, significativo e permanente. No outro extremo escapismo do problema o coloca no campo da metafísica, do sobrenatural e do imponderável incapaz de gerar um corpo físico novo, significativo e permanente competente para se manifestar e atingir os sentidos humanos.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres  :  Calmann-Lévy, 1983.

 ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992). História da arte como história da cidade. São Paulo:  Martins Fontes. 1992.
 ____.    Arte Moderna.   São Paulo  :  Companhia de Letras, 1996

SAUNDERS, Robert. A educação criadora nas artes GUILFORD e  LOWENFELDT AR’TE 10. ano III  n o 10, São Paulo :Max Limonad, 1984., pp.18-23
Texto é parte do Capítulo “Using Creative Mental Process in Planning Art and Humanities Programs”, do livro Relating Art and Humanities to the Classroom, de Robert J. Sauders. (Dubuque, WM.C. Brown Company Publishers, 1977.) Tradução : Silvia Macedo e D.T. Chiarelli.
Fig. 11 –  O artista russo André Rublev (c.1370 – c.1430) aceitou a tradição bizanri posterior ao período pos iconloclasta quando a  imagem foi Altamente estilizada e criado no interior de uma rígida

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

IMAGENS de Cartunistas Norte-Americanos
IMAGENS FIGURATIVAS e os seus TABUS
FERNANDO PESSOA - LI HOJE QUASE DUAS PÁGINAS
MUSEU DA ARTE MODESTA – Paris- France
OP ART
PELAES Maria Lucia Wochler Uma reflexão sobre o conceito de criatividade e  o ensino da Arte no ambiente escolar
PERIGOS em SUBSTITUIR O TRABALHO CORPORAL pelo MENTAL
VERDADE da NATUREZA e VERDADE do ESPÍRITO: - quem estabelece os limites entre as duas?
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