O GRUPO VÉRTICE
no Movimento
Associativo nas Artes Visuais de Porto Alegre e a busca da profissionalização.
“Nada é transmissível , a
não ser o pensamento”
Le Corbusier[1]
in Boesiger, 1970, p.168.
[1] BOESIGER, Willy . Le Corbusier Les Derniers œuvres Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, ,
v.8, 208 p
.
Foto de Pierry Schultz
Fig. 01 – Integrantes do Grupo Vértice
Círio
Simon –Mônica Heidrich - Analino Zorzi – Pierry Schultz e Verô
Corbari
Reunião
nº 27 - 31 de maio de 1990 – RESENHA
para uma ATA.
Às vinte horas (20h00)
do dia trinta e um de maio de mil novecentos e noventa (31.05.1990) reuniu-se o
Grupo Vértice no Atelier de Verô Corbari. Presentes Jorge Herrmann, Mônica
Heidrich, Pierry Schultz, Verô Corbari e Círio Simon estabeleceu-se a pauta que
nesta data versaria sobre: temas
tratados anteriormente em grupos menores, retomada das apresentações dos integrantes do grupo, próxima exposição do Grupo Vértice no GBOEX (três
de julho) e assuntos gerais.
No tema assuntos tratados anteriormente, os
integrantes Mônica e Jorge narraram a decisão de estudos mais aprofundados
sobre os integrantes e as suas obras. Questiona-se a sistemática anterior. Mas
chegaram a conclusão que o estudo de cada membro deva ter sobre um colega do
grupo, mesmo arriscando não dizer a verdade. A provocação verbal de conceitos
errados, sobre o colega, pode gerar o debate e a dialética de percepções, que é
um dos objetivos r instrumentos de análise.
A apresentação dos integrantes do grupo começaria a partir destes
estudos sobre o colega, mais a exposição da obra do apresentado. Contudo não
ficou definido a quem caberia o estudo de cada um dos colegas.
A exposição do grupo no novo espaço GBOEX, inaugurado com a presença
e a exposição do integrante do grupo, Analino Zorzi, deverá ser temática geral
e constante de todas as reuniões do grupo durante o mês de junho. Foram solicitadas,
genericamente de todos, o estudo para o
catálogo, convite, patrocínio, assessoria de imprensa, coquetel. A colega Verô
tentou entrar em contato telefônico com Analino Zorzi para saber das reais
condições do espaço e calendário do GBOEX.
No tema assuntos gerais, o colega Pierry
elaborou um questionário individual para cada integrante, que deveria ser
respondido publicamente e em diálogo coletivo. As duas questões eram: Primeira:
- que deseja do Grupo? Segunda: - o que espera dar ao Grupo? Todos os integrantes sujeitaram-se ao
questionário e responderam de forma espontânea. As suas colocações eram
entrecortadas com observações atinentes aos membros do grupo. Neste ponto o
colega Pierry esclareceu que o objetivo do seu questionário, era para ter ‘feeling’
para defender o colega nas suas buscas e diante do grupo externo.
Foram tratados temas
relativos à cooperativa de artistas e sua validade, o preconceito do Brique da
Redenção e o artista elitista, a galeria comercial de arte, a relação entre
eventos externos e o aumento do ritmo de produção e de trabalho, quando este
evento externo existe, a maneira como o Grupo entende a socialização do seu
trabalho artístico.
A reunião foi encerrada
as vinte e uma horas e trinta minutos (21h30min). Resenha para uma ate
elaborada por Círio Simon
STIGGER IVO : PERFIL Ado Malagoli Zero Hora, 17 de
julho de 1990, Revista ZH p.4 col. 4
Fig. 02 – A frase de ADO MALAGOLI (1908-1994) foi uma das inspirações do projeto
norteador dos integrantes do Grupo
Vértice
INTENÇÕES de CADA
um dos COMPONENTES do GRUPO VÉRTICE.
O questionário, de autoria de Pierry
SCHULTZ, era para cada integrante responder publicamente e em diálogo coletivo.
As duas questões:
Primeira: - que deseja do Grupo?
Segunda: - o que espera dar ao Grupo?
Geraldo
Soulue GRAZZIOLI : está se programando para viajar, em julho, aos
Estados Unidos. Ele está questionando, na Arte, até que ponto é valido depender
dela para sobreviver. Sente-se angustiado no momento, talvez por ter uma visão
imediatista, sendo que, em Arte, o retorno é lento.
Fig. 03 –JORGE HERRMANN -MARGINAIS
- Novembro de 1989 Lápis Conté
66 x 96 cm
Jorge
HERRMANN :
Lança ao Grupo expectativas em relação aos anos 1990. O vale tudo, a falta de
informações, a falta de espaço para expor ideias, para polemizar em cima delas,
para correr o risco de atingir a sensibilidade de qualquer pessoa. Expor-se a
ser criticado. O Grupo não atingiu este objetivo, sendo este um marco, tratar
de tais questões, perceber que existem pessoas que fazem cerimônia pelo fato de
não se conhecerem, para propor-se a pegar juntas. O que falta justamente em
Porto Alegre, é o fazer. O Grupo dá suporte para a integração.
Círio
SIMON : A
História da Arte em Porto Alegre é recentíssima. As falhas são características da
juventude. Apenas dois, ou três, conseguiram vencer na Arte em Porto Alegre.
Muitos elementos brilhantes perdem-se devido a questões históricas de
sobrevivência. Na questão de mercado de arte, exemplifica com o Leste da
Europa, onde o artista não tem este mercado, vivendo de uma profissão paralela
e alimentando a ilusão de que com a abertura o problema seja solucionado. A criação
artística, sem um contexto, não tem onde colocar as suas ideias e trocar de informações, reforçando, no
entanto, que o indivíduo pode mudar uma sociedade. Círio busca a necessidade de
interação, no próprio Grupo Vértice, por meio do estudo e do desafio. Esta
interação vai se fortalecer o grupo, na medida em que todos forem iguais.
Estabelecer por que o indivíduo constitui o equilíbrio, a origem do grupo e a
sua finalidade. O Grupo Vértice define como projeto, específico e intencional,
desafiar as pessoas.
Zilma
FERREIRA :
Acredito no trabalho em grupo, porque nos leva a um crescimento muito grande,
como grupo e pessoa.
Fig. 04 – Obra de
Verô CORBARI in Folder exposição
24.06-10.08.1990 Porto Alegre GBOEX
Verô
CORBARI : Creio
que naquilo que se projetou no início do Grupo Vértice. Pessoas consagradas,
que levem aos outros e atingindo a todos. Para tanto precisa ser adulto. Este
projeto é cria do grupo. Contudo ele não tomou consciência da sua própria cria.
O amadurecimento do projeto assustou ao perceber a sua cria adulta. O Grupo
Vértice é suporte da sede de expressar a ansiedade, de passar informações, de
levar isto ao público. Nos Estado Unidos, por exemplo, existem grupos de
pessoas que dialogam frente a frente, satisfazendo a sua necessidade de
informação. O Grupo Vértice necessita ser conhecido como um grupo que fala e
trabalha com força.
Mônica
HEYDERICH :
Tenho certeza que que o grupo vai crescer, buscar crescimento e estímulos.
Sinto que precisa que precisa se desenvolver, criar coisas novas e tornar-se
mais criativo.
Fig. 05 – Analino ZORZI - História de uma semente nº 9B
- 1990 -acrílico - 33 x 50 cm
Analino
ZORZI : O Grupo
Vértice se preocupa com a crítica, com o debate de tudo aquilo que está se fazendo
ligado à área da Arte. A aproximação com outros artistas possui o objetivo de
criar e manter o vínculo, artista, obra,
público. Esta é a essência maior da Arte. Não tornar a exposição convencional.
Contudo como processo diferente. O artista se expõe ao grupo. O debate no Grupo
Vértice fornece o sim ´- ou não, na continuidade
deste fazer da produção artística individual.
Fig. 06 – Foto-colagem
de Pierry SCHULTZ in Folder exposição 24.06-10.08.1990 Porto Alegre
GBOEX
Pierry
SCHULTZ : A troca
de informações profissionais, de técnicas, de criatividade, passaram a ter mais
segurança de ajuda mútua por meio do Grupo Vértice. A segurança mútua vence a
dificuldade de quem está desprovido deste auxílio. Este auxílio abre-se, agora, para trazer outros
integrantes ao grupo. Este aumento propicia descobrir outros caminhos e a
coragem de expor-se à crítica. O debate franco foi sempre o bom do Grupo
Vértice. Agora existe a necessidade de projetá-lo financeiramente para ter sobrevivência
própria. Isto gerou o descontentamento. No entanto discordo da posição dizendo
que o filho não nasceu, e corre o risco de ser abortado. Isto devido ao fato de
que o projeto não conseguiu o patrocínio. Talvez o Grupo Vértice tenha dado um
passo de tamanho monstruoso. Este
projeto poderia nascer menor. A tentativa de realizar este projeto foi no Banco
Real, onde aconteceu uma exposição individual. A utopia da crise nasce daquilo
que as pessoas entendem como Arte. Crise
com projetos palpáveis da Arte em Porto Alegre onde não conseguem sobreviver,
exceto algumas exceções. A pauta deve ser estabelecida com outra exposição.
Para maior flexibilidade, não deveria esta ser pautada como aquela proposta na
reunião anterior.
Fig. 07 – Logo do Atelier e
Escola de Arte “Eu que Fiz”. Local das 28 reuniões realizadas pelos Integrantes do Grupo
Vértice entre 15 de agosto de 1989 at
agosto de 1990
As 28 reuniões do Grupo
Vértice ocorriam no atelier e escola de Arte, mantido por Verô Corbari que
ostentava o sugestivo nome “Eu que Fiz”. No gesto de acolher o Grupo enfrentava
a contradição da criação individual com a necessidade da socialização do seu
agir solitário.
A
presente postagem é a 02 de uma série relativa ao Grupo Vértice.
Veja a
postagem nº 01 em http://profciriosimon.blogspot.com.br/2012/08/isto-e-arte-039.html
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