TALVEZ CONSIGAM EVOLUIR para ENTREGADORES de PIZZAS
Uma dura realidade acaba de se impor a mentalidade do investimento familiar no “filho com canudo”. As fábricas de diplomas ainda não reagiram de forma pública, linear e univocamente, a esta notícia. Ou não lhes interessam as circunstâncias dos seus egressos disputando cargos cujas funções necessitam apenas a formação escolar básica. Uma dura noticia também para a mentalidade brasileira que se sente desonrada com o trabalho com as mãos. Mentalidade que aceita em outras culturas “qualquer trabalho” e se sai deles com brilho e dignidade
De outra parte é necessário elogiar as universidades brasileiras. Elas incutiram nos seus estudantes - até o mais alto nível e no afã de cultivar o hábito da integridade intelectual – uma consciência contrária a este hábito nacional. Talvez no cultivo do habito de integridade intelectual tenham visto o equívoco dos estudantes de Córdoba, em 1918[1], que, após abrirem as portas a todos, constataram que havia médicos, formados pela sua universidade, pedindo emprego no hospital. .. de ascensorista.
Em educação, mesmo a formal, a relação custo-benefício é algo muito tênue e discutível. Neste meio tempo a fábrica de diplomas continuará a despejar pessoas para o mundo do trabalho completamente divorciadas das suas esperanças alimentadas subliminarmente e pagas com suor e lágrimas.
-Quem pode reclamar, levar ao tribunal e aplicar o corretivo nesta distorção?
No discurso que lançou a universidade brasileira estatal e particular pelo decreto 19.851 de 11 de abril de 1931, um dos seus mentores já vociferava
“O Brasil dos dois países, o legal e o de fato: o país da mentira e o país da realidade, queremos ter professores sem cuidar de formá-los, higienistas sem uma escola de higiene, operários qualificados e produtores capazes, sem formação técnica e educação profissional. Daí em quasi todos os ramos de atividade a improvisação de curiosos em competentes.” (CAMPOS, 1931, p.5 [2] ).
Ele denunciou a mentira dos personagens que os jovens de Porto Alegre, já haviam evidenciado em 1926, vinda agora do interior do aparelho do estatal. Como ministro do MESP, Francisco Campos trabalhou para unir os dois países, abrangendo áreas que assim poderiam estar sob o controle do Estado Nacional centralizado[3].
- Algo mudou para melhor?
As balconistas, empacotadores e tarefeiros continuam a carrear o seu ordenado parco e suado para alimentar as fábricas de diplomas. A maioria cria juízo e desiste no meio do caminho. Os que chegam, depois se lembram que havia um letreiro na entrada que dizia: “Lasciati ogni speranza, voi ch’entrate”. Mas na pressa de fixar a um único objetivo de eliminar o seu curso superior profissionalizante, só se lembraram, deste aviso, na hora de procurar o primeiro trabalho remunerado e onde esperavam igualar custos e benefícios, pelo menos.
Mas como, no Brasil, tudo termina em pizza talvez estes formados pelos cursos superiores consigam reverter as frustrações dos seus investimentos nos bancos escolares, evoluindo para a carreira de “entregador do pizza”.
[1] PORTANTIERO Juan Carlos. Estudiantes y Política en América Latina: el proceso da la Reforma Universitaria (1918-1938). México : Siglo Veintiuno, 1978, 461
[2] - Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública: ano I, nº 1-2, jan. jun 1931.{042a].
[3] - No Rio Grande do Sul a antiga Secretaria dos Negócios do Interior e Exterior que gerenciava a educação escolar só mudou em 1937, com o Estado Novo, a sua designação para Secretaria de Educação e Saúde. Seria toda uma investigação como essa designação chegou até aos governos dos estados, apesar dos interventores federais nomeados pelo governo central.
Nenhum comentário:
Postar um comentário