A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA e a
ERA INDUSTRIAL no BRASIL
“Criando simultaneamente uma Escola de Belas
Artes, ‘los nobles artes’, e uma escola de desenho para as artes e ofícios, se
possa preservar a primeira pela segunda”. Lebreton, 12 de junho de 1816
Grandjean
de Montigny –Vista do interior da Praça do Comércio – Rio de Janeiro
Fig. 01 –
O arquiteto Auguste
Henri Victor Grandjean de MONTIGNY (116-1850) trouxe os seus auxiliares e foi
eficiente em alterar a estética dos prédios oficiais e particulares dando-lhes
uma face estética e funcional
completamente diferentes do barroco colonial Esta tipologia criou a face visível do IMPÉRIO
BRASILEIRO. Porém isto não afetou a infraestrutura técnica, econômica e mesmo
política herdada do Regime Colonial do Brasil
O projeto da
interatividade da ARTE com a INDÚSTRIA - e vice versa - é resultante do
iluminismo e do enciclopedismo europeus. Este projeto motivou e alimentou as
esperanças de Napoleão Bonaparte de colocar a França na frente desta revolução
tecnológica e nova infraestrutura da cultura humana
Agentes expressivos da
corte de Napoleão Bonaparte procuraram abrigo no Brasil após derrota e
destituição do seu imperador. Agentes que desembarcaram no Rio de Janeiro em
março de 1816, e ficaram conhecidos como MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA. Portavam o
projeto da França de estar na frente da revolução tecnológica e nova
infraestrutura da cultura humana em profunda interação com a ARTE.
A derrota napoleônica -
pelo império liderado pela Inglaterra - estraçalhou o projeto não só o politico
francês, mas também o econômico e industrial. A indústria e o comércio
britânico iniciaram e pavimentaram o colonialismo do século XIX com a derrota
das pretensões hegemônicas francesas.
DEBRET,
Jean-Baptiste (1768-1848) “Negresses
cuisinieres marchandes d'Angou”
Fig. 02 –
O total analfabetismo da população brasileira
era indicado pela falta total de algum cartaz ou letreiro no comércio de
rua. A cultura oral era absoluta. Os panos ingleses e sombrinha chinesa indicam a carga que os
navios “AMIGOS” que aportavam ao Rio de
Janeiro. Na imagem de DEBRET existe ausência de qualquer objeto industrial
brasileiro além do artesanato elementar e os dois sujeitos sentados e se
servindo com as palmas das mãos do prato colocado no chão.
A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, uma vez em solo brasileiro, defrontou-se internamente com a realidade
de uma mentalidade colonial, com o trabalho movido pelo braço escravo.
Externamente reinava o franco favorecimento oficial lusitano aos interesses
britânicos. A corte no Rio de Janeiro sentia-se comprometida com devido a
efetiva ajuda britânica nas três invasões francesas de Portugal. Enquanto isto
a indústria e o comércio franceses permaneceram estagnados por duas décadas perdidas
diante do avanço britânico.
Fig. 03 –
Arsène ISABELLE experimentou a
dura realidade da ruina do comércio e
indústria francesa que encontrou, na década de 1830, como negociante do Havre na
Bacia do Rio da Prata, além de praças comerciais da três Américas ilustra o fracasso
do projeto industrial e comercial francês. De outro lado
evidencia a inciativa privada não recusando a dura prova de viajar 45 dias em
carretas de duas rodas de São Borja até
Rio Pardo. A nota otimista é registro do encontro da colônia de São Leopoldo em
plena construção e gerando necessidades para o desenvolvimento da indústria e
comércio.
É o que depreende do livro do comerciante do
Havre, Arsène ISABELLE (1795-1879)[1], escrito após as suas experiências de campo na
América ao longo dos anos de 1834 e 1835
“Visitei
Buenos Aires, a cidade mais comercial da América do Sul depois do Rio de
Janeiro. Visitei Montevidéu, Rio Grande, Porto Alegre; tive relações com
Valparaiso, Rio de Janeiro, Vera Cruz e Havana; acompanhei a marcha dos nossos
negócios no exterior e adquiri, corando de pudor nacional a humilhante certeza
de que o nosso comércio é infinitamente
inferior ao de outras nações marítimas, não somente nos lugares que visitei
como também (e nem receio um desmentido) em
todos os pontos do continente americano” ISABELLE, 1835 p. 265
Apesar de haver trazido
mais técnicos do que artistas, os ideais da
MISSÃO ARTISTICA FRANCESA viram-se reduzidas ao mundo estético e
educacional francês. Estes técnicos, sem fontes de energia de máquinas e de
operários qualificados, além do braço do escravo e animal, foram compelidos a
regredir ao artesanato manual de luxo da Idade Média. A densidade populacional
destes técnicos, esclarecidos e profissionalizados, era menos do que uma mísera gota num oceano de
ignorância, de desconfiança e de satisfação com o Regime Colonial.
Grandjean
de Montigny – PROJETO da BIBLIOTECA NACIONAL– Rio de Janeiro
Fig. 04 –
Por melhor que tenha sido a intenção
arquiteto Auguste Henri Victor
Grandjean de MONTIGNY (116-1850) um projeto para uma biblioteca era algo não
coerente num pais de analfabetos. Isto significava a absoluta
incongruência de instalar no Brasil um PROJETO de INDUSTRIALIZAÇÂO. Não só o
empreendedor necessitava da capacidade de ler, mas especialmente o operário, o
vendedor e o consumidor necessitavam deste recurso.
De nada adiantaram os
conselho de Joaquim LEBRETON ao CONDE da
BARCA em carta, do dia 12 de junho de 1816:
"Acho que o Brasil poderia entrar bem
mais frutuosamente na partilha das perdas que enfrenta a indústria francesa, e
com as quais se beneficiam o norte da Alemanha, a Bélgica holandesa e os
Estados Unidos. Por uma única operação pode-se trazer de Paris pelo menos cem
operários escolhidos segundo o emprego que deles fosse proposto fazer, e que se
repartiriam por oficinas organizadas nos pontos mais úteis".
Estes conselhos de Joaquim LEBRETON indicam a existência
deste projeto industrial com um dos ideais da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no Brasil. Este ideal teve de se contentar com
projetos da decoração do palácio régio e
alguns registros gráficos esporádicos destes eventos. Registros que foram dados
ao mundo no retorno de Debret para o mudo industrial da França na década de
1830.
DEBRET,
Jean-Baptiste (1768-1848) “Escravos
transportando o dono”
Fig. 05 –
O artista Debret, da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, encontrou vestígios culturais anteriores a invenção da roda. A roda desconhecida do indígena americano e
pouco usada pela cultura africana era algo a sr incorporada aos hábitos e
técnicas brasileiras. O lusitano ainda andava nas carretas de duas rodas
introduzida em Portugal pelos romanos. Dar o salto para a ERA INDUSTRIAL era
uma utopia numa cultura destas.
O centralismo do poder e
o férreo regime monocrático também não toleravam qualquer sombra da iniciativa
dos cidadãos avulsos. Assim o projeto de Joaquim LE BRETON ao CONDE da BARCA não
passou além de quimera:
“O contrato, eu fixaria
em 5 anos, as oficinas estariam estabelecidas, pois mesmo supondo – o que
certamente não seria geral – que os mestres operários quisessem trabalhar por
conta própria a nação teria adquirido que toda a indústria, e o estabelecimento
isolado não deixaria de ser uma vantagem. Não é um sonho, sr, Conde, pois um
dos negociantes locais, a quem quero bem e estimo, já começou a realizar parte
este plano no Rio de Janeiro, com alguns operários franceses vindos comigo".
Na ausência de qualquer
projeto consistente de tecnologia própria e coerente com a realidade política,
econômica e social brasileira era abrir
os portos para as NAÇÕES AMIGAS. Nesta
abertura os LIVROS, os PERFUMES e a MODA FRANCESA eram pagos com LIBRAS
ESTERLINAS.
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848) Un veiillard
comvalescent portant a l'eglise son offrande portée par la reconnaissance
Fig. 06 –
O “REI da VELA” era alguém que prosperava, as custos do outros, num pais de OBSCURANTISMO e CRENÇAS absurdas. Certamente
a metáfora do “REI da VELA” de Oswald de ANDRADE[1]
continuou em plena vigência e sustentando caciques e coronéis moribundos mas
que não abdicavam do seu poder arcaico e centralizador. O projeto de uma indústria honesta e
civilizada era uma empresa que poderia escapar do controle de suas mãos.
A CONTRADIÇÃO FRANCO-BRITÂNIA era paga com a COMPLEMENTARIEDADE e com a COMPLACÊNCIA BRASILEIRA.
[1] OSWALD de
ANDRADE (1890-1954) o “REI da VELA”. http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-rei-da-vela.html
DEBRET,
Jean-Baptiste (1768-1848) Escravos
carnavalizam a colheita de café
Fig. 07 –
A carnavalização do trabalho braçal e escravo tirava qualquer noção do valor e
do destino dos produtos agrícolas brasileiros.
Até o presente a Alemanha industrializa, comercializa e gera muito
mais lucros do café do que o Brasil, apesar de não colher um único grão em seu
território nacional
O BRASIL foi parceiro e
consumidor de muita pesquisa realizada na FRANÇA. Basta lembrar as pesquisas
fotográficas de Hercules Florence. De outra parte as pesquisas de Santos Dumont
nos primórdios da aventura da dirigibilidade dos balões e no mais pesado do que
o ar uniu FRANÇA e BRASIL.
Contudo o BRASIL não
conseguiu se livrar do complexo de COLÔNIA e da ESCRAVIDÃO VOLUNTÁRIA. Estes complexos o mantiveram na minoridade e ao abrigo de assumir a sua AUTONOMIA, sua
LIBERDADE e a POSSIBILIDADE de ser CULPADO de ALGO. Este conforto da
heteronímia intelectual, moral e estético manteve a cultura brasileira no útero
materno. Minoridade incapaz de correr os riscos e as perdas de alguma eventual
mudança da sua condição de um país agrícola e agro produtor cujo valor é
agregado por países que estão em marcha resoluta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL
Marcha para a maioridade
evidente na ERA PÓS-INDUSTRIAL e expressa na AUTONOMIA, na LIBERDADE e
CRIATIVIDADE de sua ARTE. Os países que
estão em marcha resoluta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL cumprem o projeto de Le
Breton de que “as artes e ofícios preservam a primeira pela
segunda”.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
BARATA Mário (*20.09.1921 +14.09.2007) Manuscrito inédito de Lebreton – Sobre o
estabelecimento de dupla escola de Artes no Rio de Janeiro, em 1816. RIO DE JANEIRO: MINISTÉRIO da
EDUCAÇÂO e CULTURA REVISTA DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL Nº 14– 1959 – pp. 283-307 http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat14_m.pdf
CUNHA, Luiz Antônio (1943 - ) O ensino de ofícios e manufatura no Brasil
escravocrata (2ª ed.) São Paulo: UNESP; Brasília: DF FLACSO – 2005 - 243 p. ISBN 85-7139-631-0
ISABELLE Arsène
(1795-1879) Viagem ao Rio da PRATA e ao Rio
Grande do Sul 1834-1835 - Brasília: Senado Federal 2006, XXXII + 214 p.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
Auguste
Henri Victor Grandjean de MONTIGNY (116-1850)
CARTA
de LE BRETON ao CONDE da BARCA
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)
DEBRET
e os ofícios no Brasil
ISABELLE Arsène Viagem ao Rio da PRATA e ao Rio
Grande do Sul 1834-1835
INGLATERA e
FRANÇA DIVIDEM o MUNDO
Grandjean
MONTIGNY
OSWALD de ANDRADE (1890-1954) o
“REI da VELA”.
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