sábado, 17 de outubro de 2009

2 - A UNIVERSIDADE e o ESTADO BRASILEIRO.

USP: um projeto universitário civilizatório compensador regional.

No Brasil há necessidade de elogiar o Estado São Paulo e a USP. Com todas as suas limitações, registradas na sua origem, a Universidade de São Paulo capitalizou a busca coerente da hegemonia Paulista e realizado com toda potência de um projeto civilizatório compensador.

O elogio ao ESTADO de SÃO PAULO possui as suas raízes nos primórdios do GREMIOS REPUBLICANOS portadores de um projeto político claro de hegemonia nacional. Para este projeto São Paulo atraiu, para o seu território o que havia e melhor e mais progressista no Brasil. Nesta atração contam-se os gaúchos Gaspar Martins, Júlio de Castilhos e Pinheiro Machado, que freqüentaram a Faculdade de Direito de São Paulo na época do Império. Em 1932, apesar da derrota das armas, transferiu toda alma do seu projeto para o USP via sua ESCOLA de SOCIOLOGIA[1]. Cedo os agentes desta Escola perceberam o erro no contrato dos sociólogos norte-americanos, pois descobriram que esta Sociologia não cultivava - com muito zelo - um capítulo chamado ÉTICA[2]. No lugar dos norte-americanos contrataram a MISSÃO FRANCESA, de cujos membros ainda está vivo LEVI-STRAUSS.

O Estado de São Paulo manteve uma inexorável lucidez a respeito de si mesmo e do seu projeto de hegemonia nacional no meio destas idas e vindas, acertos e erros. Principalmente se um observador considerar a cultura secular da escravidão e da servidão. Escravidão e servidão que mantiveram afastadas e escondidas todas as possibilidade da autonomia de um poder originário mergulhado numa nação nascida de um regime colonial, abolido pela lei, mas não de uma prática diária.

Nestas idas e vindas, acertos e erros, a Universidade de São Paulo foi das poucas - e talvez a única no Brasil - a entender, desde a sua origem, o que Max Weber pensou ao escrever:

O único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos Max WEBER 1989: 70[3]

A USP encontra-se em plena História devido à sua capacidade de elaborar as suas dúvidas e seus erros. A idéia da universidade regional, capitaneada pela USP, prosperou por todo o Brasil e cuja expansão é possível localizar, inclusive pala internet, nos históricos das diversas universidades regionais.

USP: uma “universidade temporã”.

A crítica, que cabe à USP, não é o seu direitismo ou seu esquerdismo à “la Gramsci”. A crítica é em relação ao limite do projeto USP, que NÃO é o PROJETO da UNIVERSIDADE FEDERAL[4]. Cabe à USP ainda o atributo de “universidade temporã” na concepção de Luiz Antônio Cunha (1980) pela sua condição de um projeto regional de universidade.

O paulista Mário da Andrade, diante do fechamento arbitrário da Universidade do Distrito Federal, foi capaz de sintetizar, em 1938, toda a sua revolta na frase ”o ecletismo é o refúgio dos covardes” . Este apodo certamente não cabe ao PROIFES, enquanto o PROIFES for capaz de manter o seu projeto da UNIVERSIDADE para todo o BRASIL. Não caberá também aos seus agentes enquanto possuírem competência para contornar os projetos de um Estado regional brasileiro. PROIFES e seus agentes realizarão na prática, com inexorável lucidez a respeito de si mesmo se considerarão agentes ativos e conscientes deste projeto. Realizarão, para todo o território nacional, o que está expresso nas origens da ESCOLA de SOCIOLOGIA da USP para todo os Estado de São Paulo.

Nisto não cabe ecletismo. O povo de São Carlos pode ensinar para todo o BRASIL como ele conseguiu atrair para si a UNIVERSIDADE FEDERAL. Universidade federal brasileira era, para o projeto uspiano, para país pobre, para o resto e coisa de subdesenvolvido.

Dados para os docentes federais avaliar o seu projeto de uma universidade para o Estado Brasileiro como um todo.

A cultura brasileira, na ânsia de “queimar etapas”, confundiu UNIVERSIDADE com o ensino superior e, deste equivoco, saltou alegre e decidida para o reducionismo do ensino profissional superior. A ANDIF E- S, da AND E S, PROIFE S e tantos outros, que confirmam, até no nome, este equívoco.

A consequência é que até as profissões e os seus profissionais estão desembarcando da canoa furada da UNIVERSIDADE no BRASIL. Evidente este movimento, de retirada de profissionais desta pseudo-universidade brasileira, é gáudio e conta com a ação governamental ligeira e irresponsável. Esta constatação já estava presente, em 1932, na análise dos Pioneiros. É possível afirmar que estas esferas oficiais são manipuladas por sórdidos interesses de oligarquias retrógradas. Esta ação governamental e empresarial acoberta-se na velha lógica dos positivistas ortodoxos que viam, na capa da universidade, mais um passo para a implantação e reforço da pedantocracia no Brasil.

Também é necessário admitir – contrariado - que o poder originário, diante de fatos concretos - provenientes do poder econômico e do governo - possui certa razão para desconfianças fundadas no que lhe é oferecido com o nome de UNIVERSIDADE. Aos olhos - do poder originário da nação - a universidade no Brasil, na forma como se constituiu, se manteve e disseminou, é lindeira ao terreno baldio, imoral e insalubre de uma fábrica de diplomas e de doutores.

O que une um grupo humano, de forma sólida, é o trabalho em comum. Santos (1982, p.36)[5] resume “por psicologia de classe se entende o modo de pensar e sentir de determinados agregados humanos em uma determinada situação ou momento dado”. O docente, que trabalha numa universidade federal do Brasil, possui modos de pensar e sentir que tomam forma comum em associações tipo aquela que era a ANDES. Hoje o PROIFES está se oferecendo como alternativa viável para unir estes modos de pensar e sentir.

O exercício do poder - fora e no interior das universidades federais - debate-se entre dois extremos. Externamente, o Estado Brasileiro até hoje, não sabe se a UNIVERSIDADE – que todos DIZEM ser FEDERAL - está dentro ou fora do âmbito do ESTADO. As ações que este Estado Nacional pratica revestem-se de sérias dúvidas se os agentes destas universidades são – ou não – se a instituição e os seus agentes pertencem a Estado Brasileiro. Internamente esta universidade – DITA FEDERAL - em cada renovação do seu governo,sofre tentativas, dos agentes universitários - individuais ou organizados em grupos - buscam impor a sua vontade ao Estado brasileiro. Imposição que se materializa nos nomes dos seus candidatos para os cargos máximos desta instituição. Imposições praticadas sem cogitar – um único momento - que o Estado face a estas imposições - coerente com os mais elementares princípios administrativos institucionais - poderá optar por retirar o seu apoio financeiro.

Veja a ilustração da mentalidade administrativa e funcional dominante na universidade pública federal em:

http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=115&Numero=17&Caderno=0&Noticia=43106

O autor destaca deste texto

“Andifes [..] após dois dias de debates em torno de questões administrativas e funcionais das instituições de Ensino”.

O texto que segue é disponibilizado no interior dos princípios contratuais de:




[1] O autor do presente texto acredita que o seu colega Flávio VIEIRA do PROIFES tocou no ponto central, até das nossas discordâncias com “O” Andes... A Escola de SOCIOLOGIA da USP. ! Não é por acaso que as lideranças “DO” ANDES são USPIANOS convictos e portam no nome o “N” da sua pretensão de ser “Nacional”[1]. Reforçados pela busca de hegemonia que emanou do Estado PAULISTA ao longo de toda VELHA REPÙBLICA e de volta com FHC e promete se eternizar com LULA.

[2] - A experiência da Sociologia com a ética enfraquecida americana foi realizada em São Paulo que racionalizou a sua derrota pela armas em 1932, abrindo um generoso espaço político e econômico para preparar a ação do intelectual coerente com esse Estado e que segundo Mota (1980: 99/8)“ para formar tais quadros é que se criou a Escola Livre de Sociologia com inspiração teórico-metodológica norte americana [...] Restava-nos a América do Norte. E demos o salto: da Filosofia para a Sociologia; mas uma Sociologia de conhecimento real, corajosa, sem tradicionalismos terminológicos. Estaríamos ainda nesse pé se não tivéssemos verificado que a Sociologia sem Ética não conduz a coisa alguma”. Os intelectuais, favorecidos pelo dinheiro público da revolução, defenderam em 1933 o seu papel na introdução do seu ‘Manifesto da Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo’ com os seguintes argumentos. “A história universal encerra exemplos de grandes civilizações construídas sem base na instrução popular. Mas não há exemplo de civilização alguma que não tivesse por alicerce elites intelectuais e poderosamente constituídas.” (In - FÁVERO, 1980 : 171). Essa distinção entre a instrução popular e das elites intelectuais é digna de nota e capaz de ser associada “às audácias das raças nobres” de Nietzsche em sua “Gênese da Moral” escrita em 1887, na qual afirmava que “toda oligarquia envolve o desejo de tirania” (S/d: p.137). O desejo de tirania da elite intelectual favorecida, não poder ser afastada da base das melhores escolas brasileiras, como aparece na aplicação do dinheiro das oligarquias paulistas derrotadas em 1932 .

[3] - WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.

[4] - A USP pode ser um exemplo de êxito de UNIVERSIDADE REGIONAL BRASILEIRA que tanto bem estão fazendo pelo vasto território nacional afora.

Outra critica que cabe a USP é a pouca sistematização, zelo em investimentos e a socialização dos seus ARQUIVOS institucionais. O ensino à distância só poderia acontecer em universidades que possuem arquivos

[5] SANTOS, Theotônio dos. Conceito de Classes Sociais. Trad. de Orlando Reis. Petrópolis : Vozes, 1982. 81p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário