FERNANDO CORONA
(1895-1979)
– PROFESSOR –
AS OBRAS de FERNANDO CORONA.
4 - As AULAS
de MODELAGEM e de ESCULTURA de
FERNANDO CORONA de 1937 até 1965[1].
4 -1 – Catedrático com 4ª série primária formal.
4 -2 – Um
docente com obras para mostrar
4 -3– A disciplina de Modelagem ensinada na lógica
da linha de montagem industrial.
4 -4– A disciplina de Escultura ensinada no
paradigma da guilda medieval.
4 -5– A defesa da técnica da Escultura e da
segurança institucional
4 -6 -
Institucionaliza-se a competência da Escultura no Curso de Artes
Plásticas -IBA-RS
4 - 7 - A Modelagem como
cozinha do ensino aprendizagem disciplina de
Escultura.
4 -8 - A
ênfase na Escultura como iniciação a uma carreira de artista plástico.
4 – AS AULAS de MODELAGEM e de ESCULTURA
de
FERNANDO CORONA de 1937 até 1965
É possível classificar Fernando Corona como
escultor, arquiteto e professor autodidata. Nesta concepção da ERA INDUSTRIAL ele pertence
à categoria de Auguste Rodin escultor e aquela
do seu pai Jesus Maria Corona arquiteto prático.
No entanto num exame mais próximo ele revela uma verdade diferente na sua vasta
obra produzida em Porto Alegre, tanto em Arquitetura[2],
Modelagem como em Escultura[3].
Isto se quisermos valer do foco das
concepções da guilda e, no outro foco, sobre as luzes da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL
O currículo do ‘self
made man’ fascinou Tasso Corrêa que o contratou para ser o catedrático de
Escultura do CAP depois de conseguir arrancar, esta aprovação ‘ad referendum’, em duas tumultuadas
sessões do CTA[4].
Vencida esta etapa, Tasso concedeu carta branca[5] para
Fernando Corona, criar, implementar e implantar, de forma pioneira no Rio
Grande do Sul a disciplina de Escultura
no Curso Superior de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes do Rio Grande
do Sul. Corona foi o docente efetivo e sem concorrentes dessa disciplina entre
1938[6]
e 1965[7].
Desdobrou essa disciplina em Modelagem e Escultura, conforme programa da ENBA.
4.1– Catedrático com 4ª série primária formal.
Corona exerceu, por meio da sua ação pedagógica, grande
influência na elaboração de outras obras de arte provenientes das mãos e das
inteligências dos seus estudantes estimulados e orientados por ele. Para
cumprir este projeto ele repetiu várias vezes ‘deixei de ser escultor para formar escultores'. Era uma das
motivações era a reprodução institucional, como tarefa central da docente. Em
relação a essa tarefa ele escreveu (1977:188) que “nossa precípua missão era a de preparar substitutos entre os nossos
alunos formados para que nos substituíssem quando a hora chegasse”. Como
docente teve a felicidade de verificar, em vida, que muitos dos seus discípulos realizaram uma 'carreira solo' na Escultura.
4.2 – Um
docente com obras para mostrar
Não se defende aqui o pensamento e a lógica da
didática de Fernando Corona. Pretende-se fixar, num texto, um momento de sua
pedagogia que pertenceu tanto ao meio cultural que o acolheu, como à sua
formação prática e teórica que o escultor transportou para a sala de aula. O
docente tentava repassar aos seus estudantes as condições para que cultivassem
a potencialidade para expressar a autonomia que a arte impõe. Como uma
personalidade experimentada nas práticas das artes plásticas em Porto Alegre
fazia com que o seu estudante assumisse o hábito do dever da integridade
intelectual.
Uma dessas condições estava no novo meio cultural
que a ERA INDUSTRIAL induzia a cultura intelectual de Porto Alegre. Nos
registros escritos das suas aulas percebem-se as nítidas tarefas planejadas sob
a influência taylorista[8].
Corona havia sido profissional de uma empresa de construção civil[9]
onde devia seguir rígido cronograma e planejamento preciso nos moldes
tayloristas. Este planejamento estava em consonância com a nova formação que o
paradigma da universidade brasileira estava perseguindo. Universidade
brasileira que enveredou cedo, de forma linear e unívoca, na manutenção de
CURSOS SUPERIORES PROFISSIONA-LIZANTES, supondo como subentendida a FORMAÇÃO
SUPERIOR ao tentar realizar este projeto. Evidente que Fernando Corona foi um
daqueles que sentiram mais este desvio. Buscou sanar este desvio por uma FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA SUPERIOR qualificada por meio de uma intensa, coerente
e lúcida vida intelectual, estética e
humana.
[1] - O presente texto é
originário da tese de Círio SIMON: «ORIGENS do INSTITUTO de ARTES
da UFRGS :ETAPAS entre
1908 - 1962
e CONTRIBUIÇÕES na
CONSTITUIÇÃO de EXPRESSÕES
de AUTONOMIA no
SISTEMA de ARTES
VISUAIS do RIO GRANDE
do SUL» Capitulo 4
- dos parágrafos:
4.1.5 –
Institucionaliza-se a competência da Escultura no CAP-IBA-RS.
4.1.6 – A
disciplina de Modelagem abre e prepara a competência para a Escultura.
4.1.7 – A
ênfase da Escultura como iniciação a uma carreira de artista plástico.
Disponível
digitalmente: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/2632/000323582.pdf?sequence=1
DOMÍNIO
PÚBLICO http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp000043.pdf
[2] - “Corona era um arquiteto que participava do canteiro de obras e novas
técnicas lhe interessam” Canez,
1998, p. 42.
[3] -
Corona: Pérgola da Casa Palmeiro-Fontoura e Corona: pórtico do Meridional. Uma das poucas mansões familiares que ainda
existe na Praça da Matriz ( (pr. Marechal Deodoro) e quem no início dos século XXI abrigava a
SEDAC ( Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul). Segue-se a informação fornecida ao autor por
Hélio Palmeiro Fontoura
[4] - Livro de Atas n I, do C.T.A., f. 2f até 4f
sessão do dia 25.04.1938 e f. 4v-5f e sessão de 28.04.1938.
[5] - Esse gesto destemido de
Tasso foi retribuído, não só num trabalho didático inovador na instituição, mas
foi muito mais longe, como um entusiasta
colaborador e um braço direito incansável na direção do Instituto. Essa
colaboração recíproca chegou ao apogeu no momento da construção do novo prédio
e na implantação do curso de arquitetura. Não é em vão que o busto de Tasso
Corrêa, obra de Fernando Corona, esteja guarnecendo o hall de entrada do prédio
do Instituto, testemunhado essa colaboração recíproca.
[6] - Assina contrato coma UPA
no dia 12 de maio de 1938. “Afinal aceitei e no dia 12 de maio de 1938,
na reitoria do Dr. Aurélio de Lima Py, assinei contrato com vencimento de um
conto e duzentos mil reis, que era igual ao dos demais catedráticos. Ora, eu
ganhava um conto e oitocentos como arquiteto da firma Azevedo Moura &
Gertum”. (Registro no Àlbum nº II
de Fotos de Aulas de Escultura):
[7] - Foi atingido pela
aposentadoria compulsória no dia 26 de novembro de 1965, dia em completou 70
anos.
[8] TAYLOR , Frederick Winslow
(1856-1915). Princípios de
administração científica. 7a . ed. São Paulo :
Atlas, 1980, 134 p.
[9] Ele registrou no seu Diário para o ano de 1935 uma das
suas auto avalições das suas realizações para educacionais “Considero a construção da Escola Normal (hoje Instituto de Educação
General Flores da Cunha) como a obra mais importante de toda a minha vida
professional. Tive muita felicidade ao projetá-lo e não é só a beleza que ainda
hoje encontro na obra, mais por que a dirigi e administrei. Era a primeira vez
que Azevedo Moura & Gertum me davam carta branca para organizar os detalhes
e com eles a concorrência dos fornecedores. Minha maior satisfação foi a de ver
a obra crescer diariamente”.
Álbuns de
fotos de estudantes de Fernando Corona – Arquivo IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fig. 01 – As primeiras aulas de Modelagem de Fernando
Corona no porão do antigo prédio do IBA=RS primórdios da aulas formais e coletivas de
Modelagem e de Escultura ocorreram nos porões do sobrado do IBA-RS adaptado de
uma antiga loja maçônica[1]. Se pedagogicamente seguiam o ritmo da ERA
INDUSTRIAL do trabalho na linha de pesquisa, na produção, na propaganda e venda
potencial externa. Na pedagogia de Fernando Corona a Modelagem seguia
estritamente no seu planejamento, a entrega, a produção e a avaliação os
ditames tayloristas industriais. Já a cadeira de Escultura era comandada pela
lógica das antigas guildas de produção com o olhar e as mãos presentes de um
mestre experiente e já com o nome formado externamente.
Para esta prática Corona implementou a disciplina
Modelagem a partir de 1938. Esta disciplina nunca havia figurado em nenhum
currículo de alguma escola de artes plásticas no Rio Grande do Sul. Ao examinar
o tratamento e os procedimentos didáticos que o seu docente imprimiu à
Modelagem, é possível identificar uma verdadeira linha de produção industrial e
destinada a grandes grupos, com rígidos cronogramas em todo o seu
desenvolvimento[2].
Corona valia-se do modelo da “linha de montagem industrial” para o
ensino da Modelagem para os grandes grupos de estudantes. Já na disciplina de
Escultura o tratamento dispensado ao estudante lembra a oficina da “guilda”, com pequenos grupos e com a liberdade para cada integrante
fazer o seu caminho dentro de seu próprio ritmo ao lado de um mestre
consagrado. Este o vinculava ao meio
cultural e que Corona aplicava para os criadores individuais[3].
Motivava estes criadores individuais para uma intensa, coerente e lúcida vida
intelectual, estética e humana
qualificada por meio de uma FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA SUPERIOR. Criadores individuais, de OBRAS de ARTE,
competentes para interagir, em alto nível e na autonomia, com TODAS as diversas
FORMAÇÕES UNIVERSITÁRIAS.
4.3– A disciplina de
Modelagem ensinada na lógica linha de montagem industrial.
A disciplina de Modelagem[4] foi
colocada como introdutória e obrigatória para todos os alunos dos cursos
técnicos e superiores de Artes Plásticas e de Arquitetura[5]. Ela
estava intimamente ligada ao Desenho[6] e
determinada pelo regulamento aprovado em 24.03.1939[7]. No
mesmo artigo a Modelagem era classificada entre as disciplinas práticas do
Desenho de Estátua e do Desenho de Modelo Vivo. Era desenvolvida em aulas com
tempo limitado. O professor expunha, numa preleção, o tema e os objetivos a
serem alcançados pelos estudantes dentro do mês letivo. O material compunha-se
de uma prancheta de madeira grossa, sobre o qual era trabalhado o barro em
placas. O estudante trabalhava de pé, enquanto o docente acompanhava a sua
obra, dentro do rígido programa e projeto fornecido na preleção do início do
mês.
No Curso Superior a cópia pantográfica havia ficado
para trás, pois era eliminatória no vestibular[8]. No
final do mês era feita uma palestra diante das obras produzidas pelos
estudantes. O docente retomava os objetivos que ele pretendia desses trabalhos.
Dentro dessa proposta eram avaliados os resultados atingidos na obra, tanto no
seu conjunto como individualmente.
As obras individuais, depois de estudadas num
confronto com o objetivo inicial do mês, eram hierarquizadas e atribuídas notas de “zero”
até “dez”. A nota era anunciada
publicamente e justificada discursivamente. As obras eram destruídas depois[9].
[1] No
seu Diário escreveu que “na Escola da Rua Senhor dos Passos havia
pouco lugar. A sala que deveria ser para modelagem e escultura era um porão com
2,20 m. de altura sem ventilação. Não havia nada. Apenas deposito de coisas
quebradas. Não podia iniciar as aulas em seguida. Tive que fazer um
levantamento do recinto e salvar as colunas de madeira que sustentavam as
traves. Localizei as mesas, os tanques para o barro, a pia para lavar as mãos e
a luz elétrica que seria permanente. Não cabiam nem vinte alunos. Tudo era
precário. O amigo Tasso então me destacou para dar as cadeiras do Ernani Corrêa
enquanto se preparava a sala de modelagem. Minha primeira aula foi de Arte
Decorativa que eu felizmente conhecia bem. Havia três alunas de quarto ano e
cinco do terceiro. Também dei aulas de
arquitetura analítica para primeiro e segundo ano. Somente em 22 de outubro de 1938 é que pude dar a
minha aula inaugural de modelagem. Tasso Corrêa assistiu à minha peroração
teórica sobre a matéria. Fiz a seguir uma demonstração prática numa prancheta,
copiando um ornato fácil para os alunos se dessem conta de como iniciar os
trabalhos. Parece que fui feliz e tudo correu bem durante o resto do ano”.
[2] - O pesquisador evoca a sua experiência como
aluno de Modelagem dessa disciplina, a qual
se submeteu em 1958 (Modelagem I)
e 1959 (Modelagem II) sob a orientação direta do catedrático Corona, já no apogeu da carreira. O estudante não
tinha acesso ao programa. Essa socialização do programa ao estudante parece não
era costume nessa época. Mas em todos os passos era semelhante ao que será
descrito. Os seus passos metodológicos desta estrutura e desta lógica ficaram
profundamente gravados na memória do pesquisador. Era planejada e administrada
progressiva e cumulativamente, dentro da racionalidade que permitia explorar
espaços rigorosamente delimitados. Era ministrada para um grupo de 30 jovens
recém admitidos ao curso superior e com formação heterogênea. Talvez a lição
mais significativa das aulas de Modelagem foi a necessidade de ‘recortar um espaço limitado para expressar o
ilimitado’.
[3] - Ver o
resultados finais de uma etapa de um
ano escolar perfilados como uma linha de montagem (Fig.03)
[4] - Programas de Modelagem de Fernando CORONA. Arquivo
IA-UFRGS
[5] - Fernando Corona fez uma
adaptação, a partir de 1945, da
disciplina de Modelagem ao Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. Nessa
disciplina ele enfatizava as habilidades que o arquiteto deve possuir e
desenvolver. Ele subverteu nessa adaptação dessa disciplina, ao paradigma e
metodologia da ENBA.
.
[6] - Programa do Curso de Artes Plástico Pasta
A-Z (discriminados a seguir) Arquivo
IA-UFRGS
[7] - O Estatuto de 1939 do IBA-RS no “Cap. XIII, Art. 103 – VII – Modelagem:
A) –Primeira parte e composição de motivos em gesso; B) – segunda parte: cópia e composição de
motivo natural, O ensino deverá ser feito, quando possível, paralelamente ao da
cadeira de Desenho”. Uma transposição literal do programa determinado pelo
Decreto- Lei no 22.897 de 06.06.1933
do seu “Art. 14 VIII – Modelagem.A– Primeira parte: Cópia e composição
de motivos em gêsso.B) – Segunda parte:
Cópia e composição de motivos do natural. O ensino deverá ser feito, quando
possível, paralelamente ao da cadeira de Desenho.
[8] - O vestibular da época
(1939-1965) do Curso de Artes Plásticas, compunha-se de uma prova de desenho
figurado, desenho geométrico básico e uma prova de modelagem em argila. Essa
última era uma cópia de um motivo clássico de algum relevo clássico. Essa cópia
rigorosa avaliava a capacidade técnica do aluno para reproduzir em volume,
forma e proporção um baixo-relevo de um motivo clássico apresentado em gesso. O
regimento de 24.03.1939, no seu artigo 101, letra f) exige para o ingresso no
curso superior: “certificado de aprovação
em exame prévio, no Instituto, de Desenho Geométrico, Desenho Figurado e
Modelagem”. Arquivo
IA-UFRGS
[9] - Em casos de trabalhos mais
originais eles eram copiados por moldes ensinados pelo mestre.
CORONA e CARRICONDE – Um dos dois baixos-relevos (1957) para
Condomínio TANNHAUSER Praça Rui Barbosa, nº 220 - POA-RS
Fig. 02 Uma amostra de uma Modelagem de um baixo relevo encomendada diretamente
ao artista professor Fernando Corona. Trata-se de um par de baixos relevos para entrada de um condomínio comercial no centro de Porto Alegre. Ele aproveitou a
encomenda desta obra para realiza-la em parceria com o seu estudante Cláudio
Carriconde (1934-1981) Assim trata-se de obra didática e constituiu uma forma de entrada destes
estudante no mundo das artes visuais, sua produção e destinação.
4.4– A disciplina de
Escultura ensinada no paradigma da guilda medieval.
A Escultura era específica do curso
superior e uma das ênfases da graduação. O regulamento a classificava como ‘especial’, destinada a poucas pessoas que
eram selecionadas pessoalmente pelo professor ao longo dos dois anos das aulas
coletivas da Modelagem. A opção pela Escultura inviabilizava a opção pelas
aulas de graduação da Pintura e da Gravura. O seu objetivo era formar um
profissional especializado em Escultura e colocar este projeto ao nível da
opção digna e nobre arte. Nesta dedicação exclusiva exigia uma carga horária
extensa e que invadia o fim de semana, férias ou feriados. Esta dedicação
exclusiva estava confiada ao ritmo do estudante. O respeito do professor pelas
suas opções estéticas era irrestrito[1].
Na disciplina de Escultura ele passava a ser conselheiro e confidente do
estudante. Essa autonomia dos discípulos de escultura foi sugerida pelo mestre
Corona quando ele escreveu (1977, p.108)
que:
“a nossa
Escola de Arte não limita o aluno a seguir o academicismo em que a forma é
estereotipada, convencionada, pois se trata de ensino individual, o aprendiz
expõe ao mestre sua
mensagem e este passa a ser seu conselheiro, indicando-lhe o caminho a seguir”.
Os métodos no ensino da Modelagem e da
Escultura, adotados pelo professor Corona, esgotaram-se no seu próprio período.
Os seus alunos, que o sucederam na sua cadeira, a partir de 1965, foram
estimulados a adotar, para o trabalho tridimensional, outros procedimentos
didáticos[2].
[1] - Num depoimento informal o
escultor Luiz Gonzaga, ele comentava as rigorosas exigências do seu professor
de escultura, Fernando Corona, ressaltando que esse professor nunca tocou nas
suas opções estéticas e os temas que escolhia.
Álbuns de fotos de estudantes
de Fernando Corona – Arquivo IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fig. 03 – Uma das
imagens de um dos álbuns fotográficos de Fernando Corona evidencia o início
do processo da aprendizagem da Escultura
da parte do seu estudante. Constitui
o resultado de uma etapa de um ano
escolar perfilado como uma linha de montagem É uma rigorosa aplicação dos preceitos taylorista neste
processo de ensino aprendizagem Este estudante - candidato a artista - ainda
esta heteronomia do seu mestre. Assim se submete a uma rigorosa preparação
técnica. Ao concluir este processo de heteronomia resta-lhe o desafio da
autonomia numa carreira autônoma e solo. Neste momento irá provar as suas
competências para romper ou permanecer
os limites das quais ninguém, além dele próprio, será responsável. Eventuais
fracassos podem ser atribuídos tanto a despreparação do egresso como a sua
inadequação ao meio ou este meio estar muito distante dos pressupostos e a
infraestrutura necessária à ERA INDUSTRIAL o PÒS-INDUSTRIAL. Porém o exame
- de caso a caso - dos egressos da aulas de Escultura de
Fernando Corona mais casos de sucesso na carreira escolhida do que inadequação.
Coerente, também ele se colocava como eterno
aprendiz. A dúvida, a inquietação e a certeza de que o problema não existe para
ser resolvido, mas faz caminhar na busca da verdade. Neste “CAMINHO nas ARTES”
- como Corona intitulou um dos seus livros - ele sofreu profundas mudanças.
Mudanças perceptíveis nas suas concepções estéticas sobre a arte da Escultura.
Dúvidas, problemas e mudanças que experimentava antes e que ele incorporava
após a atualização da sua inteligência e fazia experimentar pelos seus estudantes no exercício do
magistério. Nas infinitas buscas de atualização da sua inteligência, Corona não
escondia as suas próprias descobertas, repartindo-as generosamente nas aulas e
como cronista de arte na sua coluna no Correio do Povo[1].
Após passar pelas influências classicizantes da década de 1930 e do forte
regime do Estado Novo, ele tornou-se um guia das Bienais de São Paulo,
apontando as mudanças plásticas que e Escultura sofria depois da Segunda Guerra
Mundial. Acompanhou a atualização da vida da arte até a década de 70,
mantendo-se aberto à introdução de novas tecnologias e concepções possíveis
para obras tridimensionais. Mas nunca as afastou das concepções construtivas
dominadas efetivamente por aqueles que as criavam. Corona (1977, p. 225)
escreveu:
“sempre defendi um princípio
importante na elaboração das Artes Visuais. O sonho do artista criador começa
na cozinha, isto é o laboratório onde artesanalmente se prepara o material a
ser empregado na obra, seja pintura, escultura, gravura, cerâmica ou tapeçaria.
Vale dizer, o artesanato é base de tudo”.
A sua ação não se limitou á estética. As mudanças
políticas, nas quais participou e liderou, transformam-no num verdadeiro ‘guru’ na comunidade universitária[2].
4.5– A defesa da técnica da
Escultura e da segurança institucional.
Consciente do espaço inaugural de sua ação, ele não
descurava da segurança para que essa disciplina erudita, com exigências de toda
ordem, tivesse condições para se reproduzir. Sabia que num ambiente de
carências básicas da população, não havia espaço para grandes veleidades
conceituais de um conhecimento de técnicas, de espaço e de materiais artísticos
adequados ao novo tempo industrial. Para que a instituição pudesse deflagrar um
verdadeiro processo civilizatório era essencial à proposta defendida com
clareza e redundância, Corona escrevia (1977, p.109) que:
“a nossa escola de arte formará artistas, com aprendizagem básica do
artesanato, condição essencial para adquirirem consciência sólida que possa
colocar em alto grau de conhecimento, reversíveis no processo cultural para o
enriquecimento do nosso patrimônio artístico.”
Corona expressava, nesta frase a sua sintonia com a teleologia imanente
no projeto civilizatório implementado pelo Instituto. Ela previa na sua
disciplina escolar um lugar para exercer o papel civilizatório, suprindo a
cultura local básica da falta total de outras instituições, como museus,
bibliotecas e ateliês de arte abertos aos estudantes. Uma das suas fontes
literárias e pedagógicas era a obra de
Matteo MARANGONI[3]
cuja leitura voluntária exigia, com ênfase,
daqueles que ele percebia aptos e dispostos a trilhar a caminhada
erudita nas artes.
A disciplina de Escultura, inaugurada pelo mestre
Corona, NÃO entrava num vácuo da tábua curricular, produzindo uma
simples excrescência escolar e sem vínculos institucionais. O seu fundamento
geral era o Desenho como capacidade de designar
a obra mentalmente, antes de ela existir no mundo físico. Caminhava
paralelamente com o repertório de seu público e procurava a competência para
lidar com espaço da Arquitetura e do Urbanismo. A Escultura era um campo aberto
pelo IBA-RS na erudição local, capaz de dialogar e formar pontes com outros
saberes como a Arquitetura e Urbanismo. Com essa disciplina, o Instituto
contribuiu decisivamente para consolidar, em nível erudito e institucional no
sul do Brasil, uma das mais amplas e consistentes expressões de saberes a quem
as mais adiantadas civilizações confiaram a tarefa para dar forma as suas mais
altas expressões. Pode-se verificar isso tanto na obra plástica dos seus
discípulos como nos ambientes educativos que esses discípulos geraram na
cultura sul-rio-grandense[4].
Por meio das disciplinas que se instalavam e
registradas por Fernando, pode-se acompanhar a emergência e as normas possíveis
no campo artístico sul-rio-grandense. Corona justificava a sua atividade
didática quando escreveu (1977: 188) que “éramos
em 1938 apenas seis professores a reger nove disciplinas nos moldes da Escola
Nacional de Belas Artes fundada por Dom João VI”. Essa frase mostrava, o
mesmo tempo, a sua busca de um vínculo com a primeira instituição de ensino
formal das artes plásticas do Brasil. Esta frase expressa também a busca das
origens do projeto civilizatório sul-rio-grandense, pelo Instituto,
privilegiando, no momento, a área das Artes Plásticas.
Foi agente ativo e politico em Brasília para a
integração definitiva do Instituto de Belas Artes na Universidade Federal do
Rio Grande do SUL.
Lutou brava e pessoalmente, em
Brasília, ajudado pelo seu estudante
Luís Carlos Maciel nos trâmites legais nas comissões da Câmara, Senado. O
processo chegou ao Primeiro Ministro Hermes Lima e ao Presidente João Goulart que assinaram o Decreto Federal nº
4.159[5],
de 30 de novembro de 1962,
em época do curto período do parlamentarismo brasileiro.
Após
dez Anos Jubilado foi chamado à Reitoria da UFRGS para receber, no dia 25 de setembro de 1975,
o Título de Professor Emérito ao lado de Tasso Bolívar Dias Corrêa. A
tramitação havia sido aprovada, no Conselho Universitário, no dia 05 de junho
de 1975, pelos pareceres favoráveis de nº 27/75 e 28/75.
[1] - Uma
seleção dessas crônicas foi publicada em CORONA, Fernando. Caminhada nas artes:
1940-1976. Porto Alegre: UFRGS-
IEL/DAC/SEC-RS, 1977, 241 p.
[2] - Depoimento informal de
Hélio Trindade, reitor da UFRGS (1992/96), que na época de estudante presidia
movimentos estudantis em cujo meio encontrava frequentemente envolvido o veterano mestre.
Ainda em 1997 a sua ex-aluna e pintora Alice Bruegmann (1917-2001) o denomina ‘a Corona aquele amigão’. (BRUEGMANN,
Alice. Catálogo da exposição UNICULTURA-UFRGS.CEF Porto Alegre, 26.06 - 25. 07.1997.)
[3] MARANGONI, Matteo Aprenda a ver: como se contempla uma obra de arte, São Paulo: instituto
Progresso Editorial, 1949, 231 p.
(Coleção Minerva)
[4] - Uma pesquisa que ainda não
foi realizada é seguir os passos posteriores dos seus estudantes tendo por
referência os dois álbuns que Fernando
Corona deixou em texto e imagens das
suas aulas de Escultura.. Arquivo IA-UFRGS
[5] - Publicado no Diário
Oficial de 04 . 12 . 1962 e assinado por João Goulart, Hermes Lima, Miguel
Calmon e Darcy Ribeiro
Documento do
ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fig. 04 – A obra de Sônia EBLING, apresentada e
aceita pelo 1ª Bienal de São Paulo, consta num dos álbuns de seu mestre Fernando
Corona. Documentos da fortuna de uma das estudantes da cadeira de
Escultura. Caberia um estudo documental, uma pesquisa sistemática e divulgação
dos caminhos, obras e realizações pessoais destes estudantes de Fernando
Corona. Certamente não constituem prosélitos, discípulos ou uma escola coesa e
unitária. Como seu mestre, estes estudantes, responderam autonomamente ao seu
TEMPO, seu LUGAR e o sua SOCIEDADE.
4.6 - Institucionaliza-se a
competência da Escultura no Curso de Artes Plásticas -IBA-RS
O estudo sistemático da Escultura numa
instituição erudita de artes plásticas é relativamente recente. Na Antiguidade
clássica grega não foi encontrado um único tratado de escultura[1].
Há poucos traços de seu estudo teórico ou prático nas Academias de Florença e
de Bolonha. Na França foi incluída na Academia Real, bem depois da pintura. A
maioria dos grandes escultores teve a sua aprendizagem nas oficinas, como foi
caso de Auguste Rodin (1840-1917). Foi durante a vida de Rodin que o escultor
atingiu na França o prestígio do artista de cavalete e se impôs para o mercado
e para o museu[2]
como um valor em si mesmo.
O
projeto da Missão Artística Francesa já contemplava no Brasil, a questão do
ensino da Escultura. Contudo na prática não ia muito além das ‘medalhas’ e
bustos. Apesar dessa limitação utilitária, a Escultura já estava no elenco das
disciplinas na Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil[3].
Augusto Taunay foi contratado como docente dessa disciplina, no dia 25 de
novembro de 1820[4].
No
RS, do início do século XX, existia ainda a concepção da ‘escultura de oficina’ e que não descolou do prédio[5],
do monumento e do cemitério[6].
A aprendizagem da Escultura continuava mais ligada ao ensino prático das
guildas, das oficinas de técnicas artesanais como aquela que João Vicente e
Jacob Friederichs mantiveram em Porto Alegre no início do século XX. Foi nessa oficina que Fernando Corona se
iniciou na Escultura em Porto Alegre ao lado do seu pai. No sistema de artes, e em especial nos seus
salões, ela ainda não tem destaque em 1903. Já aparece, como valor em si, no
‘Salão de Outono’ de Porto Alegre em 1925, ao qual acorreram para mostrar as
suas obras o jovem Antônio Caringi (1905-1981) e Fernando Corona.
[1] - Na constatação de Arendt a escultura grega
era considerada mais trabalho do que obra. Nesta distinção ela argumenta (1983,
p. 126) que “Jacob Burkardt relata na sua história da Cultura Grega (vol. II sec. 6
e 8) as opiniões gregas sobre o que pertencia ou não à classe dos banausoi, observa também que nós não
conhecemos nenhum tratado de escultura. Como possuímos muitos ensaios sobre a música e a poesia,
isso não aconteceria por um simples
acaso da tradição, ainda mais que temos tantas histórias sobre o orgulho até
arrogância dos pintores célebres, a qual não corresponde nenhuma anedota de
escultores”.
[2] - Um século após a Revolução a cultura da
França dava lugar separado para o escultor como artista. Monnier escreve (1995,
p. 275) que “é nesse momento (1890) que, deste ponto de
vista, opera-se uma separação progressiva entre as técnicas artísticas, a do
pintor de cavalete e do desenhista gráfico de um lado, e do outro o escultor e
pintor muralista do outro, que haviam ficado mais próximos das condições
prosaicas do canteiro de obras, do trabalho físico dos artesões, do material
sujo. As visitas dos amadores ao atelier do artista, nessa época, colocam em
evidência essa separação que se cava, entre o atelier-salão do pintor esteta, e
o atelier, frio e úmido do escultor”..
[3] - Na fragilidade e improvisação da FORMAÇÂO de
ESCULTORES nos CURSOS SUPERIORES convém ressaltar que no dia 25.11.1820 foi nomeado como titular de escultura Augusto Taunay (1768-1824). Como pensionista
de escultura foi nomeado no dia 05.11.1820, Marc Ferrez (1788-1850) que em 1830
torna-se seu titular. Francisco Manuel Chaves Pinheiro (1822-1884) (Bittencourt, 1967, pp. 08, 59-60) ocupou essa cadeira por 34 anos.
No entanto deixou poucos discípulos segundo Godoy Weisz (1997, p.251) O mesmo pode ser dito de um dos seus raros
discípulos, que foi Rodolfo Bernadelli, diretor entre 1890 até 1915 da
Academia, já com a designação de Escola. Apesar da sua fama e de sua imensa
massa de obras, Rodolfo também não contribuiu para formar uma geração de
escultores. “Cosme Peixoto não poderia
deixar de denunciar e, em artigo no Jornal do Brasil, escrevia certa vez, no
Senado, falava-se em abrir um concurso para determinada estátua, quando se
levantou um pai da pátria e disse que era inútil a concorrência em pais onde
havia um Bernadelli. Diante de tal quadro é compreensível a timidez e o
ostracismo dos escultores da época, pois não havia incentivo e o espaço para
eles era limitado. Rodolfo Bernardelli permaneceria à frente da Escola de Belas
Artes até 1915, quando um movimento de professores e alunos o afastaria da
direção”. Godoy Weiz, 1992, p.253.
[4] - Bittencourt, 1967: 51-54
[5] - DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. «A Escultura no Rio Grande do Sul» in Rio Grande do Sul: aspectos da Cultura.
Porto Alegre:
Martins Livreiro, 1994 pp.41-60.
---------------------------Rio Grande do
Sul (1920-1940): estatuária, catolicismo e gauchismo. Porto Alegre :
PUC.F.FCH, Tese.1999, 377 f
[6] - BELLOMO, Harry Rodrigues.
«A produção da estatuária funerária em Porto Alegre» in Rio Grande do Sul. aspectos da Cultura. Porto
Alegre: Martins Livreiro, 1994, pp. 63-91.
Aldo LOCATELLI Mural do ano de 1958 - FERNANDO CORONA com a obra José di Francesco
Fig. 05 – Fernando Corona colocado como eixo e central no mural do 8º andar do
prédio do Instituto de Artes da UFRGS. Esta centralidade expressa a figura singular deste catedrático
de Escultura, Modelagem e maquetes de Arquitetura. Mural pintado por Aldo LOCATELLI (1915-1962)
para os eventos do Cinquentenário da fundação deste Instituto (1958) é um
índice do prestígio, da liderança e da atenção dos seus discípulos que o cercam
e seguem na sua “CAMINHADA nas ARTES”
No plano
mundial, a década de 1930 foi generosa com a obra escultórica. Desde as
pesquisas plásticas das artes visuais tridimensionais puras, pelas quais se
deixou seduzir um Picasso, até sua integração na Arquitetura e Urbanismo. Como arte pública por excelência, a escultura
fascista e nazista de Arno Brecker, fizeram escola na política totalitária em
todo o mundo. Nessa época a severa e mecânica ‘Art Decô’ preparou uma bela e
despojada moldura para uma escultura de pleno relevo. No Brasil, a obra de
Victor Brecheret, o prestígio de um Paul Landowsky[1], ou
de um Bruno Giorgio, abriram um espaço na política cultural para a presença da
Escultura.
Para a
presente pesquisa foi extremamente elucidativo o estudo das condições nas quais
a Escultura conquistou a sua autonomia no IBA-RS. Esse espaço de prestígio para
essa disciplina, abriu-se também no CAP do IBA-RS, e é visível na ação
intempestiva de Tasso Corrêa ao contratar, sem concurso, o escultor prático
Fernando Corona. O estudo fornece, ao mesmo tempo, um dos vínculos
e potencialidades presentes na interação da instituição e da germinação do
sistema de artes em Porto Alegre. Constitui-se num índice significativo da
diferença entre a EA e do CAP. A Escultura, ao se constituir como disciplina
autônoma no IBA-RS, permitiu uma série de condições para afirmar a sua
autonomia no âmbito local. Nessas condições ela ampliou e consolidou a
competência especifica interferindo positivamente para a existência do CAP-IBA-RS.
O Instituto ganhou mais visibilidade, através da Escultura, praticada pelos
seus alunos, criando competências, legitimidade e permanências novas.
Tasso
Corrêa valeu-se das disciplinas da Escultura, da História da Arte, da Pintura,
da Arquitetura do Urbanismo,
implementados no CAP, para começar a aprofundar as relações
institucionais do IBA-RS com a ENBA[2].
Através dessas relações o IBA-RS vinculou-se ao espaço nacional.
A disciplina de Escultura foi entregue a
Fernando Corona e cuja obra didática merecerá atenção agora. Como Rodin, também
Corona era escultor autodidata. Conhecido por sua vasta obra em Porto Alegre,
tanto em Arquitetura[3],
Escultura e Modelagem. Foi o docente efetivo dessa disciplina entre 1938[4]
e 1965. Sua formação foi ainda no sistema da ‘oficina de escultura’ e da
guilda, observando a obra de cantaria, de escultura, e de arquitetura prática
de Jesus Maria Corona seu pai, a quem ele veio buscar em Porto Alegre em 1912.
Mas foi ele quem acabou ficando, engajando-se no projeto da catedral gótica
para Porto Alegre pelo qual o pai
conquistara o 1o lugar em concurso internacional. Fundou a
sua própria oficina-empresa de escultura e modelagem, logo que os meios lhe
permitiram. Além disso, trabalhava como desenhista de arquitetura em firmas de
construção[5].
Profundamente vinculado à vida cultural emergente na cidade, humanizando os
prédios com esculturas e relevos[6].
A imprensa recebeu colaborações dele, nas quais expôs as suas concepções
estéticas, convivendo com personagens da literatura, da música, do teatro e
imprensa.
Todo
esse currículo do ‘self made man’
fascinou Tasso Corrêa, que o contratou ‘ad
referendum’, para ser catedrático de
Escultura e Modelagem do CAP. Depois de conseguir arrancar, essa aprovação, em
duas tumultuadas sessões do CTA, Fernando Corona recebeu carta branca de Tasso[7]
para a criação, implementação e implantação efetiva da cadeira.
Nos
abundantes registros escritos deixados por Fernando Corona possibilidade do
aprofundar o estudo da disciplina de Escultura no IBA-RS. Neles é possível
acompanhar a emergência e as novas normas possíveis através das disciplinas que
se instalavam no campo artístico sulino. Corona justificava a sua atividade
didática quando escreveu (1977: 188) que “éramos
em 1938 apenas seis professores a reger nove disciplinas nos moldes da Escola
Nacional de Belas Artes fundada por Dom João VI”. Essa frase mostrava, o
mesmo tempo, a sua busca de um vínculo com a primeira instituição de ensino
formal das artes plásticas do Brasil. A obra didática de Fernando Corona
constitui a expressão de um dos momentos da retomada do projeto civilizatório
brasileiro no âmbito da cultura sul-rio-grandense. Expressão que privilegiava a
área das artes plásticas e implementada no Instituto de Belas Artes-RS.
Nos seu diário (fl. 03), ainda não publicado, ele
escreveu:.
“No
balanço que fiz durante o trabalho de quase sessenta anos (em 4 de março de
1971, farão 59 anos da minha chegada a Porto Alegre.) verifiquei que não fiz esculturas e não estou
em condições físicas de fazê-las. Fiz escultures, e isso muito me honra. Tanto
é assim, que tratei de achar em cada aluno de escultura um ser diferente de cada colega ao lado. Fiz testes com
resultados positivos. As esculturas de um eram diferentes e modernas das esculturas
do outro ao lado. Nos testes descobria o
temperamento de cada um para podê-lo guiar. Era esta a única maneira de fugir
do academismo e fazer que cada aluno, por si, achasse o caminho da
personalidade. Senti momentos emocionais ao ver nascer um escultor com talento,
já com a personalidade marcante a caminho de si mesmo. Para que citar nomes.
Eles andam por aí vencedores em concursos com prêmios cobiçados. Horror ao
talento.”
Não se
defende aqui o pensamento e a lógica didática de Fernando Corona. O que se
pretende é fixar, na presente narrativa, é um momento de sua pedagogia. Pedagogia que
pertence tanto à sua personalidade do docente, à sua formação como ao meio
cultural. Nesse meio cultura ficam nítidas as tarefas planejadas características
da Era Industrial sob a influência taylorista. Lógica e procedimentos da Era
industrial perceptíveis na obra didática de Corona, tanto para os grandes
grupos (Modelagem), como para os criadores individuais (Escultura). No entanto
há de considerar competências e limites na lógica e procedimentos da Era
industrial na leitura da obra e no pensamento de Fernando Corona. Não se trata
de um condicionamento e uma heteronomia para lógica e procedimentos da Era
industrial. Há necessidade de buscar, identificar e ressaltar as posições pessoais do docente como
expressões de autonomia de um artista que tentava, nesse novo contexto,
cultivar o hábito de assumir o dever da integridade intelectual, através desses
novos meios ao seu dispor.
[1] - Diretor da Escola de Belas Artes de Paris,
amigo de Arno Becker. Modelou o rosto do Cristo Corcovado (Monteiro 2000, p.
166) para o Rio de Janeiro e em Porto
Alegre é autor das duas estátuas simbólicas colocadas na fachada do palácio
governamental Piratini.
[2] - Tasso Corrêa envia duas
correspondências a Lucílio de Albuquerque, diretor da ENBA, uma em 16.05.1938,
na qual comunica a abertura de concurso para novos docentes do CAP-IBA-RS. A
outra é de 21.05.1938 na qual solicita a programação seguida nas artes
plásticas na ENBA. (Livro nº 1 de
protocolo f.23 em 28.04.1938)
[3] - Canez, 1998
[4] - Assina contrato coma UPA no
dia 12 de maio de 1938. “Afinal aceitei e no dia 12 de maio de 1938,
na reitoria do Dr. Aurélio de Lima Py, assinei contrato com vencimento de um
conto e duzentos mil reis, que era igual ao dos demais catedráticos. Ora, eu
ganhava um conto e oitocentos como arquiteto da firma Azevedo Moura &
Gertum”. (Registro no Àlbum nº II
de Fotos de Aulas de Escultura Arquivo IA-UFRGS):
[5] - “Corona era um arquiteto que participava do canteiro de obras e novas
técnicas lhe interessam” Canez,
1998, p. 42.
[6] - Obras de Fernando Corona: Pérgola da Casa Palmeiro-Fontoura (Praça da Matriz) e
pórtico do Banco Meridional
(Santander), Galeria Chaves..
[7] - Esse gesto destemido de
Tasso é retribuído, não só num trabalho didático inovador na instituição, mas
vai muito mais longe, num entusiasta colaborador e um braço direito incansável
na direção do Instituto. Essa colaboração recíproca chegou ao apogeu no momento
da construção do novo prédio e na implantação do curso de arquitetura. Não é em
vão que o busto de Tasso Corrêa, obra de Fernando Corona, esteja guarnecendo o
hall de entrada do prédio do Instituto, testemunhado essa colaboração recíproca
01-Leda FLORES;
02 Fernando CORONA; 03-Dorothe
PINTO SILVA; 04 –Teresa CORRÊA GOMES GRUBER;
05-Cristina Helfensteller BALBÃO 06-Alice Ardohain SOARES (autora desta
pintura)
Fig. 06 – A geração de escultoras - proveniente do
atelier do mestre Fernando Corona- fez
carreira e formou o seu nome individual no âmbito da cultura sul-rio-grandense d
Esta nova geração estava concretizando o
projeto da maturidade do mestre de “DEIXAR
de ser ESCULTOR para FORMAR ESCULTORES”.
4.7 - A Modelagem como cozinha do ensino
aprendizagem disciplina de Escultura.
A
primeira disciplina que Corona implementou foi a Modelagem[1].
Ela nunca havia figurado nalgum currículo de alguma escola superior de artes
plásticas no RS[2]
e muito menos como disciplina em si mesma e sem aplicação imediata. Ao examinar
os procedimentos didáticos, que o seu docente imprimiu ao tratamento da
Modelagem, é possível identificar uma verdadeira linha de produção industrial e
destinada a grandes grupos e com rígido cronograma em todo o seu
desenvolvimento[3].
Já o
tratamento dado à disciplina de Escultura ainda lembra a oficina da guilda, com
pequenos grupos e com a liberdade de cada integrante fazer o seu caminho no seu
próprio ritmo ao lado de um mestre consagrado[4].
[1] Corona assina o contrato:
12/5/1938 Recebe 1:200$000 como
catedrático As aulas começam em 08/08/1938
[2] Para os cursos técnicos profissionalizantes houve, em
Porto Alegre, aulas de modelagem aplicado à Decoração e Arquitetura no Instituto Técnico Parobé e orientadas por
Giuseppe GAUDENZI (1875-1966).
[3] - O pesquisador evoca a sua experiência como
aluno de Modelagem dessa disciplina, a qual esteve submetido em 1958 (Modelagem
I) e 1959 (Modelagem II) sob a orientação direta do catedrático Corona, já no apogeu da carreira. O estudante não
tinha acesso ao programa. Essa socialização do programa ao estudante parece não
era costume nessa época. Mas em todos os passos era semelhante ao que será
descrito. Essa estrutura e a lógica dos seus passos metodológicos ficaram
profundamente gravados na memória do pesquisador. Era planejada e administrada
progressiva e cumulativamente, dentro da racionalidade que permitia explorar
espaços rigorosamente delimitados. Era ministrada para um grupo de 30 jovens recém-admitidos
ao curso superior e com formação heterogênea. Talvez a lição mais significativa
das aulas de Modelagem foi a necessidade de ‘recortar um espaço limitado
para expressar o ilimitado’.
[4] - Na verdade
Fernando Corona já havia repassado o seu conhecimento e prática para uma
sequência de aprendizes que iniciaram a sua formação e trabalharam das
firmas profissionais de Escultura nas
quais atuou em Porto Alegre. Continuou este processo de transferência de
saberes e fazeres em particular na sua
própria firma Corona & Ghiringheli.
No seu diário ele nomeia uma série destes aprendizes e as suas respectivas
carreiras nesta área.
Em
relação ao escultor Ernesto DELVAUX. Fernando CORONA escreveu no seu DIÁRIO (1928
fl. 262) “Gostei
sempre de trabalhar com aprendizes e fiz diversos. Entre os melhores se conta
Ernesto Delveax, que ia comigo nas obras executar em cimento os ornatos que fossem necessários. Mais tarde Delveax foi para Passo Fundo e me consta que se
transformou em construtor. Nunca mais o vi. Muito me auxiliou nos trabalhos”.
PROVA de MODELAGEM no VESTIBULAR do CURSO de ARTES PLÀSTICAS c 1945 Foto
ACHUTTI
Fig. 07 – Com o crescente afluxo de candidatos ao
campo das artes impunha-se um exame de seleção daqueles mais preparados técnica
e conceitualmente. Uma das áreas na
quais o candidato tinha de mostrar esta competência era a de Modelagem Na imagem um exame dessa
competência realizada por volta do ano de 1945. Com o reconhecimento do CURSO
SUPERIOR de ARTES PLÁSTICAS no IBA-RS nas esferas federais o paradigma a seguir
era o universitário do Decreto Lei nº 19.851 de 11 de abril de 1931. Este
paradigma exige o vestibular para ingresso num Curso Superior. Assim também se
dobrava aos mandamentos de um sistema industrial com entrada (vestibular),
desenvolvimento ( tábua curricular obrigatória) e sida (formatura). Fernando
Corona foi agente ativo deste sistema escolar comandado pela ERA INDUSTRIAL
A
disciplina de Modelagem[1]
foi colocada como introdutória e obrigatória para todos os alunos dos cursos
técnicos e superiores de Artes Plásticas como de Arquitetura. Ela estava
intimamente ligada ao Desenho[2]
e determinada pelo regulamento aprovado em 24.03.1939[3]. No
mesmo artigo ela é classificada entre as disciplinas práticas do Desenho de
Estátua e do Desenho de Modelo Vivo. Era desenvolvida em aulas com tempo
limitado. O professor expunha numa preleção o tema e os objetivos a serem
alcançados pelos estudantes dentro do mês letivo. O material compunha-se de uma
prancheta de madeira grossa, sobre o qual era trabalhado o barro em placas. O
estudante trabalhava de pé, enquanto o docente acompanhava a sua obra, dentro
do rígido programa e projeto fornecido na preleção do início do mês. A cópia
pantográfica no Curso Superior havia ficado para trás, pois era eliminatória no
vestibular[4].
No final do mês era feita uma palestra diante das obras dos estudantes. O
docente retomava os objetivos que ele pretendia dos trabalhos dos estudantes.
Dentro dessa proposta eram avaliados os resultados atingidos na obra, tanto no
seu conjunto, como individualmente. As obras individuais, depois de estudadas
num confronto como o objetivo inicial do mês, eram hierarquizadas e
atribuídas notas de 0 até 10. A nota era
anunciada publicamente e justificada discursivamente.
[1] - Programas de Modelagem. ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[2] - Programa do Curso de Artes Plástico Pasta
A-Z (discriminados a seguir) ARQUIVO
do Instituto de Artes da UFRGS
B) – segunda parte: cópia e composição de motivo natural
O ensino deverá ser feito, quando possível, paralelamente ao da cadeira
de Desenho
“.
[4] - O vestibular da época
(1939-1965) do Curso de Artes Plásticas, compunha-se de uma prova de desenho figurado,
desenho geométrico básico e uma prova de modelagem em argila. Essa última era
uma copia de um motivo clássico de algum relevo. Essa copia rigorosa avaliava a
capacidade técnica do aluno para reproduzir em volume, forma e proporção um
baixo-relevo de um motivo clássico apresentado em gesso. O regimento de
24.03.1939, no seu artigo 101, letra f) exige para o ingresso no curso
superior: “certificado de aprovação em
exame prévio, no Instituto, de Desenho Geométrico, Desenho Figurado e Modelagem”.
Álbuns de fotos de estudantes
de Fernando Corona EVAME de Christina BALBÂO
e Helga VOLKMER– 1940 na cozinha da casa alugada BANCA Professores Maeistany
TRIAS- João FAHRION e Fernando CORONA Arquivo
IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fig. 08 – As aulas de ESCULTURA eram restritas a poucos candidatos. Como em todo
projeto, a MODELAGEM era a etapa
anterior de implementação à implantação do processo de ENSINO APRENDIZAGEM da
ESCULTURA Nesta etapa preliminar da Modelagem o candidato tinha de mostrar sua
competência e vontade de prossegui na área da ESCULTURA.
A Escultura era específica do curso superior e uma das ênfases da
graduação. O regulamento a classificava como ‘especial’. Destinada a
poucas pessoas que eram selecionadas individualmente, pelo professor, durante
os dois anos das aulas coletivas da modelagem. A opção, por ela, inviabilizava
a graduação pelas aulas de pintura e de gravura. O seu objetivo era formar o
profissional especializado em Escultura e
colocada ao nível da opção pela arte. Poucos dos seus estudantes
deixaram de exercer criativamente essa opção depois da graduação. Ela exigia a
dedicação exclusiva, com uma carga horária extensa e que, muitas vezes, invadia
o fim de semana[1].
Essa dedicação exclusiva estava confiada ao ritmo do estudante. O respeito do
professor pelas suas opções estéticas era irrestrito[2].
Ele passava as ser conselheiro[3]
e confidente do estudante.
[1] - Almoço no atelier Fernando Corona (Fig.10).
Arquivo IA-UFRGS
[2] - O escultor Luiz Gonzaga,
comentava, num depoimento informal, as
rigorosas exigências do seu professor de escultura. Porém ressaltava que
Fernando Corona, na sua relação professor e estudante, nunca tocou nas suas
opções estéticas e os temas que ele escolhia,.
[3] -
Alunos diante de obra de Leda Flores.
(fig.09) Arquivo IA-UFRGS
Álbuns de fotos de estudantes de Fernando Corona – Arquivo IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Estudantes de Escultura e obra de Leda Flores - Foto
Joaquim Fonseca para Revista do Globo Ano XXVI nº 695 de 27.07. 1957, p. 61
01-Maria de Lourdes
DUARTE ALCALDE 02 – Cláudio
CARRICONDE 03 – Leda FLORES - 04 Rosmarie BAGNIGG 05 Fernando CORONA.
06 –Lucienne SIBOURG CESAR 07 – Dione Marie CRECCA
08 - Geci Helena FEELI
Fig. 09 – Na medida que em melhoravam as condições de
o espaço físico, das respostas positvasas às sua aulas aumentava o número de
estudantes. Permanecia a mesma busca do ctivo do HÀBITO da INTEGRIDADE
INTELECTUAL, ESTÈTICA imagem acima é de
uma reportagem estampada na prestigiosa Revista da Globo e realizada por
Joaquim Fonseca. No ângulo superior esquerda desta foto (a) a obra “Ciranda” de José de Francesco[1].
Os métodos no ensino da Modelagem e da Escultura, adotados pelo
professor Corona, esgotaram-se no seu próprio período. Os seus alunos, que o
sucederam na sua cadeira, a partir de 1965, foram estimulados a adotar, para o trabalho tridimensional,
outros procedimentos didáticos[2].
Essa autonomia dos discípulos de Corona,
foi sugerida (1977, p.108) por ele
mesmo, pois “a nossa Escola de Arte não
limita o aluno a seguir o academicismo em que a forma é estereotipada,
convencionada, pois se trata de ensino individual, o aprendiz expõe ao mestre sua
mensagem e este passa a ser seu conselheiro, indicando-lhe o caminho a seguir”.
[1] - “Ciranda” obra de José de Francesco MARGS http://www.margs.rs.gov.br/catalogo-de-obras/J/16863/
[2] - Programa de Cerâmica –Terra Cota Prfª Maria
Anita Linck ARQUIVO do Instituto de Artes
da UFRGS
Álbuns de fotos de estudantes
de Fernando Corona – Arquivo IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
. 01-Regina GAGEIRO 02 –Vera
Sônia HAUT 03 Luís Carlos PINTO MACIEL 04- Bela ATTDORF 5 – Terezinha de Jesus TONETTI da FONSECA 06 -Fernando CORONA 07-Carlos TENIUS [assinalados e identificados por Fernando CORONA]
Fig. 10 – A interação entre o mestre Fernando Corona
com aqueles que se dispunham a experimentar e
trilhar as sendas da Escultura era verdadeira e autêntica. Estas
sendas destes estudantes de Escultura deste mestre ainda estão para serem
estudadas, registradas e divulgadas. .Mas é possível afirma empiricamente que
esta produção foi grande, diversificada e sem se prenderem a fórmulas ou
estereótipos estéticos de prosélitos subalternos e na heteronomia perpétua do
seu mestre.
Colocando-se também como eterno aprendiz, Corona sofreu, ao longo do
exercício do magistério, profundas mudanças nas suas concepções estéticas sobre
a arte da Escultura, e não escondia as suas próprias descobertas nas infinitas
buscas plásticas. As repartia
generosamente nas aulas e como cronista de arte. Após passar pelas influências
classicizantes da década de 1930 e do regime forte do Estado Novo, ele
tornou-se um guia das Bienais de São Paulo, apontando as fortes mudanças
plásticas que e Escultura sofria depois da IIª Guerra Mundial. Acompanhou a vida da arte até a década de 60,
mantendo-se aberto à introdução de novas tecnologias e concepções possíveis
para obras tridimensionais. Mas, nunca as afastando das concepções construtivas
dominadas efetivamente por aqueles que as criavam. A sua ação não se limitou á
estética, suas participações em mudanças políticas o transformam num verdadeiro
‘guru’ na comunidade universitária[1].
Ainda em 1997 a sua ex-aluna e pintora Alice Brueggmann (1917-2001) o denomina
‘a Corona aquele amigão’[2].
[1] - Depoimento informal de
Hélgio Trindade, reitor da UFRGS (1992/96), que na época de estudante presidia
movimentos estudantis em cujo meio encontrava frequentemente envolvido o
veterano mestre.
[2] - BRUEGMANN, Alice. Catálogo da exposição
UNICULTURA-UFRGS.CEF Porto Alegre, 26.06
- 25. 07.1997
Fig. 11 – A modelagem do busto de
Pestalozzi[1]
nasceu de um exercício escolar de Escultura em 1946 das aulas de Fernando
Corona[2].
Destinava-se para o pórtico de uma escola de necessitados especiais da cidade
de Canoas. Na imagem acima Armando
WÜRTH, filho de Tiago WÜRTH, posa diante da obra de Corona e de um medalhão da
autoria de Arjonas
No
espaço inaugural da sua disciplina, ele não descurava a segurança para que essa
disciplina erudita, de exigências de toda ordem, tivesse condições para se
reproduzir. Estava ciente que não havia espaço para grandes veleidades
conceituais num ambiente de carências básicas da população, de um conhecimento
de técnicas artísticas adequadas ao novo tempo industrial, de espaço e
materiais adequados. Diante dessa carência a sua ação didática deveria se
reduzir até onde fosse possível, sem comprometer a sua expansão futura. Para
isso era necessária uma atividade de tempo integral. Para que a instituição
pudesse deflagrar um verdadeiro processo civilizatório era essencial à proposta
defendida com clareza e redundância. Corona escreveu (1977: 109) que.
A nossa escola de arte formará artistas, com
aprendizagem básica do artesanato, condição essencial para adquirirem
consciência sólida que possa colocar em alto grau de conhecimento, reversíveis
no processo cultural para o enriquecimento do nosso patrimônio artístico.
Nessa
frase se evidencia a sintonia de Corona com o projeto civilizatório a ser
implementado pelo Instituto. A própria disciplina escolar era prevista para
exercer, muitas vezes, o papel formador da cultura local.
A
disciplina de Escultura, inaugurada pelo mestre Corona, não entrava num vácuo,
produzindo uma simples excrescência curricular. O seu fundamento geral era o
Desenho como capacidade de designar
mentalmente a obra antes dela existir no mundo físico. Caminhava paralelamente
com o repertório de seu público e procurava a competência para lidar com espaço
da arquitetura e do urbanismo. A Escultura, capaz de dialogar e formar pontes,
eram um campo aberto pelo IBA-RS na erudição local. Assim, através dessa
disciplina, o Instituto contribuiu decisivamente para consolidar, ao nível
erudito e institucional no sul do Brasil, uma das mais amplas e consistentes
expressões e saberes gerados ao longo do tempo pela arte como processo
civilizatório. Esse fato é visível tanto na obra plástica dos seus discípulos
como nos ambientes educativos que esses discípulos geraram na cultura
sul-rio-grandense[3]
Na
disciplina de Modelagem do curso superior o professor Fernando Corona era de
uma pontualidade exemplar no registro escrito com a finalidade de dar corpo a
essa visibilidade do planejamento pedagógico[4]. Mas
existem poucos registros dos resultados na sala de aula. Na disciplina de
Escultura ocorreu o contrário: existem poucos registros de planejamento, mas
abundantes índices e imagens dos resultados[5]
obtidos na sala de aula. Separando as duas disciplinas, como a noite do dia,
Corona soube tratá-las e distingui-las nos seus objetivos, planejamento,
entrega do ensino, produção e avaliação dos resultados. O objetivo da Modelagem
era ser introdutório para aguçar os sentidos da visão e do tato, dentro de
normas e exigências da criação a partir do plano em direção ao volume. O
planejamento, desse processo para aguçar a visão e o tato, era minucioso e
rigorosamente consequente na sua aplicação para grupos de 30 alunos durante o
período de dois anos[6].
Esses dois anos eram divididos em Modelagem I e II. O ano escolar era divido em
dois semestres (períodos) e cada semestre (período) em três meses e em cada um
deles havia um exercício completo. Esse minucioso controle no processo
ensino-aprendizagem pode ser interpretado como a pouca margem concedida para
autonomia do estudante de Modelagem, enquanto na Escultura essa competência era
delegada quase totalmente à autonomia do
estudante.
Na
disciplina de Modelagem do Curso Superior cada um dos exercícios tinha uma
parte coletiva, de responsabilidade do professor, e uma parte individual do
estudante. A parte coletiva era desdobrada em:
“História:
a modelagem como elemento decorativo através dos tempos”.
Teoria:
a modelagem como expressão decorativa e sua estilização
Técnica: materiais aplicados em
todos os tempos. Ferramentas, acabamentos,
superfícies, materiais moles e duros.”. [7]
O
primeiro semestre, do programa de Modelagem I, era dividido em três exercícios
completos. O 1º exercício estudava ‘composição
geométrica com volumes valorizando cheios e vazios’. O 2º exercício tinha
como tema ‘flora na composição decorativa’.
O 3º era ‘baixo relevo’ de um até
cinco cm de altura.
O
primeiro exercício completo, englobava duas partes. Uma parte, era coletiva
(começo: teoria; final: crítica) a cargo do docente e, a outra, ao encargo do
estudante, colocada com tarefa prática
para dar corpo à teoria e visando a avaliação final e crítica, dentro da
proposta inicial.
“COLETIVO –
Aula teórica: ‘princípios de composição de estilos do passado’ (explicados e
desenhos no quadro negro). Regras abstratas de composição. ‘Tema nº 1:
composição de planos em relevo sobre superfície determinada’.
INDIVIDUAL –
Trabalho prático: O aluno deverá imaginar
sobre a superfície determinada, desenhar e modelar planos geométricos fechados
em harmonia com vazios, adicionando barro.
COLETIVO
Crítica: ’Na
entrega do trabalho pelo aluno, em exposição coletiva o professor fará crítica
e comentário. Classificação com notas’.
Na
didática de Fernando Corona a teoria possuía um papel primordial. Com ela
nomeava (idein) e dirigia pela palavra o olhar (eidos) antes
que obra de arte viesse ao mundo pela a
ação (poiesis). Através da teoria costurava o trabalho prático, a
história, as técnicas e os materiais disponíveis, para chegar a possibilidade
de estabelecer uma crítica e uma avaliação comandada pela razão e ciência[8].
Corona estava consciente da teleologia imanente e que não podia ser resumida
numa obra, frase ou num projeto. Escreveu
(1977: 118) que “existe uma verdade oculta em nosso ego que
modifica os objetos de acordo com as ideias que temos sobre as coisas. Como a ideias
são tantas, o resultado é infinito”. Assim procedia a rigorosos recortes
conceituais[9].
O
docente recortava na teoria, e destinava as funções didáticas do primeiro
semestre (1º período) de Modelagem I:
“PONTOS TEÓRICOS explicados pelo professor e anotados pelos alunos no Iº
período:
1.
– Teoria sobre formas livres. Volumes. Planos. Equilíbrio de composição
na plástica contemporânea. Formas geométricas assimétricas e harmônicas.
2.
– Teoria sobre a escultura decorativa aplicada na Arquitetura em todas
as idades. A importância da flora e da figura humana.
3.
– Teoria e técnica do trabalho decorativo em materiais duros (pedra,
madeira, etc..) materiais moles (barro, terra-cota, gesso, cimento...).
No segundo semestre de
Modelagem I (IIº período) era abordados.
4 – História e teoria das máscaras, através
das idades. Expressões e significado na África, Ásia e América pré-colombiana.
Fetiches e máscaras decorativas nos estilos arquitetônicos europeus. O teatro
5
– A escultura e seu significado plástico na arquitetura. Egito, Grécia,
Roma, Renascença. Gótico, Barroco e nossos dias. As mãos e os pés com relação à
cabeça.
6
– os frisos decorativos (baixos relevos) no Egito, Grécia e Roma.
Expressão das folhas e figuras no gótico. Frisos barrocos com acanto com
figuras entrelaçadas. Ensaio contemporâneo.
Nesse
processo didático, unívoco e linear, o elemento fundamental era o tempo
concedido pelo docente, aos estudantes para romperem com os seus códigos
pessoais, abrindo oportunidade e espaço para a assimilação de novas concepções
nitidamente propostas.
A
Modelagem II era oferecida no 2º ano do curso. Seguia o mesmo procedimento
didático da Modelagem I. As atividades dos trabalhos práticos eram orientadas
por seis temáticas distintas. O 1º tema era: ‘duas figuras’, o 2º: ‘plaqueta
em terra cota com motivos figurativos ou abstratos’; o 3º: ‘modelagem de cabeça em tamanho natural’;
4º: ‘friso sobre barro’, de 50cmX20
cm; o 5º era: ‘maquete para um mural’;
o último era: ‘formas livres no espaço’
como um degrau para a tridimensionalidade da escultura.
A parte
teórica, que orientava esses trabalhos, era discriminada da seguinte forma:
1 – Teoria e análise das proporções do corpo humano nas diversas épocas.
Egito, Grécia, Roma. Idade Média, Renascença era Contemporânea.
2 – A cerâmica, teoria e técnica dos processos de execução.
Possibilidades e valores artísticos da cerâmica na decoração de edifícios. Os
grafites. A pedra gravada.
3 – Teoria e técnica nos grandes frisos e painéis murais antigos e
modernos. Composição com perspectiva de fundo e valorização dos primeiros
planos com perspectiva vertical.
4 – Teoria dos baixos relevos e sua força simbólica na composição dos
frisos. Frisos egípcios, gregos, romanos. Técnica de execução nos vários
materiais.
5 – Teoria contemporânea na composição abstrata. Organização e conquista
do espaço. Trabalhos de criação.
6 – Estatuária monumental e escultura decorativa. A figura naturalista.
A cópia de modelo e a forma criada pelo artista. Escultura abstrata.
No
processo de ensino-aprendizagem, implementado por Fernando Corona na disciplina
de Modelagem, subjazia o Discurso do Método cartesiano. O problema amplo e
imponderável da tridimensionalidade era decomposto em tantas partes quantas
fossem possíveis, ordenadas do mais fácil ao mais difícil, tentando não aceitar
aquilo que não fosse possível de submeter a razão. Nessa progressão Corona
iniciava com o desenho na superfície plana da argila estendida sobre a
prancheta. Progredia para o volume através do baixo relevo, atingindo o volume
pleno. No passo seguinte integrava-se na Escultura[10].
Situava-se depois na Arquitetura, como mural ou monumento público, ambos
inscritos no Urbanismo, como integrador do espaço público e social. Assim a
tarefa era submetida à razão plástica e ao tempo cronometrado pelo relógio.
Corona
dava-se conta de estar no interior de um processo educacional limitado, numa
sala de aula e que suas fronteiras eram as paredes do recinto em que se
encontrava. Assim anotava :
“O programa de ensino desta disciplina é eminentemente prático, e visa,
sobretudo desenvolver no aluno sua capacidade de observação e criação. O
professor fará preleção sobre a matéria no início dos trabalhos mensais, a
análise dos mesmos na data de entrega, dando nota de aproveitamento em cada
trabalho”[11].
A
teleologia imanente, que sustentava o docente, era de que esse estudante iria
além dessa sala de aula e o tempo no qual o docente vivia. Na prática, essa
crença tropeçava em hábitus culturais
imaturos. Esses tropeços causavam frustrações proporcionais ao tamanho da
crença depositada no estudante. Nos
escritos de Corona são frequentes os relatos doloridos de suas frustrações e a
necessidade de manter a sua crença em nível elevado e coerente com suas
convicções. Corona registrou (1977: 219)
diante de uma severa avaliação que teve de realizar diante das obras de uma
estudante:
Como é cruel não se deixar contaminar com a hipocrisia. Ao me despedir
da artista, altas horas da noite, notei em seus olhos lágrimas de dor como se
minha crueldade a ferisse na alma. O velho artista, limpo de consciência e
severo até a medula, não podia negar-se. Sua longa experiência estava à prova
ante a interrogação. Era o jogo da honestidade com a seriedade. Era o exemplo
de uma longa vida a ser provada nas respostas duras que poderiam ferir. Era, no
entanto, uma forma construtiva de explicar o sentimento para um futuro melhor.
Diante
desse esforço ético de Corona é impossível passar ao largo da única lição, que
segundo Max WEBER (1989: 70), uma universidade pode oferecer aos seus
estudantes.
“O único elemento, entre todos os “autênticos”
pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente,
oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é
o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta
necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos”.
Em
outras ocasiões não demonstrava o menor constrangimento em tentar, de uma forma
quixotesca, ‘salvar’ quem fazia escolhas contrárias às suas crenças[12].
Esse hábito de Fernando Corona assumir as suas crenças começava pelo
reconhecimento de sua formação institucional limitada e primária. Contudo o seu
currículo, em permanente construção, não era comandado apenas pelo passado. A
vida da sua renovação e atualização era alimentada no atelier, como cronista e
das frequentes viagens de estudo. Da mesma forma Fernando Corona possuía grande
autonomia em relação a outros docentes e instituições nas quais constava a
disciplina de Modelagem. Assim é de supor que Corona conhecesse o programa
desenvolvido na ENBA pela Profª Celita Vaccani, pois o livro[13]
dessa docente, está na biblioteca do IBA-RS e com uma dedicatória ao Instituto[14].
Mas no programa de Corona não existe traço da metodologia sugerida pela docente
da ENBA.
[1] A relação de Fernando Corona com a obra de Pestalozi não
era fortuita. Ele escreveu no su Dirio, para o ano de 1931, que “minha irmã caçula, Marina, fez o curso superior na Universidade
instalada no antigo “Palacio Real de la Magdalena”, fazendo, inclusive a
especialização Pestalozzi”.
[2] Corona comenta no seu Diário
para o ano de 1946 “ Logo
após começarem as aulas deste ano letivo, meu amigo Prof. Thiago M. Würth,
Diretor do Instituto Pestalozzi de Canoas veio falar comigo na Escola para ver
se podia fazer o busto que ele precisava, do criador do sistema educacional .
Ora, tentar esculpir o busto de João Henrique Pestalozzi era para mim um prazer
especial. Tentei fazê-lo em aula e também como prova para o alunos adiantados.
As fotos existentes de Pestalozzi são variáveis, mas em todas o grande pedagogo
é feio como um demônio, embora o sorriso prove sua alma de pureza imaculada. O
Prof. Thiago Würth tinha-me fornecido varias fotos. Explicando ao meus alunos
como era difícil fazer em escultura um retrato, pedi a Cristina Balbão para
inicia-lo. Meu interesse era o de transmitir. A Cristina fracassou. Pedi a
Dorotheia para modelar o busto. Também lutava com dificuldade para conseguir
expressão. Não sei como foi, pois o tempo corria e o trabalho se arrastava. De
repente, eu vi o que poderia ser a expressão de Pestalozzi. Nas três tentativas
anteriores, na minha, na da Cristina e na da Dorothéia, eu vi Pestalozzi no
trabalho da última. Pedí que parasse e eu intervim para terminar o busto.
Passado ao gesso chamei o Prof. Würth que o levou para ser fundido em bronze Fiz
a entrega os bustos ao Prof. Thiago Würth com poucas palavras constando com foi
esculpido. Houve mais música com o Prof. Demofilo Xavier ao piano e Zora Labin,
Perla Walther e Norberto Zuckermann, não antes de, em público, o Prof. Thiago
Würth, entregar-me a Medalha Pestalozzi, enquadrada em lindo cartão de prata.
[3] - Uma pesquisa que ainda não
foi realizada e que poderia partir dos dois álbuns {149bAlb} e {149cAlb}
que Fernando Corona deixou sobre as suas aulas de escultura e seguir os passos
posteriores dos seus estudantes. Houve uma pesquisa a partir de Escultura
Publica em Porto Alegre conduzida por Francisco Alves, mestrando do Curso de
Pós-Graduação do DAV-IA, onde foi registrada uma grande quantidade de obras
executadas por discípulos de Fernando Corona.
[4] - Programas de Modelagem. ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[5] - Álbum nº1 Fotos de esculturas de aulas do
Prof Corona 1938-57. ARQUIVO
do Instituto de Artes da UFRGS
Álbum nº2 Fotos de esculturas de aulas do Prof. Corona 1957-1965
[6] - Foram localizados no
Arquivo do IA-UFRGS, os programas de Modelagem relativos aso anos de 1943, 44 e 1950
(um para o Curso de Artes Plásticas e outro para Curso de Arquitetura), 1955,
57 (manuscrito original) e 1962 (manuscrito original). ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[7] - Programa de Modelagem de 1944 ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[8] - Nessa maneira de Corona
agir, seguia o que Leonardo da Vinci aconselhava “studia prima la scientia, e
poi seguita la praticha nata da essa scientia”
pois “quelli che s’inamorano di
pratica senza scientia sono come li nocchieri che entran in naviglio seenza
timone o bussola” (in Pevsner, 1982, p.38)
[9] - Esses recortes conceituais
de Corona eram interpretados como meras racionalizações e reducionismos
gratuitos pelos seus interlocutores carentes, muitas vezes, de condições
culturais e por não terem acesso ao todo conceitual do qual Corona recortava
esse fragmento. Esse estudante chegava a sala de aula, em geral, com o máximo
de boa vontade, mas com um repertório cultural mínimo, impossibilitando ao
estudante contrapor qualquer contrato com o docente. Isso jogava este estudante
para a heteronomia, em especial quando não tinha cultivado um repertório
cultural e um discurso pessoal a ser contraposto e nem tinha onde buscar uma
alternativa, que o meio cultural lhe pudesse oferecer.
[10] - Atelier Corona; Esculturas em série e Sala de Escultura em
dia exame 1954. . Arquivo IA-UFRGS
[11] - Programa de Modelagem 1950, manuscrito de
Fernando Corona. Arquivo IA-UFRGS
[12] - O seu aluno de escultura,
Luiz Gonzaga, conta que o mestre fez uma viagem a Cruz Alta para convencer os
pais de uma das suas alunas a não se casar, pois ele julgava que desta forma a
escultura, no Rio Grande do Sul, perderia uma das suas vocações.
[13] - VACCANNI, Celita. Escultura contemporânea norte-americana:
pesquisa didática sobre métodos de ensino. Rio de Janeiro: ENBA, 1955, 151 p.
Essa obra analisa as diversas escolas superiores de arte dos Estados
Unidos nas quais consta a disciplina de Escultura e Modelagem. A autora visitou
essas instituições e realizou entrevistas com os seus diversos docentes. O
mérito que pode ser atribuída a essa obra é inverter a relação como os
brasilianistas americanos. Esses têm como objeto o Brasil, Vaccanni tem por
objeto a cultura americana na área de
sua competência. Contudo o pesquisador não encontrou nenhuma referência a essa
obra no programa de Corona ou alguma semelhança no seu método com os métodos
que ela descreve.
[14] - Na pasta do Currículo de
Tasso Bolívar Corrêa { ARQUIVO do
Instituto de Artes da UFRGS}
existe uma correspondência de Celita Vacanni do dia 01 de setembro de
1954, endereçada nominalmente a Tasso
Corrêa. No dia 09.09.1954 Tasso solicita a Corona responder a correspondência. Celita Vaccani se apresenta nessa
correspondência como livre docente da ENBA e presidente reeleita da Sociedade
Brasileira de Belas Artes Sociedade da qual Tasso era sócio honorário a partir
de 31.07.1940.
Álbuns de fotos de estudantes
de Fernando Corona – Arquivo IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fig. 12 – Imagem do resultado final das aulas de
MODELAGEM de Fernando Corona para os estudantes de Arquitetura do IBA-RS. As
diversas pranchetas de Modelagem somam-se
para criar um bairro. Dez anos antes da construção de Brasília o espaço térreo está livre para a
circulação
A
disciplina de Modelagem figurava no currículo dos Estudantes de Arquitetura do
IBA-RS. Neste espaço institucional ela recebeu que Fernando registro no seu
Diário para o ano de 1946:
Eu já havia reformulado o
ensino da modelagem (meu material era só o barro sem nenhuma maquina para
madeira ou plástico). – Os alunos começaram fazendo maquetes em volume e escala
criando formas. Para mim era um ensaio falido que mais tarde reformularia
melhor. Comecei fazendo fotos dos trabalhos e organizando um Álbum com maquetes
dos alunos. Este ano para mim foi de muita ocupação dedicado exclusivamente à
juventude (havia só uma moça, na turma, Enilda Ribeiro, aliás inteligente e
muito interessada no estudo. Na modelagem eu dava escalas, curvas de nível para
topografia, orientação solar e de ventos. Proporções de áreas e superfícies.
Alturas etc. A experiência serviu e as noites das 20 às 22 às vezes iam até às
23 hs. Os alunos gostavam e o Professor Eugênio Steinhoff que havia sido
contratado pela Escola de Engenharia, achava que minhas aulas eram práticas de
mais para os alunos. Eu lhe explicava que a nossa juventude precisava entender
logo de formas concretas pois o abstrato era bom para Escolas europeias onde o
aluno ingressa com mais preparo. Aqui nem sabem desenhar. Eu ia com os alunos
para a rua e eles se libertavam logo do lápis para desenhar diretamente a pena,
e não usar borracha. Preferia eu um desenho torto e outro torturado. A
espontaneidade valia até apreender a ver[1].
Eu estava com a razão
Apesar deste
trabalho e concepções de Fernando Corona não foi incluída, em 1950, na junção
dos cursos do IBA-RS e Engenharia sendo suprimida na Faculdade de Arquitetura[2].
Mesmo no Curso de Artes Plásticas a Modelagem não sobreviveu no próprio como disciplina
após a aposentadoria de Corona, em 1965. Em seu lugar surgiu inicialmente a
disciplina de Cerâmica[3]
que gradativamente foi se transformando em mais uma ênfase na
tridimensionalidade. O material cerâmico era para Corona um veículo para um
trabalho conceitual e prático, no qual estava em jogo a linguagem plástica, a
partir do plano geométrico, passando para o tridimensional.
Por meio da obra didática de Corona é
possível acompanhar essa homeostase entre a sua busca da verdade numa vontade
livre e ilimitada nas suas obras, diante do
trabalho limitado no tempo e o espaço de uma instituição presa à determinada cultura. Corona escreve
(1977: 178) que “era preciso pensar na forma espacial que é infinita. Era a invenção de
novas formas estéticas incubadas na metafísica do mundo atual para expressar o
clima espiritual e social do momento”. Ele tentava demarcar o limite o mais
claro possível do ‘ponderável’ diante do poder ilimitado do ‘imponderável’[4]
da competência da arte. Demarcava
com a teoria, exemplificava através da História da Arte o que era possível
realizar nessa área. A experiência desse ‘imponderável” só era possível
através dos sentidos e do limite que o material e a técnica ofereciam.
4.8 - A ênfase na Escultura como iniciação a
uma carreira de artista plástico.
Fernando
Corona implantou a disciplina de Escultura no Curso de Artes Plásticas logo
após fazer funcionar a Modelagem. A
primeira sala de Escultura e da Modelagem foi o porão do casarão da Rua Senhor
dos Passos. O grupo era seleto e restrito, escolhido pessoalmente pelo docente.
As primeiras alunas foram Cristina Balbão[5] e
Vera Wiltgen[6].
Na Escultura, a ação e a atividade didática eram completamente distintas da
Modelagem. Enquanto a Modelagem era apenas uma entre as disciplinas
obrigatórias para todos os estudantes, a escolha da Escultura deveria
constituir uma carreira e uma ênfase do Curso de Artes Plásticas[7].
O rigor na escolha do candidato, feita nominal e pessoalmente pelo docente, era
compensado pela autonomia estética que recebia do docente. A Modelagem
programada era condicionada através da teoria, técnica e a linearidade. A
Escultura estava aberta para vida, e a ser construída através de um longo
artesanato e um lento e coerente amadurecimento técnico e conceitual posterior,
supondo primordial a autonomia, a liberdade e tempo necessário à formação do
escultor. Essas condições eram surpreendentemente abertas. O regulamento do
IBA-RS, aprovado em 24.03.1939 escreveu:
“Art. 105 – O
ensino das cadeiras de Desenho de Modelo Vivo, Pintura, Escultura e Gravura
será feito, sem limite de tempo, durante tantos anos quanto forem necessários à
formação artística”.
Na
Escultura há poucos registros escritos de programas[8].
Essa falta foi compensado por uma abundante documentação das obras produzidas
pelos estudantes. Corona sistematizou em dois álbuns[9] de
fotos das obras desses estudantes, com eventuais apontamentos escritos. Há
lacunas provocadas por diversas razões, sendo a mais grave aquela que
corresponde a II Guerra Mundial, mudança de prédio e as dificuldades dos alunos[10].
Algumas dessas imagens eram de fotógrafos profissionais e que ilustravam
reportagens para jornais e revistas.
Na
disciplina de Escultura é possível acompanhar uma nítida evolução didática do
professor, tanto quanto aos seus conceitos, técnicas, clientela e resultados ao
sabor da cultura e das circunstâncias. Na Modelagem, Corona fixou-se ao longo
de toda sua carreira sobre os mesmos conceitos, o material usado (argila) e o processo
de ensino aprendizagem.
[1] Obra bibliográfica recomenada
por Fernando CORONA:
MARANGONI, Matteo
Aprenda a ver: como se contempla uma obra de arte, São Paulo: instituto
Progresso Editorial, 1949, 231 p.
(Coleção Minerva)
[2] - No
arquivo do Instituto consta um programa de Modelagem específico para o Curso de
Arquitetura com a data de 1950, penúltimo ano em que Curso de Arquitetura
funcionou no Instituto de Belas Artes. A não inclusão do nome de Fernando
Corona na Faculdade de Arquitetura, foi
a grande frustração que a URGS infligiu a Corona, onde seu nome e
nem as suas disciplinas foram
contornadas para integrar a Faculdade de
Arquitetura em formação. A disciplina mais próxima da Modelagem era a de
‘Maquete’ e heteronomia total da disciplina de PROJETOS de ARQUITETURA. Alguns
ex-alunos de Corona retribuíram simbolicamente
ao seu trabalho como arquiteto, escultor e mobilizador cultural
consagrando ao atribuir o seu nome uma das suas salas de pesquisa da Faculdade
de Arquitetura. Porém a homenagem foi apagada pelas novas gerações Depois da
aposentadoria de Corona por iniciativa do seu antigo aluno, Luis Carlos Pinto
Maciel, então diretor do IA foi-lhe conferido o título de professor emérito da
UFRGS.
Plano de ensino: 1° e 2º anos: Maria Anita T. Linck (1974) 8 pp. ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[4] - Esse termo ficou como uma
espécie de chave entre o recorte do tempo e dos materiais, recendendo ainda ao
caos primordial. No seu conjunto ficou a pista do caminho para lidar com as contradições
e as transversalidades da arte e as possibilidades de achar a transformação do
tabu em totem. O termo imponderável
como num fractal carrega a carga da teleologia
imanente que a presente tese se propõe a desvelar.
[5] -Cristina Balbão já havia concluído o curso
superior com Libindo e Pelichek BALBÃO,
Cristina: Exame final, BALBÃO,
Cristina: «Esmoleira» bronze, BALBÃO, Cristina: «Esmoleira» bronze, BALBÃO, Cristina: «Veterano do
Paraguai», BALBÃO, Cristina: «Veterano do Paraguai» e BALBÃO, Cristina: «Veterano do Paraguai”. Álbuns de Fernando
Corona - ARQUIVO do Instituto de Artes da
UFRGS
[6] - Seguem-se aqui as
informações registradas por Fernando Corona em dois álbuns (Álbum I e II)
deixados com fotografias e apontamentos manuscritos. Esses álbuns estão
guardados na Biblioteca do IA-UFRGS, sem terem sido processados.{ ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS }
[7] - Programas da cadeira de Escultura 1950 até
1969{ ARQUIVO do Instituto de Artes da
UFRGS}
[9] - Curso de Escultura: álbum de obras 1938 e Curso
de Escultura: álbum de obras – 1956. { ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS}
[10] - Ao falar com um dos alunos
das últimas turmas de Corona e do qual o pesquisador não encontrava fotos das
obras no álbum. na época em que foi aluno. A resposta veio contundente e
direta: “na época de estudante, eu era
tão pobre que jamais pude mandar fazer uma foto de minhas obras para constar
nesse álbum”
1.0 MODELAGEM
|
ESCULTURA
|
|
Objetivos
|
Incluir o a aluno num processo de aprendizagem
erudita
Iniciar o estudante artes visuais eruditas.
|
Formar o
sujeito escultor.
Formar o profissional.
|
Clientela
|
Todos os alunos do Curso de Artes Plásticas.
Obrigatória.
|
Grupo restrito convidado pelo professor[1].
Eletiva.
|
Didática
|
Introdutória ao curso superior de Artes
Plásticas.
Rigoroso planejamento preliminar sem intervenção
do aluno.
Linha de produção industrial de direção
monocrática.
Tempo programado, controlado e restrito.
|
Profissionalizante e finalizante.
O aluno traça seu plano e o submete ao professor.
Oficina artesanal com direção policrática.
Tempo não delimitado previamente para as tarefas.
|
Conceitual
|
Aluno sob a heteronomia dependente do professor.
Fórmula fixa e repetitiva ano após ano.
|
Estudante com autonomia e como arte.
Evolutiva, segundo progressivas mudanças da arte.
|
Técnica
|
Progressivo, do mais simples ao mais complexo.
Ensino em grandes grupos uniformizados no
tratamento.
|
Problema enfrentado em bloco.
Pequenos grupos com enfoques e estágios diversos.
|
Material
|
Argila.
|
Diversos: argila, gesso, cimento, madeira, ferro.
|
Obras
|
Efêmeras.
|
Definitivas
|
Resultado
|
Obras utilitárias e artesanais a partir de
soluções clássicas.
|
Busca o novo e criativo.
|
Registro
|
Planejamento escrito teórico.
|
Resultados registrados após, através de fotos,
gráficos e textos sobre os estudantes e suas obras plásticas.
|
Mudanças
|
Artesanatoè artes e ofícios.
|
Artesanato è obra de arte
|
Gráfico 01 - Comparação entre as disciplinas de Modelagem
e de Escultura.
Quando a disciplina de Escultura foi
instituída no IBA, o seu público era composto praticamente só de moças. Nesse
período, a técnica e o material preferido era a argila cerâmica[1].
As peças resultantes, desse aproveitamento do barro, eram fundidas em formas de
gesso[2]
e mais raramente para o bronze. Com a entrada gradativa de rapazes, há uma
nítida evolução das técnicas e materiais empregados pelos alunos. As obras
passaram a ser feitas em suportes que necessitam mais trabalho e mais força,
acelerando-se assim a diversificação dos suportes da escultura. Durante a
década de sessenta chegou à técnica do ferro e da solda. Essa evolução fica
evidente num registro[3]
feito pelo docente em 1961:
“Novas experiências no ensino da escultura, logo após os alunos tomarem
consciência da forma natural, sem modelo vivo, com conhecimentos necessários da
forma anatômica, os alunos livremente poderão achar no expressionismo sua
personalidade. Iniciamos o trabalho direto, quero dizer, trabalhar a forma em
arame e gesso, sem interferência do barro. Gostaria de trabalhar em pedra e
metais, mas na escola nos faltam instalações indispensáveis. Apenas temos o
forno para as experiências de ‘terra – cota’”.
O ano posterior ele
registrava[4]
a compra de um soldador elétrico:
“Em 1962 iniciamos estudos de escultura
diretamente em arame soldado a ponto com soldador elétrico[5].
É um passo a mais nos estudos livres. Parece que será exitoso, devido a que o
aluno joga com a sua espontaneidade e sensibilidade juntas”.
Para criar uma distinção, entre a natureza do
modelo e a obra de arte humana, não descuidava de colocar o seu estudante na
busca de atenção sobre as formas naturais e a capacidade técnica. Assim anotava
no mesmo Álbum nº II – 1963 “Os alunos do Iº ano de escultura continuam a estudar a forma natural
do corpo humano como medida de tomada de consciência”. Essa tomada de
consciência havia sido, para ele pessoalmente, um processo muito longo e
penoso. Havia peregrinado e trabalhado na juventude em obras de estilo
medieval, como a do seu pai ao projetar a catedral gótica em Porto Alegre. Passou pelo estilo barroco
espanhol, embrenhou-se pelo neoclássico francês no Palácio Piratini e o
neoclássico requentado pelo nazismo que ele usou no prédio do Instituto de
Educação. Nesse meio tempo havia satisfeito a burguesia de Porto Alegre através
de ecléticas decorações em art-nouveau. Após a IIª Guerra Mundial converteu-se
aos postulados da ‘Carta de Atenas’ do arquiteto Corbusier[6]
a quem foi visitar pessoalmente em Paris durante o ano de 1952. No Brasil ele
se apropriou das últimas experiências da Escultura que o mundo trouxe, através
das bienais, para São Paulo. A sua consciência estética foi reforçada pelas
viagens, visitas de amigos estrangeiros, bibliografia e periódicos. Participou
intensamente com grupos e projetos culturais, como aquele que cuidou do estudo
do Folclore no RS, da implantação da Escolinha de Arte no IBA-RS e que elevou o
monumento a Chopin.
Selecionava métodos didáticos
claros, para si e para os seus estudantes, para sobreviver às ferozes
excomunhões recíprocas dos seus colegas[7].
Entre os seus alunos poucos eram capazes de decodificar a origem e as carências
do seu mestre, enquanto alguns se submetiam, a essa rígida aprendizagem, como
uma disciplina de um manual. Corona estava consciente e crítico desses limites.
Anotava essas reações à sua própria rigidez[8]. Essa rigidez o levou um violento conflito pessoal com Tasso Corrêa
no momento em que esse se aposentava. O conflito arrastou-se durante mais de
dez anos, segundo um dos seus discípulos[9] e
que criou um evento para reconciliá-los. Esse conflito demonstra a autonomia e
a independência a que se refere o
mestre, mesmo em relação a quem ele dedicava a maior lealdade e o seu mentor no
IBA-RS.
Essa autonomia de Corona e do
seu mentor, Tasso Corrêa, torna-se flagrante no campo da institucionalização da
Arquitetura no Instituto de Belas Artes do RS. Buscou-se identificou-se e se
ressaltou, na presente narrativa, as posições
pessoais de Fernando Corona como expressões de autonomia de um artista. Artista
que tentava, no seu novo contexto, cultivar o hábito de assumir o dever da
integridade intelectual, através desses novos meios ao seu dispor. Neste hábito
da integridade moral, intelectual e estético Fernando Corona necessitou
enfrenta a autoridade do seu pai, do seu melhor e mais próximo mentor além de
uma série de estudantes dispostos a arrastar o mestre para a Natureza entrópica
da qual eles eram presidiários inconscientes.
Postagens
anteriores deste blog relativas a Fernando CORONA
1 -ICONOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE. Obras de FERNANDO CORONA como
agente ativo e identificado positivamente com a cultura do Rio Grande do Sul.
2
- INSTITUTO
de EDUCAÇÃO FLORES da CUNHA - PORTO ALEGRE -RS
3 - ¿ QUEM FOI FERNANDO CORONA?. http://profciriosimon.blogspot.com.br/2017/04/200-estudos-de-arte.html
4 - FERNANDO CORONA (1895-1979) – ESCULTOR -
5 - FERNANDO CORONA - ARQUITETO
5.5
- FONTES BIBLIOGRÁFICAS RELATIVAS à PRESENTE NARRATIVA.
ALVES de Almeida,
José Francisco (1964). A Escultura
pública de Porto Alegre – História, contexto e significado – Porto
Alegre : Artfólio, 2004 246 p.
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de l’homme moderne. Londres:
Calmann-Lévy 1983. 369 p. https://fr.wikipedia.org/wiki/Condition_de_l%27homme_moderne
BECKER, D. João. A Cathedral Metropolitana de
Porto Alegre. Sétima Carta Pastoral.
Porto Alegre : Selbach, 1919. 73p
BELLOMO, Harry
Rodrigues (Org). «A produção da estatuária funerária em Porto Alegre» in Rio Grande do Sul: aspectos da cultura.
Porto Alegre: Martins Livreiro,
1994. pp. 63/91.
BITTENCOURT, Gean Maria. A
Missão Artística Francesa de 1816. (2a ed) Petrópolis: Museu da Armas Ferreira da Cunha,
1967, 147p.
CANEZ, Anna Paula. Fernando
Corona e os caminhos da arquitetura moderna
de Porto Alegre. Porto Alegre : Faculdades Integradas do Instituto
Ritter dos Reis, 1998 209 p. ilust.
CORONA, Eduardo e LEMOS Carlos Dicionário da
Arquitetura Brasileira _ São Paulo: ADART 1972, 472 p
DOBERSTEIN, Arnoldo
Walter. Porto Alegre (1898-1920):
estatuária fachadista e monumental,
ideologia e sociedade. Porto Alegre: PUC-IFCH, 1988, 208 f. Dissert.
____. Porto
Alegre 1900-1920: estatuária e ideologia. Porto Alegre: Secretaria
Municipal de Cultura, 1992. 102p.
____. Rio
Grande do Sul (1920-1940): estatuária, catolicismo e gauchismo. Porto
Alegre: PUC-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 1999. 377f.
FRANCESCO, José de. Reminiscências
de um artista. Porto Alegre; s/editora. 1961.
GODOY WEISZ, Suely de , «Rodolfo Bernardelli: um perfil do homem e do
artista segundo a visão de seus
contemporâneos» in 180 anos de Escola
de Belas Artes. Anais do Seminário
EBA 180. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. pp.
233/258.
MARANGONI, Matteo Aprenda a ver: como se contempla uma obra de arte, São Paulo:
instituto Progresso Editorial, 1949, 231
p. (Coleção Minerva)
MONNIER, Gérard. L’art et ses institutions en France: de
la Révolution à nos jours. Paris:
Gallimard-Folio-histoire, 1995. 462p.
MONTEIRO,
Charles. Porto Alegre: urbanização e modernidade: a construção social
do espaço urbano. Porto Alegre :
EDIPUCRS, 1995. 153 p.
MONTEIRO,
Maria Isabel Oswald. Carlos Oswald
(1882-1971): pintor da luz e dos
Reflexos. Rio de Janeiro: Casa Jorge, 2000. 229 p.
PEVSNER, Nikolaus. Las academias de arte: pasado y presente. Madrid
: Cátedra. 1982. 252p. – (edição brasileira - Academias de Arte: passado e presente. São Paulo, Companhia das Letras, 2005).
SEELINGER, Helios
(1878-1965) “Um Centro de Arte- O
Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul”. Rio de Janeiro: Boletim de
Belas Artes ENBA, nº17, 05.1946,
p.157
SIMON, Círio. Conceito
pedagógicos de Fernando Corona (1895-1979) in Artes plásticas no Rio Grande do Sul: pesquisas recentes – Porto
Alegre: Ed. UFRGS, 1995, pp.63-83
TAYLOR , Frederick Winslow (1856-1915). Princípios de
administração científica. 7a
. ed. São Paulo : Atlas, 1980, 134 p.
VACCANNI,
Celita. Escultura contemporânea
norte-americana: pesquisa didática sobre métodos de ensino. Rio de Janeiro:
ENBA, 1955, 151 p.
WEBER,
Max. Sobre a universidade. São
Paulo: Cortez, 1989. 152 p.
5.6 - FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS RELATIVAS à PRESENTE NARRATIVA
Arquivo do IA-UFRGS http://www.ufrgs.br/arquivo-artes/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt
Fernando Corona
Fernando Corona e os espanhóis no Sul
do Brasil em
Fernando Corona na Pinacoteca http://www.ufrgs.br/acervoartes/artistas/c/corona-fernando
Jesus Maria Alonso Corona http://www.ufrgs.br/acervoartes/artistas/c/corona-jesus-maria
Luís Fernando Corona http://www.ufrgs.br/acervoartes/artistas/c/corona-luis-fernando
Fernando Corona - O INCA http://www.margs.rs.gov.br/catalogo-de-obras/F/16188/
MARGS – Núcleo Documental e
Bibliografico http://www.margs.rs.gov.br/nucleo-de-documentacao-e-pesquisa/
Obras do espanhol FERNANDO CORONA como agente ativo
e identificado positivamente com a cultura do Rio Grande do Sul.
Continuação e
complemento de Artes Visuais sul-rio-grandenses
FERNANDO CORONA - CAMINHADA NAS
ARTES –
[1] - [F4.
054] Wiltner, Vera.«1ª Escultura d o IBA»’Corona’.
[2] - [F4.
010.1] CORONA: ensinando moldes de gesso. CD-ROM - Disco 6 - IMAGENS. -
Arquivo F4.
[3] - Álbum
nº II –1963 - de fotos de obras de alunos de escultura ARQUIVO do Instituto de
Artes da UFRGS
[4] - Ver em anexo (volume II) a listagem dos
alunos de Escultura - no mesmo Álbum nº II – 1963 ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
.
[5] - No Álbum nº II das fotos
de obras de alunos de Escultura , Corona anotava “este ano de 1962, não tivemos modelo vivo, o que nos obrigou a novas
experiências. Carlos Tenius sugeriu a compra de um soldador elétrico. Custava
Cr$ 42.000,00 e a Escola nos informou que só havia Cr$ 22.000,00 em caixa para
ferramenta. Foi fácil comprar a máquina. Dez alunos de escultura contribuíram
com 1.000.00 cruzeiros cada um e eu entrei com 10.000,00 cruzeiros e já temos a
máquina de soldador. As experiências foram positivas e os alunos entusiasmados
com as novas formas por ele criadas. Esperamos que em 63 dupliquem os estudos e
o entusiasmo”. ARQUIVO do Instituto de Artes da UFRGS
[6] Corona, 1947 -«ISMOS» com Carta de Atenas
anexa { ARQUIVO do Instituto de
Artes da UFRGS} Ismos: arte
contemporânea: Fernando Corona.
[7] - As mais ferozes críticas
vinham da área de Arquitetura, onde não se permitiu a sua presença na Faculdade
de Arquitetura. Nas artes plásticas, o
confronto era com Fahrion. No mundo acadêmico era com aqueles que apenas eram
titulados sem possuírem uma experiência de criação artística.
[8] - Corona anotou no Álbum nº II de fotos de obras de alunos de Escultura
uma autocrítica diante de “M.L.S, uma das mais talentosas e vocacionadas
alunas que passaram pelo curso de Escultura. Um tanto temperamental e muito
independente não chegou a terminar o curso comigo. Não brigamos, não, mas ela
afastou-se das minhas aulas sem que possa saber porque. Penso as vezes que eu
também, sou temperamental e muito independente”.
[9] - Trata-se de Luís Carlos
Pinto Maciel, aluno de Escultura [ALBUNS de FERNANDO CORONA ARQUIVO do
Instituto de Artes da UFRGS],e que nessa qualidade obteve as informações do
próprio Corona. Tasso não obteve no
final de 1958 a unanimidade em mais uma eleição como diretor. Ao abandonar
intempestivamente a sala de votação, Tasso acusou a Congregação de traição.
Corona ergueu-se, dizendo que ‘ele não era traidor, ao que Tasso
retrucou que ‘” ele também era traidor. O incidente provocou dez anos de
separação, até que ambos fossem agraciados como
professores eméritos pela UFRGS num mesmo evento, que Tasso usou para convidar e
fazer as pazes com o docente de Escultura. Nessa oportunidade Maciel era o diretor do IBA-RS e havia tomado a
iniciativa de que o Instituto encaminhasse ao CONSUN o nome de ambos para o
título acadêmico.
Postagens
deste blog relativas a Fernando CORONA
1 - ICONOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE. Obras de FERNANDO CORONA como
agente ativo e identificado positivamente com a cultura do Rio Grande do Sul.
2
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3 - ¿ QUEM FOI FERNANDO CORONA (1895-1979) ?. http://profciriosimon.blogspot.com.br/2017/04/200-estudos-de-arte.html
4 - FERNANDO CORONA – ESCULTOR
5 - FERNANDO CORONA - ARQUITETO
6 - FERNANDO CORONA - PROFESSOR
7 - FERNANDO CORONA - MEMÓRIA
8 - FERNANDO CORONA - CRONOLOGIA
8 - FERNANDO CORONA - SUMÁRIO
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