sexta-feira, 26 de agosto de 2016

179 – ICONOGRAFIA AFRO SUL-RIO-GRANDENSE.



11.02 - UMA OBRA de ARTES VISUAIS AFRO-SUL-RIO-GRANDENSES.
Continuação e complemento de Artes Visuais afro-sul-rio-grandenses

11.2.1 – Uma obra de arte afro-sul-rio-grandense. 11.2.2 -  A origem da humanidade e a arte africana. 11.2.3 -  A obra de arte afro-sul-rio-grandense nas condições da escravidão. 11.2.4 – Transformando o tabu em totem. 11.2.5 – Leituras estilísticas, iconológicas e iconográficas da obra arte afro-sul-rio-grandense  11.2.6 A diacronia e sincronia da arte afro-sul-rio-grandense. 11.2.7 – As influências das obras  de arte afro-sul-rio-grandense 11.2.8 – O lugar institucional da obra de arte afro-sul-rio-grandense 11.2.9 O lugar pertencimento planetário da arte afro-sul-rio-grandense

Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO”[1]. Ver figura  18 e nota da presente postagem. 

Fig. 01 –  A busca da identidade afro-sul-rio-grandense vale-se especialmente do corpo humano. Os sons, os gestos, os ritos,  as vestimentas, os alimentos e as cores são apropriados de uma longa tradição ou de algo que é atual e das suas circunstâncias. A  arte se dá na medida da apropriação, da intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,  





11.2.1 – Uma obra de arte afro-sul-rio-grandense.


Ao contemplar uma obra do pintor Carlos Alberto Oliveira (1951-2013) saltam milhares de signos, índices e símbolos da infinita riqueza existentes nas artes visuais afro-sul-rio-grandenses. O pintor nascido em Santo Ângelo, na região das Missões,  teve ocasião de criar uma consciência profunda de sua própria identidade no trabalho como carteiro   e no contaste de outra etnia de origem germânica na comunidade de Novo Hamburgo. Ao longo de décadas ele foi fiel à sua temática afro-sul-rio-grandense, sustentada por  formas plásticas a sua identidade numa pesquisa visual continuada.

As artes visuais afro-sul-rio-grandenses - como acontece também com a arte indígena sul-rio-grandense -  possuem imensas lacunas de pesquisa, institucionalização e circulação de informações. A presente postagem aponta a existência de alguns índices, do que nesta cultura, se denomina arte.



[1] ARTE AFRO SUL-RIOGRANDENSES exposição CENTRO CULTURAL CEEE AGOSTO de 2016


Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem

Fig. 02 –  A afro-sul-rio-grandense  encontra o seu caminho sem se prender a técnicas, recursos extraordinários e caros. Constrói a sua mensagem e  busca a sua identidade de uma direta e universas. Apropriados das formas visuais que somam com os sons, os gestos, os ritos,  as vestimentas, os alimentos e as cores do que é atual e das suas circunstâncias. Foi a essência da mensagem que Pablo Picasso aprendeu na interação com VIDA do AQUI e do AGORA ao  longo da sua visita ao “depósito” da exibição que o “Museu do Trocadero” mantinha  na medida da apropriação, da intervenção colonial francesa na ÁFRICA.,  



11.2.2-  A origem da humanidade e a arte africana.

A criatura humana teve a sua origem no continente africano. Assim a ARTE AFRICANA precedeu, no tempo da longuíssima duração, as demais manifestações da cultura humana. Civilizações imemoriais tiveram ali as suas origens. A civilização egípcia clássica resultou destas civilizações imemoriais e das miscigenações com etnias e culturas negras. A cultura europeia procurou reduzir num único tipo esta diversidade, como também fez com o indígena sul-rio-grandenses, não  entendendo a racionalidade desses clãs e nações. Baralhou estas culturas e línguas distintas. Com este reducionismo desqualificava de tal ponto que estas etnias não pudessem retornar à sua identidade tribal da sua origem africana.

Em cada obra, no que denominamos arte, constitui uma criação própria no interior da lógica de “expressar o máximo com o mínimo”. A arte afro criou objetos utilitários que se reduzem ao mínimo, com o máximo de eficiência possível, com os materiais de que dispunham. Nas obras das artes visuais afro-brasileiras percebe-se, que desde um tempo remoto, os seus autores eram herdeiros das práticas da agricultura e do uso de metais. Os objetos destinados aos cultos religiosos, referentes aos seus imensos panteões, inscrevem-se na linhagem da proximidade da Natureza deste agricultor primitivo, tendo ultrapassado a fase das vítimas humanas. As entidades desses panteões são metáforas e representações dos demais valores culturais. Estas metáforas revelam, nas suas formas puras, a riqueza e a diversidade desses  panteões africanos.

Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 03 –  A apropriação, a intervenção subversão na arte do europeu, pelo afro-sul-rio-grandense, inverteu a relação do dominador em relação ao dominado e do espoliado. A subversão da obra de JEAN VERMEER toma esta liberdade e a transfigura em  arte na medida da apropriação, da intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA como o colonizador praticou em relação a matriz estética africana.,  
11.2.3 A obra de arte afro-sul-rio-grandense nas condições da escravidão

 O africano teve de adaptar os seus panteões às prescrições islâmicas dos seus captores a partir da Idade Média europeia. Ato contínuo o seu dono branco europeu impôs o panteão católico, e ele passou a receber ordens e expressar verbalmente em português com o mínimo que lhe permitido responder. A violência de sua captura quebrou as suas referências ao seu clã e à nação de sua origem, isolando-o, apenas como mais um objeto na forma de um negro cativo. O seu dono branco europeu intervinha diretamente na sua reprodução, gerando uma imensa população crioula e mulata. Esta população mulata  e crioula, trazida ao Rio Grande do Sul por fazendeiros[1] do nordeste e do sudeste brasileiro, teve dificuldades redobradas para se articular com o meio campeiro de fronteira e encontros de um mosaico de culturas. No meio urbano o “escravo de ganho” conseguiu uma articulação tolerada sob o pretexto das irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Nos quilombos dos escravos fugidos, os cultos volviam à origem das suas articulações religiosas com as entidades próximas da natureza.


[1] - Se houve comparação entre as condições dos cativos africanos do Nordeste, Centro e Sul do Brasil o mesmo anda não ocorreu entre os seus donos e proprietários. A concentração de renda na capital fazia que os proprietários de estâncias e charqueadas sulinas não possam ser comparados às condições dos donos de “casas-grandes”  do Nordeste e do Centro do país.

Enciclopédia Rio-grandense. Canoas: La Salle, 1956, volume II, p.26 b
Fig. 04 –  As Irmandades do Rosário congregava as nações africanas cativas e dominadas pelo panteão, hábitos e ritos católicos. Muitos destes cativos tinham hábitos religiosos islâmicos das recitações das suras corânicas. Estas recitações foram substituídas pelas recitações dos Rosário. Os muçulmanos herdarem este costume religioso das recitações ininterruptas dos mantras das culturas indús. e tibetanas. No prédio de Porto Alegre funcionou inicialmente o Colégio Rosário e que leva até os dias atuais este  nome..
A igreja do Rosário de Porto Alegre, destruída em 1952, era um índice da capacidade de adequação das artes visuais afro-sul-rio-grandenses aos códigos dos seus captores. Os seus humildes materiais de construção, comprados pelo escravo com grandes sacrifícios e elaborados nos seus dias livres do trabalho se inscrevem na tipologia das igrejas da época. O afro-brasileiro, libertado desta condição, não tinha mais como recuar para o espaço físico e cultural das artes visuais africanas. Abandonado a si mesmo, e, mergulhado em mundo cultural e econômico, cuja identidade lhe era alheio, refugiou-se  na religião e em festividades. Estas atividades foram um fio condutor para as suas raízes. As obras afro-sul-rio-grandenses valeram-se da natureza formal dos materiais, das técnicas e dos instrumentos dos seus captores, e os foram aproximando novamente com a natureza. O ritmo da dança, o som dos seus instrumentos de percussão, algumas palavras de ordem em diversos dialetos, oferecem - às obras afro-sul-rio-grandenses -  variada matéria prima para   criar um pano de fundo para as suas artes visuais.  

O escravo está impedido de deliberar e de decidir. Apesar desta heteronomia de suas vontades, as artes visuais afro-sul-rio-grandenses  possuem as dimensões apropriadas aos seus cultos, à moda e aos seus folguedos, apesar destas dimensões não serem de sua escolha direta. O condicionamento maior estava no meio urbano e o geográfico nas fazendas e nas charqueadas. Estas dimensões retornaram às proporções e a ritmo das estações da natureza no âmbito dos quilombos, formados por escravos fugidos, que se entregaram a uma entropia que os reconduziu ao estágio de coletador.
Obras do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 05 –  A produção, a circulação e a guarda de peças  que denunciassem a identidade afro-sul-rio-grandense foram rigorosamente proibidas ao longo dos quatro séculos da escravidão brasileira. O renascimento da identidade de origem africana deu-se com materiais pobres e baratos como a madeira e a argila.  Em compensação este desprendimento material deu oportunidade para esta manifestação de  arte evidenciar na medida da apropriação, da intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,  
As condições materiais, econômicas, sociais e religiosas conferem índices para as obras de artes visuais afro-sul-rio-grandenses. Nestes índices é possível aferir o meio cultural do qual se originaram. Para as classes dominantes, dos seus antigos dominadores, estas obras  constituem  um tabu estético intransponível no dias atuais. As classes dominantes desqualificaram esta obra afro-sul-rio-grandense na mesma medida em que não podiam adotar os paradigmas deste pensamento ou consagrar-lhe algum sentimento de empatia. O sistema escravocrata era sustentado por este abismo com o outro e a ruptura permanente entre as duas culturas.
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 06 –  As instalações, os objetos encontrados e a  sua transfiguração em  busca da identidade afro-sul-rio-grandense incorporaram com toda a facilidade e naturalidade a decadência e a substituição da ERA INDUSTRIAL pela ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL  Assim a expressão da VIDA pela arte praticada por afro-sul-rio-grandenses  se aproxima do AQUI e do AGORA,  
11.2.4-  Transformando o tabu em totem.

A  coragem do jovem Pablo Picasso elevou ao nível de obras de arte as obras africanas. A arte de Picasso rompeu este tabu com um olhar desimpedido dos filtros da dominação do OUTRO. O autor das “Demoiselles d’Avignon” rompeu, em 1907, as consequências de um projeto colonial europeu que aniquilava o projeto estético de OUTRO que considerava inferior.

O contexto e a obra de afro-sul-rio-grandense são objetos de raros estudos. Os estudos que existem, são honrosas exceções[1]. Mais raras são as instituições que promovem estes estudos sistemáticos e sua circulação ao mesmo nível de outras instituições da cultura  erudita sul-rio-grandense. Esta dificuldade deve-se ao fato de que a arte afro-sul-rio-grandense mover-se em paradigmas diferentes e não conscientes das suas distinções. O pior acontece quando estes paradigmas são antagônicos entre si.  O mito da escravidão benigna das fazendas sulinas foi contestado duramente, na década de 1950, por teóricos de São Paulo. Contudo estes teóricos não estudaram e ofereceram paradigmas para recompor a totalidade comparativa das condições regionais brasileiras nas quais estão condicionadas as conquistas e as perdas dos afrodescendentes,.


[1] - CORRÊA, Norton  F. Os vivos, os mortos e os deuses: um estudo antropológico sobre o batuque no Rio Grande do Sul
.             Porto Alegre :IFCH-UFRGS, 1988, 474 f –Disert. Orientador Brochado, José Joaquim

WENDLING, Líbia Maria Martins. A arte no vale do Sinos. São Leopoldo: UNISINOS, 1999. 183 p.
----------Casa velha - convívio de arte : um episódio na luta pela cultura em Novo Hamburgo, RS.  São Leopoldo. UNISINOS,  
          dissertação,  1998. 2 v.

Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 07 –  As cores e formas conferem identidade as obras de arte afro-sul-rio-grandense. Para tanto o tema  do corpo humano é tema recorrente para gerar a empatia e a interação com o observador, mesmo o mais desatento. De outra parte, nesta estética direta de apropriação,  intervenção e a interação com VIDA do AQUI e do AGORA, existem poucas considerações ou concessões com outras estéticas estranhas a estas escolhas.,  
11.2.5 Leituras estilísticas, iconológicas e iconográficas da obra arte afro-sul-rio-grandense.

 Nas obras de arte afro-sul-rio-grandense predominam formas estilísticas capazes de atingir os sentidos humanos, com toda a intensidade, por meio de cores primárias e das palavras guardadas e que atingem todo o seu potencial na poesia de Oliveira Silveira (1941-2009).

O artista visual criador afro-sul-rio-grandense escolhe formas e ritmos de linhas fortes e planos definidos para causar o máximo de impacto sensorial do que é essencial e com o máximo de economia material numa leitura estilística. Nesta economia material instala as condições para que os elementos formais para que as obras de arte façam o máximo  sentido no interior de uma estética coerente. Esta revelação da unidade -  na diversidade das partes entre si - atraiu a  pureza do olhar do jovem Pablo Este  olhar de Picasso estava despojado de todos os tabus, preconceitos e desqualificações, sofridos por esta etnia dominada. 

As obras de arte afro-sul-rio-grandense possuem um sentido especial para as regiões empobrecidas e na heteronomia cultural. Buscam a sua verdade no seu próprio paradigma visível nas suas escolhas estilísticas de matérias  pobres, para atingirem a coerência da organização por meio deles. Os afro descendentes lançam mão de recursos materiais  muito próximos da sua realidade física para executarem as suas obras. Nesta proximidade evitam bloquear a criação pela imposição de materiais ricos,  de alta elaboração e de difícil importação. As obras de arte afro-sul-rio-grandenses são coerentes com as lições do “Poverelo”  de Assis e de Giotto.
ROSA, Renato et  alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto Alegre : Pinacoteca Aldo Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre   2013 , s/p. .
Fig. 08 –  A rigorosa busca estética  levada a efeito por Maria Lídia dos Santos (1946-2012)  levou  MAGLIANI tanto para a erudição de um curso superior - antes de qualquer cota de afrodescendentes - como a de continuar a busca de um mercado de arte onde pudesses expressar a sua  identidade afro-sul-rio-grandense.  Sem cair em clichês gastos se apropriou da sua VIDA do AQUI e do AGORA, interveio e interagiu por meio de pinceis e tintas transformando-a em OBRA de ARTE.  
Salta uma riquíssima  leitura iconológica afro-sul-rio-grandense na contemplação das obras das artes visuais de Carlos Alberto Oliveira ou Maria Lídia dos Santos, a Magliani. Nestas imagens, carregadas de sentido, a temática busca afirmar os  mitos do passado, a concretude do presente e as esperanças de uma cultura mais humana. É verdade que nesta busca da sua identidade estão ausentes os mitos, as verdades e as esperanças dos seus antigos captores. Mas que ninguém espere azedume, revolta ou  subversão panfletário da ordem a seu favor. Ela contorna este azedume, revolta ou subversão da ordem canônica, transmutando estas forças negativas da humanidade, pela elegância e com grande saber das imagens carregadas de sentido de uma civilização diferente.
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 09 –  Pelópidas THEBANO é uma referência como artista afrodescendente. Ele trabalha continuadamente em arte há várias décadas tendo exposições individuais e coletivas,  sempre cercado pela sua gente e amigos que ele conquistou pela sua obra ao longo desta carreira.  Emprega a cor intensa, o ritmo e preenche toda a superfície disponível com figuras cerradas em linhas negras.,  
As obras visuais afro-sul-rio-grandenses instauram uma nova série cultural nesta busca de sentido de uma civilização diferente. Nova serie que se vale da transmutação, subversão e na fuga do imaginário do antigo dominador. Este se percebe subjugado pela magia, pela objetividade dos recursos estilísticos e pelas infinitas possibilidades oferecidas. Haverá uma ruptura epistemológica da sua cultura materialista ocidental no caso deste antigo dominador optar em prestar atenção a esta estética de paradigma diferente.  Encontrará, nos bastidores das séries culturais das obras visuais, elegância com sabedoria frutos de esforços heroicos para fugir da heteronímia à qual foram condenados os afro-sul-rio-grandenses ao longo de quatro séculos
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 10 –  A apropriação de materiais, de texturas e de cores de uso cotidiano e a sua transfiguração em instalações poéticas e visuais é explorada nesta amostra de objetos de arte da tendência afro-sul-rio-grandense. A transfiguração em OBRA de ARTE  se dá na medida em que a tendência afro-sul-rio-grandense interage com a VIDA -  do AQUI e do AGORA – e da qual  se apropria, intervém e remete ao observador de todos os tempos e lugares por meio da materialidade da obra  ,  
11.2.6 A diacronia e sincronia da arte afro-sul-rio-grandense
Na diacronia destes quatro séculos de heteronímia encontram-se sucessivos mundos imateriais que lutaram politicamente para se distinguir em paradigmas próprios. Ainda não mereceram suficientes estudos as sucessivas suas revoltas, fugas e transfigurações passivas que empreenderam. As pesquisas arqueológicas no contente africano ainda não tiveram os êxitos e a divulgação que arqueologia do continente europeia teve ao longo do século vinte.
Fig. 11 –  A busca da identidade afr0-sul-rio-grandense vale-se especialmente do corpo humano. Os sons, os gestos, os ritos,  as vestimentas, os alimentos e as cores são apropriados de uma longa tradição ou de algo que é atual e das suas circunstâncias. A  arte se dá na medida da apropriação, da intervenção e na interação com VIDA do AQUI e do AGORA.,  
 [Clique sobre o gráfico para ler]
Muito menor é este esforço na arqueologia dos quilombos brasileiros e sul-rio-grandenses, nos arquivos e vestígios materiais do trafico negreiro e da cultura de que eram portadores estes cativos. Estes cativos perderam a ilusão de poder agir e pesquisar esta diacronia com um único  paradigma externo a estas civilizações. 

As séries culturais dos índices culturais das obras visuais afro-sul-rio-grandenses merecem leituras apoiadas pelas pesquisas quânticas e apoiadas pela última tecnologia da informática. Esta não é nenhuma novidade para a pesquisa estética pós-industrial pois o campo cultural do seu dominador está dividido e lutando consigo mesmo. Mas que ninguém seja ingênuo.  Pois, ao longo de toda a linha de tempo de qualquer diacronia travam-se lutas simbólicas mortais na busca de uma hegemonia do poder simbólico da arte. As armas da desqualificação recíproca, da invenção de novas tradições e da sedução para o repertório estético do mais forte e do mais competente tecnicamente  jamais foram constantes no passado e nem irão estagnar por passo mágico no futuro.
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 12 –  A síntese plástica das formas dos arquétipos são recorrentes identidade as obras de arte afro-sul-rio-grandense. O tema universal  do corpo humano é tema recorrente para gerar a empatia e a interação com o observador, mesmo o mais desatento. De outra parte, nesta estética direta de apropriação, intervenção e a interação com VIDA do AQUI e do AGORA, existem poucas considerações ou concessões com outras estéticas estranhas a estas escolhas.,
A partir da matriz africana - na qual a humanidade teve a sua origem -  há possibilidade de buscar sincronia com as demais culturas escravagistas que se desenvolveram no continente americano. A obra do negro norte-americano desenvolveu-se numa cultura na qual as questões escravagistas sempre foram declaradas. Ali as discriminações explicitadas e as lutas, entre as culturas europeias e afras, foram sustentados por ambos os lados e com as suas próprias armas. Na região caribenha a miscigenação étnica e cultural=  entre a cultura europeia e afro - foi mais profunda. No entanto esta miscigenação deu-se entre as camadas mais desfavorecidas, pois, nas colônias espanholas, o dominador jamais abdicou de sua sucessão da nobreza de origem. Para preservar a sua nobreza manteve-se afastado da mistura do seu sangue nobre com o indígena e muito menos com o descendente afro. Na constituição do Estado Português a nobreza não era hereditária. O pretendente ao título o comprava e assim sustentava a nobreza. O objetivo do pretendente a nobre era enriquecer o mais rápido possível. Para tanto era  extremamente ativo  no comercio universal, inclusive o comércio fálico inter étnico. Portugal conquistou prodigiosas projeções com um pequeno território com número limitado de habitantes por intermédio das motivações deste pretendente à nobreza.
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 13 –  A presente obra afro-sul-rio-grandense possui profundos índices da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na medida que joga com imagens poéticas distorcidas e apropriadas por lentes e espelhos côncavos e convexos. Esta obra pode ser aceita como ARTE na medida em que se apropria, intervém e  interage com a VIDA do AQUI e do AGORA transformando-se em metáfora das profundas e radicais distorções provocadas pelo trânsito de uma para outra tendência estética.  

11.2.7 As influências das obras  de arte afro-sul-rio-grandense.

As obras visuais afro-sul-rio-grandenses necessitam ser estudadas e inscrever-se na sincronia com a cultura lusa em contato e no comércio com a etnia e a cultura africana. O vigor da vida anímica africana, atinge e comporta-se como um verdadeiro código genético na elaboração de sua obra na sincronia com a cultura luso-brasileira . Os trabalhos do Mestre Ataíde e de Aleijadinho são testemunhos vivos destas influências de origem afro-brasileiras.  Já no Rio Grande do Sul, este vigor anímico, da envergadura dos mestres mineiros, não teve ocasião de se expressar em obras.  Faltava uma infraestrutura adequada e ocasião para exercer a sua autonomia em relação à dominação dos imponderáveis que comandavam a cultura lusa.
Fig. 14 –  Se a cultura brasileira não conseguiu se transformar em CULTURA de EXPORTAÇÃO, o afro-sul-rio-grandense Wilson TIBÈRIO (1923-2005) conseguiu o feito de se transformar em embaixador da cultura francesa de exportação para todo o planeta. Quando estava se preparando para retornar ao Rio Grande do Sul reaprender o português -  graças ao poeta Oliveira Silveira e o irmão de Wilson - a morte o surpreendeu.  

11.2.8 O lugar institucional da obra de arte afro-sul-rio-grandense.

As obras de artes visuais afro-sul-rio-grandenses carecem de estudo, circulação e institucionalização, por isto esta e outras conclusões, são evidentemente precipitadas. Estas carências determinam também a falta de renascimentos e valorizações periódicas. A falta de estudos sistêmicos, circulação e institucionalização não permitem a reversibilidade para as fontes de estudo.

A falta de circulação das imagens, dos textos, da bibliografia e os meios eletrônicos falam dos tabus e lutas pela hegemonia que estão ainda muito longe de um equilíbrio homeostático entre o dominador e o dominado. As instituições brasileiras, como aquelas das religiões dos dominadores, estão muito longe de um pedido de perdão pelos quatrocentos anos de escravidão e muito menos ainda da busca objetiva de reparação por esta agressão física,  moral e estética.
Obra do projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” Ver figura  18 e nota da presente postagem
Fig. 15 –  A presente obra é uma amostra da economia dos meios estéticos para expressar a busca da identidade afro-sul-rio-grandense valendo-se especialmente do referencial ao corpo humano. As periódicas retomadas da essência e das matrizes das  artes visuais são capazes de aproximar a pinturas rupestres, a obra de Giotto e os mergulhos mais profundos estéticos dos pintores impressionistas ao retornarem aos tintas e pinceis.  

Os museus das metrópoles hegemônicas das coloniais acumularam os “depósitos” de obras africanas. Esta institucionalização - sem estudo - desqualificou estas peças como exóticas, sem a lógica e as tornou naturais. Este acúmulo seguiu o rastro da cupidez do europeu pela posse patrimonial a qualquer preço. Repetiu-se o mesmo que tinha acontecido com as grandes obras de arte das civilizações pré-colombianas da América. Esta obra afro-sul-rio-grandense não possui no Rio Grande do Sul sequer um lugar específico no qual poderia a menos encontrar abrigo, ainda que temporário.

Porém a contradição está sendo transformada complementariedade por meio de totens espalhados pelo “MUSEU do PERCURSO NEGRO da CIDADE de PORTO ALEGRE”. Assim o tabu - da proibição de um lugar específico para as artes visuais afro-sul-rio-grandenses em totens abertos, gratuitos e universais.  Este MUSEU do PERCURSO NEGRO reconstrói os passos dos africanos, os seus caminhos e seus percursos que lhe eram permitidos, diante do fato de não ter direito a qualquer propriedade, imóvel e nem mesmo ao seu próprio corpo. Com esta transformação-  do tabu em totem - a obra do afro-sul-rio-grandense ingressa na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na qual os espaços imateriais, coletivos e universais constituem a matéria prima da memória, da identidade e do pertencimento.
Fig. 16 –  A instalação de uma serie de totens busca evidenciar o transito afro-sul-rio-grandense controlado pelo olhar, mente e vontade do dominador. Assim ganha corpo e evidência o “MUSEU de PERCURSO do NEGRO em PORTO ALEGRE”. Projeto que se inscreve na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL na medida em que ele materializa o  silencio, apropria-se civilizadamente do ESPAÇO PUBLICO e se prolonga sem se materializar numa instituição da ERA INDUSTRIAL. Instituição da ERA INDUSTRIAL que exige uma densa e cara estrutura administrativa e hierarquicamente conduzida por um sistema de linha de montagem  para se efetivar no mundo prático
11.2.9 O lugar pertencimento planetário da arte afro-sul-rio-grandense.

A vida e a obra de Wilson TIBÉRIO (1923-2005) constitui precioso índice da busca do potencial da identidade e do pertencimento planetário permitido pelas raízes da estética africana. Barreiras culturais e estéticas que Pablo Picasso apontava e derrubava nas suas pesquisas estéticas.

 O imenso potencial humano, estético e empírico das manifestações das artes afro-sul-rio-grandense supõe um imenso esforço para erguê-lo ao mundo das ideias, estéticas e teorias consistentes e universais.

As excomunhões reciprocas - no interior das manifestações das artes afro-sul-rio-grandense - poderá ser um dos muitos problemas e anular o imenso potencial humano, estético e empírico. Esta sempre foi a estratégia do dominador no rastro da cultura hegemônica romana que dividia os dominados para poder reinar sobre o caos. Funcionam os mecanismo de desqualificação, o silêncio da línguas do oprimido e imposição intelectual, jurídica e econômica.
Fig. 17 –  Uma das  obras do “MUSEU de PERCURSO do NEGRO em PORTO ALEGRE”  que busca evidenciar o transito afro-sul-rio-grandense controlado pelo olhar, mente e vontade do dominador ao longo de quatro séculos.  A  silenciosa presença desta obra de arte se apropria,  intervém e interage na  VIDA do AQUI e do AGORA a partir de um projeto cuidadosa e civilizadamente elaborado e com cuidados mínimos de conservação e de eventuais manutenções.  

Este trabalho possui duas mãos. Não basta enviá-lo ao mundo externo. O seu retorno - destas culturas externas - é  tão, ou mais,  importante do que a missão das artes afro-sul-rio-grandense tem a cumprir nas cultura hegemônicas.

Não havendo retorno (feedback) - a partir destas culturas externas ao Rio Grande do Sul - será um mero TRABALHO destinado a “embasbacar gringos” e sem outro efeito a ser deletado no  mundo externo como “MAIS UM EVENTO EXÓTICO”. No máximo será mais material exótico de outro “MUSEU DO TROCADERO[1] do tempo de Picasso.

No lado otimista, a ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA - em relação á ARTE PLANETÁRIA EXTERNA - irá encontrar o devido SENTIDO, LUGAR e TEMPO para as PESQUISAS ADEQUADAS relativas âs artes afro-sul-rio-grandenses.
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Fig. 18 –  O projeto coletivo da exposição  “PORTO NEGRO” contraria o hábito da ERA INDUSTRIAL de individualizar as  obras de arte  carimbando-as com o  nome pessoal do seu autor. O projeto “PORTO NEGRO”  coloca no centro a  busca da identidade afro-sul-rio-grandense. Esta tendência da  arte da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL se apropria da intervenção e da interação com VIDA COLETIVA valendo-se e concretizando em obra o AQUI e o AGORA do GRUPO. Não se trata do anonimato e nem um coletivo heterodoxo. O projeto possui um fio condutor ao qual se associam artistas com obra própria e diferenciada. Artistas que deliberam e decidem em relação a um  contrato em comum de socialização, de identidade e de pertencimento.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
CORRÊA, Norton  F. Os vivos, os mortos e os deuses: um estudo antropológico sobre o batuque no  Rio Grande do Sul. Porto Alegre :IFCH-UFRGS, 1988, 474 f –Dissertação -. Orientação de Brochado, José Joaquim.
----------Batuque no Rio Grande do Sul- antropologia de uma religião afro rio-grandense. São Luís - Maranhão : CA-Cultura & Arte, 2008, 295 p
LAYTANO Dante de (1908-2000). - Festa de Nossa Senhora dos Navegantes Estudo de uma tradição das populações  Afro-Brasileiras de Porto Alegre. Porto Alegre: UNESCO- Instituto Brasileiro Ciência e Cultura- Comissão Estadual de Folclore do Rio Grande do Sul - 6º Vol.  1955, 128 p. il
------------FOLCLORE do RIO GRANDE do SUL: levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed) Porto Alegre: escola Superior de Teologia São Lourenço de Brides – 1987, 350 p ISBN 8570610718
ROSA, Renato et  alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto Alegre : Pinacoteca Aldo Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre   2013 , s/p. il col.
SILVEIRA, Oliveira Ferreira da (1941- 2009) , Obra Reunida- Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro- CORAG, 2012. 370 p. 
WENDLING, Líbia Maria Martins. A arte no vale do Sinos. São Leopoldo: UNISINOS, 1999. 183 p.
----------Casa velha - convívio de arte : um episódio na luta pela cultura em Novo Hamburgo, RS.  São Leopoldo.   UNISINOS, dissertação,  1998. 2 v.
Fig. 19 –  O poeta, professor e agitado político  Oliveira Ferreira da SILVEIRA, (1941- 2009) usou a palavra - tantas vezes negada aos  afro-sul-rio-grandense – e empregou a linguagem erudita nas suas aulas. Sem violência garantiu que as comemorações do dia 03 de maio -  da Lei Aurea-  fossem deslocadas para o dia 20  de novembro morte de Zumbi, em 1695. A sua arte de distinguir, de nomear e de reiterar a  VIDA do AQUI e do AGORA abriu um imenso espaço público e irreversível para a arte afro-sul-rio-grandense ,  
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
BATUQUE
CARLOS ALBERTO OLIVEIRA
CULTURA NEGRA e ARTE
Cultura NEGRA e FEMINISMO
ESCRAVOS LIBERTOS: MAS SEM EMOÇÂO ou RISOS
ESCRAVIDÃO NÃO FOI ABOLIDA NO GRITO
ESCRAVIDÃO no RIO GRANDE do SUL
ESTÉTICAS  ANTAGÔNICAS
ESTÉTICA AFRO-SUL-RIO-GRANDENSE 082- ISTO é ARTE
INTOLERÂNCIA com RELIGÃO AFRO-BRASILEIRA
MAÇAMBIQUES – OSÓRIO RS
MAGLIANI – Maria Lídia
NAVEGANTES e A FESTA das ÁGUAS de VENEZA: ou sendas abertas para o seu estudo erudit
OLIVEIRA SILVEIRA
Oliveira Silveira [1941-2008]. Trajetória do militante do Movimento Negro e a construção da data de 20 de novembro
MEMORIAL da CÂMARA de PORTO ALEGRE (22 bannners) http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=1508&p_secao=117
PELOPIDAS THEBANO
SALÃO AFRO-SUL-RIO-GRANDENSE
SANTOS, Carlos da Silva (1904-1989) deputado estadual
SOCIEDADE BENEFICIENTE CULTURAL FLORESTA AURORA 1872
Religiões afro-brasileiras - recomenda-se o texto disponível em
VIA SACRA do NEGRINHO do PASTOREIO de Aldo Locatelli no Palácio do Governo

VINTE de NOVEMBRO de 1695.

WILSON TIBÉRIO

ARTE AFRO SUL-RIO-GRANDENSE: exposição CENTRO CULTURAL CEEE
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