domingo, 19 de maio de 2013

002 – EXPRESSÕES de AUTONOMIA na ARTE.


Um ARTISTA no GOZO da sua AUTONOMIA:
JORGE HERMANN - CONFLUÊNCIAS - uma crônica visual
da REDENÇÃO - 2012.
Não há caminhos: os caminhos se fazem ao andar”
MACHADO, Antonio (1875-1939) Antología poética.  Madrid : Alianza, 1995,  p.66

Fig. 01 – Jorge HERMANN retorna aos elementos básicos de desenho. Da mesma forma como Giotto escolheu o retorno às tintas, os pinceis e a superfície contrariando as joias, os esmaltes e as pedras preciosas dos ícones bizantinos assim Jorge renuncia aos ícones da parafernália eletrônica. Mesma para os ortodoxos dos meios sofisticados de arte foi um escândalo descobrir que Picasso construiu a sua obra com tintas de parede, com lápis, cerâmica popular e sucata.

Jorge HERMANN ilustra a coerência com o seu caminhar pelas sendas da autonomia por meio dos seus sucessivos projetos nas artes visuais. Com um sólido conhecimento dos múltiplos caminhos, que a arte contemporânea oferece, e que conheceu num curso superior, pode fazer esta escolha. Coerente com o mestre Ado Malagoli sabia que “estudante não faz arte” pois se encontra na heteronímia. O que importa numa Universidade é descobrir que:
o único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos”.       Max WEBER 1989: 70  [1]

Jorge HERMANN manteve e cultivou esta lucidez a respeito de si mesmo. Esta mesma lucidez fornece espaço interior para responder a questão cartesiana do “penso, logo existo”. Jorge materializa este pensamento abstrato por meio de sua expressão gráfica. Com esta questão imaterial e material resolvida, é fácil admitir o OUTRO ou o SEMELHANTE que também possui a necessidade de responder a mesma questão cartesiana


[1] - WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989.  152 p.



Fig. 02 –  A felicidade e a realização de Jorge HERMANN é perceber no OUTRO envolto com os elementos básicos do desenho que ele usa. Elementos gráficos humanos universais e existentes na espécie humana muito antes de qualquer cultura ou linguagem atual são visíveis na arte rupestre de todos os tempos e lugares do planeta.

Na academia de arte Jorge conseguiu sobreviver à pororoca das técnicas, das teorias e das tentações mostradas e características deste curso superior e que afogam a originalidade e autonomia do despreparado para nadar e mergulhar neste meio. Testado e coerente consigo e com o seu projeto, evitou seguir simultaneamente à todos os caminhos já feitos e apontados por esta academia como um “dejá-vue” e portanto não originais.

Fig. 03 – Jorge HERMANN encontrou na profunda interação nas CONFLUÊNCIAS entre a Vida humana e a Natureza presente do Campo da Redenção. Ele escolheu este espaço democrático para deixar fluir o seu pensamento e a sua mão da qual resultou a obra acima.  Interação com a qual interroga a Vida na sua essência e despoja de qualquer aparato da civilização e da tecnologia de qualquer tempo histórico.  O observador desta imagem pode sentir uma ponta de inveja que o seu autor sentiu e captou na confiança deste ser humano encontrando na raiz e na sombra deste vegetal do parque da REDENÇÂO de Porto Alegre-RS.

Diplomado, sobreviveu aos três semestres posteriores à sua graduação quando teve de fazer o seu caminho sem as escoras da turma, dos mestres e do meio cultural institucional. Sobreviveu às tentações do já realizado por outros em todos os tempos e da fama fácil e inconsequente. Sobreviveu às rigorosas perdas, de toda ordem, que uma escolha madura e coerente impõe especialmente numa terra onde o colonialismo constantemente renovado e a escravidão voluntária são leis imutáveis.

Fig. 04 – A atenção que Jorge HERMANN confere ao Buda - do Recanto Oriental do Campo da Redenção de Porto Alegre - é um índice do que se passou na mente do artista. Índice da técnica próxima aos calígrafos orientais, que manejam a tinta nanquim com maestria. Índice presente no tema do Buda. Buda. Este com os olhos semicerrados e o imenso pavilhão auricular evidenciam a concentração necessária na arte para manter a  coerência entre quem produz e aquilo que ele produz.

Jorge HERMANN foi consequente com a sua cultura urbana, buscou as imagens de sua gente, de sua prática publicas e as imagens da natureza que se adaptou nos parques de Porto Alegre. Busca o pertencimento desta gente à sua sociedade e meio.
            Como artista experimentado e livre ele usa os instrumentos mais singelos da arte. Escolheu o preto e do branco que contem todas as cores sem se valer de nenhuma delas em particular
Fig. 05 – O tema desta obra  de Jorge HERMANN remete ao equilíbrio homeostático necessário entre as mais diversas forças contrárias . Em arte não é possível pedir desculpa por um eventual fracasso ou desiquilíbrio. O mesmo  acontece também no esporte, na política, pois o autentico  esportista, o político e o artista sabem que realizaram esta escolha por livre e espontânea vontade. O espaço do Campo da Redenção faz lembrar o conceito de Liberdade de Democracia. Platão  descreveu o regime democrático como um bazar onde é possível encontrar todas as formas de governo. Assim no Campo da Redenção CONFLUEM espontaneamente todas as formas políticas, esportivas e artísticas dispensando  mediadores, tuteladores ou atravessadores do seu PODER ORIGINÀRIO.
Jorge HERMANN não busca a epopeia pela epopeia. Subsumido, em cada um das suas imagens, está o desafio do criador destas imagens de transmitir ao seu observador o seu pensamento lírico. Com a economia dos meios técnicos consegue sublinhar e trazer para o presente o pensamento do mestre de Alexandre Magno de que:
toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Aristóteles[1](1973: 243 114a 10 )

Entrega ao seu observador a sua obra com este lúcido e meridiano projeto na sua mente, no coração e ao alcance de suas mãos.


[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.


Fig. 06 – Na história do  espaço publico do Campo da Redenção Jorge HERMANN escavou verdadeira relíquias de hábitos da populações afrodescendentes e ex-escravos abandonados à sua própria sorte, depois de exauridos no trabalho servil e do qual nada receberam. População que sem revolta e sem agressão soube dar a volta por cima e se afirmar em todos os setores como aqueles que readquiriram a liberdade e sabem o que fazer dela para construir uma outra civilização e distinta dos horrores do colonialismo e da escravidão.

O enigma do Parque Farroupilha – o antigo CAMPO da REDENÇÂO e do BOM FIM de Porto Alegre – é o problema que prendeu a atenção do artista. Problema que despertou os seus pensamentos, a sua sensibilidade e os centralizou na produção física da sua obra gráfica. Obra gráfica que revela o ENTE (o artista que produz)  e que constitui o meio de SER (na obra que é produzida).

Fig. 07 – Certamente todo porto-alegrense sabe que o Imperador Dom Pedro I  da especulação imobiliária salvou o viria a se denominar de Campo da Redenção. Este plano de loteamento já estava traçado. Poiso passageiro das tropas que iam até as minas de ouros passando por Viamão, Gravataí, Pouso de carreteiros vindos de todos os lados.  Com o seu gesto o imperador deu oportunidade para este espaço continuasse sendo o lugar de múltiplas CONFLUÊNCIAS mesmo da atividade produtiva. Jorge HERMANN retorna aos elementos básicos de desenho.

Para tanto se muniu de um projeto, aprovado publicamente,  e permaneceu cativado ao longo de meses mergulhado numa contemplação ativa e centrada e desafiado por este problema. Porém muito antes deste mergulho, contemplação do problema, existia em Jorge Hermann a certeza de um projeto que deveria ser levado à este mundo e ser devidamente socializado. Os índices materiais que permaneceram desta fruição silenciosa resultaram em imagens reduzidas por uma austera economia de meios gráficos. A ascese visual, à qual o artista se submeteu, rendeu testemunhos que se oferecem para serem meios para decifrar o ENTE do autor. A observação  do que foi produzido permite decifrar o ENTE do autor e a assimilação do seu pensamento em qualquer cultura de qualquer tempo e lugar.

Fig. 08 –  Nas suas  CONFLUÊNCIAS Jorge HERMANN confere visibilidade pública à aqueles que  chegaram à esta terra antes dos colonizadores europeus e os escravos afro-brasileiro.   Esta digna cultura pacífica deu exemplos de autonomia ao não se sujeitar à escravidão legal sem deixar de interagir nas adversas condições coloniais. Num futuro remoto os seus ensinamentos poderão ter validade na medida em que as culturas dominantes entrarem em colapso e em consequência da sua ganância, autoconfiança desmedida e por reiterados equívocos nas suas escolhas.

Cada fotógrafo iria interpretar, certamente, este motivo do Campo da Redenção - ou Parque Farroupilha - de sua maneira e com a sua sensibilidade. No entanto o desenho manual - apenas com preto e o branco sobre pequenas folhas brancas – permitiu ao artista apurar  a sua sensibilidade e oferece-la, ao seu observador, potencializada de uma forma universal, única e humanizada.
 Percebe-se nestas obras físicas que, enquanto o lápis caminha sobre o papel branco, as ideias de Jorge HERMANN voavam. Nestes voos destas ideias ele refez o panorama da História, perscrutou as razões sociais, visitou as mentalidades dispersas mas que confluíam para este polo imantado do Campo da Redenção


Fig. 09 – A floresta artificial e replantada do Parque da Redenção mostra o potencial de recuperação da Natureza em questão de uma geração humana. Além de pulmão verde da metrópole poluída e motorizada, constitui um patrimônio público exemplar para onde conflui a população humana cujos interesses o artista  Jorge HERMANN  sonda  e traduz em imagens reconstruídas. Ele sabe que a sua obra poderá vir-a-ser  mais um índice que carrega o máximo de informação no mínimo de sua materialidade.

Há necessidade de felicitar a Prefeitura de Porto Alegre por haver alcançado os meios para colocar em evidência um bem público e que, assim, pode ser transposto  e potencializado  nesta série única e original de obras de arte. Cumprimentos extensivos ao MUSEU UNIVERSITÁRIO da UFRGS por esta acertada acolhida e socialização qualificada desta obra e ao Jornal da Universidade da mesma UFRGS pela divulgação gratuita.

Desenhando na Redenção – obras de JORGE HERMANN - Jornal da Universidade. Porto Alegre:  UFRGS, Ano XVI,  nº 158, Abril  2013, p.14

Cabe concluir com o convite, ao leitor, de dirigir-se pessoalmente ao Museu Universitário da UFRGS, ou visitar o site do artista. Assim terá seus próprios argumentos para concordar, emendar ou discordar da narrativa escrita e visual apresentada na presente postagem. A obra de arte autêntica sempre é única e primordial.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
Conceito de AUTONOMIA e diferença com SOBERANIA


UFRGS - Jornal da Universidade

Sala Multimeios Museu da UFRGS
http://www.ufrgs.br/museu/palestra-ilustrada-com-jorge-herrmann

Site do artista JORGE HERMANN
          http://www.jorgeherrmann.com/

JORGE HERMANN e o GRUPO VÉRTICE
04 de AGOSTO de 2012
07 de AGOSTO de 2012
09 de AGOSTO de 2012
10 de AGOSTO de 2012


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