terça-feira, 7 de agosto de 2012

ISTO é ARTE - 040


O GRUPO VÉRTICE

no Movimento Associativo nas Artes Visuais de Porto Alegre e a busca da profissionalização.

Nada é transmissível , a não ser o pensamento
Le Corbusier[1] in Boesiger, 1970, p.168.


[1]   BOESIGER, Willy .  Le Corbusier Les Derniers  œuvres  Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8,  208 p
.

Foto de Pierry Schultz
Fig. 01 – Integrantes do Grupo Vértice

Círio Simon –Mônica Heidrich - Analino Zorzi – Pierry Schultz  e  Verô Corbari

Reunião nº 27 -  31 de maio de 1990 – RESENHA para uma ATA.

Às vinte horas (20h00) do dia trinta e um de maio de mil novecentos e noventa (31.05.1990) reuniu-se o Grupo Vértice no Atelier de Verô Corbari. Presentes Jorge Herrmann, Mônica Heidrich, Pierry Schultz, Verô Corbari e Círio Simon estabeleceu-se a pauta que nesta data versaria sobre: temas tratados anteriormente em grupos menores, retomada das apresentações dos integrantes do grupo, próxima exposição do Grupo Vértice no GBOEX (três de julho) e assuntos gerais.

No tema assuntos tratados anteriormente, os integrantes Mônica e Jorge narraram a decisão de estudos mais aprofundados sobre os integrantes e as suas obras. Questiona-se a sistemática anterior. Mas chegaram a conclusão que o estudo de cada membro deva ter sobre um colega do grupo, mesmo arriscando não dizer a verdade. A provocação verbal de conceitos errados, sobre o colega, pode gerar o debate e a dialética de percepções, que é um dos objetivos r instrumentos de análise.

A apresentação dos integrantes do grupo começaria a partir destes estudos sobre o colega, mais a exposição da obra do apresentado. Contudo não ficou definido a quem caberia o estudo de cada um dos colegas.

A exposição do grupo no novo espaço GBOEX, inaugurado com a presença e a exposição do integrante do grupo, Analino Zorzi, deverá ser temática geral e constante de todas as reuniões do grupo durante o mês de junho. Foram solicitadas, genericamente  de todos, o estudo para o catálogo, convite, patrocínio, assessoria de imprensa, coquetel. A colega Verô tentou entrar em contato telefônico com Analino Zorzi para saber das reais condições do espaço e calendário do GBOEX.

No tema assuntos gerais, o colega Pierry elaborou um questionário individual para cada integrante, que deveria ser respondido publicamente e em diálogo coletivo. As duas questões eram: Primeira: - que deseja do Grupo? Segunda: - o que espera dar ao Grupo?  Todos os integrantes sujeitaram-se ao questionário e responderam de forma espontânea. As suas colocações eram entrecortadas com observações atinentes aos membros do grupo. Neste ponto o colega Pierry esclareceu que o objetivo do seu questionário, era para ter ‘feeling’ para defender o colega nas suas buscas e diante do grupo externo.

Foram tratados temas relativos à cooperativa de artistas e sua validade, o preconceito do Brique da Redenção e o artista elitista, a galeria comercial de arte, a relação entre eventos externos e o aumento do ritmo de produção e de trabalho, quando este evento externo existe, a maneira como o Grupo entende a socialização do seu trabalho artístico.

A reunião foi encerrada as vinte e uma horas e trinta minutos (21h30min). Resenha para uma ate elaborada por Círio Simon


STIGGER IVO : PERFIL Ado Malagoli Zero Hora, 17 de julho de 1990, Revista ZH p.4 col. 4
Fig. 02 – A frase de ADO MALAGOLI (1908-1994) foi uma das inspirações do projeto norteador dos integrantes do Grupo Vértice

  INTENÇÕES de CADA um dos COMPONENTES do GRUPO VÉRTICE.

O questionário, de autoria de Pierry SCHULTZ, era para cada integrante responder publicamente e em diálogo coletivo. As duas questões:

Primeira: - que deseja do Grupo?

Segunda: - o que espera dar ao Grupo? 


Geraldo Soulue GRAZZIOLI : está se programando para viajar, em julho, aos Estados Unidos. Ele está questionando, na Arte, até que ponto é valido depender dela para sobreviver. Sente-se angustiado no momento, talvez por ter uma visão imediatista, sendo que, em Arte, o retorno é lento.

Fig. 03 –JORGE HERRMANN  -MARGINAIS  - Novembro de 1989 Lápis Conté   66 x 96 cm  

Jorge HERRMANN : Lança ao Grupo expectativas em relação aos anos 1990. O vale tudo, a falta de informações, a falta de espaço para expor ideias, para polemizar em cima delas, para correr o risco de atingir a sensibilidade de qualquer pessoa. Expor-se a ser criticado. O Grupo não atingiu este objetivo, sendo este um marco, tratar de tais questões, perceber que existem pessoas que fazem cerimônia pelo fato de não se conhecerem, para propor-se a pegar juntas. O que falta justamente em Porto Alegre, é o fazer. O Grupo dá suporte para a integração.


Círio SIMON : A História da Arte em Porto Alegre é recentíssima. As falhas são características da juventude. Apenas dois, ou três, conseguiram vencer na Arte em Porto Alegre. Muitos elementos brilhantes perdem-se devido a questões históricas de sobrevivência. Na questão de mercado de arte, exemplifica com o Leste da Europa, onde o artista não tem este mercado, vivendo de uma profissão paralela e alimentando a ilusão de que com a abertura o problema seja solucionado. A criação artística, sem um contexto, não tem onde colocar as suas ideias  e trocar de informações, reforçando, no entanto, que o indivíduo pode mudar uma sociedade. Círio busca a necessidade de interação, no próprio Grupo Vértice, por meio do estudo e do desafio. Esta interação vai se fortalecer o grupo, na medida em que todos forem iguais. Estabelecer por que o indivíduo constitui o equilíbrio, a origem do grupo e a sua finalidade. O Grupo Vértice define como projeto, específico e intencional, desafiar as pessoas.


Zilma FERREIRA : Acredito no trabalho em grupo, porque nos leva a um crescimento muito grande, como grupo e pessoa.


Fig. 04 – Obra de Verô CORBARI in Folder exposição 24.06-10.08.1990  Porto Alegre  GBOEX

Verô CORBARI : Creio que naquilo que se projetou no início do Grupo Vértice. Pessoas consagradas, que levem aos outros e atingindo a todos. Para tanto precisa ser adulto. Este projeto é cria do grupo. Contudo ele não tomou consciência da sua própria cria. O amadurecimento do projeto assustou ao perceber a sua cria adulta. O Grupo Vértice é suporte da sede de expressar a ansiedade, de passar informações, de levar isto ao público. Nos Estado Unidos, por exemplo, existem grupos de pessoas que dialogam frente a frente, satisfazendo a sua necessidade de informação. O Grupo Vértice necessita ser conhecido como um grupo que fala e trabalha com força.

Mônica HEYDERICH : Tenho certeza que que o grupo vai crescer, buscar crescimento e estímulos. Sinto que precisa que precisa se desenvolver, criar coisas novas e tornar-se mais criativo.


Fig. 05 – Analino ZORZI - História de uma semente nº 9B  - 1990 -acrílico - 33 x 50 cm

Analino ZORZI : O Grupo Vértice se preocupa com a crítica, com o debate de tudo aquilo que está se fazendo ligado à área da Arte. A aproximação com outros artistas possui o objetivo de criar e manter o vínculo,  artista, obra, público. Esta é a essência maior da Arte. Não tornar a exposição convencional. Contudo como processo diferente. O artista se expõe ao grupo. O debate no Grupo Vértice fornece  o sim ´- ou não, na continuidade deste fazer da produção artística individual.



Fig. 06 – Foto-colagem de Pierry SCHULTZ  in Folder exposição 24.06-10.08.1990  Porto Alegre  GBOEX

Pierry SCHULTZ : A troca de informações profissionais, de técnicas, de criatividade, passaram a ter mais segurança de ajuda mútua por meio do Grupo Vértice. A segurança mútua vence a dificuldade de quem está desprovido deste auxílio.  Este auxílio abre-se, agora, para trazer outros integrantes ao grupo. Este aumento propicia descobrir outros caminhos e a coragem de expor-se à crítica. O debate franco foi sempre o bom do Grupo Vértice. Agora existe a necessidade de projetá-lo  financeiramente para ter sobrevivência própria. Isto gerou o descontentamento. No entanto discordo da posição dizendo que o filho não nasceu, e corre o risco de ser abortado. Isto devido ao fato de que o projeto não conseguiu o patrocínio. Talvez o Grupo Vértice tenha dado um passo de tamanho monstruoso.  Este projeto poderia nascer menor. A tentativa de realizar este projeto foi no Banco Real, onde aconteceu uma exposição individual. A utopia da crise nasce daquilo que as pessoas entendem como Arte.  Crise com projetos palpáveis da Arte em Porto Alegre onde não conseguem sobreviver, exceto algumas exceções. A pauta deve ser estabelecida com outra exposição. Para maior flexibilidade, não deveria esta ser pautada como aquela proposta na reunião anterior.


Fig. 07 – Logo do Atelier e Escola de Arte “Eu que Fiz”. Local das 28  reuniões realizadas pelos Integrantes do Grupo Vértice entre 15 de agosto de 1989  at agosto de 1990 
As 28 reuniões do Grupo Vértice ocorriam no atelier e escola de Arte, mantido por Verô Corbari que ostentava o sugestivo nome “Eu que Fiz”. No gesto de acolher o Grupo enfrentava a contradição da criação individual com a necessidade da socialização do seu agir solitário.

A presente postagem é a 02 de uma série relativa ao Grupo Vértice.



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