sexta-feira, 1 de junho de 2012

ARTE - brasilidade e germanidade - 009

Os OLHARES da GERMANIDADE no BRASIL
ENFRENTAM um SISTEMA de ARTES TEMPORÃO.
“Canto o hino da pátria que permite ganhar o pão para os meus filhos”
José SIMON professor rural de uma comunidade germânica ao longo do Estado Novo.
Fig. 01 – Diante do Monumento ao Sapateiro de Flávio Scholles, no centro de Novo Hamburgo, pode-se pensar em ressonâncias do artista germânico contemporâneo que é A.R.Penck (Ralf Winkler)
O Brasil e a Alemanha saíram, em 1945, de regimes totalitários e tatearam por outros e novos caminhos. A Alemanha foi transformada em lugar de embate da Guerra Fria.  A divisão física, entre duas concepções diametralmente opostas, traçou fronteiras sobre o seu território nacional. O Brasil, superado o Estado Novo, mergulhou no regime militar para manter partido de um dos lados desta mesma Guerra Fria.
Fig. 02 – Mira Schendel uma artista suíça com um período de residência e produção em Porto Alegre. A sua obra ganhou depois ressonância planetárias.
Ambas as nações saíram destas situações no inicio da década de 1990. O Brasil teve a sua Constituição Cidadã em 1988.  O Muro de BERLIM entrou em colapso em 1990, dando oportunidade para as duas Alemanhas se reunificarem.
Entre 1945 e 1990 foi necessário reinventar toda a forma tradicional de fazer artes visuais, que tenha alguma referência à germanidade, para reencontrar o caminho sem perder o ânimo deste projeto. Se de um lado este caminho deveria ser trilhado pelo artista individual, do outro a formação de grupos, de instituições e a constituição de uma consciência coletiva eram imperativos diante de pulverizações de estéticas tradicionais.
 
Revista da Globo, ano 35, nº 861 , 07-20 dez 1963, pp 32-35
Fig. 03 – INSTITUTO de BELAS ARTES de NOVO HABURGO – IBANH – Iniciativa da Profª Emília Margaret Sauer. Este Instituto   foi uma das matrizes da FEEVALE e do seu curso superior de artes e que continua a sua obra benemérita no Curso de Bacharelado em Artes Visuais - para formar profissionais na área das artes visuais – e o Curso de Licenciatura para o magistério na mesma área.

No Vale do Rio dos Sinos a era industrial chegou, nesta época, ao seu apogeu. As suas fábricas de calçados e a sua exportação, em larga escala, e fizeram circular, nesta região, quantidades significativas de capitais econômicos.

Fig. 04 –  Sonia EBLING – Artista nascida em Taquara – RS
Este Capital induziu as artes visuais, a um sistema temporão. Apesar do grande fluxo das riquezas, elas não criaram uma base permanente na região das antigas colônias germânicas. Estas riquezas econômicas estavam muito distantes, ainda, para oferecer uma sólida base para a renovação da ARTE. Estas riquezas, geradas na origem deste trabalho, não perceberam a amplidão do seu papel cultural e social como fontes de um desenvolvimento continuado de um projeto civilizatório compensador da violência e mal-estar que lhes  é inerente. Muito menos foram suficientes e ágeis para gerar, e manter, um sistema de artes visuais competente para tornar-se autossustentável e se reproduzir.  
Fig. 05 – Casa Schmidt e Fundação Scheffel – Hamburgo Velho
As riquezas, geradas na região das antigas colônias germânicas, preferiram o lucro imediato e palpável no investimento em imóveis de posse individual e hereditário. Aquelas que não se fixaram nesta origem, migraram atraídos por projetos desenvolvidos em outras regiões brasileiras, como o Nordeste brasileiro, e depois, para a China.
Uma das poucas exceções foi a criação, em 1976, da Pinacoteca APLUB em porto Alegre. Esta investiu pesado na compra de obras de vários artistas de ascendência germânica, ajudando a sua cotação e estabilidade de preços. Porém a benemérita obra, iniciada por Rolf Udo ZELMANOWIZ, teve de fechar as suas portas em 2002, quando houve determinação que uma instituição financeira não podia contabilizar o capital investido em obras de arte.
Fig. 06 – Ernesto Frederico Scheffel criou o Monumento ao Sapateiro em Campo Bom. Como artista inquieto e em permanente ruptura de limites entre as diversas manifestações artísticas. ..
Do lado das políticas publicas também não aconteceu um projeto consistente compensador da violência que o Estado deve exercer para manter a ordem e, paz e prosperidade. O afluxo de uma massa rural empobrecida trouxe, para as regiões urbanas, já precárias, problemas de toda ordem e cuja solução sempre foi “para ontem”.
As instituições, principalmente a diversas universidades da região mantiveram silenciosamente e, com grandes sacrifícios, um élan que se renova de geração em geração. Assumiram o papel e o lugar, destes capitais voláteis e das políticas publicas sufocadas por problemas imediatos, naquilo que não é de sua natureza intrínseca. Tiveram de inovar em projetos que em outras culturas já foram transformados numa segunda natureza.
Em Novo Hamburgo é necessário conferir este élan, nos altos momentos na forma de uma “Casa Velha- Convívio de Arte!”, no grupo "Cavalo Azul" ou na busca de um mercado de arte como na Galeria Contemporânea. Só o projeto, e a realidade, da PINACOTECA da FEEVALE mereceria um estudo mais documentado e critico. Projeto mantido com, o suporte a continuidade e dinamismo dos seus curadores, as exposições que promovem, os convidados e a realidade do suporte da divulgação e da infraestrutura física dos materiais necessários e produzidos para manter, dinamizar e socializar este projeto.
Fig. 07 – O Kikito criado pela artesã Elizabeth Rosenfeld (..-1980) representa uma das contribuições desta alma germânica para a região das Hortênsias. O seu artesanato não só preparou mão de obras mais especializada, mas mostrou o caminho para a indústria cultural e especialmente do turismo receptivo. O Festival de Cinema de Gramado foi uma destas expressões e que recompensa os melhores do evento com uma estatueta criada por Rosenfeld.

A região das Hortênsias com fluxo menor, mas mais continuado de capitais, criou, desenvolveu e manteve um polo expressivo do turismo nacional.
A cidade de Montenegro retomou o seu papel de polo cultural como sede de um município do qual se emanciparam prósperas e ativas comunidades. Agora como polo simbólico criou e mantém viva e atuante a FUNDARTE. Esta, em parceria como a UERGS do governo estadual, está mantendo diversos cursos e em diversos níveis das artes. A sua Galeria de Arte recebeu o nome da benemérita artista Loide SCHWAMBACH nascida em Passo Fundo. Também esta Pinacoteca mereceria também um estudo mais documentado e critico.

Fig. 08 –  Ernesto Frederico Scheffel é um artista que circula também pela Música na qual possui criações próprias. Manifesta assim també mais um traço de sua germanidade, pois foi na Música que esta cultura atingiu o vértice inconteste da Arte universal.  

No élan destas comunidades é possível conferir, como nos seus polos maiores, como pulsa uma Arte que carrega altos índices da sua origem germânica. Evidente que esta postagem necessita de um auto-limite e assim não pode se dedicar a sua atenção a registrar uma a uma. Contudo, em cada comunidade, de origem germânica no Brasil,  existe uma vida própria e distinta das demais. Desde a região das Missões, Planalto Médio, Lago dos Patos, capital, Depressão Central como na Serra Gaúcha, onde se derramaram os descentes dos imigrantes germânicos, existe uma continuada e silenciosa produção visual de raiz específica desta etnia. Estamos muito longe de poder registra um sistema da artes nas antigas e novas colônias de origem alemã. Além disto, muitas vezes,  esta produção visual, ainda está presa ao artesanato ou ao utilitarismo direto. Mas ela a companha a criatura humana do berço ao túmulo e se prolonga e perpetua nos templos. Derrama-se nos clubes, nos festivais gastronômicos, nas bebidas e nos instrumentos próprios para cada atividade individual ou coletiva. Pontilha o calendário do primeiro ao último dia do ano.
Fig. 09 –  Marciano SHMITZ  não escamoteia a sua origem germânica e que revela pelo cuidadoso desenho e pelos mínimos detalhas narrativos que seleciona e inclui na sua obra. De outa parte o seu repertório é constituído pelas formas naturais que percebe no meio telúrico onde nasceu, fez a sua formação e produz a sua obra.

As oito postagens anteriores foram necessárias, não só para perceber o imenso universo civilizatório desenvolvido pela germanidade, mas para não ficarmos com os olhos limitados pelo universo empírico do aqui e do agora. Muito mesmo na heteronomia de Ciências que se dizem alheias e se desviam da essência e da natureza da Arte. Se a civilização avança também significa a necessidade de transfigurar este mundo empírico e limitado e assumir a essência da Arte. Evidente que a indústria cultural e pragmática não dá conta das rupturas estéticas necessárias para todas estas ricas e diversificadas experiências e nem suporta o hábito da integridade intelectual. Se a era numérica digital acelera e precipita este processo, de outra parte permite considerável acúmulo de informações para constituir uma consciência coletiva mais ampla e crítica apta para se reproduzir em novos agentes e obras.

Fig. 10 –  Flávio Scholes foi um dos artistas mentores do movimento Casa Velha (1977-1979) pregava a radicação do artista no lugar de origem, para que fizesse uma arte mais identificada com sua região, evitando ir para os grandes centros. Ele mesmo um retornado dos grandes centros. Colegas com Marciano Schmitz aceitaram o desafio de permanecer e construir a sua carreira

Qualquer patrulhamento cultural, exercido sobre esta e outras etnias, perde sentido diante da força interna desta massa de agentes, obras e informações estéticas canalizadas para este campo de forças. Este campo de forças da Arte só acumula e percebe oportunidades para reforçar a sua consciência interna. Oportunidades existentes nas amplas motivações superiores e universais em outras etnias distintas da sua. Diversidade na qual esta cultura busca o que existe de melhor.  Todos os Estados e nações  possuem o direito ao seu centralismo e identidade própria, muitas vezes, construídos com os maiores e mais árduos sacrifícios. Quem percebe estes sacrifícios a construção, destes centralismos diferentes, reforça esta mesma prática e estimula a realizar sacrifícios semelhantes. Percebe sempre o sentido daquilo que significa elevar-se da barbárie e da Natureza bruta.

Fig. 11 – Flávio Scholes num dos seus temas recorrentes que é trabalho coletivo das agricultoras

Esta consciência coletiva e este centralismo são essenciais quando, no presente, um grande número - destes Estados e Nações - está buscando o comércio simbólico e material com todas as etnias. Neste comércio simbólico é sempre significativo o diferente, o único e contraponto. O patrimônio simbólico da germanidade se completa no interior deste concerto de etnias, de culturas e de buscas continuadas.
Fig. 12 – A devoção ao Pe REUS em São Leopoldo foi oportunidade para a Arquitetura e as Artes Visuais materializarem este sentimento religioso coletivo. Os mosaicos de Danúbio Gonçalves expressam visualmente esta cultura imaterial.
No entanto esta consciência coletiva depende de um processo da atualização da inteligência e o exercício continuado ao direito à pesquisa estética, na opinião de Mario de Andrade[1]. A Arte, quando é tratada como produto a mais, no mercado dos bens simbólicos e sem o exercício continuado do hábito da integridade intelectual, ela se perde na multidão anônima e indiferente. Neste processo ela está a mercê da entropia e no caminho do seu retorna à Natureza bruta.   Uma etnia, consciente de sua identidade e do diferencial de que ela é portadora, é capaz, também, de estabelecer distinções e constitui um caminho para a inscrição, do seu significado, numa civilização.  O ecletismo, onde todos os gatos são pardos, é o refúgio de quem cansou ou ainda não atingiu a sua própria época a qual pertence culturalmente

[1]- ANDRADE, Mário. O movimento modernista. Rio de Janeiro : Casa do Estudante do  Brasil, 1942, 81 p..
 ____. Curso de Filosofia e História da Arte. São Paulo : Centro de Estudos Folclóricos, 1955. 119 f.

Fig. 13 – São Leopoldo - Monumento 150 anos  da Imigração Alemã.

Não olhar prospetivo, a partir da nossa própria época,  não é possível ignorar que daqui uma década e o Brasil estará celebrando o bicentenário de sua maioridade e sua soberania. Certamente serão necessárias, não só uma Semana de Arte Moderna mais milhares delas e em cada recanto do Brasil onde cada uma irá reelaborar essa consciência do seu diferente e a sua coerência com o coletivo nacional.
O Bicentenário da Imigração Alemã segue cronologicamente O Bicentenário da Independência do Brasil. Evidente que as duas datas possuem profundos vínculos. A começar pela Imperatriz Leopoldina, que chegou ao Brasil, em 1818,  cercada de missões culturais e científicas germânicas fundamentais para os evento da Independência do Brasil diante do mundo civilizado.

Para conhecer melhor a ação de Dona Leopoldina no episódio da Independência do Brasil, convém consultar o texto do Prof. Dr. Moacyr Flores  http://www.ihgrgs.org.br/artigos/cartas_leopoldina.htm
Por este texto é possivel conferir que  foram excelentes conselheiros e mantiveram uma assessoria continuada para que a esposa do primeiro imperador do Brasil tivesse, não só a sua lealdade à sua nova e definitiva nação, mas uma conselheira carinhosa e prudente nestes momentos de transição. O mesmo pode ser dito de todas as negociações e preparações para que a Grande Imigração decorresse da forma mais coerente e produtiva tanto para o Brasil como para os novos habitantes que tiveram o seu momento de teste em 1824.

 Então não é por acaso que a soma das energias brasileiras e dos imigrantes tivessem tido a fortuna que tiveram. As datas, de 1822 e 1824, ganham assim o mesmo sentido e se reforçam reciprocamente. De outra parte nem a Independência, nem a Grande Imigração foram no improviso e no capricho de um ou mais agentes. Com afirmamos e estamos estudando no 3º  blog Não foi no Grito”.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS RELATIVOS à ALGUMAS INSTITUIÇÕES de ARTES VISUAIS

Escola de Belas Artes de Novo Hamburgo
  Revista Globo- ano 35 - nº 861 - pp. 32-35-07-20 dez 1963

FEEVALE

Fundação SCHEFFEL

MONTENEGRO – arte
Museu de Montenegro

MONUMENTO 1924 à IMIGRAÇÂO ALEMÂ

Museu de Taquara -RS

Museu de São Leopoldo

Galeria e Espaço Cultural Albano HARTZ

PINACOTECA APLUB (1975-2002)  iniciativa de Rolf Udo ZELMANOWIZ obras de artistas germânicos

REFERÊNCIAS a ALGUNS NOMES de ARTISTAS e ARTESÕES

CARLÃO

ELIZABETH ROSENFELD e o Artesanato Gramadense

Ena LAUTERT

Enio Pinalli 1929-1990

MARCIANO SCHMITZ

Mira SCHENDEL (1919-1988)

SALOMON SMOLINOFF (1897-1976)

Este material possui  uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...

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Um comentário:

  1. Caro prof. Círio, gostaria que fossem mantidos os créditos de fotografias de minha autoria que foram aqui utilizadas, ainda que se tenha procedido recortes ou derivação nas mesmas.

    Abraço e parabéns pelo artigo.

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