domingo, 15 de abril de 2012

ARTE - brasilidade e germanidade - 004


CONDIÇÕES de PRÁTICAS ARTÍSTICAS no BRASIL,
EXPRESSAS por INTELECTUAIS NACIONAIS e ESTRANGEIROS.

Canto o hino da pátria que permite ganhar o pão para os meus filhos”.
José SIMON professor rural de uma comunidade germânica ao longo do Estado Novo.

O pior erro que o descendente alemão poderia cometer seria deixar de cultivar no Brasil a sua identidade expressa nas suas técnicas, na sua cultura e na sua Arte. Sairiam perdendo tanto o Brasil, como a germanidade e, em especial, o descendente. O Brasil viria a ser subtraído de uma riqueza interna única e de uma diversidade que o vincula ao cenário de uma civilização planetária.
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n TUBINO 2007 p.063
Fig. 01 –   Dr. João Daniel  HILLEBRAND - 1800-1880- Em relação à arte por ele praticada, Arsène isabelle escreveu” Excelente desenhista, pintou uma coleção de lepidópteros da colônia. Fiquei encantado com a exatidão do desenho e as frescura do colorido desses lindos insetos”.

 Um descendente da germanidade, desconectado da sua origem, perde as conexões com as forças legítimas e ativas e recai no estágio da Natureza. Quanto mais alta é esta sua origem, maior é sua queda. Mas a queda não é o limite da catástrofe. O descendente da germanidade - de retorno para a Natureza - é imantado pela entropia carente de sentido e de projeto. Nesta esfera a incultura age solta. Na incultura  o  descendente da germanidade gravita ao redor da  barbárie e da marginalidade técnica, cultural e estética.

Fig. 02 –  Capa do livro do Arsàne Isabelle  impresso na Europa (Havre) em 1835 reportando a viagem deste francês pela região do Rio da Prata – Uruguai e Jacui e Lagoa dos Patos e seu retorno a Montevidéu onde ajudou a consolidar o Museu Natura do Uruguai

Evidente que esta entropia é possível e é evidente no declínio das mais altas civilizações, pois sempre são construções humanas mantidas vivas e atuantes enquanto duram os seus projetos.
 Esta entropia é bem visível na vida e na obra de um médico austríaco que resolveu de forma avulsa migrar ao Brasil na mesma época da formação a Colônia de São Leopoldo.
As condições pessoais nas quais trabalhava este sábio, que optou pelo Brasil onde tentava cultivar a ciência européia da época foram avaliadas e registradas pelo francês de Hercules Florence (1804-1879), do  infortúnio na recepção de sua ciência em ITU no início da Independência Brasileira
“Travei conhecimento com o Dr. Engler, austríaco, homem todo voltado para a ciência. Sua biblioteca qualificada, e assinaladamente alemã, acompanhava-se de um gabinete de Física e um laboratório, assim como de instrumentos de astronomia. Todo esse aparelhamento lhe assegura a estima de minguado número de pessoas; quanto à generalidade da população, em relação a ele, prevalece a indiferença e, não raro, a censura. Assim se mede a inteligência por estes lados. Mas não é a inteligência um dom da divindade? A comprovar que o mérito e o talento frequentemente sofrem a ação do desdém, não seria demais afirmar que um dos gêneros de bem estar preferido pelos homens se traduz por excentricidade, práticas frívolas e, até, atos hostis.

Este texto registra o  infortúnio na recepção de sua ciência em ITU no início da Independência Brasileira. Certamente a recepção das atividades artísticas e cientificas do Dr. Daniel Hilebrand não eram muito diferentes na época da formação da Colônia de São Leopoldo


Fig. 03 –  Rudolf Hermannn WENDROTH - rio dos Sinos 1852. Este soldado da Legião Alemã, a serviço na fronteira Sul do Império Brasileiro, ultrapassou as meras normas militares no registro das imagens que encontrava ao longo marchas e deslocamentos desta Legião. Deixou um precioso acervo de imagens que continuam a tradição do registro do exótico para a tradição européia. A sua obra precede um pouco a entrada da fotografia esta região. Esta nova arte de registro visual fez também com que obra deste Brummer fosse esquecida e que só veio a circular e ter observadores mais atentos, no final do século XX.

Esta narrativa constitui um precioso índice do grau do adiantamento pessoal, social e econômico estágio cultural. Esta gratuidade significa, no sentido econômico, que esta sociedade venceu a satisfação das necessidades básicas humanas e pode entregar se a algo que a transcende. No aspecto social é um potencial ponto de socialização tanto para cientistas como artistas com iguais e semelhantes gerando um pertencimento. No plano pessoal, não é só índice de que a pessoa que pratica a Ciência e Arte com esta gratuidade é alguém que pratica o direito e vontade de deliberar e decidi no interior da maior autonomia de conhecimento empregando os mais elevados meios para transcender-se e desafiar limites do tempo e do espaço.
Fig. 04 - Rudolf Hermann WENDROTH, -  mapa  do Rio Grande do Sul,  versão do ano de1856. Registra o cenário das ações da Legião Alemã. Destaca o Rio dos Sinos e a localização de São Leopoldo que na época estava completando 30 anos de existência.

Na somatória destes índices é possível afirmar que este estágio corresponde um projeto pessoal e do outro lado sustentar que este projeto pessoal se inscreve numa civilização que possui  a sua entidade e que ela cultiva.
in TUBINO 2007 p.056a
Fig. 05 - Casa de Feitoria de São Leopoldo antes de 1924. Esta casa era o que sobrara de um projeto lusitano de cultivo de linho cânhamo que havia falido e se rendera à entropia natural. Na época da grande imigração não passava de uma senzala que foi esvaziada para dar lugar  ao imigrante loiro. É o que se  depreende do decreto provincial de 31 de março de 1824 que  ordenava que se “avaliasse e remetesse para a Côrte os escravos da feitoria, á medida que os colonos chegassem..”. Certamente serviu de aviso silencioso das condições que o imigrante encontraria no local.
A entropia cultural está à espreita em todos os recantos e momentos. É se quer ressaltar também nas atividades intelectuais e científicas e artísticas. Esta entropia cultural e expressa e pode ser percebida na frase “excentricidade, práticas frívolas e, até, atos hostis”,do texto de Hercules Florence em relação ao medico de Itu. Esta entropia cultural projeta-se no mundo empírico e faz descuidar também do patrimônio material. A sociedade, sujeita à entropia cultural, é induzida a não preservar de algo de físico e que avalia como associada e dava suporte físico para algo “excêntrico,  frívolo e, até, atos hostis”. O máximo que preserva são alguns relatos dispersos produzidos por outros e que servem para justificar os seus julgamentos e atos de incúria e barbárie.
Contudo dez anos após sua instalação oficial, a colônia de São Leopoldo dava sinais e havia sementes em ações concretas  da possibilidade de reverter esta barbárie e incultura. Isto é possível conferir ao ler o relato de Arsène Isabelle em relação à sua visita, realizada no outono de 1834. 

Fig. 06 –  A SALA de AULA ALEMÃ foi a base institucional para promover a  continuidade de uma tradição intelectual, além da social, comercial, artesanal e agrícola alemã. Esta sala foi uma das primeiras preocupações do imigrante alemão no Brasil. Por meio dela promovia a  formação intelectual das novas gerações, tornando-as competentes para entender  e capazes de transferir para o mundo mental o sentido do patrimônio material e simbólico da imigração alemã que estudava, registrava e socializava tendo em vista e futuras gerações. A função destas salas não era contar e celebrar os heróis ou feitos dos seus ex-alunos, mas a formação de cidadãos competentes para dar suporte ao PODER ORIGINÀRIO que esta escolhinha reunia na sua raiz. A maioria delas  foi eliminada desta função primordial quando a administração publica começou a administrá-las por cima e por fora do PODER da qual se ORGINAVAM.A maioria delas foi fechada sumariamente  como anti-funcionais na visão deste poder exterior e superior..

Arsène ISABELLE. (1807-1888) visitou  São Leopoldo no outono de 1834. Este viajante francês registra em letra de forma o projeto da imigração alemã massiva e que transformou os arredores da antiga senzala lusitana. O seu texto torna explícito o sucesso deste projeto. Ele transformou em imagens visuais aquilo que ele captou nas páginas do seu texto.  Vale a pena ler as páginas 250 até 254, da edição de 2010 do Senado Brasileiro:

“Para ir à colônia alemã, subi o rio dos Sinos, rio de quarta ordem, bastante profundo, mas de tal modo sinuoso que a distância de Porto Alegre a São Leopoldo, de apenas sete léguas por terra, torna-se de quase vinte léguas por água. Assim como o Jacui e todos os do rio Grande, o rio dos sinos corre sobre um leito de areia e de terra limosa. As margens são tão pouco elevadas que parecem submersas. Entretanto são habitadas e cultivadas, mas a gente teve o cuidado de construir as casas sobre estacas, u sobre uma armação de madeira, de cinco a seis metros de altura. O teto dessas habitações, construído em saliências, lhe dá a aparência de pavilhões chineses.
Depois de remar toda a noite,  o barco alemão no qual havíamos viajado parou num lugar chamado Três Portos. São simplesmente três clareiras no meio do mato, na margem esquerda, mais elevada, ali, do que nas outras partes. Já nos encontramos na colônia alemã. Desse lugar a São Leopoldo são apenas duas horas a pé, ao passo que seguindo o rio, para chegar ao verdadeiro porto, é preciso remar o dia inteiro. Preferimos ir a pé, caçando, a respirar por mais tempo as exalações fétidas de um barco coberto, provocadas por uma meia-dúzia de criadas e não sei quantas crianças, que comiam laranjas, bananas e outras coisas gostosas, de que a gente se satura rapidamente.

in TUBINO 2007 p.096
Fig. 07–  O barão Karl Von  KOZERITZ (1830-1890) integrou a companhia militar alemã que veio ao sul do Brasil na metade do século XIX. Dominou logo o idioma local. Com este instrumento cultural  passou a agir por meio da imprensa para manter bem elevado e a nível internacional a mentalidade e o pensamento dos seus patrícios aos quais infundia esta necessidade do domínio do idioma local. Dos seus patrícios ele exigia  o domínio da língua culta germânica ao mesmo tampo aquela da nova pátria. O seu projeto era a perfeita integração cultural e que ele havia escolhido.  Ele desapareceu na época da passagem do regime imperial brasileiro  para o republicano.
Percorremos uma região encantadora, montanhosa, coberta de matos, de praias, de granjas alemãs, de campos cultivados e banhados por uma infinidade de regatos. Subimos colinas elevadas, cobertas de espessas florestas através das quais foram abertas estrada que se cruzam em  todos os sentidos, abrindo comunicações para todos os pontos da colônia.
Depois de termos subido e descido várias vezes, avistamos, enfim, na volta de um caminho coberto, a vila de São Leopoldo, situada no meio de uma planície baixa, que pode ter duas léguas de circunferência. Pensamos estar na Alemanha. Não pude deixar de experimentar, à vista dessa povoação européia, um sentimento de admiração, pois fui imediatamente surpreendido pelo contraste que me ofereciam esses lugares cultivados com cuidado, esse caminhos abertos penosamente através da colinas, dos montes e das florestas, essas pequenas propriedades cercadas de fosso profundos ou sebes vivas, essa atividade dos agricultores e operários, rivalizando, de modo invejável, pelo prosperidade de comum, com o abandono absoluto no qual os brasileiros deixam suas terras, o mau estado de seus caminhos, suas choupanas em ruínas, enfim, essa falta de indústria, esse espírito perdulário e destruidor que os caracteriza, assim como os argentinos.
Minha admiração não foi menor ao ver, quase sob o trópico, uma nação das regiões polares conservando hábitos, seus costumes, sua vida ativa, e dando origem a uma geração que deve um dia mudar a face do país.
Fig. 08 –  A litografia da oficina mantida por  Ignácio (1845-1908) e por Miguel WEINGÄRTNER(1869-1928) mostra a Porto Alegre do século XIX e os cursos da água que levavam para a colônia de São Leopoldo e a a rede das demais cidades dos imigrantes germânicos que se foram estabelecendo as margens do afluentes do Guaíba. O intenso comércio que se estabeleceu nesta rota fluvial manteve e intensificou as conexões entre estas sucessivas urbanizações e os consumidores da capital da província. Com a monetarização deste comércio foi possível o surgimento doa artesanato sustentável e depois das primeiras oficinas industriais como era a gráfica dos  WEINGÄRTNER. Nesta família o mais conhecido é pintor Pedro ( 1853-1929) que manteve profunda vinculação com a sua origem cultural e ao mesmo tempo uma profunda vinculação com os centros culturais brasileiros e europeus.

A vila de São Leopoldo, chamada também de Feitoria, está situada, como acabo de dizer, em uma planície baixa, à margem esquerda do Rio dos Sinos, a sete léguas ao norte de Porto Alegre. De todos os lados, ao sul, a leste e a oeste, a planície é dominada pelas colinas cobertas de florestas. A oito ou dez léguas para o norte passa grande cadeia de montanhas, a serra do mar, eu se dirige para o oeste, e através da qual os alemães abriram estradas admiráveis, vencendo extraordinárias dificuldades. Independentemente da cadeia principal, existem ainda alguns montes isolados no sul e no centro da própria colônia.
Não se teve muito em vista a higiene pública, ao fundar a vila num lugar muito pantanoso, que, com as menores chuvas, se inunda e torna as ruas intransitáveis. Só se pensou, sem dúvida, na vantagem do comércio e na grande comodidade que oferece a vizinhanças da água. Isto prova que os alemães não recuam de nenhum obstáculo e a que palavra impossível já não  tem equivalente em sua língua como não tem na nossa. Tratavam, aliás, diariamente, de elevar o terreno, secar os pântanos e desviara as águas pelas quais estes são alimentados.
Havia, então, em São Leopoldo, cerca de cento e cinquenta casas de madeira e tijolo, onde vivia uma população de uns mil habitantes, a qual deve aumentar progressivamente, uma vez que a vila não contava mais que cinco anos de fundação. É habitada, principalmente, por artífices alemães, tais como marceneiros, ferreiros, carpinteiros, cordoeiros, alfaiates, seleiros, latoeiros, etc.; e por proprietários de botequins, armazéns e lojas, tanto alemães como estrangeiros. Havia muitos franceses, que faziam excelentes negócios.
in TUBINO 2007 p.133b
Fig. 09 – Com seus clubes, centros educacionais e religiosos, aliados ao comércio e a indústria emergente alimentados pela circulação de bens e serviços, São Leopoldo comemorou um século da chegada e  estadia e o progresso da imigração germânica massiva ao Brasil. A foto ilustra a inauguração do monumento à Imigração  em 1924 
A colônia alemã, da qual essa vila já é mercado principal, não ocupa atualmente mais do que um território de quinze léguas quadradas, mas pode estender-se muito, para o norte, além da serra, porque não tem desse lado outros limites senão os de própria província.
A maior parte dos colonos alemães são agricultores. É distribuída entre eles uma porção mais ou menos considerável de terreno, com a obrigação de sua parte de baterem os matos e de cultivarem o lugar que ocupavam. Se há pastagens em torno de suas propriedades, reservam parte para a criação de vacas e a fabricação de manteiga e queijo, que vendem facilmente em Porto Alegre.
Outros alemães que possuem algum capital, formaram estabelecimentos mais ou menos importantes, como curtumes, destilarias, serrarias, olarias e outras fabricações tais como a de farinha de mandioca e de açúcar, que já produzem um bom rendimento para a colônia, sem falar nos benefícios das relações comerciais que a sua atividade mantém com Porto Alegre. A terça-feira de cada semana é o dia marcado para levara à capital os comestíveis e os produtos da indústria dessa pequena república.
Fig. 10 –  - Casa Feitoria Velha restaurada durante a administração do Cel. Theodomiro Porto de Fonseca que assumiu como Intendente São Leopoldo em 1928, seguiu como Prefeito em 1930, 1934,1938 e 1942. Teve apoio do incipiente Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (SPHAN) criado em 1937
Muitos brasileiros, consultando mais seu interesse privado do que a sua inclinação naturalmente invejosa da propriedade dos estrangeiros, começaram a estabelecer-se na colônia, comprando muito caro os terrenos concedidos aos alemães, que este lhes cediam de boa vontade na esperança de formar em outro lugar maiores estabelecimentos. O sentimento de emulação  acabará nascendo entre os brasileiros, à vista de tantas dificuldades vencidas por homens industriosos, ou, ao mesmo, o orgulho nacional se sentirá interessado no progresso da colônia, o que deve trazer excelentes resultados à região. Já se formou uma sociedade de acionistas para a construção de uma ponte sobre o rio dos Sinos e já se fala em levantar edifícios públicos, abrir novas estradas, construir um barco a vapor, empreender, enfim, trabalhos capazes de fomentar a indústria e favorecer o comércio, verdadeiras fontes da riqueza e da civilização dos povos.
Há, na vila, uma capela mantida por um padre católico e, a uma meia légua sudeste, em uma aldeia chamada Feitoria (porque era, outrora, um mercado de negros), uma outra capela, mantida por um ministro da religião protestante.
As autoridades são brasileiras, um juiz de paz, que dá audiência uma vez por semana, e um comandante militar.
Fomos recebidos pelo doutor João Daniel Hillebrand, jovem muito instruído, que reúne à sua grande modéstia, excelentes maneiras e muita amabilidade. Hamburguês de nascimento, dominando os idiomas francês e português e exercendo, há muitos anos, com sucessos, a medicina e a cirurgia, o doutor Hillebrand conquistou a confiança dos habitantes da colônia, que têm por ele a maior consideração. É ele bem a merece certamente, pelos seus conhecimentos e por seus sentimentos tão humanos. O doutor Hillebrand, também, se ocupa muito da história natural, principalmente de ornitologia e entomologia. Adquiriu este gosto quase apaixonado quando acompanhou, durante muito tempo, o doutor Sellow (ou Selo). Mostrou-nos suas coleções, já numerosas, de pássaros, insetos e madeiras úteis, e também muitos objetos curiosos, tais como  armas de bugres, vasos, etc... Excelente desenhista, pintou uma coleção de lepidópteros da colônia. Fiquei encantado com a exatidão do desenho e as frescura do colorido desses lindos insetos.
Fig. 11 – Carlos Henrique HUNSCHE 1913 -1986 realizou um dos trabalhos mais notáveis para trazer para as letras do seu tempo e para o presente a cultura germânica da época da grande imigração. As suas obras “Biênio 1824/25 da Imigração e Colonização Alemã no RS e “O Ano 1826 da Imigração e Colonização Alemã no RS” e o inicio a série de livros com "O Quadriênio 1827-1830 da imigração e colonização alemã no Rio Grande do Sul" tornaram-se referências obrigatórias para entender o contexto no qual seria possível qualquer produção artística nas origens da imigração germânica para o Rio Grande do Sul.

A colônia alemã deve ser visitada pelos naturalistas e pelos amantes da bela natureza. Encontram-se, ali, todos os produtos da Província, no reino orgânico: belos pássaros, insetos raros, mamíferos estranhos, plantas preciosas, tudo se reúne nessa localidade para excitar a admiração dos curiosos. Numerosos caminhos, abertos no meio das florestas, permitem ao caçador percorrer os arredores de São Leopoldo sem ser incomodado pelo calor, mas gozando, ao contrário, a fresca sombra das inúmeras árvores copadas das mais variadas espécies.
Quase todas as árvores dessas florestas, ainda pouco conhecidas dos botânicos, tem propriedades particular. São mesmo raríssimas as inúteis.
O terreno da colônia, entrecortado de altas colinas de morros escarpados, de planícies pantanosas, é argiloso nas alturas e arenosa na baixas. As pedreiras em exploração só fornecem, por enquanto, grés brandos que se empregam na construção das casas. Parece existir calcário em algumas florestas, mas ainda não foi possível descobrir-se uma pedreira suscetível de exploração”.
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   Mais adiante, nas páginas 261 e 262, Isabelle registra que:
“Em 1834, calculava-se a população total de província em 160.000 habitantes, sendo que os alemães representavam um décimo desse total. Só na nova colônia de São Leopoldo contava oito mil. É verdade que se compreendiam sob a designação de alemães  emigrados de todas as nações, mas, por mais fraca que seja a população alemã em relação ao número de brasileiros, ela tem, entretanto, uma grande importância moral pois seu exemplo não pode deixar de estimular, mais cedo ou mais tarde, o caráter apático dos brasileiros. Até agora, ela tem feito tudo o que dela se podia esperar, e já são tantos os melhoramentos introduzidos nas artes e na cultura, que o aspecto da província se transformou, a ponto de torná-la irreconhecível  aos olhos  daqueles que a tinham percorrido antes da guerra do Brasil com a república Argentina. É agora província indispensável ao Brasil, pois é a única que pode fornecer carne, sebo, couros,  cavalos, mulas, milho e até trigo, ao passo que poderia, se houvesses necessidade, prescindir-se das outras, pois as culturas de mandioca, algodão, arroz, açúcar, etc. Produzem o suficiente ao seu consumo.
Fig. 12 – O trabalho institucional de TELMO LAURO MÜLLER - 1926-2012 fornece as bases para a continuidade de uma tradição intelectual e capaz de transferir para o mundo mental o sentido do patrimônio material e simbólico da imigração alemã a ser estudado, registrado para as novas e futuras gerações e socializado pela via institucional.

Poucas regiões no mundo são banhadas e vivificadas com mais profusão do que a província de São Pedro. Só na Banda Oriental pode ser comparada com ela. O clima é saudável, temperado e nenhum outro lugar é mais adequado às colonizações européias. Os frutos das regiões equatoriais crescem ali, juntamente com as da zona temperada; Colhem-se na colônia alemã os frutos do coqueiro e da bananeira, marmelos, maçãs, pêras, laranjas e os suculentos pêssegos do Velho Continente. As plantações de uvas têm tido o mais feliz resultado na colônia alemã  não duvido que um dia essa feliz província exportar excelente vinho para outros portos do Brasil. Admiro-me até que ainda não se tenha tirado proveito das colinas de Porto Alegre para a cultura da vinha
O francês havia levado quase dois meses para acompanhar a marcha das carretas de São Borja até Rio Pardo. Tinha visitado as ruínas Missões Jesuíticas e sabia do risco próximo e iminente do retrocesso para a Natureza por mais elevado tenha sido o projeto inicial. Isabelle propunha ( 2010, p.273)a nova geração a tarefa
“A nova geração, que pretende a honra de figurar em letras brilhantes no livro dos imortais, deve ela mesma talhar a pena que registrará seus títulos à admiração das raças futuras”
Certamente esta recomendação de Isabelle nunca foi esquecida pelo descendente alemã. Este descendente talhou, ele mesmo, a pena e cultivou no Brasil a sua identidade. Os jornais, os almanaques, os livros escolares e obras que contam o quotidiano e o extraordinário deste imigrante foram publicados e circularam. Certamente não circularam na intensidade e na continuidade desejável.  Nele ele expressa a sua cultura as suas técnicas industriais, as suas habilidades agrícolas e sua Arte. Se este legado material e imaterial sofreu perseguições, contornos e pouca atenção para, adquiriu tanto mais autonomia, força imanente e sentido intrínseco ao longo destas adversidades e desatenção. Com esta autonomia, força imanente e sentido que o Brasil adquiriu ele preservou uma riqueza interna única e de uma diversidade que o vincula ao cenário de uma civilização planetária. O reconhecimento da contribuição singular da germanidade é uma das chaves para outras conquista planetárias.  Adquirido este conhecimento, a cultura brasileira pode incorporar outras culturas e etnias voltar e receber delas outros tantos e diferentes reforços.
No entanto estes diferentes esforços, em diversos rumos e níveis culturais e estéticos, ainda carecem de um projeto que lhes forneça organicidade, competência e continuidade ao longo do tempo. Não faltam exemplos de rupturas, descontinuidades, da ação silenciosa e vigorosa da entropia, que age numa cultura desconectada da sua origem. Principalmente quando esta fonte original possui agora outros projetos e segue para rumos distintos daqueles para os quais foi a origem, há dois séculos passados.
Na próxima postagem iremos verificar o que aconteceu com as artes visuais numa cultura da qual a germanidade no Brasil está apartada há quase 200 anos.

ALGUMAS FONTES  do TEXTO e IMAGENS

ISABELLE. Arsène (1807-1888)[2], - Viagem ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul tradução e nota sobre o autor Teodomiro Tostes; Introdução de Augusto Meyer [2ª reimpressão] Brasília : Senado Federal 2010 , XXXI p. + 314 p.( Ed. Senado Federal v.61)
ARSÈNE VISITA à BUENOS AIRES

TUBINO, Nina A germanidade no Brasil  Porto Alegre: Sociedade Germânia, 2007, 208, il 

RUDOLPH HERMAN WENDOTH e BRUMMERS

ARTISTAS FRANCESES na ARGENTINA ao longo do século XIX

VIAJANTES do século XIX e PORTO ALEGRE

Real Feitoria do Linho Cânhamo
Correio do Povo ANO 117 Nº 183 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 31 DE MARÇO DE 2012 Há um século


O médico Carlos Engler nasceu em Viena d'Áustria em 1800 e faleceu em Itu, em 1855. Veio para o Brasil em 1821 e estabeleceu-se em Itu, São Paulo, onde clinicou e viveu. Casou-se nessa cidade com uma senhora brasileira, da qual teve vários filhos, dentre os quais um que se formou em medicina e residiu em Campinas, SP. Chamava-se igualmente, Carlos Engler.

MUSEU da ESCOLA ALEMÃ


Claude Levi Strauss

GERÔNIMO WANDERLEY  MACHADO – CRIANÇAS – IDENTIDADE-  INTELIGÊNCIA GRIS


MICHAEL TRIEGELL

ACADEAMIA de ARTES VISUAIS de LEIPZIG

WERNER TÜBKE

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