sexta-feira, 9 de abril de 2010

UM SALÃO de FESTAS das ARTES - 04

Um CONGRESSO e dois

SALÕES SIMULTÂNEOS




Foto de THALES FARIAS – Revista do Globo nº 716

Fig. 01 – Vista parcial do público presente na Inauguração do I Salão Pan-Americano e do VII Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Em 22.04. 1958. REVISTA do GLOBO Porto Alegre: Ed. Globo, nº 716 -17.05.1958,. p.84

Para consolidar o Cinqüentenário o evento permitiu uma oportunidade para gerar memória em visita da rememoração das etapas da institucionalização da arte em Porto Alegre. Ressaltaram-se os momentos culminantes e uma visita aos documentos do passado do IBA-RS guardados no seu arquivo (AGIA-UFRGS). Muitos dos documentos do Instituto, que permitiram a construção logística da memória de uma pesquisa[1]. Nesta pesquisa foram visitados e fixados como referências significativas da instituição de arte de Porto Alegre. Graças a esse fato, foram hierarquizados e preservados, considerando-os como formas de expressões de autonomia, tanto pela intencionalidade como pela sua transformação em eventos.

Constatou-se, nestes artigos, que não foi possível cumprir tudo o que se sonhara[2]. Em compensação o Congresso e o Salão Pan-Americano, Salão polarizaram as comemorações do Cinqüentenário que não estavam previstos no plano de 1956.




[1] SIMON, Círio “ORIGENS DO INSTITUTO DE ARTES DA UFRGS: ETAPAS ENTRE 1908-1962 E CONTRIBUIÇÕES NA CONSTITUIÇÃO DE EXPRESSÕES DE AUTONOMIA NO SISTEMA DE ARTES VISUAIS DO RIO GRANDE DO SUL” Porto Alegre : PUC-RS Versão 2008 , 660 p

Disponível, na íntegra em http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html ou

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaAutorResultadoForm.jsp?letra=S&select_action=&d-16510-p=234.


[2] - Assim a pretendida ‘publicação de monografias sobre os mais eminentes artistas rio-grandenses’ não se concretizou nessa oportunidade. É possível interpretar algumas obras publicadas como vestígios desse projeto. Assim Ângelo Guido lançou em 1956 a sua biografia de Pedro Weingärtner, enquanto Cavalheiro Lima publicava ,nessa época os seus estudos sobre Araújo Vianna. Mas essas obras não registram, nas suas edições, a sua vinculação com o evento do Instituto. Damasceno, irá dedicar, em 1971, a sua obra relativa às artes plásticas do século XIX no Rio Grande do Sul , ao diretor do IBA-RS na época do Cinqüentenário,.


Fig. 02 – Vista parcial do VII Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Em 22.04. 1958. .

Através desses eventos, o Instituto buscava o seu observador e a sociedade, retribuindo, o que eles haviam depositado ali, na forma imaterial de representações da arte e, inclusive, material através dos legionários do Instituto.

Os carnês dos “LEGIONÀRIOS do INSTITUTO de BELAS ARTES” formam um capítulo destas interações às quais o IBA-RS tentou corresponder no momento em que completava o cinqüentenário de sua existência


Fig. 03 – Carnê de um dos “LEGIONÀRIOS do INSTITUTO de BELAS ARTES”, emitido e resgatado, ao longo da 2ª Guerra Mundial, a favor da construção do nove prédio do IBA-RS. É possível notar a troca, neste período, do MIL REIS (R$) pelo CRUZEIRO (Cr$)


Fig. 04 – Obras de alguns estudantes do Curso de Artes Plásticas – Escultura – do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Su, presentes do VII Salão. 1958.

Ao centro (B) Escultura de Dorotheia Vergara. Esta obra é resultado do projeto de Graduação da Estudante realizado. pela artista ao final de 1947 e figura no Acervo do IA-UFRSG em

http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/displayimage.php?pid=685&album=12&pos=1

ESCULTURAS dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES Álbum no 1 contém fotos e escritos de 1938 até 1956 99 folhas de arquivo: 297 mm X 210 mm com 332 fotos coladas Livros raros da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS

Classificação na BIBLIOTECA do IA- UFRGS OM73.036.1816.5 C 822 d v.1

Ao lado esquerdo (A) obra de Leda Flores e (C) a banca de avaliação desta obra em 1956

ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES Álbum no 2 contém fotos e escritos de 1957 até 196571 folhas de arquivo: 297 mm X 210 mm com 167 fotos coladas Livros raros da Biblioteca do Instituto de Artes da. UFRGS Classificação na BIBLIOTECA IA - UFRGS OM - 73.036.1881.5 - C 822 d v.2


Os artistas plásticos brasileiros foram congregados pelo VIII° Salão[1] de Belas do Rio Grande do Sul que se somaram aos do Io Salão Pan-Americano, cuja maior representação vinham dos países do Prata. Cada país foi coordenado pelo seu respectivo consulado. Esses, por sua vez, foram secundados por associações de classes como dos advogados, arquitetos e médicos, entre outros. Mexeu com as questões culturais, levantadas por intelectuais e escritores e suas associações como é possível verificar através dos contatos feitos nos convites.




[1] - Catálogo do Iº Salão Pan – Americano de Arte abril-1958{127CAT}


Fig. 05 – Obra de Aldo Locatelli professor do Curso de Artes Plásticas – Arte Decorativa – do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. presente do VII Salão em 22.04. 1958.

Esta obra faz parte de um conjunto de painéis encomendados, em 1957. para a sede, na capit, do banco Auxiliar de São Paulo (CICA) Ver BRAMBATTI, Luiz Ernesto,. Locatelli no Brasil. Caxias do Sul : Belas Letras, 2008 , p 227


Os artistas latino-americanos não podiam concretizar as trocas e os fluxos continuados de bens culturais, sem instituições comuns, além de diplomacias setoriais, sempre desconfiadas da cultura dos vizinhos e escancarada para as culturas hegemônicas.
Mas, na prática, as frágeis interações ocorriam entre pessoas, sem amparo continuado em leis e instituições compartilhadas, como já foi visto nas relações do IBA-RS com o Prata, reduzindo-se a eventos como aquele do Io Salão Pan-Americano de Arte
[1]. Os norte-americanos estavam presentes com fotos das suas pesquisas institucionais de arte. O convite feito pelo Instituto ao escritor Érico Veríssimo apontava para a direção da cultura americana[2]. Os norte-americanos criaram uma hegemonia mundial por meio de sólidas instituições[3] para as quais não regateiam recursos e aceitando, como a sua verdade, uma cultura de segunda mão[4].




[1] - No mês seguinte, no dia 08 de maio de 1958, foi inaugurada no IBA-RS a exposição da Pintura Mexicana. Ver Pieta, 1995 pp.98 e 363

[2] - Érico Veríssimo foi um dos criadores do Cultural Norte-Americano, instituição que prestigiou o artista sul-rio-grandense na sua galeria de artes plásticas, que evidentemente sentiam-se constrangidos diante do potencial arrasador do sistema cultural dos norte-americanos. Nas outras capitais brasileiras também foi grande a atuação do Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU). Em Porto Alegre, a cultura do continente europeu enfrentou a hegemonia americana através da Aliança Francesa e do Instituto Goethe, que também mantinham galerias de Artes Plásticas.


[3] - As opiniões sobre arte americana, mesmo na Europa segundo Monnier, (1995, p.329) são frutos do marketing, pois as opiniões que de repente tornaram-se favoráveis, não foram possíveis, a não ser pela propaganda dos Estados Unidos, que sobre o terreno da Guerra Fria, nas instâncias do mercado da arte e da imprensa, sabem organizar e pagar os apoios necessários às manifestações de uma arte moderna americana em Paris”. Assim não é de estranhar que vários artistas plásticos consagrados americanos tenham a sua origem no marketing visual.

[4] - Existem títulos bibliográficos de autores americanos fazendo esse juízo, como àquele de Alvim Toffler, (1967 p.11),. Nele o autor ainda lamentava esse fato, quando já em 1964, os artistas norte-americanos da geração pop, estavam levando prêmios internacionais.Ver: TOFFLER, Alvin Questões básicas de sociologia cultural (2ª ed) Rio de Janeiro: Lidador, 1967, 254 p.



Fig. 06 – Obras de artistas uruguaios presentes no I Salão Pan-Americano do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Em 22.04. 1958.


Contudo a grande revelação e a lição de que é possível produzir apesar de todos os obstáculos, vieram da delegação e do júri dos artistas da República do Uruguai. Joaquim Fonseca destacou (Rev Globo, nº 716, 15-30.05.1958, p.84) que

“A surpresa do Salão foram os uruguaios, Cm muito boa seleção de obras expostas, mostram – e quase nos dão uma lição – o que pode fazer uma boa pintura”.

O Instituto de Artes, com a entrada de agentes e de instituições mais específicas no sistema de artes visuais de Porto Alegre, como o MARGS, voltou-se para a sua função especifica que é a formação. Formação e reprodução de uma massa crítica competente para enfrentar os desafios inerentes do fazer artístico na autonomia.


Fig. 07 – Retrato da Pablo Picasso. Obra de Fernando Corona, professor do Curso de Artes Plásticas – Escultura, Modelagem e maquete – do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, presente do VII Salão. Em 22.04. 1958

http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/displayimage.php?pid=283&album=12&pos=4


A celebração do cinqüentenário, desta instituição, marcou mais uma etapa da entrega gradativa da competência para os agentes que estavam emergindo no sistema de artes de Porto Alegre, se qualificavam e assumiam, cada vez mais a circulação das obras dos artistas e dos apreciadores destes bens permanentes e supremos de uma civilização.


Foto e montagem de Myra GONÇALVES

Fig. 08 – Aldo LOCATELLI (1915-1962) - Mural do 8º andara do Instituto de Artes da UFRGS. 1958.

A obra de Locatell. no seu estado atual,i é um índice positivo e negativo da celebração do cinqüentenário, desta instituição, No aspecto da sua materialidade apagada este mural assinala mais uma das etapas do difícil e sofrido caminho desta instituição. Caminho que em diversas ocasiões contou com as contribuições, mesmo pecuniárias tanto de pessoa individuais como jurídicas


No presente não faz sentido mascarar o aspecto negativo dos maus tratos, do tempo e das pessoas, por meio de uma restauração espetacular em cima de uma realidade
institucional que não se conhece, se respeita e quem se é indiferente ou se nega um futuro, por todos os meios.



Veja mais em:


FONSECA, Joaquim - O PRIMEIRO SALÃO de BOA VIZINHANÇA - REVISTA do GLOBO Porto Alegre: Ed. Globo nº 716 17.05.1958. pp.84-7


KRAWCZYK, Flavio. O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em Porto Alegre. Porto Alegre : Programa de Pós Graduação em Artes Visuais . dissertação 1997 526 fls. (dissertação)

Salões oficiais do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul


Nenhum comentário:

Postar um comentário