terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ESTUDOS de ARTE 001

ARTE e FOLCLORE.

           Um Estado Nacional é sempre uma construção artificial. Enquanto isto a Natureza continua a fluir livremente e de forma gratuita. Neste fluxo contínuo e gratuito, da Natureza,  o  amor e o povo não conhecem fronteiras políticas, econômicas ou culturais. As energias do povo e do amor circulam como o ar, a água e o magnetismo. Sem qualquer fronteira geográfica, do tempo ou da língua se interpenetram e reproduzem para além do lugar e do tempo. Os chibeiros encarregam-se de manter aberta esta circulação de bens materiais e simbólicos. Na sua construção artificial o Rio Grande do Sul necessita prestar atenção ao seu contexto amplo ao seu próprio cenário histórico [ZEITGEIST], material [WELTGEIST] e  populacional [VOLKSGEIST].  Esta atenção precede qualquer conhecimento particular do seu recorte geográfico, cronológico e étnico -  
Fig. 01  Conectado às redes mundiais de comunicações, jogando futebol herdado do ingleses e sem esquecer a bebida indígena do chimarrão.- A acima sintetiza as  três manifestações culturais do Uruguai que costuram o seu tempo e espaço cultural.  O Uruguai exprimido entre os gigantes territoriais soube criar uma cultura, educação e uma identidade nacional que compensa amplamente a desvantagem física. Na metade do século XX não só venceu o Brasil no Maracanã, mas  exportou ao Rio Grande do Sul as formas de cultivo de sua tradição popular e que foram a “sementes transgênica” dos CTGs
A cena de alguém manejando simultaneamente o aparelho telefônico celular, a cuia e a garrafa térmica da água faz parte do cotidiano da cidade e dos campos. Neste hábito descobrem-se uma das numerosas expressões de projeto de identidade coletiva sul-rio-grandense cultivada num tumultuado presente.
Fig. 02 - O mundo material e imaterial do Paraguai possui a mesma garra do Uruguai na busca de su identidade própria. Um país bilíngue preserva uma indestrutível identidade do seu PODER ORIGINÁRIO. Desde a turbulenta passagem (1540-1545) de Alvar Nuñez CABEÇA de VACA (c.1492-c.1560)  a sua capital Assunção recebe e irradia  esta energia que toma as formas as mais variáveis
As raízes deste hábito se perderam no tempo e no espaço. Num olhar pelo retrovisor encontra-se um texto datado de agosto de 1896  de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES (1865-1942). Este texto traça um panorama de traços de uma cultura que estava desaparecendo com século XIX, aqueles que estavam vigentes no seu tempo e aqueles que ele se imaginava que iriam permanecer como hábito vivo.  Este texto constitui, no presente, um sólido pilar para esta fluida e imprevisível memória humana que busca elementos logísticos e objetos físicos para saber a sua origem.
Como representante comercial da Livraria Americana ALFREDO FERREIRA RODRIGUES editou o ALMANAQUE LITERÁRIO e ESTATÍSTICO do RIO GRANDE do SUL (1889- 1917). Nesta fonte se encontra, no ano de 1907, o texto produzido, por ele, em 1896. Estes resultaram da coleta de documentos primários de acontecimentos da história regional sem perder de vista o contato direto e profundo com homem da campanha sul-rio-grandense. Porém a sua visão era universal na medida em que conhecia o inglês em profundidade. Fez cinco traduções do CORVO de Allan Poe.
Fig. 03  - A Argentina é uma síntese, em ponto maior, da construção artificial de um Estado Nacional em permanente tensão com a gratuidade e liberdade o amor e o povo não conhecem fronteiras políticas, econômicas ou culturais.  O seu rico território é trabalhado desde tempos imemoriais pelas tribos pré-incaicas aos quais se somaram levas sobre levas de imigrantes. As fortes tradições literárias argentinas atingiram o plano mundial como é universal o tango. A bebida nacional do mate, o folclore e as tradições somaram-se às expressões religiosas que culminaram na eleição do primeiro papa latino americano que não esquece ou renega as suas origens. 

Certamente a tentativa de “exportação de poesia brasileira”, no conceito de Oswald de Andrade e conhecido por todos. Alfredo Ferreira Rodrigues dominava os mecanismos teóricos práticos da importação e exportação. Como profundo conhecedor da língua inglesa - devido às suas funções comerciais - estava ciente das lacunas do idioma britânico e norte-americano de textos provenientes do Rio Grande do Sul. Para estes estrangeiros eram muito bem vindo para quem desejava fornecer informações confiáveis sobre a gente e alma daqueles a quem destinavam os seus produtos industriais. Vale, como exemplo, que a bombacha foi um dos produtos de importação um produto da era industrial inglesa para os soldados turcos envolvidos na guerra da Crimeia. Como esta terminou o produto foi posto a venda em Montevideo. Era uma das aplicações práticas do poderoso instrumento teórico, prático e econômico da “Ciência do FOLCLORE” apresentada por William Thoms em Londres no dia 22 de agosto de 1846 e motor do marketing da Indústria Britânica.
Fig. 04  - O território do Rio Grande do Sul continua sendo “o mundo sem porteira” de um dos personagens da obra “Tempo e Vento” de Érico Veríssimo. No plano material sem porteira para satélites espaciais que o varrem constantemente, recebendo e enviando energia elétrica e a reboque de pesquisas de produtos de seres manipulados biologicamente e transgênicos (fig.) No plano imaterial o Rio Grande do Sul ainda não conta a porteira de um pacto social político, cultural e econômico crível, seguro e continuado.

Um texto publicado ALFREDO FERREIRA RODRIGUES em  agosto de 1896 no seu ALMANAQUE ele registrou as circunstâncias que estavam se alterando e eram remetidas  ou para a naturalização ou para a mitificação. Ambos escancaravam as portas para a politização ou mercantilização da cultura.
Fig. 05  - No texto - reproduzido a seguir - de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES   (1865-1942) possui a fortuna literária de realizar uma síntese do mundo material e imaterial que ele vinha pesquisando com amplo material logístico que conseguiu reunir, estudar e com qual ele elaborou uma narrativa com aquilo que produziu no território do Rio Grande do Sul ao longo do século XIX. O exemplo que permanece é esta sua segurança logística em documentos fidedignos e construção de um cuidadoso texto produzido a partir dos elementos materiais do seu tempo e lugar.

FOLCLORE
Extratos transcritos do ALMANAQUE LITERÁRIO E ESTATÍSTICO do RIO GRANDE DO SUL para 1907 pp. 221 - 262  ..
In MORO MARIANTE Hélio (1915-2005) Alfredo Ferreira Rodrigues. Antologia dos patronos da Academia Rio-grandense de Letras.  Porto Alegre: Martins Livreiro, 1982   pp.91-. 95p.

Apesar de não estar difundida no Estado a instrução popular, o rio-grandense não se pode considerar  um povo atrasado.; O que há é uma distribuição muito desigual de instrução. As principais cidades têm uma aparência pela edificação, movimento, trajos e costumes.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 06  - A indumentária e os instrumentos foram modelados pelos enormes espaços abertos e sem cercas ou alambrados. Permaneceu no inconsciente coletivo esta mobilidade oferecida e que se materializa na pós-modernidade. De outra parte marcou a individualidade, a honradez e a busca do pertencimento daqueles que se embrenhavam neste mundo imenso e plano onde nada se esconde da luz do sol.  .

O rio-grandense, sobretudo da campanha, que representa o verdadeiro tipo nacional, é franco, leal, hospitaleiro em extremo, afável, frugal, atilado, valente e robusto. No interior há homens que até uma idade avançada, 80 e 90 anos, passam dias e dias a cavalo, suportando as intemperier4s e a fadiga de modo admirável. O manejo constante do cavalo faz deles verdadeiros centauros. Afeitos aos mais rudes labores, os campeiros são homens de uma construção excepcional, capazes dos maiores excessos, como se se fossem a coisa mais natural do mundo. A sua frugalidade é proverbial. Bastam-lhe para a sua alimentação um pouco de mate e um churrasco (pedaço de carne assado sobre brasas e temperada unicamente com sal).  
Fig. 07  - O churrasco continuou a tradição do “moquém” indígena. Com a intruduçõao do gado domesticado e antes das indústruas do charque a carne aluimentava o pobre, o andarilho. Associado à erva mate ativa garantia uma alimentação autóctone  -. A mobilidade oferecida pelo pós-0modernidade permite cultivar acampamentos, feiras e congressos que preservam e cultivam estes traços do nomadismo primitivo.

Nas suas lutas civis e nas guerras com o estrangeiro,  o rio-grandense revelou-se sempre soldado valente e sofredor de todas as privações e fadigas. Pode-se dizer que toda a força de cavalaria foi sempre fornecida pelo Rio Grande e, na guerra doo Paraguai, o papel que a cavalaria representou foi o mais brilhante e gloriosa.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 08  - O hábitos e  a cultura material do gaúcho reflete índices da transição entre o nomadismo e o sedentarismo. A mobilidade oferecida pelo pós-0modernidade permite cultivar acampamentos, feiras e congressos que preservam e cultivam estes traços do nomadismo primitivo.

A nota discordante das belas qualidades do gaúcho é o espírito sanguinário, infelizmente comum no interior em certas classes. Acostumado a lidar com o boi desde pequeno, a ver correr com indiferença o sangue nos enormes matadouros das charqueadas, com facilidade endurecemos corações. Daí a prática do homicídio. Muitas vezes pouca distância vai.  Em todas as guerras civis, esse espírito sanguinário, incitado pelo ódio de partido e mais ainda pela sede de vingança. Mais se acentuou, dando lugar para horrores sem nome, a barbaridade de toda sorte, que tocam as raias da selvageria.. Para honra dos gaúchos, esses fatos sã exceções, pois que a maioria da população repele tais excessos, infelizmente consequências natuirais do meio, porém não vício da educação e muito menos da índole do povo.
Fig. 09  - O “peão à cavalo” não é só uma transgressão semântica mas também dos hábitos e  a cultura material da cavalaria europeia.  O gaúcho e sua montaria  refletem índices da transição entre o nomadismo e o sedentarismo. A mobilidade do gaúcho fazia que todo o seu investimento suntuário, luxos e apetrechos de trabalho coubessem em cima do lombo do  cavalo. .

O traje característico do gaúcho, hoje muito modificado do tipo primitivo e do gaúcho oriental e argentino. Consiste  em calças muito largas (bombachas), cuja extremidade inferior, apertada na perna, introduz-se na bota; poncho, grande capote em forma circular, sem mangas, de fazenda de lã encorpada, que cobre o corpo até os joelhos; e  no pala, poncho mais leve, de feitio quadrangular com extremidades franjadas. Há palas de finíssimo tecido de seda, de valor muito alto. O poncho de pano trazem-no quase sempre enrolado, preso na cabeça posterior do lombilho e só o usam em ocasiões de chuva ou grandes frios. Usam um grande lenço de seda, de cores vivas atado no pescoço, com as pontas pendentes nas costas.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 10  - Os ranchos precários e despojados transformam-se rapidamente em taperas abandonadas pelo gaúcho nômade.  A lenta e variada passagem entre o nomadismo do indígena pampiano e o sedentarismo deixou frágeis índice materiais além do investimento suntuário, luxos e apetrechos de trabalho coubessem em cima do lombo do cavalo. Nas fazendas o seu destino e abrigo eram os galpões dos trabalhadores. Enquanto o escravo era recolhido aos porões e senzalas das casas grandes da fazenda.. .

Trazem chapéu mole, de feltro. De grandes abas, preso por baixo do queixo por um cordão de seda ou lã trançada (barbicacho) e grandes esporas (chilenas) com enormes rosetas de aço. Os arreios de que usam são complicados e compostos de muitas peças e servem-lhes de cômoda cama quando pernoitam no campo. No geral trazem, além de uma ou duas compridas pistolas de dois canos, um grande facão, de palmo e meio ou mais com bainha de couro, simples ou chapeada de prata, lisa ou lavrada, conforme as suas posses. Não se encontra um gaúcho em serviço sem o laço (grande correia de couro trançado, de 20 a 25 metros, com argola de metal numa das extremidades para formar laçada), e sem bolas, formadas  de três pernas de couro trançado reunidas numa das extremidades e tendo em cada uma das outras uma bola de pedra ou de metal forrada de couro (retovada).
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 11 – Os raros momentos de lazer - numa vida do andarilho gaudério - eram gastos em alimentar romances e cuja continuidade era improvável e problemática O que é possível afirmar que estes romances eram um pouco mais consequentes do que a mera reprodução do escravo africano. 

O laço serve-lhes para agarrar a cavalo qualquer animal no campo. Armam a laçada e dobram o laço em muitas voltas menores (rodilhas), seguram com a mão direita a laçada e as rodilhas que têm comprimento bastante para alcançar o alvo, conservando-a na mão esquerda as rodilhas restantes, para evitar que o laço distendido bruscamente dê um tirão muito forte; depois fazem girar as laçada rapidamente acima da cabeça e lançam-na em direção ao animal que perseguem. Raramente erram a pontaria ainda na maior carreira, tão bem calculam a distância e tal é a destreza que adquirem nesse exercício. O laço fica preso pela outra cincha (espécie de cilha fortíssima feita de corda trançada) do cavalo, que, pacientemente adestrado, inclina-se para o lado oposto a fim de aguentar o tirão. Há campeiros tão hábeis no manejo do laço que agarram o novilho em disparada por onde querem, pelas aspas, pelas partas dianteiras ou traseiras.
Fig. 12 - A imagem reúne várias técnicas artesanais que ALFREDO FERREIRA RODRIGUES registrou. em 1897 e publicou depois no ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do Sul. As boleadeiras ou as “Três Marias” , engastadas em prataria e unidas por primorosas laços tecidos com tentos de couro mostram tanto o requinte de quem elaborou             e de quem as encomendou e adquiriu.     

As bolas jogam segurando-as pela menor (manícula) e fazendo-as girara acima da cabeça para tomarem impulso. Soltas no ar, dão algumas voltas e enroscam-se nas pernas do animal contra que foram lançadas, fazendo-o cair. Como é fácil compreender, são nas mãos  de um atirador destro uma arma terrível. O gaúcho perseguido por outro que se serve das bolas, para defender-se, deixa cair o poncho de pano pela anca do cavalo até arrastar no chão, de modo que as bolas, batendo nele, não sacham onde se enroscar e caem sem fazer mal algum.
AGRICULTURA
Na zona norte, cuida-se muito da plantação da erva-mate (ilex pararaguayense), cujas folhas reduzidas a pó toma-se em infusão, à guisa de chá. É especial o modo por que se toma o mate. Em pequena cabaça (cuia) faz a infusão, com água fervendo, no geral sem açúcar (mate chimarrão), que chupada por uma bomba de metal, cuja cabeça cheia de pequenos de  pequeníssimos buracos enterra-se na erva até quase o fundo da cuia. À proporção que se esvaziam os mates, enchem-se os outros (com a mesma erva), par o que há sempre ao pé dos tomadores uma chaleira com água fervendo. A cuia vai correndo à roda de mão em mão, e nenhum rio-grandense da campanha deixa de obsequiar o visitante com a tradicional bebida.
  A erva depois de colhida e reduzida a pó, é acondicionada em grandes sacos (surrões) e assim exportada.
Não se pode calcular a quantidade de erva consumida no Estado, pois o seu uso, além de espalhado por toda parte, é diário, quase que todas as horas, e nenhum gaúcho viaja sem a sua provisão de erva.
Tela ORIGINAL exposta no Salão de novembro de 1929 da Escola de Artes do Instituto de  Belas Artes do RS  capa da REVISTA da GLOBO -Ano I - nº 23  14.12.1929.; Pertence ao acervo da Pinacoteca da Prefeitura de Porto Alegre
Fig. 13  - O estrangeiro Francis PELICHEK (1896-1937) percebeu e registrou no final da década de 1920 a permanência do hábito da hospitalidade cultivada pela forma material do chimarrão desde as origens da cultura sul-rio-grandense O olhar, o lápis e os pinceis deste artista tcheco foram desafiados e registraram a permanência destas figuras e outras  populares e que ele ajudou a universalizar em produção gráfica continuada para revistas, livros e exposições públicas.
INDÚSTRIA.
Como manifestações da arte nacional, há duas indústrias que merecem especial menção. São os trabalhos de prata lavrada e couro lavrado ou trançado.
Quase todas as peças dos arreios usados pelos rio-grandenses são mais ou menos ornadas de prata lavrada; freio, rédeas, peitoral, rabicho, estribos, esporas, as cabeças do lombilho (sela de forma particular) as pontas da carona ( espécie de manta de couro que se usa por baixo do lombilho), o rebenque (pequeno chicote) são em gera no geral carregados de prata.
Fig. 14  - Os objetos de metalurgia foram os presentes e a moeda de troca que o europeu ofereciam ao indígena dono da terra. O consumo destes produtos de ferro, prata e ouro atraiu artesões europeus vindos das mais variadas procedências como  Leandro Antônio de Andrade considerado o PRIMEIRO PRATEIRO de PORTO ALEGRE A atividade metalúrgica se intensificou e se mudou para a Serra Gaúcha com a chegada da cultura italiana a partir de 1875
 Além disso a faca que habitualmente trazem tem o cabo e às vezes a bainha de prata, as cuias de mate têm o bocal de prata e as bombas são todas desse metal. Todas são peças são finamente cinzeladas e revelam  um gosto artístico muito apurado. Atualmente a importação de artigos semelhantes estrangeiros, de metal branco estampado, está fazendo enorme concorrência aos produtos nacionais, que vão perdendo terreno. Mas, ainda assim, em alguns lugares, sobretudo em Pelotas, as casas de ourives trabalham em grande escala.
Fig. 15 – A cutelaria das cidades de Rio Grande e Pelotas como o da ilustração acima e a subsequente Livraria Americana da qual ALFREDO FERREIRA RODRIGUES era um dos funcionários graduados. Como tal editou e dirigiu  o ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917) pertencia a uma série de casas comerciais de importação e exportação das
O trabalho de couro lavrado e trançado tem igualmente um cunho artístico bem acentuado e original. O couro lavrado é todo trabalhado a martelo e há neste gênero obras da mais delicada e perfeita execução, sobretudo caronas. Algumas há cobertas dos mais complicados desenhos e arabescos finamente executados.
Os chicotes cobertos de uma finíssima teia de fios de couro trançado são uma verdadeira maravilha de gosto, de paciência e de arte. É o próprio camponês quem prepara o couro e o corta  em delgadíssimos fios, tendo por única ferramenta uma faca. Há trabalhos desses que são verdadeiras obras de arte, únicas em seu gênero, inimitáveis, de uma execução tão delicada e de uma perfeição  tão completa que mais parecem uma trança de cabelo.
Agosto de 1896
Alfredo F. Rodrigues (RIO GRANDE)
Fig. 16 - A Livraria Americana da qual ALFREDO FERREIRA RODRIGUES era um dos funcionários graduados. Como tal editou e dirigiu  o ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917) pertencia a uma série de casas comerciais de importação e exportação das cidades de Rio Grande e Pelotas como o da ilustração acima. Estas casas tinham o papel das atuais lojas virtuais e redes de abastecimento comercial, agrícola e industrial. 

 A       “Ciência do FOLCLORE” - apresentada por William Thoms em Londres no dia 22 de agosto de 1846 – revelou-se um poderoso instrumento teórico, prático e econômico para o marketing da Indústria Britânica. Esta reinventava trajes em nome de tradições inventadas e impondo modas nas quais o consumo dos tecidos das fábricas britânicas mantinha um permanente superávit para comercio inglês.  
Fig. 17 – O filme Uruguaio “ARTIGAS: la Redota” traçou um amplo painel de um dos momentos iniciais e contraditórios da soberania deste pais Oriental da Bacia do Rio da Prata. Ressaltam-se o aproveitamento de estudos de pesquisadores, de tradições cultivadas e de práticas populares de diversas etnias que figuraram na composição deste audiovisual rodado entre 2010-2012.   Ambientado nos cenários naturais ganhou dimensões épicas com as intervenções de profissionais da indústria cinematográfica sul-americana

O que é condenável é não só o discurso por cima e por fora proveniente de uma classe que se julga superior, onipotente e juiz. A transformação do SABER POPULAR é uma apropriação indevida daquilo que pertence a OUTROS.  Este SABER é  desqualifica como OBJETO de juízo e de MITO. Esta apropriação transforma os intrusos em MISSIONÁRIO daquilo que estes estranhos não conhecem e muito menos praticam. Luís Rodolfo. VILHENA, apesar de desaparecido precocemente, percebeu e descreveu esta “MISSÂO” desta classe intelectual e o seu projeto de “civilizar”, estetizar e normatizar este saber popular. No Rio Grande do Sul Dante Laytano sistematizou e publicou parcelas significativas deste mesmo projeto.
Apesar desta base material da concretização tanto da mercantilização como da politização  da cultura no âmbito do Rio Grande do Sul é inegável, ao final de 2014, que existem traços e expressões de transcendência de um ânimo que beira até um projeto. Ao ler, buscar entender, no presente, aquilo redigido no texto em agosto de  1896 e publicado por  Alfredo Ferreira Rodrigues em no seu ALMANAQUE e percebe-se um contínuo destes traços e expressões de transcendência de um projeto de identidade coletiva. Contínuo no tempo em expansão perene através de novos espaços geográficos e que não se estancou de fluir apesar de barreiras de toda ordem.. Flui uma identidade, uma forma singular de ver o mundo a partir da província.
Fig. 18 -  HÉLIO MORO MARIANTE comprovou que “o que permanece é o pensamento”.  Foi buscar e reavivou a chama do pensamento de  ALFREDO FERREIRA RODRIGUES e no que publicou no seu ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917). Ali estava vivo, não só o pensamento deste escritor, como o que era vigente nas  cidades de Rio Grande e Pelotas na época do seu autor. Pensamento que outros naturalizaram, mitificaram e transferiram para outros tempos e lugares sem reverter para a origem deste pensamento. .

A plasticidade dos hábitos, costumes e a vida material em constante mutação exigem a renovação constante e atualizada dos registrou as circunstâncias.
O mérito de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES foi a de ter registrado, em agosto de 1896, um destes instantes passageiros. O retomou no seu ALMANAQUE que estava atento aos novos instantes industriais e culturais. Se este registro serve de lição é para guardar a ATENÇÃO deste narrador ao seu próprio momento e lugar. Serve de aviso para não misturar o repertório antigo e alheio  com o atual  e o seu  próprio sob pena de alterar e desqualificar ambos. Quando esta construção monstruosa é transformada em projeto corrompe-se e se propaga qual peste na forma de ídolos incontroláveis e ocos. Quando o projeto é de sua naturalização esta narrativa é devorada pela entropia e pelo caos num banquete de Saturno.

FONTES BIBLIOGRÀFICAS

LAYTANO, Dante (1908-2000) FOLCLORE do RIO GRANDE do SUL: levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed) Porto Alegre: escola Superior de Teologia São Lourenço de Brides – 1987, 350 p ISBN 8570610718

MORO MARIANTE Hélio (1915-2005) Alfredo Ferreira Rodrigues. Antologia dos patronos da Academia Rio-grandense de Letras.  Porto Alegre: Martins Livreiro, 1982  107 p.

VILHENA, Luís Rodolfo (1963-1997). Projeto e Missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964.   Rio de Janeiro : Funarte 1997. 332p.


FONTES NUMÉRICAS- DIGITAIS

CHIBEIRO
Louis MANDRIN 1725-1755

ARGENTINA – Martin Fierro
Papa argentino e Chimarrão

PARAGUAI
FIDEL FERNANDEZ – artista
Tício ESCOBAR crítico
CABEÇA de VACA Alvar Nuñez c.1492-c.1560

URUGUAI
Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Artigas: La REDOTA

CHIMARRÂO – FUTEBOL e CELULAR

Leandro Antônio de Andrade PRIMEIRO PRATEIRO de PORTO ALEGRE 
FONTES para estudo da  PRATARIA GAÚCHA
João Augusto Hexsel, Carlos Willbaldo Hexsel e Conrado Augusto Hexsel 

HÉLIO MORO MARIANTE

MATE- CHIMARRÂO

ALFREDO FERREIRA RODRIGUES (1865-1942)
Cadeira 21 Academia Sul-rio-grandense de Letras
VERSÃO do “CORVO “ de Alan POE:

POLITIZAÇÂO da CULTURA
SATURNO
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Referências para Círio SIMON








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