domingo, 17 de novembro de 2013

012 – EXPRESSÕES de AUTONOMIA na ARTE


PAULO PERES:

o ENTE no SER.

Toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Aristóteles[1](1973: 243 114a 10 )

[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.


Fig 01 – O AGIR de Paulo Peres sempre foi o de reunir - ao seu redor -  amigos da Arte como o fez para iniciar o ano de 2013.  Assim reuniu ao redor da mesma mesa, no dia 02 de janeiro,  Annete Abarno, Marilene Burtet Pieta, Alberto Pereira, Selsa Dal Bello, Círio Simon e Paulo Peres.

A maior expressão de um artista é a sua capacidade de conquistar, cultivar e reproduzir a coerência entre a Vida e Arte. Melhor quando esta coerência torna-se sensível nas obras, no agir quotidiano e na expressão dos pensamentos que o viver concreto estimula.
Sob a aparência, estou tentado dizer sobre o disfarce, de um dos membros da raça humana, o indivíduo é de fato sozinho e único e no qual as características comuns a todos os indivíduos, tomados no conjunto, não possuem nenhuma relação com a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo”.

DUCHAMP. Marcel “O artista deve ir à universidade?”[1] in SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris: Flammarrion, 1991, pp. 236-239


As obras, o pensamento e a ação de Paulo Peres (1935-2013) são frutos desta coerência entre a Vida e a Arte. Alguém afirmava na sua despedida física de que “Paulo Peres foi o maior artista que o Rio Grande do Sul já teve”. De um lado é necessário concordar na medida em que poucos o igualaram Paulo Peres na sua ARTE de AGIR sem AGIR. De outra parte qualquer comparação é sempre odiosa, redutora e determinante de um padrão fixo. Entre estes extremos é necessário construir uma narrativa em relação ás obras, ao pensamento e á ação de Paulo Peres que atravesse e não pereça num destes extremos.
[1] - Texto de uma alocução em inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13 de maio de 1960.
    Consta em SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par.. Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239
    Traduzido para Victor Hugo Guimarães Rodrigues - professor da FURG -  por Círio Simon em 27 de junho de 2004 no contexto do 1o Colóquio dos Dirigentes das Instituições Superior de Arte do Rio Grande o Sul realizado entre 24 e 26 de junho de 2004 no Instituto de Artes da UFRGS.




Fig 02 – As cores, os grafismos e os textos - que constam nas obras de Paulo Peres - nos remetem para o universo de um artista desafiador raramente visto e com um reconhecimento universal dos demais colegas de Arte no Rio Grande do Sul  e dos seus estudantes. Agia e produzia sem de proselitismo, de fama pelo que produzia ou busca de mercado fixo no âmbito da indústria cultural. 

Nesta narrativa é de extrema importância cultivo das obras, do pensamento e á ação de Paulo Peres, para que permaneçam e se reproduzam no pensamento e no agir das novas gerações. Na verdade é preciso reconhecer o pouco cuidado e persistência tivemos neste cultivo das obras, do pensamento e á ação de gerações de artistas do passado, do presente. Para aquelas do futuro não parece promissora face ás culturas hegemônicas que praticam este cultivo com projetos e com a sua multissecular e exemplar continuidade. Enquanto isto a nossa cultura concentra a sua atenção, seus estudos e os seus recursos em alguns eventos pontuais. Para piorar o quadro importamos produtos prontos e elaborados pela mídia, propaganda e marketing e que ainda alimentam a preferência local com produtos de estudos, trabalho e estéticas alienígenas.


Fig 03 – A  intensidade gráfica das formas e das cores de obras de Paulo Peres remetem para o AGIR distante de um mundo narrativo fixo por uma mensagem unívoca e linear. Os mistérios são preservados e remetem para um tempo e um lugar universal que dispensa a cápsula das formas singulares da comunicação num idioma particular  de uma cultura dada. Nestes AGIR - sem AGIR nos paradigmas já conhecidos -  a gráfica das formas e das cores de obras de Paulo Peres remetem o seu observador para o grafismo da criança, da pré-história e dos sonhos de todo e qualquer ser humano.

 Além da atenção e elaboração dos seus produtos as culturas hegemônicas possuem maestria, competência e formas continuada de mídia, de propaganda e de marketing. Não abrirão seu espaço já conquistado para amadores e improvisadores  enquanto durar o seu projeto de dominação material e imaterial. Todo paradigma é total e como tal procura esmagar qualquer outro que encontra no seu caminho.


Fig 04 – O intenso cromatismo da obra de Paulo Peres - nas suas ressonâncias plásticas e visuais - despertam sentimentos,  sonhos e ressonâncias nos quais o verbo,  o som e o  volume nada podem acrescentar ou traduzir numa narrativa unívoca ou linear. Se a obra de Paulo Peres nos desorienta de outro a surpresa de nos reduzir a observadores impotentes como nos sentimos diante de uma criança que brinca, de um ser humano que usa  a cor e as formas sensoriais  anteriores a  qualquer código previamente combinado da comunicação.
 
Paulo Peres compreendeu este desafio destes paradigmas arrasadores, totalitários e concorrentes alienígenas da cultura sul-rio-grandense. Diante destes tsunamis culturais -  que se querem hegemônicas, arrasadores e únicos - a saída foi o AGIR sem AGIR.

Paulo Peres investiu a sua existência no AGIR sem AGIR em três vertentes. As três nasciam do foco do seu ENTE empenhado em AGIR sem AGIR na fidelidade á Arte, ao magistério e as duas orientadas pelo pensamento da transcendência. 


Fig 05 – Paulo Peres - como estudante  vestindo macacão de operário - entre os colega Clébio SORIA (à sua direita) e Paulo PORCELLA (à sua esquerda) estudam mural na disciplima comandada pelo experiente professor Aldo Locatelli. Paulo Peres retornou para o seu universo lírico e pessoal no seu fazer poético visual. Como estudante estava bem convencido que “estudante não faz Arte na  medida em que se encontra  na heteronomia  institucional, voluntariamente contratada, mas da qual tem obrigação de se livrar na medida que descobre suas sendas e caminhos que a coerência da vida.


 Com esta energia  enfrentou o mundo pratico do FAZER em franco caminho de decomposição e descrédito social, político e econômico. Enfrentou este seu mundo com o perpétuo sorriso nos lábios e otimismo no pensar. AGIU  entre a sua liberdade e a coação imposta por sistemas estéticos, imposições pedagógicas e assaltos em nome da transcendência conferem-lhe expressões que vão  muito além do senso comum se um proselitismo interesseiro.


Fig 06 – A grande forma de AGIR de Paulo Peres  foi o de reunir - ao seu redor - amigos da Arte e ser assíduo a estes ambientes. Nesta foto consta a turma do IBA_RS formado por 1-Paulo Peres; 2-Ana Maria Estrella; 3-Eneida Morais; 4-Ana Amelia Althoff; 5-Vera Suertegaray; 6-Angelo Guido; 7-Sandra Della Rocha; 8-Isaura Sanguinetti; 9-Suely Anna Kelling; 10-Elisabeth Marchiori; 11-Marilene Burtet; 12-Irene Backheuser; 13-Ligia Carvalho da Silva; 14-Leonidia Stringhini; 15-Carmem Seganfredo; 16-Lays Ilha Dias; 17-Maria Julia Lessa; 18-Marisa Brum;19-Selso dal Belo; 20-Clebio Soria; 21-Maria Beatriz Rahde; 22-Ziloa Silva; 23-Helena Gomes; 24-Teresinha Sanguiton; 25-Gisele Bonetti; 26-Jane Stoltenberg e 27-Ines Pianezzola
[ Nomes identificados por Marilene Pieta em 23.09.2013] 
Clique na imagem para ampliá-la

Na senda daqueles que modificaram o modo de sentir e de expressar o mundo Paulo Peres escreveu pouco seu pensamento. Preferia o pensamento nascido da interlocução com a pessoa concreta situada nas suas circunstâncias do daqui e do agora.

No magistério coerentemente seguia a metodologia nascida do vasto e arejado espaço da maiêutica  socrática. Cada estudante era um mundo a parte e que buscava uma interlocução se perder as características, originalidades e motivações. Como estudante da Arte já havia percebido o pequeno, estreito e contaminado espaço cultural. Porém contraditoriamente ali poderia aprender a realizar os contratos culturais sem abdicar do seu projeto maior de coerência. Como estudante passou ao magistério com este mesmo projeto.


Fig 07 – Paulo Peres prestigiando os  amigos numa exposição na Iª Galeria Didática de Porto Alegre. Da esquerda para direita da imagem o artista Clóvis Peretti, o engenheiro Edmundo Gardolinsky, o diretor do Colégio São João Ir.Arnadlo Schmitz,  o  presidente da Associação dos Pais e Mestres do Colegio,  o vereador Aloisio Filho, o artista e professor Paulo Peres, o artista Luís Brasil e Círio Simon.

Paulo Peres cultivou a transcendência numa sociedade profundamente marcada e condicionada pelo FAZER, pela TER aparência física e pela busca de projeção social imediata e retumbante.

Mestre com a imensa energia que emana das figuras com de Gandhi, de Leonardo da Vinci, de Maomé , Cristo, Sócrates, Buda ou de Lao-Tse entre tantos, para verificar que o seu AGIR sem AGIR transformou-se em ação coletiva.


Fig 08 –  Paulo Peres no momento da doação de um álbum de gravuras produzidas no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre
A obra Paulo Peres é um dos índices sul-rio-grandenses na medida em que o homem do pampa está pouco inclinado a se fixar na formalidade e trabalhar de forma demorada e requintada com as  mãos. A obra de Paulo Peres aparenta-se- nesta busca do repente - do dos  meios formais imediatos, diretos e puros – com as obras de seus colegas artistas próximos no tempo e na estética como  Iberê CAMARGO (1914-1994), de um Vasco PRADO (1914-1998),  de Geraldo TRINDADE LEAL (1927-2013), Ruth SCHNEIDER (1943-2003), Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012). Todos eles deixam em suspenso os signos plásticos ainda próximos das suas origens naturais. Tornaram competentes para manter puro e intacto a fonte do  seu AGIR sem AGIR. Evitaram a  corrupção por meio do puro artesanato do FAZER pelo FAZER e do  MATAR o TEMPO por meio de um trabalho formal e sem alma.  Signos plásticos convocados para a cena da obra plástica pelas fortes concepções, fatos mentais nascidas e justiçadas pela força do SER do artista na do seu ENTE mais profundo e único.

Diante da obra do mestre Paulo Peres cabe ao espectador toda a atenção que lhe possível. Este observador necessita desfazer-se do seu próprio repertório alienante em relação à obra que estuda. Para penetrar no sentido da obra do artista necessita afastar a expectativa de encontrar nelas projetos recheados de onipotência de mudar o mundo, de onisciência de todo fenômeno estético e de soluções capazes de resolver suas próprias contradições. As mesmas observações cabem aos mediadores da obra de Paulo Peres e aqueles que se intitulam atravessadores dela para um público mais amplo. A recompensa para quem tiver ao seu dispor uma autêntica de obra de Paulo Peres está de posse de uma chave singular para o caminho da sua surpreendente biografia. Esta postagem é apenas uma gota neste vasto oceano a ser ainda explorado, estudado e transmitido para as gerações posteriores.


Fig 09 – O AGIR  continuado de Paulo Peres permitia-lhe criar obras - como desta imagem – na qual uma linha definitiva sintética,  uma mancha cromática e uma colagem traduzem  um  longo trabalho, de infinitas escolhas entre potenciais repertórios e de tantas outra renúncias narrativas que o artista  remetia para outras potenciais linguagens poéticas


Esta atenção, distanciamento e são necessários e inerentes face aos grandes revolucionários a todos os que querem pertencer á uma determinada cultura ou civilização. De um lado não possível ao observador perecer no curso da Natureza com o seu imponderável e da falta de algo por dentro. Do outro ser tomado pelo fascínio do novo,  inédito e do artificial, o intencional e o construído por um projeto de uma determina civilização.

Diante das obras de Paulo Peres não é possível esquecer as profundas influências místicas provenientes do lado da civilização ocidental. Diante da obra de Paulo Peres é necessário visitar as obras de George ROUAULT (1871-1958) com suas fortes e decididas pinceladas,  as de Emil NOLDE (1867-1957) com suas trágicas cores e linhas com a obra Nicolas STAEL (1914-1955).  Não há como contornar Henri-Emile Benoit MATISSE (1869-1954) no  o cultivo da cor e ascético da linha sobre o plano e nem  Charles LAPIQUE (1898-1988) com as festas visuais dos quadros coloridos e alegres ou ignorar o grafismo do  músico suíço Paul KLEE (1879-1940). Estes foram algumas das referências consagradas na formação plástica e visual de Paulo Peres. Para transferir estas referências internacionais da obra de Paulo Peres é necessário separar o seu ENTE daquilo que o mercado e a indústria cultural divulgou a seu respeito. Para o artista sul-rio-grandense importava a sua vida, a sua arte e o seu  modo de pensar por meio dos elementos sensoriais visuais.

Fig 10 – Esta obra transforma os signos em recursos gráficos e vice versa. Os meios gráficos transfigurando-se em  linguagens poéticas universais na espécie humana.  Linguagens da cor e dos gráficos estão presentes em todas as culturas e civilizações humanas em todos os tempos e lugares.  O AGIR  continuado de Paulo Peres confere a universalidade s suas obras e este valor são passíveis de orientar narrativas  em todos os códigos poéticos falados e escritos da humanidade.

Um dado subliminar -  nas obras de Paulo Peres -  é a sua preferência para os formatos pequenos domésticos.  Estes formatos pequenos fazem pensar - e poderá tornar-se um ponto de investigação-  a estética visual dos trabalhos provenientes da vertente intimista do agir visual e plástico açoriano. Neste sentido ele enveredou em caminhos distantes dos seus colegas de turma Clébio Sória e Paulo Porcella. Estes optaram  pela arte pública e grandiloquente dos murais na senda das obras e temas do mestre de todos eles que foi Aldo Locatelli.

Paulo Peres encontrava frequentes estímulos visuais e plásticos provenientes das vertentes desenvolvidas pelos indígenas brasileiros e pelas culturas avançadas pré-colombianas, sem se fixar em uma em particular. Ali buscou formas, cores, linhas e uma fazer estético ainda não colonizado.

Porém é necessário destacar que, apesar de todas estas  sendas - próximas do pensamentos, das motivações e das obra de Paulo  Peres – não foram suficientemente fortes para ele ter qualquer projeto de imposição de sombras de qualquer hegemonia estética, afetiva ou técnica da sua parte. 
Fig 11 – Paulo Peres (4)  agregando amigos da Arte ao seu redor  como na exposição SINGULAR no PLURAL que  aconteceu na Pinacoteca do IA_UFRGS em 17 de abril de 1997 quando aparece com Alfredo  Nicolaiewsky (1) Blanca Brites (2)  Annete Abarno (3)  Anico Hersokovits  (5) e Mônica Zielinsky (6)  


Assim ressoa “a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo” do mestre Marcel Duchamp - materializada para os sentidos humanos na obra de Paulo Peres - como um  dos índices dos meios plásticos, Coerência que esta artista singular agiu para tornar coerente com a sua gente, com seu tempo e com a sua  cultura mais profunda e semente de uma civilização


OUTRAS FONTES NUMERICAS DIGITAIS
PAULO PERES imagens

em 25.10.2013








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