quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 06

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html


Nem o CAPITAL nem o TRABALHO são ARTE.


A Arte cai na heteronomia e o seu sentido é aniquilado quando colocada sob manto do Capital ou é sufocada pelo Trabalho.



Fig. 01 _ TRABALHO _ Giuseppe PELIZZA de VOLPEDO [1868-1907] “Quarto Estado”



O Capital e o Trabalho foram a base e orientaram os dois grandes paradigmas dos séculos XIX e XX. O Capital e o Trabalho valeram-se inadequadamente da Arte, dissolvendo as suas competências e os seus limites na Política, na Economia e na Sociedade humana. O Capital viu na Arte investimento, Propaganda e Publicidade. No âmbito Econômico hegemônico os artistas e as obras na Arte foram usados como totens eficazes de regimes e de instituições isoladas. A Arte sufocada pelo Trabalho foi percebida apenas como alienação e formas burguesas sofisticadas de escapismo do mundo empírico e concreto.


Fig. 02 _ CAPITAL _ Lorenzo Lotto [1480-1561] O Colecionador Andréa Odoni - c. 1527



A Arte devido à estas limitações, reducionismos e desqualificações deixou de ser um ponto adequado de equilíbrio homeostático e nem um caminho civilizatório humano. A Arte não pode confiar ao Capital este equilíbrio e caminho pois ele é cercado de recorrentes crises, nem remetê-lo ao Trabalho, pois sabe que além da falta deste para todos, sabe da pouca seriedade na qual é tratada neste ambiente.


Fig. 03 – _ TRABALHO _ TECELAGEM de WILLIAM MORRIS da ART and CRAFTS em 1880



Esta pouca seriedade no âmbito do Trabalho é visível ao acompanhar os históricos projetos ingleses da Art and Crafts (1880-1910)[1] e germânicos da Werkbund (1907-1934)[2] e da Bauhaus (1919-1933)[3]. Nestes projetos verificam tentativas e investimentos das melhores energias, tempo e dinheiro, mas que não lograram continuidade no tempo. Nestas tentativas - realizadas com amplos e históricos investimentos de energias, tempo e dinheiro - ficam mais que evidentes os limites que o Trabalho possui em levar adiante um projeto sem se render ao Capital. Sob os auspícios do Trabalho o artista retorna a condição servil e torna-se mão de obra especializada e a sua obra perde o sentido inerente à sua natureza intrínseca. No âmbito do Capital ficam evidentes os mesmos e piores limites ao estudara e considerar como termômetro as consequências das altas e baixas do mercado e da bolsa de arte. O artista e a sua obra, submetido ao Capital, tornam-se peça do jogo de interesses alheios à sua natureza intrínseca.



Fig. 04 – _ CAPITAL _ ...”Recepção a bordo”


Repete-se a sentença de Ado Malagoli ao ser questionado se o artista poderia torna-se rico:


-Sim. Mas será penas mais um rico !.


Para a Arte, o histórico conflito entre o Capital e o Trabalho, não resolve e não cria nada de novo, a não ser deixar sem opção o artista. Este conflito entre o Capital e o Trabalho, pode, no máximo destruir, desqualificar e gerar as piores condições para a sua ação. No âmbito do conflito entre o Capital e o Trabalho bloqueia o pensamento, a obra do artista e a sua recepção. O artista, ao tentar desviar-se deste conflito entre Capital e Trabalho ele adotar a política “de se fazer contente” e o conduz à realizar concessões impossíveis. O leva ao ecletismo e que é um perigo insidioso e subliminar para qualquer projeto de um artista coerente com a contemporaneidade.


Fig. 05 – _ TRABALHO _ Honoré DAUMIER [1802-1879]: “Segunda Classe”



Como tanto o Capital e o Trabalho afetam a todos e pertencem ao senso comum. Este senso comum enseja discursos s mirabolantes construções ideológicas e que fazem sentido pontual e utópico para a maioria. Com esta base é possível arrastar para a praça publica e encenar espetáculos públicos que possuem como tema e fio condutor esta oposição entre Trabalho e Capital. A fortuna publica está garantida. Dos bastidores nascem os cenários os mais verossímeis possíveis. Pouco se dão conta que esta encenação não passa de arte. A alienação das vontades e das mentes não é percebida pelo grande público, apesar de ser tema constante deste espetáculo.


Ao aproximar-se da natureza do TRABALHO ele sempre foi visto e será em si mesmo um SUPLÍCIO[1]. O suplicio do Trabalhão potencialmente pode retornar ao mundo da arte e recuperar o sentido original do acaso admitindo a produção distinta do agir.


Diferindo o produzir e o agir, a arte deve ser uma questão de produzir e não de agir; e em certo sentido, o acaso e a arte versam sobre as mesmas coisas. Como dizia Agatão: ‘A arte ama o acaso, e o acaso ama a arte’.” Aristóteles 1973 p.344 1140a 17



Fig. 06 –_ CAPITAL _ Giovanni Paolo Pannini [1691-1765] – Recordações de Roma



A filósofa Hannah Arendt (1906-1975) completa e resolve a contradição entre produzir (executar) e agir transformando-a em complementaridade, ao afirmar que

Executar (archein) e agir (prattein) podem tornar-se duas atividades absolutamente diferentes, e o inovador é um chefe (arhon no duplo sentido do termo) que «que não tendo como agir (prattein) governa aqueles que são capazes de executar Arendt 1983 p.286[1]


No lado oposto, o observador, ao aproximar-se da natureza do CAPITAL, constata que ele sempre foi e será, em si mesmo, uma entre as múltiplas ACUMULAÇÕES que perseguem a criatura humana desde a sua origem. As recorrentes condenações da parte da psicologia, da sociedade e da religião. Sigmund Freud estigmatizava a ganância, a avareza e a usura, praticada por um indivíduo como um problema de retenção anal. Na sociedade indivíduos com este traço de caráter, foram sempre segregados e odiados. Os profetas, e as mais diversas religiões, percebiam falta grave neste acúmulo indiscriminado, sem limite e sem sentido. Advertiam do risco que o indivíduo e a sociedade corriam, ao se entregarem, de corpo e alma, à ganância, à avareza e à usura.





[1] ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres : Calmann-Lévy, 1983


Fig. 07 – _ TRABALHO _ Jean MILLET [1814-1875] Respigadeiras


Na sua autonomia contemporânea, cabe ao artista o direito de celebrar contratos nos quais a sua vontade seja orientada pelo conhecimento. Uma obra resultante da correta condução deste processo trará condições mais apropriadas para ser um documento e um testemunho de sua época e circunstâncias.

Esta autonomia do artista - face à natureza do seu produzir- foi expresso[1] por Miguel Ângelo que sabia que o Capital não gosta muito de Arte:

Nesta nossa terra [Itália] até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal os que muito a festejam, por onde vos aconselho, como a filho, que não vos devíeis partir dela, por que hei medo que, não o fazendo, vos arrependereis Miguel Ângelo in Francisco de Holanda, 1955, p. 66.

Miguel Ângelo estava consciente que este Capital, que aplicava as suas acumulações à Arte, mesmo a contragosto, resultava de uma educação coletiva. Já em Portugal e Espanha, que na época acumulavam os resultados de suas pilhagem no Novo Mundo e os frutos de seu comércio direto com o Oriente, não estavam educados para este fato. Um dos seus ajudantes era




[1] HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.



Fig. 08 – _ CAPITAL _ Lorenzo Lotto [1480-1561] Gentiluomo - 1530 – óleo


português repassava estas informações para Miguel Ângelo. Tanto em Espanha com em Portugal esta acumulação não levou ao Arte ao patamar civilizatório e renovador.

O resultado desta política cega foram séculos perdidos e esta inércia foi o estímulo para outras nacionalidades a tomarem imediatamente os caminhos abertos por Portugal e Espanha. Estes novos países, com os olhos e as mentes abertas, passaram, não só exercer a hegemonia mundial, mas a isolar a península Ibérica afundada na sua ganância, na sua avareza e na sua usura dos tesouros acumulados e ciosamente guardados pela confiança depositada na ação mórbida e inibidora da Santa Inquisição.

Contudo, além do horizonte do histórico - do conflito entre o Capital e o Trabalho - a Arte possui outro solo e outra natureza intrínseca. A Arte mergulha as suas raízes, no sentido vertical, nas profundezas da natureza humana. Nestas profundezas encontra-se face ao eterno conflito entre a verdade e a mentira, o bem e o mal e o agradável e o desagradável.


Fig. 09 – _ TRABALHO _ John RUSKIN [1819-1900] mentor teórico da ART an CRAFT num quado de John Everett MILLAIS – óleo s/tela.


É desta profundeza cabe a distinção entre a civilização e a barbárie, entre o Eros e Tânatos e entre as continuadas construções e destruições. Na medida em que o artista não concorda que o seu destino está escrito nas estrelas e nem desanima diante da abismal eternidade ele aproveita o lampejo de sua vida para produzir as obras que toda a espécie humana adota como suas.

A espécie humana ao adotar as obras de arte como suas, confere ao Estado, às instituições e ao indivíduo abertura das portas aos Projetos Civilizatórios Compensadores da Violência. Projetos Civilizatórios Compensadores que abrem ao Estado, às instituições e ao indivíduo dispensa do uso da Violência da força bruta.


No âmbito destes Projetos Civilizatórios Compensadores a Arte recebe o seu sentido pleno - tanto o Capital como o Trabalho – na medida que estiverem na mente, no coração e nos braços. No bojo do Projeto Civilizatório Compensador brota para a Arte a complementaridade entre o Capital e Trabalho, desaparecendo a heteronomia e a contradição.


Além disto, a Arte não persegue o seu projeto guiado pela Soberania, pela Onisciência, pela Eternidade ou pela Onipresença. Ela busca apenas e tão somente a sua Autonomia na qual ela sabe que possui as suas competência e em limites que percebe e contrata tanto com o Capital como com o Trabalho. Aos dois sabe mostrar os seus argumentos. Convence a ambos a ativar e usar as suas forças para promover os bens que redundam para o patrimônio de toda a espécie humana em obras que são o melhor a que uma civilização produz para o indivíduo, para as instituições como para o Estado.


Na Arte as energias do Tânatos, das destruições e as forças usadas para urdir a intriga e a mentira, fluem para a vida plena, a produção de obras dignas e a sustentação continuada do Justo, da Verdade e da Beleza. Para este projeto superior - e que orgulha a espécie humana - ela convoca também o Capital e o Trabalho


Fig. 10 – _ TRABALHO _ Altos Fornos”



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