terça-feira, 24 de agosto de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE APÓS 1945 – 08.03

TASSO BOLIVAR DIAS CORRÊA:

um líder das forças do campo das artes coerente com seu tempo e lugar.


Foto-composição de Myra GONÇALVES

Fig. 01 – MURAL 8º ANDAR do IA-UFRGS por Aldo Locatelli - 1958.

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Em várias ocasiões foi mencionado, neste blog, o nome e as ações de Tasso Bolívar Dias Corrêa (*25.121901.Uruguaiana .+07.07.1977.Porto Alegre). Contudo, como toda grande figura ainda não se possui distanciamento suficiente para avaliar todas as suas dimensões, em especial a importância de suas ações. No entanto a sua figura parece incontornável na institucionalização das artes no RS e, em especial, após 1945. O seu nome é mencionado em todos os caminhos da arte deste tempo.


Foto Círio SIMON 1985

Fig. 02 - Tasso Bolívar DIAS CORRÊA no MURAL 8º ANDAR do IA-UFRGS por Aldo Locatelli - 1958.



Nestes caminhos o nome de Tasso Corrêa pode ser incluído entre as lideranças, na linha de Olinto de Oliveira[1] e de Manuel André da Rocha[2], que animaram a administração do Instituto de Belas Artes. Como eles exerceu uma liderança que marcaram o Instituto profunda e definitivamente.







Fig. 03 – A família DIAS CORRÊA

Oscar e Rosina : pais – de pé. Tasso Bolívar e Ernani: filhos - sentados [1]. .

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A administração no IBA-RS consagrou Tasso Corrêa como líder inconteste no Instituto. Para tanto ele foi reeleito por unanimidade, mandato após mandato, entre 1936 e 1958. O Instituto foi projetado, a partir desta base, ao primeiro plano entre as instituições nacionais voltadas para as artes.






[1] Conferir o texto: "Mãe de proprietário deu nome ao bairro" O primeiro proprietário de que se tem notícia, da área onde hoje fica a Vila Rosina foi Tasso Bolivar Dias Corrêa.em http://www.rnews.com.br/textos.asp?codigo=8644 Vila Rosina Bairro: VILA ROSINA Cidade: CAIEIRAS Estado: SP CEP: 07700-000 Prefeitura Município Caieiras R. Albert Hanser, Caieiras - SP, 07700-000, Brazil (0xx)11 4442-3703


Arquivo do IA-UFRGS

Fig. 04 – DIPLOMA da SOCIEDADE BRASILEIRA de BELAS ARTES conferido a

Tasso Bolívar DIAS CORRÊA



Ele é agente de uma seqüência de realizações sistemáticas, que em si mesmas poderiam ser objeto de várias pesquisas com enfoques diferentes. Renovou o ensino, implantando novos cursos, contratou para eles profissionais qualificados, construiu nova sede, implementou salões e que abastecem até o presente o sistema de artes do Rio Grande do Sul. Criou instrumentos através dos quais articula o Instituto com a cultura local, nacional e internacional. Concluiu a sua administração com um ambicioso Iº Salão Pan-Americano, Iº Congresso Brasileiro de Arte onde aprovadas propostas do Ministério da Cultura e da Universidade de Artes.



O administrador profissional das artes


Se a geração anterior de administradores do campo artístico foi dos homens solenes e imperiais, contra os quais Tasso se opôs, ele, na sua administração institucional. Para tanto encarnou o agente e o empresário da arte e da cultura coerente com a nova era industrial. Agente ativo e sintonizado com o Estado nacionalista e toda a sua implementação política, ele foi buscar a motivação para a sua ação na arraigada formação republicana, herdada do seu pai o engenheiro de Portos e Rios Oscar DIAS CORRÊA e nos ambientes culturais vividos em pontos tão dispersos do território nacional como Uruguaiana, São Paulo e Fortaleza. Na capital federal, onde se formou com brilho no curso superior de música aos 20 anos de idade ele também se iniciou nas Ciências Jurídicas, estabelecendo uma rede de amizades e de relações pessoais que lhe serão de extrema valia quando inicia em 1922, seus próprios conservatórios de música em Rio Grande e Porto Alegre. Essa experiência de uma rede cultural lhe será fundamental para a continuidade do sucesso da direção.


Diário de Noticias de Porto Alegre em 11.01.1939 ond Ângelo Guido era cronista e crítico de arte

Fig. 05 – TASSO CORRÊA preside CONGREGAÇÂO do IBA-RS em 09.01.1939

Fernando Corona [1]; João FAHRION [2]; Ângelo GUID [3]; Tasso CORRÊA [4]

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Homem profundamente vinculado ao meio cultural sul-rio-grandense, foi pessoa de confiança dos interventores federais que se seguiram no Palácio Piratini. Conheceu na intimidade e por laços familiares, esses personagens e os mimetisa na sua ação administrativa no interior do Instituto de Belas Artes. De outro lado, o homem social, conseguiu traduzir em gestos populistas as suas iniciativas, quando se tratava de construir o novo prédio da instituição sem um orçamento definido e sem uma mantenedora. Se lhe cabe alguma crítica, ela deve ser formulada no interior da cultura sul-rio-grandense e brasileira, nas décadas de 1920 e 1930, da qual Tasso constitui uma amostra exemplar. A ação administrativa de Tasso realizou-se praticamente toda fora da Universidade de Porto Alegre, mas direcionada para a arte dentro do paradigma universitário da Lei n.º 19.851 de 11 de abril de 1931. Paira assim um enigma sobre essa ambigüidade ou distinção da natureza da sua administração. A interrogação, que tenta decifrar, esse enigma, de manter o Instituto as portas da universidade e ao mesmo tempo implementar o modelo da dessa mesma universidade, pode significar muito para apreender o processo de autonomia e das necessidades de negociação recíprocas para adequar para esse convívio a instituição voltada às artes e a universidade. Ele certamente levou ao túmulo a resposta das razões das suas recusas de integrar o Instituto à Universidade de Porto Alegre, que em várias ocasiões, lhe foram oferecidas, ou impostas.


Acervo da Pinacoteca do IA-UFRGS [1]

Fig. 06 - A equipe do Curso de Artes Plásticas do IBA-RS c.1944.

João FAHRION [1 autor do desenho] ; Benito CASTAÑEDA [2]; Tasso CORRÊA [3]; Ângelo Guido [4]; José LUTZENBERGER [5]; MARISTANY de TRIAS [6] Ernani DIAS CORRÊA [7}; Fernando CORONA[8]



Certamente, a competência administrativa de Tasso Corrêa, não nasceu no dia 27 de abril de 1936 quando foi designado pelo decreto estadual nº 6.193 do governo estadual para exercer a direção do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Ao contrário ele já exercera essa competência em 1922 em Pelotas como agente de eventos artísticos. No mesmo ano ele foi convidado para ser professor de Piano no Instituto de Belas Artes. No ano seguinte, com 22 anos, foi nomeado diretor interino para o cargo que pertencera a Araújo Vianna, enquanto seu titular na época, Guilherme Fontainha, foi estudar na Europa. Na volta desse, os dois fundaram, e fazeram funcionar no dia 10 de março de 1924, o Conservatório de Música da cidade de Rio Grande[2] e na qual Fontainha será diretor com a intervenção de vários músicos locais. No dia 04 de dezembro de 1926 Tasso estava oferecendo o seu curso superior de Piano em Porto Alegre através da revista Madrugada. Nesse mesmo número o seu irmão mais velho, Ernani Corrêa[3], oferecia a sua empresa de arquitetura e de construção na Rua Dr. Flores.

[3] - Ernani havia feito a sua formação superior na ENAB na turma de Lúcio Costa e Atília Correa. Ver a biografia deste último em em "http://pt.wikipedia.org/wiki/At%C3%ADlio_Correa_Lima" e do pai deste em http://www.dezenovevinte.net/bios/bio_cl.htm



Detalhe de foto do ARQUIVO do IA-UFRGS [1]

Fig. 07 – A equipe do IBA-RS sob a direção de Tasso Bolívar DIAS CORRÊA [16]

Fernando CORONA [1] Benito CASTAÑEDA [2] Ângelo GUIDO [4] José LUTZENBERGER [16]

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Um lider da universiade brasileira da época de sua concepção.

Com revolução de 1930, e em especial com os decretos sobre a universidade, ele aprofundou as suas concepções administrativas enquanto ia concluindo o seu curso de Direito. Assim ele engajou vários colegas, em 1932, no estudo das novas potencialidades do paradigma da universidade para os campos das artes. No dia 24 de outubro expõe-se perigosamente quando enfrentou a Comissão Central. Aproveitou o ensejo da sua escolha como paraninfo da turma de piano e tem ocasião de expor publicamente, as suas novas convicções sobre o campo artístico a ser implementado no Instituto. O presidente desse o expulsa no mesmo dia. Readmitido pelo presidente seguinte do Instituto, por meio da pressão dos seus alunos e colegas. Em 1934 Tasso reuniu os seus colegas de Conservatório para redigir um estatuto provisório para o Instituto com o objetivo de o Instituto pertencer a planejada Universidade de Porto Alegre. Nomeada a comissão de estudos desse projeto, Tasso está ao lado de Manoel André da Rocha. O projeto não chegou a ser aprovado pela Comissão Central do IBA-RS. Em vez disto, no dia 20 de novembro de 1934, esta Comissão aprovou a inclusão do Instituto de Belas Artes (IBA-RS) na Universidade de Porto Alegre (UPA).


[1] - Confira a imagem original em http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/galerias/displayimage.php?album=lastcom&cat=0&pos=53


Detalhe de foto do Arquivo do IA_UFRS [1]

Fig. 08 – Tasso CORRÊA e a sua equipe

Ernani DIAS CORRÊA [9]; Luis Fernando CORONA[10]; Fernando CORONA[11]; Tasso Bolívar DIAS CORRÊA [18]; Ilsa DAUT COORRÊA [19].

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Logo após a nomeação do reitor dessa Universidade, Tasso Corrêa estava presente no dia 16 de abril de 1936 na reunião do Conselho Universitário da UPA como representante do Instituto. No dia 27, desse mesmo mês, pelo Decreto Estadual nº 6.193, o governo o designou para o cargo efetivo da direção do Instituto de Belas Artes.

Contudo, não se conseguiu esclarecer, se esse decreto que nomeava Tasso Corrêa, foi o efeito de uma eleição de lista tríplice conforme o decreto nº 19.851 de 11.04. 1931 no seu artigo nº 27[2], ou se foi um ato do interventor apoiado por um nome indicado pelo Conselho Universitário. Tasso Corrêa acumulou em suas mãos uma grande soma de cargos que antes estavam dispersos na diretoria e nas escolas do Instituto.


Seguindo o conselho de André da Rocha eliminou as direções do Conservatório e da Escola. Ele acumulou os cargos de Presidente e de Vice da antiga diretoria da Comissão Central. O C.T.A que demorou dois anos para sair do papel. Quando foi instalado no dia 25 de abril de 1938, esse Conselho explodiu em conflitos sobre os quais Tasso reinou absoluto durante o seu primeiro mandato, legitimando todos os atos por ele antes praticados ad-referendum. Apoiava-se na plenária da Congregação dos Professores[3] antes que o Instituto fosse eliminado da Universidade no dia 05 de janeiro de 1939. Nessa data, teoricamente, o primeiro mandato de Tasso Corrêa já estaria findando se seguirmos ao pé da letra o estatuto da UPA aprovado no dia 28.11.1934 que diz no seu Art. 27... § 3º O diretor terá exercício pelo prazo de três anos e só poderá figurar na lista tríplice seguinte pelo voto de dois terços da Congregação ou Conselho Universitário” .



[1] - Veja a foto original em http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/galerias/displayimage.php?album=lastcom&cat=0&pos=43


[2] - “ Art. 27 - O Diretor dos institutos universitários, órgão executivo de direção técnica e administrativa dos institutos, será nomeado pelo Governo, que escolherá de uma lista tríplice, na qual serão incluídos os nomes de dois professores catedráticos, eleitos por votação uninominal pela respectiva Congregação, e outro professor do mesmo instituto, eleito pelo Conselho Universitário

[3] - Essas plenárias eram, de fato, apenas sessões solenes e que referendava os atos da Comissão Técnica Administrativa do IBA-RS.


Detalhe de foto do Arquivo do IA-UFRS [1]

Fig. 09 – A equipe do IBA-RS sob a direção de Tasso Bolívar DIAS CORRÊA [09]

Ernani DIAS CORRÊA [4], Irmão José Otão [6], Fernando CORONA [7], José LUTZENBERGER [8] Ângelo GUIDO [11] Ney CHRISÓSTOMO [14].



Tasso instaurou, no IBA-RS, um paradigma diferente da política da 1ª República Brasileira


Existe uma distinção fundamental entre as ações de Tasso Corrêa e as ações da Presidência da Comissão Central. Nesta, a Presidência era a última instância de uma pirâmide. Enquanto Tasso Corrêa é um burocrata cuja autoridade é uma delegação que procede de uma instância superior que é o Estado nacionalista, patrimonialista e intervencionista.

“O regime de 1937-45 não se explica como mistificação de cúpula, como mistificação de cúpula não foi o Império. Suas bases permanentes, que os interregnos de 1889-30 e de 34-37 apenas dissimulam, - porque neles vigem as vigas mestras da estrutura – traduzem a realidade patrimonialista, na ordem estatal centralizada”

Faoro, 1975, p. 725



Na linha do autoritarismo do Estado Novo outro enigma é quanto aos estatutos e aos regulamentos Instituto de Belas Artes. Existe uma versão do regulamento, com 227 artigos, homologado no dia 17 de junho de 1938 pelo Conselho Técnico Administrativo. Contudo este regulamento não chegou a ser homologada pela Congregação do Instituto ainda incorporado a Universidade de Porto Alegre. Esse regulamento deveria seguir para a homologação do Conselho Universitário. Isso não chegou a acontecer, pois o Instituto foi eliminado da UPA no dia 05.01.1939.


[1] - Veja a foto original em http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/galerias/displayimage.php?album=lastcom&cat=0&pos=42


Diário de Noticias de Porto Alegre em 11.01.1939 onde Ângelo Guido era cronista e crítico de arte

Fig. 10– TASSO CORRÊA [4] e os três membros do CTA do Curso de Artes Plásticas do IBA-RS:

Fernando CORONA [1] João FAHRION [2] e Ângelo GUIDO [3] [Detalhe da fig.05]


A Congregação ratificou, nos dias 07 e 23 de janeiro de 1939, aquele homologado em junho de 1938 e do qual foi publicado um extrato na imprensa local no daí 12 de outubro de 1939. O que deveria ser o regulamento para do Instituto para a UPA, tornou-se o regulamento para o Instituo no dia 24 de março de 1939, aprovado nessa data pela Congregação dos Professores, retirando-se, do seu caput, apenas a referência a UPA.

O enigma está na demora em se submeter esse regulamento à Universidade. As dificuldades de sua aprovação já eram previsíveis? Foi mais uma das causas da eliminação do Instituto da UPA?


Desenhos de Fernando CORONA –a Arquivo do IA-UFRGS

Fig. 11 – Fachadas dos prédios do IBA-RS - Histórico

Prédio 1909-1941 [1]; Prédio inaugurado em 01.07.1947[2]; Projeto, em 1947, do prédio da Universidade das Artes.[3]

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Com as comemorações do cinquentenário do Instituto de Belas Artes Tasso Corrêa chegou ao apogeu do seu ambicioso projeto traçado em 1933 no seu discurso no Theatro São Pedro para Instituto de Belas Artes. Nesse ano posicionou-se claramente contra uma administração estática e burocrática.

Projeto de Fernando CORONA –Arquivo do IA-UFRGS

Fig. 12 – PROJETO da UNIVERSIDADE das ARTES - Localização

Teatro[1] Reitoria e aulas [2] Museu e Pinacoteca [3]


Em 1958 ele estava no posto mais alto dessa administração. Ali ele foi capaz de propor, articular e ativar mecanismos, do interior dessa instituição de artes, coerentes com as regras do campo da arte no qual se inscreve com a proposição de serem nacionais.


Prova da foto que se encontra no Arquivo do IA-UFRGS

Fig. 13- Tasso CORRÊA preside banquete a ele oferecido na Pinacoteca do Instituto.

Tasso Corrêa recebe a homenagem de um banquete na Pinacoteca do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul por ocasião do 20o .aniversário da ADMINISTRAÇÃO TASSO CORRÊA. Oferecido na noite de 19.06.1956 – Terça feira[1]

1 –Cel. Pandolfo, 2-Tasso Corrêa 3 –Ilsinha Daudt Corrêa 4 –Irmão José Otão [da Esquerda do observador para Direita]



A esperança e aposta de Tasso no Estado Nacional.



Tasso Corrêa apostou todas as suas fichas no tipo de Estado Nacionalista que começou a se configurar a partir de 1930. Estado do qual ele passa a ser um forte propagandista por meio do projeto da universidade brasileira. Tasso traduz essa universidade para o campo artístico do Brasil. Com a sua expulsão do Instituto em 1933, parece que esse seu projeto naufragaria. Mas já em 1936 tornou-se sua autoridade máxima exatamente no modelo da universidade brasileira de 1931. Em 1939 recebeu o patrimônio e administração do Instituto das mãos do severo João Fernandes Moreira, presidente que o expulsara do Instituto[2].




[1] - Em Díário de Notícias. Porto Alegre: dias 15.06.1956, 17.06,1956 e 22.06.1956

A Hora. Porto Alegre, dias 12.0.1956, 13.06.1956 e 15.06.1956

Correio do Povo. Porto Alegre, 23.06.1956, p.4

O Jornal. Rio de Janeiro, Sábado, 23.06.1956 (Recortes dos periódicos sem noe página da pasta de Tasso Corrêa)



[2] - A entrega do patrimônio e da administração aos docentes do Instituto é assinada por nove membros da Comissão Central. Entre as nove assinaturas dessa comissão, está ironicamente a de João Fernandes Moreira presidente que expulsara Tasso Corrêa do Instituto de Belas Artes no dia 24.10.1933.


Prova da foto que se encontra no Arquivo do IA-UFRGS

Fig. 14- Algumas presenças na noite de 19.06.1956 no banquete oferecido a Tasso Corrêa na Pinacoteca pelo 20 anos de sua administração.

Aldo LOCATELLI [1] Bruno KIEFER [2] João FAHRION [3]

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Com sua dinâmica barulhenta e conseqüente atividade conseguiu obscurecer a estática e silenciosa administração da Comissão Central. Nos eventos do cinqüentenário que planejou e presidiu, propôs, provocou, mas não precisa mais tripudiar. A administração de 22 anos ensinara-lhe, na prática os seus limites e as suas competências face a instituição e do sistema de arte no qual se move. Na última sessão do Conselho Técnico Administrativo que Tasso Corrêa presidiu no dia 19 de setembro de 1958, está em pauta o IIº Salão Pan-Americano.

Ordem do Dia, consta dos seguintes itens – 1º) – 2º Salão Pan-Americano: O Snr. Diretor, inicialmente, põe o Conselho a par das providências já tomadas pela Direção com referência a realização, em 1960, do 2º Salão Pan-Americano solicitando depois aos conselheiros Fernando Corona, Ernani Dias Corrêa e João Fahrion a elaboração do anteprojeto de regulamento para o concurso de cartazes, referente a esse salão, bem como a apresentação de anteprojeto para o regulamento definitivo dos salões pan-americanos".

Livro de atas nº III do C.T.A, sessão do dia 19.09.1958’ f. 90f



Mas o seu tempo já havia passado. Alguns dias depois não obtém mais da Congregação a costumeira unanimidade de votos para mais um mandato[1]. Diante disso retirou-se intempestivamente do recinto e a seguir solicita a sua aposentadoria. Pagou assim o alto preço do intelectual cooptado: a sua competência foi-lhe imposta pelo Estado. Fora dali não possui competência (Favero, 1980 : 48). Assim a sua candidatura, a um posto eletivo na política regional, não tinha sustentação e vida própria.

O ator retira-se do palco da política pública.


Como um ator e líder que possui o sentimento do seu tempo de se retirar do palco quando a sua ação passou e é a vez de outros atores e outras idéias, Tasso se recolheu para a vida privada como haviam feito os líderes do Instituto, Olinto de Oliveira e Libindo Ferrás. Conscientes e cientes do valor de suas idéias sobre a autonomia do campo das artes também sabiam os limites e as competências de cada geração. Alimentaram com milhares de informações o Arquivo do IA-UFRGS como De Masi (1997 : 20) colocando como característica de um bom líder. “Atento em alimentar a memória e a histórias do grupo com notas biográficas, cartas, fotografias, documentação meticulosa; capaz de transformar os conflitos em estímulos para a idealização e a solidariedade


Assim também Tasso passou para a inatividade, deixando em mãos de novos agentes os seus pleitos de autonomia para o campo das artes, sem imiscuir-se nos novos tempos que o sucediam. De outra parte muitos dos seus sonhos e os caminhos de sua realização desembocaram no seu túmulo em 7.7.1977. Assume assim outra faceta do líder que segundo De Mais (1997 : 200) se sente ‘inconscientemente inclinado a comportar-se quase como se desejasse que a organização por ele criada morresse com ele’.




[1] - Segundo o Decreto Lei n.º 19.851 de 11.04.1931 o diretor poderia ser reeleito contanto que obtivesse 2/3 dos votos

Art. 27 – O diretor dos institutos universitários, órgão executivo da direção técnica e administrativa dos institutos, será nomeado pelo Governo, que o escolherá de uma lista tríplice ....

§ 3º - O diretor terá exercício pelo prazo de três anos e só poderá figurar na lista tríplice seguinte pelo voto de dois terços da Congregação ou do Conselho Universitário”.

Tasso Corrêa esperava a costumeira unanimidade de votos nessa eleição de 1958 ...o que de fato não mais se concretizou Apesar de obter a maioria dos sufrágios necessária para a sua reeleição, houve alguns votos em outro nome que não dele. Isto causou profunda irritação em Tasso que se retirou da sala abandonando todas as suas pretensões.

(Depoimento ao autor de Luis Carlos Maciel – presidente do CATC. presente e que tempos depois seria diretor do IBA-RS)


MURAL 8º ANDAR do IA-UFRS por Aldo Locatelli - 1958Foto Círio SIMON 1985

Fig. 15 – Os irmãos Ernani e Tasso DIAS CORRÊA encimados pela figura da João FAHRION

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Tasso Bolívar DIAS CORRÊA

(*25. 12.1901: Uruguaiana-RS + 07. 07.1977. Porto Alegre- RS )



Cronologia de algumas relações de Tasso CORRÊA com o Instituto de Artes:

  • 1922 é convidado para ser professor de Piano do Instituto de Belas Artes
  • 1923 é o diretor interino do Conservatório do IBA-RS no afastamento de Guilherme Fontainha
  • 1925 organiza audição de Piano no Teatro São Pedro com palestra de Eduardo Guimarães
  • 03.06.1932 Tasso Corrêa, como estudante da faculdade de Direito, ajuda a instalar “Grêmio dos Estudantes do Conservatório de Música”[1] que será Centro Acadêmico do Instituto de Artes(C.A.I.B.A.) de todos os estudantes do IBA-RS e em 28. 04.1943 passa denominar-se Centro Acadêmico Tasso Corrêa (CATC) [2] .
  • 24.10.1933 Tasso atacou a administração da Comissão Central em pleno Theatro São Pedro

  • 16.04. 1936 nomeado Diretor do Instituto de Belas Artes da Universidade de Porto Alegre

  • 06.01.1939 recebeu a administração e propriedade da Comissão Central com presidente da Congregação do IBA-RS
  • 15.11.1939 abre o 1º Salão de Artes do Rio grande do Sul

  • 1941 até 1943 lidera a campanha nacional dos Legionários para a construção do novo prédio
  • 02. 10. 1941 Tasso Corrêa junto com 3 professores[3] do IBA-RA assina hipoteca de suas casas, no 5º cartório de Porto Alegre, para a Caixa Econômica Federal com o objetivo de levantar fundos para a construir o prédio do Instituto de Belas Artes
  • 14.11. 1941 o Instituto passou a funcionar num prédio alugado na rua da Praia, nº 1.511[4] , 1º andar.

  • 01.07.1943 inauguração oficial[5] do bloco central do Instituto de 8 andares[6].

§ 06.09.1946 - Tasso Corrêa é nomeado para o Conselho Estadual de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul[7] como membro nato na qualidade de diretor do IBA-RS


  • 1952, inicia a construção do bloco das Artes Plásticas, com os ateliês voltados para o Sul[8].

  • 22.04.1958 promove o 1º Congresso Brasileiro de Arte e o 1º Salão Pan-Americano de Artes.
  • 17.10.1958 Tasso Corrêa passa à profª Alayde Pinto Siqueira o seu cargo de Diretor, pelo Oficio nº 1086/58,

  • 1970 recebe, junto com Fernando Corona, o título de Professor Emérito da UFRGS.

Outros dados:

  • Estudou e em 1921 formou-se no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro.
  • 1922 organizou concertos em Rio Grande e Pelotas
  • Em fevereiro de 1924 criou o Conservatório Rio-Grandino de Música juntamente com Guilherme Fontainha

  • 4.12.1926 oferece na revista Madrugada nº 5 o Curso Superior de Piano que criou em Porto Alegre

  • 1933 forma-se em Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito de Porto Alegre.

· Constitui duas imobiliárias (ver nota da fig.03) e integra direção de bancos de Porto Alegre.



·

ALGUMAS FONTES para a BIOBRAFIA de TASSO CORRÊA



Tese :ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS disponível em http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html Personagens do Instituto de Artes da UFRGS . Pesquisa e texto relatório da tese de doutoramento de Círio SIMON 1995 –2002



Fontes do Arquivo do IA:

  • Atas da Comissão Central do Instituto Livre de Belas Artes
  • Atas do CTA do Instituto de Belas Artes

  • Atas da Congregação do Professores do Instituto
  • Catálogos de realizações e Pasta funcional de Tasso Corrêa

Veja alguns documentos em http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt


Obras de arte no Acervo da Pinacoteca do IA-UFRGS imagens disponíveis em http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/mastop_publish/



Outras fontes:


  • Prospecto do Instituto Nacional de Música de 08.1919
  • Prospecto do Concurso do Instituto Nacional de Música de 31.12.1922

  • Correspondência Tasso e Fontainha

  • Prospecto do Conservatório Rio-Grandino de 23.02.1924.
CORRÊA dos SANTOS, Nayá. Tasso Corrêa: uma vida uma obra de arte. Porto Alegre : Evangraf, 2001, 32





[1] - Livro de Atas nº 2 da CC-IBA pp.33f e 33v . O fato havia sido comunicado no dia 03 . 05 à CC-IBA



[2] - Livro de Atas do Centro Acadêmico Tasso Corrêa 1940-1945 p. 15f



[3] - Livro de Atas nº 2 do CTA p.6 f“ Fernando Corona escreve no seu Diário de, ano de 1941, fl. 425 “No dia dois de Outubro assinamos na Caixa Econômica o empréstimo de quinhentos contos de reis. Para que constasse a legalidade da hipoteca, assinaram conosco as nossas esposas. Os fiadores fomos: Tasso Corrêa, Enio de Freitas e Castro, Oscar Simm e eu Fernando Corona”.

[4] - Atelier na rua da Praia com Cristina Balbão, Corona, Fahrion. CD-ROM - Disco 6 - IMAGENS. .

[5] - Tasso Corrêa fala no lançamento da pedra, Fernando Corona fala na inauguração do prédio e Altar cívico. Carlos Barbosa, Getúlio e Olinto. CD-ROM - Disco 6 - IMAGENS.

[6] - Inauguração do Novo Edifício: 1º de julho de 1943 Solenidades comemorativas da inauguração do novo edifício

[7] - Decreto no 2.018 de 06.09.1946 do Interventor Federal do Rio Grande do Sul, publicado no Diário Oficial do Estado no dia 10.09.1946



[8] - IBA: Corona: fachada da ampliação prédio e ampliação 52/53, do Instituto de Belas Artes:. Os ateliers foram orientados para luz vinda do lado sul através de janelas que ocupam toda a parede, graça aos pilotis. CD-ROM - Disco 6 - IMAGENS. .

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