domingo, 20 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 05

PORTO ALEGRE DERRUBA o seu PELOURINHO COLONIAL.




O Estado brasileiro iniciou oficialmente no dia 07 de setembro de 1822. A soberania teve como consequência visível a derrubada do pelourinho lusitano e a invisível prolongou-se na lenta e tumultuada troca da mentalidade da heteronomia colonial de longa tradição.


Na arte significou a troca da estética barroca pelo neo-clássico ao modelo dos artistas de Napoleão Bonaparte que iniciaram no Corte, em 1816, esta nova estética e no bojo de uma política de um projeto civilizatório compensador das inerentes ao puro poder.


Porto Alegre havia sido elevada à vila em 1810. Em consequência recebeu o seu pelourinho como domínio luso. Não existe registro ou documento da derrubada deste pelourinho luso[1] em consequência do 07 de setembro de 1822. Mas Dom Pedro I conferiu o título de cidade brasileira no dia 04 de dezembro de 1822.


O pelourinho - como sinal da autoridade colonial, lugar da exibição publica da legislação e das aplicações publicas da penas impostas pela justiça - havia sido erguido frente à atual Igreja das Dores. A Igreja das Dores recebera, em 02 de fevereiro de 1807, a sua pedra fundamental na colina frontal à rua da Praia. As obras iniciaram em 1809. Quarenta anos depois a sua decoração interna foi confiada ao toreuta português João Couto e Silva[2]. Esta obra recebeu as suas torres de 35m de altura, em 1900, na tipologia neo-gótica que lhe conferiu Júlio Weis. A fachada recebeu elementos na tipologia neo-clássicista graças às oficinas de João Vicente Friederichs[3].


A Abertura dos Portos e as diversas missões cientificas e artísticas européias na corte do Rio de Janeiro também percorreram o território brasileiro. O detalhado registro destas expedições temos os depoimentos escritos de Augusto Saint-Hilaire e os desenhos de Jean Baptiste Debret[4] em relação ao Rio Grande do Sul e Porto Alegre em particular.


A obra e a personalidade do mestre francês Debret polarizou a atenção do jovem Manuel José de Araújo que tinha feito de Porto Alegre um lugar de aprendizagem de múltiplas disciplinas ali cultivadas. Ele havia nascido em 29 de novembro de 1806 em Rio Pardo. Entre as múltiplas disciplinas e trabalhos que encontrou em Porto Alegre estavam o de relojoeiro, francês, Latim e especial desenho e pintura com os mestres Gondet, Manoel Gentil e João de Deus





[1] - Há uma sintética e hipotética conjectura da derrubada do pelourinho na cidade da Natal – RN na versão de Câmara Cascudo em http://www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_5h.htm . Mesmo o conhecido Pelourinho de Alcântara, Maranhão, foi redescoberto por indicação de uma escrava e remontado na praça da Matriz. http://www.cidadeshistoricas.art.br/alcantara/al_mon_p.php


[4] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Debret Não existe certeza em relação a presença física de Jean Baptiste Debret no Rio Grande do Sul. Mas os três volumes, que constam no espaço digital da Coleção Brasiliana, trazem imagens recorrentes do conhecimento direto ou indireto que este pintor da Missão Artística Francesa de 1816.


http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/624510001?show=full




O auto-retrato do jovem de 17 anos Manuel José Araújo[1] – Pitangueira – Porto-alegre[2] é índice da nova estética que permite o retrato do cidadão individual. Outro fato a notar é que esta obra é anterior à popularização da fotografia. Obra realizada em Porto Alegre e quatro anos de ir, no dia 27 de janeiro de 1827, ao Rio De Janeiro para estudar com Jean Baptista Debret. Quando este mestre retorna à França em 1831 o discípulo o acompanha. Ali entra em contato com François o irmão de Debret que constrói teatros pela Europa afora. Neste meio tempo entrou em contato com a poesia romântica e editou em Paris, em 1836. a revista Nitheroy[3]. No ano seguinte está de volta à Rio Pardo onde resgata a sua mãe do meio da Revolução Farroupilha e a leva consigo ao Rio de Janeiro. Novamente na corte trabalha como professor de Geometria no Colégio Militar, como arquiteto, pintor, poeta[4], critico de arte, escultor decorador, teatrólogo. Nomeado diretor da Imperial Academia de Belas Artes[5] consegue a sua reforma através do Decreto Luis Pedreira[6]. Como memorialista conseguiu que o deputado mineiro Rodrigo Ferreira Bretas[7] escreva uma primeira biografia de Aleijadinho.


Desgostoso com a falta de autonomia da Imperial Academia recebeu o cargo de Cônsul em Portugal onde faleceu em Lisboa no dia 29 de dezembro de 1879. O
Império o distinguiu, em 1874, com o título de Barão de Santo Ângelo.




[1] Enciclopédia Rio-Grandense– O Rio Grande Antigo (2ª ed). Prto Alegre : Livraria Sulina 1968 2º vol, p. 89b

[2] - Segue-se a grafia com que Manuel José Araújo assinava. O seu nome gentílico que adotou depois deixar o apeldi brasilianista PITANGUEIRA que havia adotado.

[3] NITHEROY REVISTA BRASILIENSE. SCIENCIAS, LETTRAS, E ARTES. Todo pelo Brasil, c para o Brasil – Paris IMPRIMERIE DE BEAULE ET JUBIN, Rue tlu Monceau-Sai-nt-Gervaia, 8, Tomo primeiro N° 2. ano . 1836

Ver fac-símile em http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/03512820?show=full

[4] - Na Literatura sua obra prima é o poema Colombo

[5] - Foi nomeado diretor da AIBA no dia 22 de abril de 1854 e renunciou no dia 03.10.1857. Morales de los Rios Filho, 1938 p. 234


Se em Porto Alegre foi deflagrada a Revolução Farroupilha[1] em 20 de setembro de 1835, ela foi reconquistada pelos Imperiais, cercada de muro e sendo atacada constantemente. Feitas as pazes e as forças unidas marcharam para o Paraguai. Na medida em que em Porto Alegre adensava a sua população, brotavam as idéias e a mentalidade republicana




[1] - VILARES, Alfredo Augusto Varela de Guerra civil no Brasil Meridional (1835-1845) Porto Alegre : EdiPUCRS, 2008, 303 p.



O período, entre as guerras Farroupilha e do Paraguai, foi uma época de grande efervescência cultural em Porto Alegre. Ela recebia os refluxos da 1ª industrialização européia. De um lado recebia as sobras de mão de obra agrícola. O Império trouxe os imigrantes europeus para o Sul do Brasil onde eles tinham como se aclimatar melhor do que nas condições do Espírito Santo, Friburgo e nos cafezais paulista onde foram confundidos pelo estatuto da escravidão. De outro lado o fluxo dos produtos industriais necessitou a construção de Mercado Público em 1844. O comércio e incipiente
indústria fazem com que Pomatelli abra, em 11 de dezembro de 1849, a “Litografia do Comércio”
[1]. Zelony instalou, em 1859, o seu atelier fotográfico em Rio Grande. No mesmo ano Gustav Normann iniciou a primeira aula prática e coletiva de Desenho no Liceu Dom Afonso.



Muitos decoradores, retratistas, escultores, arquitetos, atores, cenógrafos e músicos buscavam a praça de Porto Alegre devido ao comércio e da era industrial. Com isto prosperou uma navegação mais regular e ao poucos movida à vapor. O escultor Adriano Pittanti é deles que estará aqui em 1869 e a conselho de Giuseppe Garibaldi.




[1] - http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_sele_alitografia.php


Em 1858 foi inaugurado o prédio do Theatro São Pedro. Ele havia sido iniciado em 1833, foi paralisado durante Revolução Farroupilha. O Duque de Caxias havia estimulado a sua conclusão no dia 08 de dezembro de 1847. A Igreja da Conceição[1] é outra construção desta época cuja pedra fundamental havia sido lançada no em 08 de dezembro de 1851 e foi concluída em 08 de dezembro de 1858. A sua forma externa seguiu a tipologia neo-clássica das igrejas Matriz e do Rosário. O seu interior é obra que segue ainda as tipologias tardias da arte barroca e realizada pelo toreuta lusitano João Couto e Silva. Antes disso havia realizado obra semelhante no interior de Igreja das Dores. Infelizmente não existem traços conhecidos de sua obra civil realizada no interior dos palacetes e sobrados de Porto Alegre. Ele faleceu no dia 04 de outubro de 1883.




[1] - DAMASCENO, 1971, p. 5759


Um pintor de renome internacional é Eduardo De Martino[1] autor de marinhas e quadros batalhas navais. Ele esteve em Porto Alegre, em 1868, mostrando suas obras colhidas no cenário da Guerra do Paraguai.


A era industrial teve os seus primeiros albores por meio da imprensa. Os numerosos jornais, aparecidos em Porto Alegre, foram sementeiras para escritores de todas as tendências e fôlegos. Joaquim Campos de Leão, o “Qorpo Santo” montou sua própria tipografia para editar, em 1877, a 2ª edição da sua “Ensiqlopedia”. Antes, entre janeiro e julho de 1866, havia escrito as suas comédias e dramas.


O “Partenon Literário” foi um movimento social, político e cultural fundado em 18 de junho de 1868. Esteve sob a direção do Dr Caldre e Fião (1821-1876) e a sua revista foi editado por Hipólito Porto Alegre.


Na medida que as fontes perdiam a sua função - devido às primeiras hidráulicas industriais - elas começaram a migrar para formas de arte a céu aberto. Um deles foi edificado em 1856 na rua do Arvoredo (atual rua Fernando Machado). Dez anos depois foi instalado, na atual Praça XV de Novembro, o requintado chafariz vindo da indústria de ferro francesa[2]. Hoje ele está no Parque Farroupilha atrás do Auditório Araújo Vianna.



A fonte dos Cinco Rios, formadores do Guaíba, estava inicialmente na Praça da Matriz. Foi removida de lá para dar ao Monumento a Júlio de Castilhos e localiza-se hoje na Praça Dom Sebastião.



HISTÓRIA da PRAÇA da MATRIZ conferir


http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:SpgmJX16KJ0J:www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_0/0_Andrea.pdf+Arquiteto+Gustavo+Normann+Porto+Alegre&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgvn7D4vG2vbh4X-3EgKgo0-6JFC5kqDObqYlSMJWG_AGsw5Y3q61LUQI-nFoaKxHcrBriaRnUf6YQcKIlJRpmbRW0hdEV0FJ4XDmn7DOma6-imqq3W8rI-lFIX2bdM0gxVP5vk&sig=AHIEtbSVMpNnS-ja1LijkurGwO3gBjl_-A



MANUEL ARAÙJO PORTO-ALEGRE – Barão de Santo Ângelo conferir:

- «Centenário de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII, no 596 em 29.12.1979 . 16 p .

CADERNOS de Artes 1 - Porto Alegre : Instituto de Artes da UFRGS Jun 1980.

(Dedicado integralmente a Manuel Araújo Porto Alegre)





[2] ALVES, José Francisco. Fontes d’Art no/au Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Artfolio, 2009, 210 p. : il

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