sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O BAZAR de PLATÃO

TOTALITARISMO e IDENTIDADE

“Dizer que não se gosta dos estrangeiros vai tornar-se “in”. Pessoalmente eu desprezo ainda mais os provincianos, principalmente os corsos e os bretões. Os bascos também. Deveria cassa-lhes a cidadania. Os alsacianos deveriam receber o estatuto de indígenas, como no tempo das colônias. Os únicos franceses que merecem de fato esta identidade são os habitantes de Neully/Sena e o oeste de Paris.

Jean P. 09.11.2009 10h36

Reação a um artigo do jornal Le Monde[1] sobre a identidade nacional francesa

Este artigo foi motivado pela frase acima. Um verdadeiro golpe contra tudo o que se concebe como cidadania. Uma exposição de barbárie no seio de uma das nações contemporâneas mais antigas. Supõe-se, que na França, o poder originário tivesse realizado um contrato social e alcançado um mínimo da sua identidade nacional, depois de tantos sangue e percalços, para não ler mais estes apelos. Mas eis que eclode, à luz da rede mundial, tudo aquilo que se denunciou no artigo que antecedente. Expressão que escancara a busca de um totalitarismo baseado numa tipologia unitária na qual o nazismo é obra de aprendizes desastrados.

Só quando se lê uma frase, como esta, nos damos como a busca do tipo que represente uma totalidade está presente numa cultura destas. È de se imaginar o que pensam e dizem daqueles que estão fora da sua fronteira nacional.

Não somos tribunal para este francês: ele pertence a um povo que possui a franqueza de dizer tudo, para todos e qualquer tempo e lugar, custe o que custar. Povo que não ousa dissimular e permite aos seus cidadãos esta brutal forma de expressão. Mesmo que esta expressão soe, e represente, o que de mais próximo da cultura do homem das cavernas. Homem que se jogava, de corpo e alma, contra aqueles do grupo de fora ou discordavam do grupo de dentro.

Mas toda escolha é uma perda. A escolha de uma expressão, desta natureza, representa perdas profundas e vitais. Sobre uma mentalidade destas não é possível construir uma civilização nacional, muito menos uma continental e torna-s um absurdo pensar numa civilização planetária.

Evidente que a França deixou há muito tempo a condição de um território com fronteiras para o processo d e acúmulo de capitais, matérias primas e concentração de mão obra com vistas à industrialização e um lugar fechado e delimitado passível de controle da circulação de produtos que devem pagar impostas para manter o funcionamento o estado francês. As manifestações acima são uma demonstração desta ruptura da mentalidade industrial. Mas se levado ao extremo os franceses estarão de retorno ao sistema feudal com seus castelos e muralhas e uma autoridade central em constante cheque. Foi a autoridade máxima do estado francês que percebeu isto e declarou[2] no dia 12 de novembro de 2009 em La Chapelle-em- Vercors:.

"Devido ao abandono [da discussão da identidade nacional francesa] acabamos sem saber muito bem quem somos. Devido ao cultivo do ódio de nós mesmos nós fechamos as portas ao futuro. Não se constrói nada em cima do ódio de nós mesmos, dos seus e sobre a desqualificação de seu próprio país”

Nicolas SarkozyLEMONDE.FR avec AFP 12.11.09 18h16

Os franceses estão livres da ameaça imediata de potências inimigas externas e contra as quais caberia a doutrina da “force de frappe” de De Gaule. Se isto estivesse no horizonte, as cortes marciais ganhariam sentido e os “traidores da pátria” seriam julgados e eliminados fisicamente.

Mas trata-se de manter em funcionamento a democracia que Platão percebia e ridicularizava como “um bazar no qual você pode escolher qualquer regime entre as diversas tendas ali abertas”.

Uma tenda dessas, em todos os tempos e lugares, foi aquela aberta e mantida pela mentalidade totalitária de todas as cores. Estes necessitam arbitrar sobre a identidade daqueles que pertencem ao grupo e sobre aqueles que são excluídos dele. O passo seguinte é eliminar fisicamente os que estão fora e são considerados os “OUTROS” , portanto COISAS (RES). Nesta tenda vizinham e se federaram tanto os anarquistas radicais como aqueles que cultivam a paz dos cemitérios com todas as armas e instrumentos possíveis.

Uma democracia é uma recriação perene. A harmonia e o equilíbrio entre as diversas tendas, do seu bazar, é o maior prêmio. Todos dependem, de uma ou de outra forma, da circulação do poder, da vida que se renova constantemente e a reprodução, desta vida, por tempo indeterminado.




[1] “Dire que l'on n'aime pas les étrangers va bientôt devenir "in", plutôt (et ça rime avec marine). Personnellement, je méprise plutôt les provinciaux, surtout les corses et les bretons. Les basques aussi. On devrait leur retirer la nationalité. Et les alsaciens devraient avoir le statut d'indigènes, comme au temps des colonies. Les seuls français qui le méritent vraiment l'identité de vrais français sont les habitants de Neuilly/Seine et de l'Ouest Parisien”.

Jean P. 09.11.09 10h36

http://www.lemonde.fr/politique/article/2009/11/06/aux-racines-de-l-identite-nationale_1263699_823448.html#ens_id=1258775

[2] "A force d'abandon, nous avons fini par ne plus savoir très bien qui nous étions. A force de cultiver la haine de soi, nous avons fermé les portes de l'avenir. On ne bâtit rien sur la haine de soi, sur la haine des siens et sur la détestation de son propre pays", a déclaré le président français.

http://www.lemonde.fr/politique/article/2009/11/12/le-debat-sur-l-identite-nationale-est-necessaire-selon-sarkozy_1266493_823448.html

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