MEMÓRIA: CENTRALISMO, REGIONALIMO ou SISTEMA de ARQUIVOS - 3.
A MEMÓRIA INSTITUCIONAL
A memória de uma civilização depende e reflete a memória das suas instituições. Para terem clareza e eficácia as instituições, que se confessam de cunho nacional, necessitam discriminar, deliberar e decidir em relação ao tipo de memória pretendem cultivar. O ideal seria cultivara uma memória institucional coerente com interesses de quem dizem representar. Contudo em todos os cantos das instituições de cunha nacional as luzes de alerta estão piscando devido aos perigos de incorreções dos seus rumos.
As incorreções dos rumos destas instituições auto-denominadas nacionais é fazer eco ao imenso vazio da cúpula da oca de concreto da recente construção do Museu Nacional em Brasília. Oco invadido por exposições pontuais, inclusive de estrangeiros, nada coerentes com a identidade nacional coletiva.
Uma civilização não pode, certamente, praticar rupturas consigo mesma. Mas esta civilização pode amparar discussões nas instituições das rupturas que praticam e das adequações para as novas circunstâncias ao estilo da célula viva em relação ao seu ambiente.
No regime imperial brasileirão todas as instituições civis, militares e religiosas dependiam diretamente do conhecimento e aval do trono. O regime republicano no seu estágio fundante foi conceder soberania aos estados regionais. Ato contínuo remeteu qualquer instituição aos cartórios para o registro público onde o cidadão tomava conhecimento da natureza e objetivos destas instituições e podia impugnar atos que julgava inconvenientes.
Não há como deliberar e decidir em relação à memória sem discriminar o trabalho e da obra. Na linha do pensamento de Hannah ARENDT[1] o esquecimento é benéfico para o trabalho humano e o esquecimento faz parte do seu destino devido ao sofrimento que causa para quem o pratica. Em compensação nas suas obras esta criatura humana busca fixar, preservar e reproduzir a sua memória. Tudo o que permanece ao nível do trabalho é destinada à obsolescência e ao consumo e os restos formam os lixões. A obra busca o status da obra de arte. Como tal, quanto maior o uso e a sua circulação da obra, na civilização, tantos mais valores simbólicos carrega e ganha sentido, inclusive econômico.
Quanto ao regionalismo da memória, certamente o gauchismo e uma memória em fractal: em cada sul-rio-grandense existe um CTG. Usado como marketing, não como identidade[2]. Consiste num projeto para marcar o diferente em relação ao restante do país, no seu aspecto positivo, tentando evidenciar um elemento específico e reforçar um fractal que concretiza em ponto menor uma ampla gama de elementos da brasilidade. A última forma do gauchismo decorre, na atualidade, da reação ao nacionalismo do Estado Novo (1937-1945) centralista que tentou controlar e, depois, a proibir e queimar os seus símbolos regionais.
Reforça-se o tema do perigo de ignorar a discussão sobre uma possível memória[3]. O caminho do crime e da prática de ações clandestinas é prever os meios para apagar a memória das suas pegadas e enterrar debaixo do tapete este tipo de ações delituosas. Eliminar ou remeter ao esquecimento discussão a memória é abrir a avenida para aqueles que prometem algo que não podem cumprir. Os projetos massificando possuem os pés de barro. Prometem os ‘mil anos de felicidade coletiva’, quando não são senhores nem do dia seguinte. Fazem generalizações apressadas e, que de fato, servem para esconder outros interesses e diferentes dos que são publicados. Neste caso estamos no terreno da pseudo memória do “dejá vue”[4]. Pseudo memória que cumpre todos rituais inerentes à uma obra, mas, que fato, não passa de mais um trabalho.
[1] ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres : Calmann-Lévy, 1983
[2] - É possível acompanhar a atual e inesperada ressurreição deste tema na IDENTIDADE NACIONAL FRANCESA
[3] L'hippocampe de Proust Les métamorphoses de la mémoire (1/6) LE MONDE 14.07.08 16h13 • Mis à jour le 16.07.08 14h32
[4] Les Monty-Python et le "déjà vous" : http://www.youtube.com/watch?v=QWKdokcvM7A
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