AUTORIDADES em CRISE .
A sociedade contemporânea está farta de crise de autoridade.
Mas existe o lado contrario quando é necessário admitir a autoridade em crise. Crise de quem assalta um cargo, mas faz questão de ignorar a função deste cargo. Crise resultante da improvisação do “rei-toco” constituído como autoridade diante das rãs inconseqüentes, da fábula.
A era industrial passou a fabricar autoridades nominais cuja finalidade é ser culpada de tudo: “reis-tocos”. Autoridades nominais numa sociedade. Sociedade que não se pode imaginar sem alguém culpado de tudo. Sociedade jogada no hábito de viver as suas fraquezas e a sua corrupção endêmica. Sociedade que necessita de um bode expiatório sobre o qual é possível projetar todos os seus crimes. Bode que possa ser execrado, mandado ao deserto e condenado a morrer pela inanição.
No final da Segunda Guerra Mundial a sociedade industrial alemã passou a acreditar que o culpado de tudo era um fetiche fabricado pelo Dr. Joseph Goebbels (1897-1945). O embuste foi tão eficiente que esta sociedade não sentia a menor culpa pelos campos de concentração, pelas invasões das soberanias de países limítrofes e pela hecatombe da morte de milhões de seres humanos de todas as nacionalidades do planeta. No futebol o técnico é o culpado de tudo, apesar de o time ser de uma incompetência visível e o clube numa derrocada econômica vexatória.
Esta fabricação da “autoridade culpada de tudo” acompanha a busca da heteronomia das vontades coletivas, ganhou foros de verdade e respeito. “Autoridade culpada de tudo” não pode escapar da crise. Autoridade apoiada pelos compêndios e sábios pronunciamentos dos respeitados sacerdotes deste poder - fabricado pela indústria política - não escapa de acreditar em si mesma e no que estes sacerdotes lhe impingem. A crise pessoal é tal ordem, quando estas “autoridades culpadas de tudo” descobrem o embuste não faltam exemplos do sacrifício supremo do suicídio do bode expiatório fabricado pelos sacerdotes da indústria política.
A fabricação da autoridade pela indústria política mantém a sua aparência de verdade. “Verdade” fabricada pelo controle dos mecanismos pontuais das eventuais eleições. Eleições sacralizadas e encobertas pelo embuste dos pronunciamentos “irrefutáveis” do poder originário. Como resultado deste embuste a pessoa, ungida pelo voto, não possui mais nenhum compromisso com a origem do poder e nem a ele necessita prestar conta de qualquer contrato.
Neste estágio adiantado - da heteronomia de sua vontade - não há como desviar uma sociedade do caminho do misticismo e nem dirigir-lhe apelos de reação, de participação e de cooperação. Os sacerdotes da indústria política já realizaram a ação e não adiantam os protestos do cidadão avulso[1]. O máximo que obtém, com estes apelos são os sombrios arraiais das concentrações humanas de Canudos comandados por “Antônios-Conselheiros’ redivivos ou mais um cortejo de homens bombas em série.
[1] - Veja CRÌTICA SUL-RIO-GRANDENSE ao CULTO de AUTORIDADE em:
http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=115&Numero=34&Caderno=0&Noticia=51033
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