terça-feira, 17 de novembro de 2009

MEMÓRIA CENTRAL ou REGIONAL 01b

MEMÓRIA: CENTRALISMO, REGIONALIMO ou SISTEMA de ARQUIVOS - 1.

Os projetos tornam-nos históricos.
Uma nação sem projeto não é histórica e

não possui direito à sua própria memória.

Ignorar e enterrar a discussão relativa à memória é mais perigoso do que discutir a sua forma. Forma que pode ser central, regional ou fluir num sistema dado. Enterrar debaixo do tapete esta discussão - sistemática e intencional - pode significar índice do ilícito. Quem pratica o crime, ou ações clandestinas, toma todas as providências, antes do ato, para apagar possíveis pegadas.

Entre o erro ou a mentira, é preferível o erro. O erro concede o benefício da correção, já a mentira é condenável sob todos os aspectos e intencionalmente irreversível à verdade.

O que leva a escrever é a rebeldia contra um arquivo-nacional-central de um poder originário da nação. No contraditório ao centralismo propõe-se o projeto de construção de uma memória cidadã pela educação do indivíduo capaz de expressar o coletivo em si mesmo e assim situar-se adequadamente no todo dinâmico e atualizado.

A mentira é saber de antemão do perigo e da ineficácia da construção de um arquivo-nacional-central e, mesmo assim, prosseguir na sua construção[1]. O erro pode ser creditado na recusa de tal projeto e insistir na educação de cada célula viva da nação como um fractal inconsciente de uma História que possui o seu antes, ao longo do processo e o depois.

Diante da pergunta “para que serve a História?” necessita ser lembrado Marc BLOCH (1976, p.42)[2] :

É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente .

O terror de todo tirano é o medo de implementar a construção de um tipo de memória democrática e eficaz. Em seu lugar ergue monstros que obedecem e fornecem as armas de propaganda e marketing. Especialmente se dispuser um Ministério da Educação sob o seu inteiro controle. O alerta vem do experiente historiador Sergio da Costa Franco quando escreveuo nosso receio é que, sem criar um específico Ministério da Propaganda, o governo esteja cogitando de transformar o Ministério da Educação em pasta assemelhada[3].

O continuum e a eficácia da ação humana dependem da consciência do rumo e do objetivo da motivação que leva o ser humano a praticar essa ação. Essa consciência de rumo, e de objetivo, dependem do tipo de memória que esse agente possui.

Assim é possível inventariar inúmeros tipos de memória: continuum-pontual, futil-útil, fractal-anárquica, central-individual ou artesanal-industrial-numérica digital.

Na construção de instituições e até de Estados, é possível pender ao predomínio da implementação de uma memória capaz de gerar o rebanho, ou então, no outro extremo, a do cidadão que sabe expressar o todo conscientemente em si mesmo, no qual se inscreve.

A primeira necessariamente deve ser centralista e de preferência suntuária. O instrumento é publicidade, o seu tempo é curto e de uma administração governamental e de obsolescência programada. Ela prevê o acúmulo imediato e os meios justificando os fins, sem o menor controle de o cidadão interagir sobre o futuro de sua contribuição. Em geral o indivíduo é convencido pelo discurso participativo, por cima e por fora, que ‘ele deve-se sacrificar para o bem de todos’.

A segunda insiste no valor regional e do indivíduo como cidadão. Em geral esta memória regional-individual é frágil, datada e pobre. O instrumento de sua construção é a educação do indivíduo.

A terceira une estes extremos. A memória é vista como um projeto nacional e opera num sistema. O sistema de arquivos constrói um patrimônio, a longo prazo, no qual todos sentem-se responsáveis antes, durante e depois desta construção. Nesta construção existe o contrato sobre o controle e interação em todos os momentos do processo e da evolução deste projeto nos quais o poder originário[4] participa como ator ativo e com fim da preservação de suas competências.

No próximo artigo : MEMÓRIA FUNDANTE.

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