segunda-feira, 30 de novembro de 2009

“PRÊMIO em CIMA de...” 01



A polêmica da constante citação de Marc Bloch pelo presidente francês[1] ou sua vontade de colocar os restos mortais de Marcel Camus no Pantheon da França[2], renova e materializa o texto do “PRÊMIO em CIMA de..”. do escritor austríaco e Thomas Bernhard descrito no livro Sobrinho de Wittgenstein[3]. Berhardt descreve o seu compromisso, a sua custosa preparação e a confusa cerimônia da entrega de um prêmio que lhe seria conferido por uma Academia de Letras em Viena. Descobre, a duras penas, que ele era a vitima desta academia decadente que estava usando o seu nome associado à sua fama que ele havia conquistado na Holanda. A Academia o usava para promover a instituição letras falida e o seu presidente.


Os grandes artistas da História nunca foram premiados. Se por acaso o foram, logo entraram em esquecimento junto com os prêmios que receberam. Ao contrário Miguel Ângelo ou um Picasso, Shakespear ou Brecht, Mozart ou Cage, ficariam indiferentes, ou até furiosos, se fossem enquadrados num prêmio ao estilo daqueles que se estão sendo distribuídos no âmbito da cultura capitalista contemporânea.


O prêmio do artista consiste em praticar a sua arte. O maior prêmio do artista é ter condições para produzir a sua obra e que nela possa permanecer o pensamento que motivou o seu trabalho. Construir uma obra que permita que este pensamento tenha suporte adequado para que o seu pensamento seja conhecido, circule adequadamente e que permaneça no tempo. O sentido de uma civilização é a permanência do seu pensamento no tempo por meio da sua obra. O prêmio carimba, constrange e limita esta obra do artista, enquadrando-a no pensamento de quem confere este prêmio. O pensamento criador original do artista escorrega e converte-se em trabalho obsoleto e é consumido imediatamente pelo tempo.


É verdade que Leon Battista Alberti (1404—1472) já afirmava, em 1441, que “o artista aspira à fama”. Mas um prêmio não é sinônimo de fama com Alberti entendia esta garantia para com a obra do artista. O prêmio funciona, em geral, exatamente ao contrário do castigo. O prêmio apenas é outro lado da punição e do castigo[4]. O prêmio possui o dom de encobrir e fazer perder a noção de cidadania das Repúblicas Italianas onde o artista era alguém que ia naturalmente até o povo, como qualquer outro cidadão.


O prêmio é a etiqueta e o alfinete nas costas dos lepidópteros para colocá-los no museu das classificações sistemáticas ou das excentricidades. Por meio deste processo a ciência iluminista queria dominar o mundo. Todos sabem no que deu. Se fosse só a guerra da caça aos lepidópteros, além da crueldade, esta fixação pela classificação sistemática permite que, atrás dos caçadores de borboletas, venham legiões de interesseiros, soldados e aproveitadores intermináveis para tirar parte desta divulgação e dos corpos e do cadáver das vítimas.


O artista é dos poucos que não se rendeu a esta lógica dominadora, de poder e de obsolescência programada. Ele é a esperança que, depois das ruínas provocadas pela tecnologia, resultante de uma ciência mal entendida e aplicada, que a espécie humana tenha lucidez e forças suficientes para a busca do “ente no ser” autêntico. O autêntico artista coloca-se como pessoa humana igual a qualquer outra, mas com coragem suficiente para olhar no espelho e ver as obras que orgulham e enobrecem todas as civilizações do passado e que resultaram do impulso criador humano que denominamos, agora, de arte.


O artista é aquele que possui, ainda, lucidez e coragem para fazer frente à ruína da moral e da religião. Marcel Duchamp falou[5] que


O artista encontra-se face ao mundo fundado sobre o materialismo brutal no qual tudo é avaliado em função do BEM ESTAR MATERIAL e no qual a religião, depois de ter perdido muito espaço, não é mais a grande distribuidora dos valores espirituais.O artista é hoje em dia um estranho reservatório de valores para-espirituais em oposição absoluta com o FUNCIONALISMO diário, pelo qual a Ciência recebe uma admiração cega. Digo cego, porque não creio mais na importância suprema destas soluções científicas que não atingem mais os problemas pessoais do ser humano


O artista sabe que possui compromisso com o poder da arte que atravessa gerações, séculos e milênios. A arte produz uma “obra” distinta do “trabalho” marcada pela obsolescência[6]. O “trabalho” é recompensado e pago pois vai para a ruína e o lixo. A “obra” permanece como índice do seu tempo.










[3] BERNHARD, Thomas – O Sobrinho de Wittgenstein – Tradução de Jo´se A. Palma Caetano . Rio de Janeiro : Assírio&Alvin, 2.000 ISBN: 972-37-0603-2




[4] - Evidente que também não se defende a posição do Dr. Benjamin Spock que afirmava que não deveríamos bater em nossos filhos


quando eles se comportassem mal, pois o filho dele se suicidou. Em tudo existem limites e competências a serem compreendidas e


praticadas antes que seja tarde.




[5] . Do texto de uma alocução em inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13 de maio de 1960. Consta em SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par.. Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239





[6] - ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres : Calmann-Lévy, 1983

domingo, 29 de novembro de 2009

AUTONOMIA da ARTE




TODOS SÃO COMPETENTES em ARTE e em CULTURA”.

Quem cultiva a inteligência sabe que uma das regras básicas é a dúvida e a capacidade de se orientar por distinções apropriadas aos problemas.

Como “todos são artistas e pessoas ditas cultas”, não há menor constrangimento em colocar em cargos na administração das artes e da cultura, qualquer pessoa e com a mínima experiência em criação artística ou mesmo apenas iniciadas na promoção de eventos ditos culturais.

Para disfarçar a maracutaia convidam-se alguns artistas ou pessoas avulsas formadas no campo da arte. Contudo, apesar desta formação estrita e formal, são jogadas na heteronomia absoluta. Artistas subalternos que pintaram cuecas nas imagens Juízo Final da Capela Sixtina de Miguel Ângelo. Devem favores e, em retribuição, querem agradar.

Poucos artistas sul-rio-grandenses conseguiram expressar a autonomia da arte face á heteronomia promovida e mantida por aproveitadores e autoridades de ocasião. Entre este convém citar Iberê Camargo que resistiu, até onde pode, á homenagens em cima do artista.

Para exercitar e expressar esta autonomia do artista há necessidade da coragem de um Tasso Corrêa (1901-1977) quando descreveu, em 1933, a heteronomia em se encontravam às forças do campo da arte face às condições de administração impostas por outros profissionais:

- Pra demonstrar o absurdo da nossa organização administrativa lembraria o seguinte: uma Faculdade de Medicina, dirigida por uma comissão de musicos, pintores e escultores... A sua situação deveria ser identica á do Instituto de Belas... que é uma instituição dirigida por médicos, advogados, engenheiros, comerciantes, etc.[1].

Esta expressão da autonomia valeu para Tasso Corrêa a sua expulsão, no mesmo dia, do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Contudo o mesmo questionamento poderia se fazer em relação às Secretarias da Fazenda ou de Obras Publicas, se fossem dirigidas por cineastas, músicos ou escultores profissionais.

A Revolução de 1930 tentou, em vão, erradicar o jeitinho brasileiro da cultura[2]. Francisco Campos fulminou:

“O Brasil dos dois países, o legal e o de fato: o país da mentira e o país da realidade, queremos ter professores sem cuidar de formá-los, higienistas sem uma escola de higiene, operários qualificados e produtores capazes, sem formação técnica e educação profissional. Daí em quasi todos os ramos de atividade a improvisação de curiosos em competentes.” (CAMPOS, 1931, p.5 )[3].

Era o mesmo discurso dos jovens de Porto Alegre, já haviam evidenciado em 1926[4]. O discurso vinha agora do interior do aparelho do estatal. Este criou o Ministério da Educação e da Saúde Pública (MESP), em 14 de novembro de 1930 e nomeou Francisco Campos como o seu ministro[5]. Este trabalhou para unir os dois países[6].

A civilização se vangloria haver vencido e expurgado da sociedade curandeiros, engenheiros improvisados e charlatães administrando poções mágicas. Contudo a arte e a cultura, nesta mesma civilização a sua população ainda continua entregue mistificadores e cabotinos. Pior estes mistificadores e cabotinos estão investidos e legitimados em altos indiscutíveis cargos públicos.

O fiel possui todo o direito de questionar as credenciais de quem se apresenta para agir como o seu guia espiritual. Na arte esta possibilidade de submeter a exame quem vai administrar arte ou cultura- ou menos saber os resultados deste exame - é impossível para o poder originário de um município, estado ou nação. Na própria religião há necessidade de curso de teologia para não entronizar tiranos espirituais do “crê ou morre”. Da mesma forma nas artes o curso superior[7] testa e confere credibilidade a quem se apresenta este guia simbólico e não cair na armadilha do discurso do “todos são artistas”.

Existem muitas amostras dos desafios enfrentados por artistas de todos os tempos e campos, diante da autoridade. Uma das mais conhecidas é a desafiadora autonomia da arte, assumida cotidianamente por Miguel Ângelo diante do pernóstico e autoritário papa Julio II, educado no mandonismo monetário da sua família florentina. Contudo esta autoridade pernóstica renasce em líderes populistas do mesmo estrato social do artista erudito. Devido a esta proximidade cultural e social - entre artista e autoridade de plantão - fornece material para as mais cruéis confusões e desenganos.

Uma destas confusões e desenganos é expressa no fácil discurso populista de que “todos são artistas”, disseminado pelos mistificadores e cabotinos. Expressão que retira a possibilidade daqueles que constroem, a duras penas, um histórico de experiências estéticas. Expressão na qual se percebem jogados nas mãos de políticos que buscam fama[8] e dinheiro socializando, para isto, os prejuízos e embolsam os lucros. Embolsam os lucros como mercadores ou atravessadores de arte e jogam os prejuízos para os artistas. Artistas cujas vontades e almas cultivadas permanecem presas nas camisas de força de contratos aviltantes ou de contratos inexistentes e fictícios.

Quem cultiva a inteligência sabe do valor da dúvida e da competência de orientar a raiz das suas escolhas estéticas por distinções apropriadas aos problemas. É necessário reconhecer e distinguir que a autonomia da arte não a produz por si mesma. Contudo a autonomia parece ser o teste de sua autenticidade e do grau de consciência do artista e a pedra de toque a sanção moral[9] do valor de suas obras.

Se tudo é arte, logo o nada também é arte. Se em arte e cultura todos são competentes, os incompetentes também o são.

- Ou será que a obra de arte é elaborada sem consciência e não possui valor, pois a sensibilidade está separada do direito e da inteligência humana de forma definitiva e esquizofrênica?


[1] - DISCURSO de TASSO CORRÊA como PARANINFO no TEATRO SÃO PEDRO em 24/10/1933.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS – Porto Alegre : Diários Associados, dia 26.10.1933 p.4

[2] - A Revolução de 193 0 triunfou no dia 24 de outubro. Já no dia 14.11.1930 era criado o MESP e no dia 18 de novembro de 1930 tomava posse Francisco Campos no recém criado Ministério de Educação e Saúde Pública (MESP) in Boletim do Ministro da Educação e Saúde Pública (MESP), Rio de Janeiro, ano 1, nºs 1 e 2, jan. jun 1931 p.5. Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública: ano I, nº 1-2, jan. jun 1931.{042a].

[3] in Boletim do Ministro da Educação e Saúde Pública (MESP), Rio de Janeiro, ano 1, nºs 1 e 2, jan. jun 1931

[4] Revista Madrugada Porto Alegre, ano 1, nº 5. Dia 04 de Dezembro 1926 (sem paginação).

[5] - Essa concepção foi realizada por intelectuais que “não dispunham de um princípio de identidade que remetesse a vínculos institucionais. Não se situavam em um campo autônomo, com suas hierarquias e estratégias alicerçadas em critérios relativamente estáveis. Não atuavam, tampouco, no sentido de consolidar as liberdades e os direitos tocantes à condição universitária. Não apresentavam reivindicações do tipo ‘democratização e participação’, como seus homólogos argentinos a partir do movimento de Córdoba, ou seus homólogos chilenos em conseqüência do movimento de Santiago” (PÉCAUT, 1990 : 34).

[6] - No Rio Grande do Sul a antiga Secretaria dos Negócios do Interior e Exterior que gerenciava a educação escolar só mudou em 1937, com o Estado Novo, a sua designação para Secretaria de Educação e Saúde. Seria toda uma investigação como essa designação chegou até aos governos dos estados, apesar dos interventores federais nomeados pelo governo central.

[7] O curso superior ao artista além de fornecer-lhe legitimidade e igualdade aos demais profissionais qualificados, permite ao artista erudito não só fazer, mas também evitar caminhos estéreis, caros e, senão perigosos e que são armadilhas mortais par ingênuos e pessoas despreparadas, mesmo com a melhor boa vontade. Os próprios artistas incentivam a si e aos seus colegas e a uma formação superior como é casão do texto de DUCHAMP, Marcel, que escreveu «L’artiste doit-il aller a l‘université?» in Duchamp du signe. Paris : Flammarion 1991. Evidente não se precisa ir tão longe como Pedro Américo (1843-1905)que foi o primeiro filósofo brasileiro a defender, em 1867, uma tese de doutoramento. Ver MELO, Pedro Américo de Figueiredo. A ciência e os sistemas, questões de história e de filosofia natural. João Pessoa : Editora Universitária, 2001,143 p. ISBN 8523701192

[8] Para entender a luta para livrar o pensamento do avô do uso num contexto absolutamente diferente do original e tentado pelo presidente da França para manter a sua popularidade – a neta de Marc Bloch condena a instrumentalização dos textos do avô, convém ler

http://www.lemonde.fr/opinions/article/2009/11/28/laissez-marc-bloch-tranquille-m-sarkozy-par-suzette-bloch-nicolas-offenstadt_1273481_3232.html

[9] KANT, Emmanuel. Crítica da razão prática. Rio de Janeiro : Tecnoprint. S/d. 255 p

sábado, 28 de novembro de 2009

CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI - 02



Pintura acrílica de Círio SIMON - 2007

CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI - 02

O PROFISSIONAL.

Cândido José de Godói nasceu em 1858, em Rio Grande, educou-se na Ecole des Ponts et Chaussées[1] de Paris onde se formou em engenharia na turma de 1876. Não aceitando os cargos na administração francesa ingressou nos serviços da Administração do Estado do Rio Grande do Sul.

Desempenhou sucessivamente, de 1888 a 1897, os cargos de engenheiro-ajudante de 2ª e 1ª classe, Chefe de Tráfego e chefe de Locomoção, na Estrada de Ferro de Porto Alegre à Uruguaiana. Foi engenheiro-condutor de 1ª classe da Comissão das Obras da Barra do Rio Grande e ajudante de 1ª classe da Inspetoria do 6º Distrito dos Portos e Canais marítimos da República. O engenheiro Godoy chefiou, de 1898 a 1906, os trabalhos de Dragagem do Rio Grande do Sul.

O ADMINISTRADOR PÚBLICO,

AO apogeu da administração de CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI deu-se na época anterior a 1ª Guerra Mundial e no contexto da Constituição castilhista de 14 de julho de 1891.

O governo do Estado confiou-lhe, 25 de janeiro de 1908 a 24 de janeiro de 1913, as competências das funções de Secretário das Obras Públicas no governo do dr. Carlos Barbosa Gonçalves. Ocupou também o cargo de Secretário interino da Fazenda.

Neste período iniciou as obras do cais do Porto da Capital, a abertura das suas avenidas e o Palácio Piratini. Construiu os portos de Montenegro, Santa Vitória e as primeiras estradas de rodagem do Estado. Fixou os toldos indígenas na colonização do Alto Uruguai.


[1] Confira Ecole des Ponts et Chaussées em http://www.enpc.fr/fr/enpc/historique/histoire_ecole.htm






O porto de MONTENGRO RS foto Círio SIMON

Deixando estas funções pelo término do período presidencial, o dr. Godoy foi nomeado Chefe da Comissão das Obras da Lagoa Mirim.

O governo federal nomeou-o, em 1914, chefe da Comissão Fiscal do Porto do Pará e 21 de outubro do mesmo ano, Inspetor dos Portos, Rios e Canais do Brasil em cujas funções se aposentou.

Apesar das superficiais e apressadas generalização em relação a ação de ideologias de moda na época no Rio Grande do Sul, elas não são causas últimas dos projetos, das ações e das obras deste engenheiro.

O DIVULGADOR da CIÊNCIA

Os seus trabalhos publicados são numerosos, revelando o fulgor do seu talento, o desejo seu de fixar em livros, que ficam, a coragem das afirmações, o mérito de estudos aprofundados de profissional cônscio da sua personalidade inconfundível do seu vigor técnico.

Escreveu as seguintes obras: “Porto do Rio Grande”, “Bacias Hidráulicas da Barra do Rio Grande do Sul, de 1912 a 1922”; “Memórias sobre o projeto do Porto de Santa Vitória”. “O problema do reflorestamento”. Editou as “Lições de Aritmética”. Elaborou um “Tratado de Descritiva, Perspectiva e Sombras” que eram professadas nas suas aulas da Escola de Engenharia o que não foram publicadas ainda.

O PROFESSOR

A pesquisa, o estudo e a ação didática-pedagógica estavam profundamente vinculados à vida do Engenheiro CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI. Foi um dos fundadores da Escola de Engenharia [atual UFRGS], ali sendo professor das cadeiras de Descritiva e de Máquinas, do curso de Engenharia Civil. Ministrou, ali, sábias lições a uma plêiade de patrícios que, depois, ocuparam cargos de relevo na vida pública. O dr. Godoy foi professor de Matemática elementar e de francês no Ginásio do Rio Grande do Sul e no Colégio Sevigné, apesar da sua grande atividade nos afazeres das suas Secretarias governamentais

A ÉTICA PROFISSIONAL.

Oscar de Oliveira Ramos escreveu “educado na escola das altaneiras virtudes cristãs, que tanto influem na formação do caráter do homem, o dr. Cândido Godoy salientou-se sempre, como um espírito altamente justiceiros. A justiça norteou invariavelmente as diretrizes da sua conduta irrepreensível, emoldurada por uma bondade criadora. Jamais se vergava às injustiças da politicalha, tão ao sabor de certos espíritos rotineiros, o dr. Godoy sabia colocar-se, com elegância moral dos seus gestos, acima e fora das correntes partidárias”.

CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI dedicou a sua vida a abrir, manter e melhorar estradas, vias e portos. Estas obras podem parecer estreitas e superadas, vistas do presente. Contudo foi nestes caminhos, vias fluviais e portos fluiu, e se ancorou, aquilo que denominamos o nosso presente.

Certamente “não há caminhos. Eles se fazem ao andar” no dizer da Antônio Machado. Nesta andar permanecem os rastros deixados pelo profissional, administrador e professor. Nestes rastros existem índices das marcas das necessidades básicas da sociedade organizada da época. Marcas que constituem a interpretação de um dos seus representantes mais qualificados pela inteligência. Inteligência que soube transformar em atos e obras a sua vontade inquebrantável de abrir caminhos para uma civilização.

Fontes do texto em:

RAMOS, Oscar OLIVEIRA de - A ação dos engenheiros nos grandes melhoramentos do Estado: vol. 2, Cândido José de Godoy . Porto Alegre : Livraria do Globo, 1940-1941, 36 p. il

RAMIREZ, Hugo O Engenheiro Cândido José de Godói, Vanguardeiro do Progresso Rio-Grandense. Porto Alegre : Correio do Povo

Hugo RAMIREZ, nasceu, em 12 de abril de 1922, em Uruguaiana. Durante sua vida, atuou como jornalista, advogado e educador. Professor fundador do Colégio Cândido Godói e do seu Grêmio de Professores Escreveu mais de setenta obras, com destaque para o romance “Rio dos Pássaros”, enaltecido pela Academia Brasileira de Letras. Em 2003 foi
condecorado com a Medalha do Mérito Tradicionalista Barbosa Lessa, a mais alta comenda do tradicionalismo gaúcho Faleceu em 1° de agosto de 2007

GODOY, Cândido José de - Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas - Rio Grande do Sul - Porto Alegre : Livraria do Globo 1911, 380 p. il.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI








A PESSOA .



Cândido José de Godói nasceu, no dia 11 de marco de 1858, na cidade de Rio Grande.



Educado em Paris na famosa Ecole des Ponts et Chaussées[1] que funciona desde 1719 em Paris. Formou-se em engenharia na turma de 1876, sendo classificado, em 3º lugar. A sua formação permitiu acompanhar, de perto, e entender o alcance dos feitos de engenharia francesa da época. Recebeu propostas tentadoras de cargo vantajoso na administração pública francesa. Preferiu o retorno à Rio Grande, onde residia o seu genitor, o saudoso coronel José Joaquim d Godoy, caráter íntegro, que foi um benemérito daquela cidade, no antigo regime.



Cândido José Godói, visto do tempo presente, é um enigma sob vários aspectos pessoais. Para muitos não passa de um nome sonoro de um município do estado, de uma escola e de um prédio frente à Santa Casa de Porto Alegre.



Mas este personagem, ao subir ao palco da administração pública do Estado do Rio Grande do Sul, deu mostras de uma rara competência nas secretarias de Obras e como interino da Secretaria da Fazenda[2] que ele acumulava na administração (15.011908-12.01.1913) de Carlos Barbosa Gonçalves. O ineditismo deste acúmulo destes cargos fundamentais desta administração publica do Estado do Rio Grande do Sul já é um índice de uma confiança e que em momento algum foi desmentido nem pelo governo, do qual fazia parte, nem pelas mais ferozes oposições que, em cortejo, acompanham qualquer administração.



As realizações dos portos de Santa Vitória do Palmar, de Montenegro, de Porto Alegre com o seu cais e adjacências passando pelas 1ª rodovias com as suas respectivas obras de arte até as longínquos aldeamentos indígenas, mostram alguém com uma visão única num tempo único. No é possível esquecer o seu envolvimento técnico na construção e melhoramentos dos ramais na Viação Férrea do Rio Grande do Sul, a sua ação como professor da Escola de Engenharia do de Porto Alegre e sua vontade de disseminar o ensino da arte da Matemática. Qualquer função desta seria capaz de preencher uma biografia laudatória. Mas consta que era muito raro encontrá-lo nos momentos de inaugurações e dos discursos que ele deixava para os seus superiores hierárquicos.



A MERECIDA MEMÓRIA.



Para comemorar o transcurso do 1º centenário de nascimento do Engenheiro CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI a administração do engenheiro Ildo Meneguetti, ligou a sua memória a seu ilustre nome a um dos colégios da capital.



O colégio que leva o seu nome espelha-se no alto projeto civilizatório desenvolvido pelo engenheiro CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI Espelha-se na sua vida individual e na sua obra pública como profissional, administrador e professor.



O Colégio GODÓI está sediado no Quarto Distrito, um dos bairros metropolitanos mais progressistas. O projeto civilizatório do engenheiro CÂNDIDO JOSÉ de GODÓI constitui exemplo e lições coerentes com o bairro onde se situa a instituição Colégio GODÓI. Este resultou da profunda interação da sociedade organizada do bairro, da lucidez e da vontade inquebrantável da equipe dos seus professores e da resposta imediata, prazerosa e positiva dos seus estudantes.



Fontes do texto em:



RAMOS, Oscar OLIVEIRA de - A ação dos engenheiros nos grandes melhoramentos do Estado: vol. 2, Cândido José de Godoy . Porto Alegre : Livraria do Globo, 1940-1941, 36 p. il





RAMIREZ, Hugo O Engenheiro Cândido José de Godói, Vanguardeiro do Progresso Rio-Grandense. Porto Alegre : Correio do Povo



Hugo RAMIREZ, nasceu, em 12 de abril de 1922, em Uruguaiana. Durante sua vida, atuou como jornalista, advogado e educador. Professor fundador do Colégio Cândido Godói e do seu Grêmio de Professores Escreveu mais de setenta obras, com destaque para o romance “Rio dos Pássaros”, enaltecido pela Academia Brasileira de Letras. Em 2003 foi
condecorado com a Medalha do Mérito Tradicionalista Barbosa Lessa, a mais alta comenda do tradicionalismo gaúcho Faleceu em 1° de agosto de 2007





GODOY, Cândido José de - Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas - Rio Grande do Sul - Porto Alegre : Livraria do Globo 1911, 380 p. il.





No próximo artigo ira se detalhar o profissional, o administrador público, o divulgador da Ciência, o professor e a ética de Cândido José de GODÓI.















[1] Confira Ecole des Ponts et Chaussées em http://www.enpc.fr/fr/enpc/historique/histoire_ecole.htm





[2] - O Dr. Álvaro Baptista, primeiro titular da Secretaria de Fazenda do Governo Carlos Barbosa, havia apresentado a sua renúncia, ao cargo, em 06 setembro de 1909 http://contextopolitico.blogspot.com/2009/09/ha-um-seculo-no-correio-do-povo_05.html





Pintura acrílica de Círio SIMON - 2007

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PODER ORIGINÁRIO + JUIZES CHINESES


PODER ORIGINÁRIO + JUIZES CHINESES

KUN-FU-TZE +SUN TZU+ JOGO de GO+ JUIZES CHINESES

O Brasil e os países capitalistas necessitam importar juízes chineses, além das bugigangas, dos técnicos e os produtos da indústria espacial e naval procedentes deste país.

Porém antes de importar estes juízes - física e conceitualmente - há necessidade de uma atualização da inteligência brasileira em relação aos cargos e às funções que os juizes chineses ocupam na superestrutura de uma nação que hoje está surpreendendo o mundo pela suas realizações e sua presença planetária.

Na origem deste projeto encontram-se Confúcio (551 a.C. - 479 a.C.) ( Kung-Fu-Tse: 孔夫子,) e o general Sun Tzu (544 - 496 a.C.) autor do livro “A Arte da Guerra". Portanto são contemporâneos da fase áurea da cultura dos helenos que modelou o mundo mediterrâneo e das lutas greco-persas.

Para compreender como estes seres conseguem ministrar uma justiça, à seu modo para uma população de 1 bilhão e trezentos milhões de habitantes há necessidade de buscar o confucionismo e não se horrorizar, a priori, com o maoismo de linha marxista ortodoxa. Os chineses implementaram uma Revolução permanente e continuada apesar do aparente triunfou do maoísmo. Em vez de se julgarem ter chegado a este objetivo: procederam ao contrário do marxismo soviético. Estes se julgavam ter chegado ao seu objetivo quando a sua revolução triunfou pontualmente. Ao dar curso para a revolução permanente um juiz chinês se diferencia de um juiz da era soviética. Estes se perderam no seu universo onde se julgavam oniscientes, onipotentes, eternos e universais depois do seu triunfo pontual.

Os juízes chineses foram abduzidos do povo pelo Estado e responsabilizados pelo funcionamento de um poder que é autônomo em outras nações. O poder originário parece não ter muita voz e vez na justiça encravada no cerne do projeto da nação chinesa. Carência que acontece na maioria dos sistemas jurídicos das nações que se dizem repúblicas democráticas e ainda menos nos regimes imperiais, principalmente quando se trata do acento eleitoral dos cargos para juízes. Portanto não faria muita diferença se estes juízes fossem importados da Macau onde existem alguns resquícios da língua portuguesa.

Contudo, apesar desta carência - da pouca clareza do seu vínculo direto com o poder originário - é inegável que a China que está ingressando no século XXI como superpotência possui um projeto de nação. Projeto que inicia com o seu nome completo República Popular da China (RPC) simplificado para China 中國 e que é pejorativo em várias línguas

A proverbial paciência chinesa gerou um projeto de nação que passou pelos tropeços da construção da grande muralha, pela invasão de mongóis e das potencias européias de matizes diversas. Parece ser destino dos pobres que vão prá frente tropeçando ou com o primeiro passo da Grande Marcha.

É de se perguntar como estes juízes contornaram ou superaram o “Livrinho Vermelho” e a Revolução Cultural desencadeada por Mao-Tse-Tung

Parece que há poucos luminares e tratados jurídicos chineses estudados pela cultura Ocidental nos seus cursos das Ciências Jurídicas. A proverbial modéstia e coerência com o projeto da nação chinesa não trafega pela industrial cultural jurídica. Pertencem à uma cultura na qual existe uma sabedoria de uma tradição com séculos de coerência e continuidade de elaboração de contratos escritos nos quais existe um lugar para o poder originário. Estes artigos de contratos escritos certamente não são de conhecimento da cultura ocidental e nem constituem itens de exportação de bugigangas.

sábado, 21 de novembro de 2009

MEMÓRIA FALSIFICADA e FALSIFICADORES

A MEMÓRIA FALSIFICADA ou os

REFORÇADORES da IGNORÂNCIA.

.

Diante dos conhecimentos novos - e da massa de informações disponíveis - surge a profissão daqueles que buscam reforçar os bloqueios desenvolvidos pela população que foge e se protege destas informações atuais, fidedignas e qualificadas. O negócio - destes reforçadores da ignorância - cresce na medida em prospectam a crescente necessidade desta população refugiar-se na sua ignorância para se livrar desta massa de informações e de conhecimentos novos. Este território é rico e imensurável para os reforçadores e legitimadores desta ignorância voluntária de um número crescente e expressivo de pessoas.

Evidente que estes reforçadores - desta “piedosa” e “subsidiada” auto-ajuda - fazem fortunas. Fortunas provenientes de pessoas esforçadas e honestas que tiveram ir ao mercado e aos negócios muito precocemente na vida e por subsídios concedidos por autoridades enganadas e populistas.

Os reforçadores dos bloqueios exibem e divulgam caricaturas do saber, das instituições e do mundo acadêmico que estas pessoas esforçadas não puderam freqüentar e dar a devida atenção.

Na arte reforçam a confusão com a indústria cultural. Ridicularizam a arte com argumentos destilados pelos nazistas da “arte degenerada como”. A verdadeira arte dos estágios mais avançados - com as suas múltiplas exigências, - é atropelada com reducionismos infantis.

Na política - a frase atribuída a Bismark “se os cidadãos soubessem como se fazem as salsichas e as leis, eles não dormiriam”- abre universos para os populistas e os industriais da cultura. Políticos e industriais que sabem que necessitam das mentes endurecidas e do sangue dos corações dos jovens, fantasiados de soldados, para marcar a posse dos currais eleitorais e dos territórios das reservas de mercado. As mentes são alimentadas pelas meias verdades[1] e as vontades entorpecidas por sacrifícios que traz vantagens apenas para os reforçadores da ignorância alheia, enquanto a guerra não explode com todas as suas barbáries.

Na religião - os reforçadores da ignorância alheia - encontram o seu paraíso e fortuna. Vivem as custas dos mistérios insolúveis do futuro e do destino. Os reforçadores da ignorância alheia desencadeiam mecanismos de fuga coletiva para universos paralelos e sem explicação possível. Por estes mecanismos universais de fuga da verdade mergulham a memória humana em mecanismos subliminares que obscurecem o destino dos seus auditórios.

Os reforçadores da ignorância são prato cheio para os meios de comunicação sensacionalista. Esta comunicação, atrelada à industria cultural, necessita fidelizar o universo dos que se refugiam na sua própria ignorância. Nada mais conveniente do que erguer estátuas, criar e divulgar ícones na forma de um dos personagens destes reforçadores da “piedosa” auto-ajuda dos ignorantes crônicos. Ganham os meios de comunicação, o ícone e a estátua – a custa dos ignorantes crônicos.

Os reforçadores da ignorância encontraram necessidades humanas em abundância se é que é verdade que “onde existe uma necessidade- existe um negócio”. A franqueza infantil do grito do “rei está nu” pode ser um potente remédio para a onipotência, onisciência , eternidade e onipresença humana e apesar do solipsismo a que leva a norma “só sei que nada sei[2] ou “penso logo existo[3].

Os reforçadores da ignorância temem é a luz e a razão. Contudo possuem poderosos soníferos para a razão e se escondem em trevas tão imensas e profundas como a própria luz. Evidente que não se trata de maniqueísmo entre o bem e o mal ou luz e trevas. A lógica - destes reforçadores da ignorância - adora esta dicotomia e a explora e se dão bem, ao máximo, tanto num como no outro lado.

O melhor teste a que pode se subneter estes reforçadores da ignorância é constituído pelo equilíbrio homeostático entre múltiplas formas do saber reforçado pelo exercício constante do hábito da integridade intelectual. Ou então seguir praticando o aforismo 7 do Tractatus[4] de WITTGENSTEIN “o que não pode ser dito deve ser calado.



[2] Hoc unum scio, me nihil scire. [Sócrates / Rezende 2321]

[3] Cogito, ergo sum. [Descartes, Principia Philosophiae 1.7.10]

[4] - WITTGENSTEIN, Ludwig. (1889-1951)Tractatus Logico-Philosophicus. Trad. Luiz Henrique Lopes dos Santos. São Paulo: EDUSP, 1994

“7 What we cannot speak about we must pass over in silence”.

Satz 7 Wovon man nicht sprechen kann, darüber muß man schweigen

http://www.masonic-library.org/Texte/WovonManNichtsprechenkann.pdf

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=36545

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