terça-feira, 4 de maio de 2010

NIEMEYER em PORTO ALEGRE 02

O II CONGRESSO BRASILEIRO de ARQUITETURA em PORTO ALEGRE PRECEDE a PRESENÇA de NIEMEYER

Fig. 01 – Oscar Niemeyer em Porto Alegre

Origem da foto de Flávio DAMM da: Revista do Globo, fascículo nº 482, 14.05.1949, p. 44

A vinda mais conhecida de Oscar Niemeyer a Porto Alegre foi como paraninfo dos formados da 1ª turma de Urbanistas do Brasil pelo Curso Superior de Urbanismo do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul

Como de costume, diante de qualquer tema, com um certo vulto, a opinião pública de Porto Alegre, dividiu-se em corrente absolutamente favorável e absolutamente desfavorável. Enquanto isto engrossa a platéia - em cima do muro - para assistir o espetáculo.


Em relação à arquitetura e arte de Oscar Niemeyer, não podia ser diferente. É verdade que o tema da arte e da arquitetura de Niemeyer poderia ser ‘destinado apenas aos seus pares concorrentes do próprio campo’, como quer Pierre Bourdieu[1]. Contudo, tanto a arquitetura como a arte, quando se destinam ao espaço público, sacodem profundamente os valores estéticos, sociais e econômicos de todos os membro do poder originário. E o cidadão - como parte interessada neste envolvimento - possui direito à voz e a vez.


Apesar das conhecidas posições ideológicas de Oscar Niemeyer, e que ele não esconde de ninguém, a sua arte foi sustentada pelo lado antagônico. Assim questões ideológicas, de esquerda e de direita, antepuseram-se as apropriações do pensamento e das obras arquitetônicas de Niemeyer. Questões periféricas à arte e à arquitetura serviram para reforçar antagonismos e cujo foro deveria acontecer em outras esferas. Questões, que no entanto, não podem perturbar uma leitura isenta da sua arte e de sua obra arquitetônica. Niemeyer sabe do conselho de Aristóteles de que não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo][2].


Trata-se aqui de um exame dos vestígios da passagem de Oscar Niemeyer pela capital do Rio Grande do Sul. A mais conhecida foi como Paraninfo e acompanhada e registrada pela imprensa[3] de Poro Alegre. Esta vinda também foi registrada, em 1975, por Fernando Corona (1895-1979) nas folhas 4 a 9 do seu 2º diário[4].


Contudo esta visita foi longamente esperada, preparada e cercada de amizades cultivadas ao longo de existências. É necessário mergulhar nas mentalidades que alimentaram estas amizades.

Oscar Niemeyer teve mais amigos em Porto Alegre do que as suas parcas e rápidas visitas à capital dos Pampas. Entre estes amigos estava Fernando Corona (1895-1979) que o conheceu pessoalmente, no inverno de 1944, numa viagem ao Rio de Janeiro quando:

“fiquei a disposição do meu filho Eduardo e fazer visitas a colegas seus e arquitetos famosos do Rio. Estávamos uma tarde no escritório do arquiteto gaúcho Firmino Saldanha quando apareceu Oscar Niemeyer. Eduardo, que já era amigo dele pois para ele desenhara, me apresentou. Gostei a primeira vista de seu olhar moreno ao meu parecer nobre. Falamos bastante naquele primeiro contato. Muito amigo do Saldanha alí, em seu escritório se reuniam a bater um bom papo!” . (Diário inédito de Fernando Corona, 1944)

Em 1944 Eduardo Corona (1921-2001)[5] era aluno da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) que também foi de Oscar Niemeyer. Eduardo foi de uma das últimas turmas de Arquitetura da ENBA[6] e onde o seu pai foi buscar os programas do Curso Superior de
Arquitetura a pedido de Tasso Corrêa.


Os caminhos de Corona e Niemeyer também se tocaram profissionalmente. Em relação ao terreno e ao projeto de Oscar Niemeyer para Porto Alegre, Corona registrou[7] no seu primeiro caderno auto-biográfico:

“Resolvemos concorrer a um concurso de ante-projetos para o Instituto de Previdência do Estado. Tive como colaborador o Engenheiro-Arquiteto Egon Waindorfer[8]. Apresentados os trabalhos, não demorou a classificação dos mesmos. Mais uma vez conquistamos o primeiro lugar. Mais tarde, a pedido da diretoria do IPE, ampliamos o ante-projeto para vinte andares, que o fiz só sem colaborador. O edifício seria construído na esquina da Av. Borges de Medeiros com Andrade Neves. O projeto de construção se arrastou muito tempo e nada de iniciar a obra. Chegaram a pedir um estudo para o mesmo ao
famoso arquiteto Oscar Niemeyer.



[1] PARES CONCORRENTES: “existe apenas na relação circular de conhecimento recíproco entre artistas, escritores e eruditos”. Bourdieu, 1987 : 108

BOURDIEU, Pierre ( *1.8.1930 - †23.1.2002 ) Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva, 1987. 361p.


[3] Veja, no final do artigo a lista de algumas matérias que a imprensa local publicou:


[4] - FERNANDO CORONA.«Caminhada – Tomo 2o – um homem como outro qualquer – nascer em um lugar e renascer em outro». “Começo a escrever este tomo II na noite do dia 28 de maio de 1975, trinta e oito da minha chegada a Porto Alegre que correspondo da minha chegada a Porto Alegre a 1949”.


[6] UFRJ – Faculdade de Arquitetura A separação definitiva do Curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes, sendo criada a Faculdade Nacional de Arquitetura pelo Decreto n0 7918, de 31 de Agosto de 1945, que acabou sendo transferida para outro edifício, o antigo Hospício Pedro II, então recuperado, localizado na Praia Vermelha http://nova.fau.ufrj.br/index.asp?n1=1&n2=23


[7] - “CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amor Manuscrito - Tomo I 302 folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm.Copiado no Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS)


Fig. 02 – Oscar Niemeyer projeto ara o prédio do IPE

Revista do Globo : Porto Alegre, nº 478, 05 mar. 1949, p.-49


Será curioso constatar o atraso intelectual na Seção de Obras da Prefeitura. Oscar Niemeyer fez um ante-projeto a sua maneira genial, pois uma vez estudado pela Prefeitura, não foi aprovado porque o Engenheiro Bozzano não achava o estilo próprio para a Av. Borges de Medeiros, alegando que iria desentonar das construções ao lado. Mais uma vez se constatou que a falta de um preparo apurado, os nossos engenheiros responsáveis pelas Obras Públicas, pouco entendem de arquitetura. Ora, se o projeto do Oscar fosse aprovado, mesmo que o nosso fosse o primeiro escolhido em concurso, eu me sentiria feliz por vez em nossa cidade um exemplar da arquitetura de Oscar Niemeyer.

Há coisas que não tem explicação. Gastam dinheiro em concursos, aprovam projetos, duvidam de seu valor, encomendam outros fora do concurso e tudo para nada. Até hoje em 1971, ao escrever estas minhas memórias, o terreno da Av. Borges de Medeiros se encontra vazio. Nenhum diretor do IPE se atreveu a construir seu Edifício Sede num terreno tão bom como esse”. Fl,s 375 e 376


O legendário Mata-Borrão foi erguido com planta do arquiteto Marcos David Heckman[1]. No terreno onde Este terreno - hoje ocupado pelos escritórios do “Tudo Fácil” e pela antiga sede da Caixa Econômica Estadual - faz face à Av. Borges de Medeiros (1925) e a Andrade Neves[2].




Fig. 03 – Marcos David HECKMAN Mata Borrão no lugar do projeto do prédio do IPE

Acervo João Alberto - UniRitter

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II CONGRESSO BRASILEIRO de ARQUITETURA


A vinda de Oscar Niemeyer era aguardada no final do ano de
1948 quando se celebrou, no Instituto de Artes do Rio Grande do Sul, o II CONGRESSO BRASILEIRO de ARQUITETURA. Mas não foi possível a sua presença. Veio inicialmente o Secretário do IAB, Eduardo Corona e no evento o seu presidente Firmino Fernandes Saldanha (1905-1985)
[1]


A Imprensa de Porto Alegre também não foi indiferente a este evento[2]. Mas novamente há necessidade do testemunho de alguém envolvido profissionalmente e familiarmente com este evento. Fernando Corona escreveu no seu 1º volume[3] do seu Diário

No mês de Outubro chega a Porto Alegre meu filho Eduardo como Secretario do Instituto de Arquitetos do Brasil. Traz credenciais para organizar aqui o 2º Congresso Brasileiro de Arquitetos. A primeira visita que fez foi ao Dr. Tasso Corrêa, diretor do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul solicitar a sede como o local mais apropriado para a realização do Congresso.

Tasso ficou encantado com a idéia, pois ele fora o fundador dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo em nosso Estado.

Levei o Eduardo ao Correio do Povo, pois se fazia urgente da entrevista sobre o assunto. Apresentei-o ao amigo Breno Caldas e este destacou o redator Raul Riff para fazer a entrevista, que no dia 26 de outubro de 1948 o Correio publicava. Eduardo, entre tanta coisa disse: “O Instituto de Arquitetos do Brasil vai realizar, nesta cidade, de 20 a 27 de Novembro o 2º Congresso Brasileiro de Arquitetos. Aqui serão debatidos os problemas importantes da Arquitetura e do Urbanismo pelos mais autorizados profissionais brasileiros, arquitetos e urbanistas de renome mundial, como sejam Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, José de Souza Reis, Jorge Moreira, Marcelo Roberto etc”. E mais adiante diz: “A escolha de Porto Alegre nos foi importante por ser esta capital a mais necessitada entre todas de um impulso e um esclarecimento no que se refere ao aspecto arquitetônico. Porto Alegre, nesse particular está atrasadíssima. É uma cidade em câmara lenta. Tudo chega em ultimo lugar. Precisamos mostrar ao povo porto-alegrense o que é a nova arquitetura e o que ja se fez no Brasil, qual é a nova realidade técnica. É urgente evitar-se que a nossa cidade seja vitima, como tem sido, dos mais recentes monstrengos construídos em nosso pais. Belo Horizonte, por exemplo, de uns anos para cá, tomou aspectos plásticos tão diferentes que está muito à frente de Porto Alegre. Porto Alegre continua sendo vitima. Por isso a capital gaúcha é um caso que merece a maior atenção dos arquitetos brasileiros que, estou certo, hão de lhe dar toda a sua atenção e apontar os caminhos certos para seu progresso nesse setor”..




[2] - KREBS, Carlos Galvão, II Congresso Brasileiro de Arquitetura, Revista do Globo : Porto Alegre, nº 478, 05 mar. 1949 pp. 46-49

[3] i Ibed - “CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 fl.s. 597-602


Fig. 05 – Comissão do II CONGRESSO BRASILEIRO de ARQUITETURA reunida no IBA-RS

Revista do Globo : Porto Alegre, nº 478, 05 mar. 1949, pp 46.-49


No dia 20 de Novembro de 1948 era instalado no Auditório Tasso Correa do IBA o 2º Congresso Brasileiro de Arquitetos do Brasil, Eduardo era o Secretario Geral nato, determinava e mandava em tudo. Na abertura, a presidência da mesa estava constituída pelas seguintes personalidades: Eng. José Batista Pereira, Secretário das Obras Públicas, representando o Governador Walter Jobin; Eng. Hildo Meneghetti, Prefeito Municipal; Arq. Firmino Fernandes Saldanha, Presidente do Instituto Brasileiro de Arquitetos; Dr. Tasso Corrêa, Diretor do Instituto de Belas Artes e Arq. Ernani Corrêa, representando o Curso de Arquitetura e Urbanismo. A comissão executiva seria a seguinte: Presidente: F.F. Saldanha; Vice, Eduardo Kneese de Mello; Arq. Ernani Corrêa, Tasso Corrêa como Diretor geral; Jorge Moreira e Leo de Morais secretario da comissão.


A seguir foram indicados e aprovados os Presidentes das Comissões. 1ª Comissão: Arq. Eduardo Kneese de Melo; 2º Comissão: Engª Carmem Portinho; 3ª Comissão, Arq. Jorge Machado Moreira e 5ª Comissão Arq. Fernando Corona.


Até o dia 27 de Novembro não houve um momento de descanso. Os temas abordados, mastigados nas Comissões (a minha era de Temas Livres) era debatidos no plenário na mais seria conscientização de cada um e o Congresso foi um êxito onde inclusive nossos estudantes se deram conta que a profissão de arquiteto é de um poder criador inesgotável


Na sessão de encerramento, lá pelas tantas, após muitos discursos, eu que ja havia recebido do Instituto de Arquitetos – Departamento de Porto Alegre, o título de sócio honorário, pedi a palavra para falar rapidamente sobre a obra didática feita pelo Instituto de Belas Artes para a final propor ao Plenário que concedesse ao Dr. Tasso Corrêa o título de Arquiteto “honoris-causa”, o que foi aprovado por unanimidade.


Fig. 05 – Fernando Corona e Jorge MOREIRA que expunha o projeto do HOSPITAL de CLÍNICAS de POA-RS no IBA-RS no II CONGRESSO BRASILEIRO de ARQUITETURA

Revista do Globo : Porto Alegre, nº 478, 05 mar. 1949, pp 46.-49


Grandes amizades fiz durante o Congresso. Meu filho Eduardo se desdobrou em sua difícil missão de secretario geral a Exposição de projetos de Rio, São Paulo e alguns de aqui realizada no Correio do Povo foi um êxito total onde o Arq. Jorge Moreira expunha a maquete do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, grande prêmio num certame em Lima, Peru.


Eduardo, em sua entrevista ao Raul Riff, disse: “Ninguém sabe que em Porto Alegre existe o mais honesto curso de arquitetura que qualquer estudante possa procurar. Será neste ano que aqui no Rio Grande do Sul, o primeiro Estado do Brasil a diplomar uma turma de urbanistas, coisa conhecida até no Rio de Janeiro”.


Há necessidade ter em mente tudo isto para entender o sentido da viagem de táxi, de São Paulo até Porto Alegre, realizada por Oscar Niemeyer para ser o paraninfo dos formados pelo Curso de Urbanismo Superior do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul da 1ª turma de Urbanistas do Brasil.




FONTES BIBLIOGRÁFICAS aqui CITADAS


Alguns títulos do que a imprensa de Porto Alegre publicou:


«Oscar Niemeyer em Pôrto Alegre» Revista do Globo . Porto Alegre. Ano 20, fascículo 482, 14.05.1949, pp.43-45 e p.72 Disponível no site http://www.ipct.pucrs.br/letras



«O arquiteto Oscar Niemayer (sic) paraninfará a primeira turma de urbanistas do Instituto de Belas Artes». Porto Alegre: Diário de Notícias, ano XXIV, no 36, p.7, 3a feira, 12.04.1949.


«Colou grau, ontem, no IBA da Universidade, a 1a turma de urbanistas do Brasil» Diário de Notícias, Porto Alegre ano XXIV, no 38, p.7, 14.04.1949. colunas 2, 3 e 4 + foto.


«O povo gosta da nova Arquitetura». Porto Alegre: Correio do Povo ano 54, no 165, p. 16, 15.04.1949, sexta-feira.



DIÁRIOS MANUSCRITOS

CORONA Fernando - Diário CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 –donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo Tomo I 604 f. Folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm.

-----------------.«Caminhada – 1945/49-1953– um homem como outro qualquer – nascer em um lugar e renascer em outro». “Começo a escrever este tomo II na noite do dia 28 de maio de 1975, trinta e oito da minha chegada a Porto Alegre que correspondo da minha chegada a Porto Alegre a 1949” Manuscrito. 110 folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm[1].




[1] Diários copiados em Xerox no período em que estes dois diários estiveram ao cuidado do Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS

sábado, 1 de maio de 2010

01 - Oscar NIEMEYER em PORTO ALEGRE

O INSTITUTO de ARTES e o CAMPO da ARQUITETURA

Fig. 01 – Oscar Niemeyer na praça Otávio Rocha de Porto Alegre

Origem da foto de Flávio DAMM da: Revista do Globo, fascículo nº 482, 14.05.1949, p. 44



As rápidas passagens de Oscar Niemeyer por Porto Alegre[1] necessitam uma devida contextualização e a caracterização das condições nas quais foram recebidas estas duas visitas.

Em relação a estas visitas há necessidade de ressaltar, no âmbito político nacional, o fim do Estado Novo e o início de uma tímida
abertura política. Abertura que foi interrompida abruptamente em 1964,
sepultando muitos dos seus dados no silêncio ou na absoluta incompreensão atual.

No âmbito político internacional vivia-se o clímax da Guerra Fria com todo cortejo de enfrentamentos entre as ideologias da esquerda e da direita. Porto Alegre não ficou isenta desta clivagem entre as duas posições

O campo da Arquitetura foi, neste contexto da Guerra Fria, um campo de lutas e confrontos em Porto Alegre. Sem atentar para a especificidade da Arquitetura ela foi dividida politicamente entre Niemeyer identificado com o IBA e Steinhoff[2] pelo lado da Escola de Engenharia.



Depois da Queda do Muro de Berlim, da desmontagem da União Soviética e da vitória democrata nos USA, há esperanças para analisar este período sem tomar como referência o maniqueismo da esquerda e da direita cristalizados, na época, em dois pólos antagônicos.

Optando por esta esperança toma-se por referencia a genealogia histórica institucional do campo da Arquitetura desenvolvida no âmbito do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS).

No momento da criação do Instituto Livre de Belas Artes, em 1908, entre as competências da sua pretendida Escola de Artes estavam “architectura e as artes de applicação industrial” e que era assinalado pelo artigo 1º § único do seu Estatuto[3].

Este Instituto após constar, no dia 20 de novembro de 1934, na criação da Universidade de Porto Alegre (UPA depois URGS e enfim UFRGS) foi excluído dessa no dia 05 de janeiro de 1939. No mesmo mês e ano foi aprovado, no dia 16 de janeiro de 1939, o Curso Técnico de Arquitetura. Este curso matriculou-se o estudante Iberê Camargo e que o freqüentou integralmente. Ali conheceu Maria Cousirat que estava realizando o Curso Superior de Artes Plásticas .

O curso Superior de Arquitetura foi proposto, no dia 27 de agosto de 1942, ao Conselho Técnico-Administrativo (C.T.A.) do IBA-RS. A aprovação desta proposta efetivou-se no dia 17 de janeiro de 1945 por meio da aprovação dos professores, sendo aproveitado a maioria dos docentes do Curso Técnico. O primeiro vestibular deste curso foi realizado em março de 1945, sendo que aula iniciaram no dia 07 de maio de 1945. O Instituto de Belas Artes do RS (IBA-RS) obtém a autorização para o funcionamento do seu Curso de Urbanismo além de
Arquitetura, pelo Decreto Federal, nº 19.991
[4], do dia 26 de novembro de 1945.

O CTA do IBA-RS aprovou, no dia 28 de março de 1947 o efetivo funcionamento do Curso de Urbanismo, além daquele de Arquitetura, ambos baseados no Decreto Federal nº 19.991. Neste ano o CTA propõe, no dia 07 de abril a criação do Serviço de Levantamento do Patrimônio Artístico do Estado. No dia O C.T.A. felicita o seu professor de ‘Arquitetura Brasileira’ do IBA-RS, Jorge Machado Moreira, por vencer concurso internacional de Lima com o seu projeto para o Hospital de Clínicas da URGS.




[1] Ver Niemeyer em Porto Alegre, Zero Hora, nº 16.284, Almanaque Gaúcho – Túnel do Tempo, 24.03.2010 p.54


Duas viagens de Niemeyer, Zero Hora, nº 16.294, Almanaque Gaúcho – Túnel do Tempo, 04.04.2010 p.38



[2] Eugênio Gustavo Steinhof (*1880Viena +1952Los Angeles) ou Eugene Pierre Lacour . Arquiteto austríaco com vinculação com a Bauhaus alemã, com projetos de pavilhões na França e refugiado judeu nas Estados Unidos. Veio ao Porto Alegre onde lecionou Arquitetura entre 1946 e 1950, na Escola de Engenharia da URGS. Foi chamado de voltar aos Estados Unidos diante do recrudescimento da Guerra Fria. Sua biografia está sendo elaborada por Roberto de Azevedo e Souza seu aluno da Escola de Engenharia da UFRGS ver http://www.rasouza.cjb.net/ e-mail resouza@orion.ufrgs.br .


Para uma visão geral do problema dos dois Cursos em confronto, ver:


FIORE,. Renato Holmer.« Arquitetura Moderna e ensino de Arquitetura: dois cursos em Porto Alegre de 1945 a 1951». Porto


Alegre : PUC, dissertação 1992 429 fl, anexos.


Foto de Steinhof na fig. 03 deste texto e assinalada pelo nº [27.]


[3]: Publicado, no 22 de agosto de 1908, no jornal a Federação, o estatuto do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS)


[4] - Decreto Federal no 19.991 de 26.11.1945 publicado no Diário Oficial no dia 28 . 12 . 1945





Fig. 02- Viagem de Estudos da AAPA para a Bahia e Minas Gerais em 31 de dezembro de 1947





Entre os dias 08 a 18 de julho de 1947 a Associação Araújo Porto Alegre (AAPA) visitou as Missões Jesuíticas do Rio Grande do Sul e da Argentina. As obras resultantes desta visita da AAPA são notícia no dia 10 de agosto de 1947, no Correio do Povo e o relatório da excursão foi entregue no dia seguinte a Tasso Corrêa. Os estatutos da AAPA foram aprovados em 25 de agosto de 1947. A AAPA empreendeu uma viagem de estudos de três meses para os estados da Bahia e Minas Gerais a partir do último dia de 1947.



No dia 19 de fevereiro de 1948 o C.T.A. recebe a notícia que Porto Alegre foi escolhida para sediar o IIº Congresso de Arquitetura do Brasil por sugestão de Eduardo Corona. A seccional do RS do IAB no IBA é fundada, no dia 19 de março de 1948, sendo eleito como Presidente o Prof. Ernani Dias Corrêa.

No dia 24 de março de 1948 a AAPA deposita os seus estatutos no 2º Cartório de Porto Alegre e que são publicados no Diário Oficial no dia 01.04.1948







Fig. 03 – Julho de 1947. presença do arquiteto uruguaio Maurício Cravotto no IBA-RS


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O Professor Maurício Cravotto (1893-1962) proferiu um ciclo de palestras, ao longo do mês de julho de 1948, para os estudantes dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo do IBA-RS.


Fig. 04 prédio da Prefeitura de Montevidéu.

Obra de Maurício Cravotto . Foto de Círio José Simon em 2009


Entre os dias 20 até 27 de novembro de 1948, Porto Alegre foi sede do IIº Congresso de Arquitetura do Brasil.


Imagem do Arquivo do Instituto de Artes da-UFRGS

Fig. 05 - Formandos e Paraninfo da 1ª Turma de Urbanismo do IBA-RS
Da esquerda para a direita, Nelly Peixoto Martins, Sérgio Corrêa, Francisco Rio-pardense Macedo e Oscar Niemeyer Soares Filho
Figuras identificados por Francisco Rio-pardense Macedo em 03 de fevereiro de 2004.



A formatura da turma de Urbanismo do Curso Superior do IBA-RS, tendo como paraninfo Oscar Niemeyer. Realizou-se em 13 de abril de 1949.


Ao longo de 1950 os Cursos de Arquitetura e Urbanismo do IBA-RS e ao de especialização em Arquitetura da Escola de Engenharia da URGS são juntados para formar a Faculdade de Arquitetura da URGS.


CRONOLOGIA da ARQUITETURA INSTITUCIONALIZADA no INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL.



22.08. 1908: publicado, no jornal a Federação, o estatuto do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS) constam “architectura e as artes de applicação industrial” no artigo 1º - § único

20.11.1934 - O Instituto de Belas Artes do RS é incluído na Universidade de Porto Alegre depois do Rio Grande do Sul


05. 01.1939 - O Instituto de Belas Artes do RS é excluído da Universidade do Rio Grande do Sul


16. 01.1939 - O Conselho Técnica Administrativo (CTA) do IBA-RS trata da criação dos cursos técnicos de Arquitetura e de Artes Plásticas[1]


03. 1939 Começam os cursos técnicos de Artes Plásticas e Arquitetura. Esse tem 12 alunos entre eles Iberê Camargo


27. 05. 1942 Por indicação do Conselheiro Ernani Dias Corrêa o C.T.A estuda a criação do Curso Superior de Arquitetura no I.B.A


17. 01. 1945 Aprovados pelo CTA os professores do Curso de Arquitetura


04 . 1945 Vestibular para o Curso Superior de Arquitetura do IBA


07. 05. 1945 Começa a funcionar o Curso Superior de Arquitetura do IBA.


26. 11. 1945 Decr. Fed. Nº 19.991“autoriza o funcionamento do Curso de Arquitetura e Urbanismo no Instituto de Belas Artes do RS”[2]


05. 12. 1945 O C.T.A. e a Congregação decidem manter com recursos próprios os seus cursos técnicos de Arquitetura, Música e Artes Plásticas

31. 01. 1946 O C.T.A transforma o curso técnico de Arquitetura em curso técnico de Desenho e Decoração ( Livr. II p.45f)


28. 03. 1947 Aprovado pelo CTA o Curso de Urbanismo no Instituto de Belas Artes apoiado no Decreto -Lei nº 19.991 de 21.11.1945


24. 04. 1947 O C.T.A. propõe a criação no I.B.A do Serviço de Levantamento do Patrimônio Artístico e Particular do Estado


08-18.07.1947 – Visita da Associação Araújo Porto Alegre (AAPA) para as Missões do RS


7 de agosto de 1947 até dia 20 de setembro criação do Departamento de Tradições Gaúchas no Colégio Júlio de Castilhos por Paixão Cortes semente dos Centros de Tradições Gaúchas,

10.08.1947 Correio do Povo publica reportagem sobre exposição das obras da AAPA nas Missões

11.08.1947 A AAPA entrega o relatório da visita e obras realizadas nas Missões.

25.08.1947 – AAPA aprova os seus estatutos


13. 11. 1947 O C.T.A. felicita o professor de ‘Arquitetura Brasileira’ Jorge Machado Moreira pelo fato de seu projeto para o Hospital de Clínicas da URGS vencer concurso internacional de Lima.


31.12.1947 O Correio do Povo publica reportagem da AAPA que parte para uma visita da Bahia e Minas Gerais

19. 02. 1948 O C.T.A recebe a notícia de Porto Alegre iria sediar o II Congresso de Arquitetura do Brasil por sugestão de Eduardo Corona (Livro II . p.81)

19. 03 .1948 - Fundada a seccional do RS do IAB no IBA. Eleito Ernani Dias Corrêa como Presidente

24 .03 .1948 - A AAPA deposita os seus estatutos no 2º Cartório de Porto Alegre

01 .04 .1948 - Os estatutos AAPA são publicados no Diário Oficial do RS

07 .04 .1948 - Exposição em Porto Alegre das obras da AAPA realizadas nas suas viagens para a Bahia e Minas Gerias

07. 1948 Prof. Maurício Cravotto, profere aulas sobre Grandes Composições nos cursos de Arquitetura e Urbanismo do IBA e Cravoto arquiteto do prédio da Prefeitura de Montevidéu[3]
20 a 27.11. 1948 – II Congresso Brasileiro de Arquitetura no IBA-RS[4]

13. 04. 1949 - Formatura dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo tendo como paraninfo Oscar Niemeyer[5]

22 a 29 de agosto de 1950, A Comissão Estadual de Folclore[6] realiza, em Porto Alegre[7], a III Semana Nacional de Folclore promovido pelo IBECC

1951 - Último ano do Curso de Arquitetura no Instituto de Belas Artes

02. 08. 1951- Morre José Lutzenberger

06. 08. 1951 - O C.T.A. aprova a participação do I.B.A na 1ª Bienal de São Paulo

16. 09. 1954 - Celebrado o 10º aniversário do Curso de Arquitetura do I.B.A[8]

22. 04 . 1958 -Inaugurado o Iº Salão Pan-Americano de Arte no Instituto de Belas Artes

30. 11. 1962 – Re-integração do IBA-RS à UFRGS

01. 04. 1964 - Golpe



[1] - Livro de Atas nº 1 do CTA pp. 15v até 17f


[2] - Decreto Federal no 19.991 de 26.11.1945 publicado no Diário Oficial no dia 28 . 12 . 1945
[4] - CORONA Fernando - Diário CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo Tomo I 604 f. Folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm.

KREBS, Carlos Galvão II Congresso Brasileiro de Arquitetura Revista do Globo : porto Alegre nº 478, 05 de mar. 1949 pp 46-/9
[5] - Livro de Atas de formatura do Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes

[6] - Entre as instituições enumeradas, figuravam a PUC-RS, Instituto Histórico e Geográfico, Academia Sul-Rio-Grandense de Letras, Museu do Estado, Arquivo Público e Associação Riograndense de Música. Enumeravam-se 22 municípios diferentes no interior de estado que poderiam contribuir com essa Comissão. Entre eles estavam Biagio Tarantino representando Rio Pardo e o antigo membro da Comissão Central, Mansueto Bernardi[F1. 018] BERNARDI, Mansueto. representando Alfredo Chaves. pesquisadores, como o potiguar Câmara Cascudo, os paulistas Rossini Tavares de Limae Mainard Araújo. Cecília Meirelesveio do Rio de Janeiro. Renato de Almeida

[7] - Anais da III Semana Nacional de Folclore 22-29 de agosto de 1950, RJ: IBECC-Dep. Imprensa Nacional 1953, p. 99
[8] - III Livro de Atas do CTA – reunião de 24.06.1954, f. 49v