terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 07

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

07 – A DEMOCRACIA da ERA INDUSTRIAL

não é mais ARTE


http://www.wikigallery.org/wiki/painting_225845/Honor%E9-Daumier/The-Republic


Fig. 01 _ Honoré DAUMIER(1808-1879) – A República Francesa esquece a cultura e arte enquanto alimenta os mais vorazes e atrevidos


Mesmo na mais recente Historia humana é constante a corrupção e o distanciamento das relações entre poder originário e poder formal constituído.. Para conferir este abismo basta perguntar - a quem votou na Constituinte Brasileira de 1988 – o nome de quem indicou como constituinte com a função de escrever e aprovar a Carta Magna da sua Nação. Esta falta de memória e imprecisão, resultam da manipulação e desinteresse pelo poder originário. Sai desqualificado tanto o eleito como o eleitor. Ambos são prisioneiros de um sistema calcado num mito, que impõem rituais de raízes pseudo-religiosas e sem circulação ativa do poder entre o cidadão e quem o representa.


A circulação do poder entre ARTE e a atual prática da DEMOCRACIA estão com idêntico e simétrico distanciamento. Debatem-se na corrupção resultantes de num mito e que impõem rituais de raízes pseudo-religiosos. É o que se procurará evidenciar aqui. A arte sempre constitui o índice mais profundo e o que permanece, pois suas obras, no seu mínimo de forma, são índices máximos das de uma civilização da qual se originaram.


- http://pianocrs.blogspot.com/2007_10_01_archive.html - http://intouchde.org.uk/great_germans/busch


Fig. 02 _ Wilhem BUSCH (1832-1908) os desempenhos vituosísticos , realizados para quem deve alimentar a indústria cultural, afastam o artista de sua origem e corta todo o sentido da sua própria vida.

A interação entre artista e o seu público deveria ser central e determinante na obra e na manifestação de arte. Assim um astro do espetáculo engana-se ao afirmar que ele “está ali apenas para fornecer ao publico um pretexto para as suas próprias ações”. Contudo é evidente e trágico este equívoco “astro”. Pois apesar de todos querer dar-lhe poder e a razão, a indústria cultural tomou o controle do público. A lógica da era industrial dita os rituais e as ordens para a criação do pseudo-artista.


Na democracia formal o controle - mental e físico do público e do artista - pertence ao Dr. Joseph Goebbels e ao seu fiel e desavisado clero. Clero que o segue fielmente, ou pratica os rituais deste doutor. Goebbels defendera tese com o tema da literatura popular do início da era industrial[1].Ela a testou na prática entre 1933 a 1945, no trágico regime, na qual era central a cultura defendida nesta peça acadêmica. O seu clero só conhece do seu profeta aquilo que ele filtrou na sua Propaganda. Contudo seguem este aborto da era industrial, mesmo o odiando, com todas as razões. Entre os seus seguidores, mesmo a contragosto ou desavisados, poucos conhecem esta tese, o que torna este veneno subliminar e mais perigoso ainda, pois cabe em qualquer lugar e pode ser incluído na receita da criação da obra da industria cultural e ministrado aos seus consumidores. Nas circunstâncias da corrupção da democracia o público e o “astro” impregnaram-se e são condicionados pelo veneno e pelos hábitos que adquiriram ou foram-lhes impostos ao longo da era industrial. Os empresários só apostam em eventos orientados por estes hábitos submissos e alienantes. Na prática impõem, ao estilo nazista, projetos e gerenciamento de multidões exercendo férreo e subliminar controle, por meio deste gerenciamento central. Permitem expressões que não contestam o acúmulo dos meios econômicos, técnicos e de insumos. Controle férreo central gerenciando os hábitos de multidões e se colocado muito acima e distante da voz e da vez do povo e dos seus representantes que caberia a este poder originário credenciar e controlar.

Permanece na contramão, e na memória, o gigantesco happening de Woodstock[2] e os primeiros passos tateantes dos Beatles e que, num primeiro momento, foram absorvidos e vendidos na e para a indústria cultural. Os rapazes de Liverpool foram tão inteligentes, coerentes e dissolveram o grupo original, pois as circunstâncias da industria cultural retirava-lhes toda a autonomia que o artista e publico necessitam. Também ninguém insiste em transformar em série industrial o evento dos dias 15 a 19 de agosto de 1969. Hippies, beatniks e punks o dissolveram e a indústria cultural demonizou o evento como obra de drogados e alienados mentais, pois perdeu o seu controle central e não gerou lucros

http://www.earlymusic.bc.ca/CA-SeatingPlansWinter.html


Fig. 03 _ Honoré DAUMIER(1808-1879) a platéia não olha para o palco e nem presta atenção ao artista. Este público, da indústria cultural, frequenta e aguenta os desempenhos de virtuoses apenas para constar nas colunas sociais do dia seguinte.

A arte está intimada e constrangida a acompanhar o cortejo da estátua da democracia defunta e embalsamada como um ídolo a ser adorado obrigatoriamente por todos. Enquanto passa o cortejo da nova idolatria, pelas avenidas iluminadas, a Verdade, a Beleza da vida e a Justiça universal padecem nas trevas das masmorras. Os meios subtis, que a tecnologia colocou nas mãos e a serviço da mente humana, mantém a Verdade, a Beleza e a Justiça firmemente acorrentadas nestas masmorras. Meios controlados , filtrados e manipulados com absoluto desprezo pela natureza das suas prisioneiras e com mentalidade diametralmente posta. A defunta pseudo-democracia industrializada, perdeu toda a credibilidade do cidadão mais honesto e que também sente-se , prisioneiro físico e mental. Não é por acaso que no seu domicílio, ele cerca-se de muralhas físicas, eletrônicas, mantém e paga guardas de toda ordem.


http://ruadopatrocinio.wordpress.com/2010/02/07/a-liberdade-guiando-o-povo-por-e-delacroix/

Fig. 04 _ DELACROIX A democracia da era industrial conseguiu a façanha de socializar riscos e prejuízos e dores coletivas para alguns colher e embolsar lucro e s resultados positivos na divulgação e venda das desgraças publicas


A autêntica Democracia, no rigor do sentido da etimologia da palavra, está ansiando para “tirar a arte das telas e trazê-la para a vida” . O quadro estático e controlado da democracia - pintado ao longo da era industrial - é um ícone como da arte bizantina. Este quadro está a espera de um gênio com a coragem e inteligência estética de um Giotto para trazê-lo ao mundo daqui e agora tendo os pixels como tintas e mouse como pinceis.


http://en.wikipedia.org/wiki/File:Honor%C3%A9_Daumier_034.jpg

Fig. 05 _ Honoré DAUMIER(1808-1879) 3ª classe


Contudo, para que isto aconteça, o artista nascido, formado e que a atua no âmbito desta democracia industrial, necessita mudar. Esta mudança para o futuro impõe-se rápida e como incontornável. O currículo do atual artista é fruto e industrial cultural coerente e a sua mentalidade. Nestas circunstâncias está condicionado por este tipo de democracia industrial. Os seus direitos autorais são “sagrados” para esta democracia industrial. Ele personaliza a sua obra como “própria”, a assina e defende como “sua” coerente com a “posse simbólica” implantada pela era industrial em contraste com a “posse física” da era agrícola e todas as práticas coerentes. Contudo todos estes direitos da “posse simbólica” também estão em rápidas transformações em relação á obra personalizada e única da era da democracia industrial. Os meios numéricos digitais criaram e desenvolveram a “posse virtual” e que não passa pelo cartório carimbador da era industrial. Os defensores destes direitos autorais da “posse virtual” estão confusos, perplexos e sem um código legal. Os seus códigos bizantinos da posse “física” e “simbólica” não mais funcionam nem protegem os “representados” legais dos “produtores culturais” da era da democracia industrial. Ao contrário: entravam, prendem e não defendem o vínculo entre a vida e os poderes originários.


http://www.hwaethwugu.com/blog/archives/2006/11/18/fernando_boteros_abu_ghraib

Fig. 06 _ BOTERO -"Abu Ghraib" em nome e legitimada pela prática democrática industrial.


O artista não promoveu mudança alguma enquanto tiver de aturar “prêmios em cima dele[1]. Ele será um mero acessório nas mãos do “curador” e “produtor cultural” da indústria cultural do quais depende nas suas deliberações e decisões. As deliberações e decisões deste artista estarão na masmorra, fazendo companhia com a Verdade, a Beleza e a Justiça, enquanto estiver no arbítrio da onipotência do “curador” e “produtor cultural”. “Curador” e “produtor cultural que por sua vez foram constituídos contratados e seus cargos e dependem do capital ou de um regime político “bonzinho e popular” . Nestas circunstâncias o artista não atinge a categoria de “gente” pois Aristóteles, ciente das coisas, afirmou que “escravo não é gente, pois não delibera e decide”. Para o artista, apregoada e a nebulosa cidadania, as sua deliberações e decisões resumem-se em “cooperar” e “participar”, sem jamais atingir o estágio da “interação”. Interação na qual ele debateria o antes, ao longo e o após de qualquer ação. Interação na qual o artista, antes de qualquer ação, delibera e decide realizar contratos claros em relação às suas perdas e os lucros entre ele, o curador” e o “produtor cultural”.



[1] - Para “prêmio em cima de “ recomenda-se a leitura de :

BERHARD, Thomas (1931-1989) O Sobrinho de Wittgenstein - Lisboa : Assírio & Alvim 2000 - ISBN 9789723706031



http://sampacentro.terra.com.br/textos.asp?id=431&ph=19

Fig. 07 _ RODIN Porta do Inferno coroada pelas figuras nuas da Verdade, da Beleza e da Justiça prisioneiras, vítimas e “DESGRAÇAS” dos ciúmes e das intrigas da era industrial.


O artista consola-se pensando que “a corrupção dos ótimos é péssima”. Ele desenvolve os seus juízos e criações em companhia da Verdade, da Beleza e da Justiça, quais “Três Desgraças”, vitimas do ciúme e do ódio prisioneiras na mesma masmorra marcada pela Porta do Infernochamuscada e coberta de fuligem da poluição da era industrial. A Democracia jaz morta, corrompida e embalsamada, enquanto é louvada pelos seus sacerdotes e carrascos que entoam hinos e declamam seus panegíricos nas catedrais das ruas iluminadas e nos veículos de comunicação de massa, controlados e promotores da indústria cultural.

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Manet

Fig. 08 _ MANET “Almoço Sobre a Relva”

A prática da DEMOCRACIA, que deveria cuidar e promover a interação entre poder originário e o exercício do poder formal, distanciou-se e corrompeu-se. A palavra DEMOCRACIA constitui, apenas uma palavrinha que alguns pretendentes a mágico recitam como uma mantra com efeito de mantê-los num cargo inócuo para o poder da sua origem. Estes pretendentes a mágico foram treinados a pensar em rituais, em procedimentos formais e em eventos condicionados e subliminares da era industrial. Treinados como máquinas a aceitar que rituais, procedimentos formais e eventos, uma vez cumpridos, podem legitimar e desencadear guerras, atrocidades, manipulações de opiniões e de informações tão, ou mais, repelentes como as das mais arcaicas e perversas formas de exercício do poder central e cego.

MARINA ABRAMOVIC e BAILEY BRITANY - http://angelfloresjr.multiply.com/journal/item/4448

Fig. 09 _ Marina ABRAMOVIC dirige Bailey Britany em “o artista presente”


A artista Marina Abramovic cumpre a proposta de Robert Rauschenberger de “tirar a arte das telas e trazê-la para a vida”. A figura nua da pintura de Manet desce viva e personalizada de Bailey Britain que se mistura e exibe inteiramente nua ao público da exposição do “artista presente”.


MARINA ABROMOVIC e BAILEY BRITANYhttp://angelfloresjr.multiply.com/journal/item/4448


Fig. 10 _ Marina ABRAMOVIC “o artista presente”



O acúmulo de poder, a causa da existência do cargo e sua função, necessitam permanente reencontro com a sua origem. Reencontro no qual trocam e atualizam forças recíprocas.


O mesmo acúmulo de poder campo da arte e seu sistema de forças, necessitam permanente reencontro com a sua origem. Reencontro frequente e seguro para todos no qual trocam forças recíprocas e cumprem o papel de fazer circularem as suas forças civilizatórias.


Impõe-se o retorno à Vida. Retorno à circulação provocada pela sístole diástole e que mantém vivos os organismos naturais e aqueles artificiais da cultura. Circulação necessária mesmo que a “posse virtual” ainda seja confusa. Circulação necessária mesmo se os códigos legais bizantinos da posse “física” e “simbólica” não mais funcionam e nem protegem os “representados” legais dos “produtores culturais” da era da democracia industrial.

Qualquer o entrave nesta circulação - física ou cultural - é risco de morte súbita do sistema.