quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A História responde as perguntas a ela dirigidas

A História é ótima para a criatura humana. Por meio dela esta criatura possui um instrumento para o conhecimento das suas circunstâncias e uma possibilidade de refletir e projetar-se nelas. Especialmente as circunstâncias de suas origens próximas e/ou remotas. Com esses dados na mão pode perceber tendências recorrentes e traçar projetos para o seu futuro.

Mas a História é sempre uma criação humana. O ótimo da História pode ser corrompido como qualquer criação humana. E toda corrupção do que é ótimo, é péssima.

Esta corrupção pode iniciar pela pergunta que dirigimos ao passado. Nesta interrogação fatalmente misturam-se os próprios valores de quem realiza a pergunta. Não adianta procurá-los no passado se quem pergunta não possui valores.

“É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente” . Marc Bloch 1976, p.42.[1].

Os filmes pseudo-históricos produzidos por Hollywood - e depois pela Cinecittá italiana - trazem subliminarmente os valores comerciais e os lucros aos quais se destinavam estas obras. Os temas destes filmes inspiravam se em obras literárias de um romantismo que já havia pervertido os fatos e respondendo ao solepsismo dos seus autores e do público e caro aos valores cultivados pela industria cultural.

O escapismo de um presente, considerado chato e incômodo, é um valor para muitos textos de auto-ajuda ou peças áudio-visuais da industria cultural.

A tudo isto se acrescente o fato da percepção humana ser limitada a poucos elementos de um fato, mesmo para quem o tenha vivido pessoalmente. Esta limitação sensorial humana reflete-se na memória humana. Estudiosos afirmam que toda memória humana é falsa ou ao menos profundamente limitada. O limite continua na tradução dos signos de comunicação incluindo imagens. O repertorio de quem constrói a narrativa histórica e de quem a recebe – é determinante para a transmissão desta narrativa escrita ou áudio-visual.

O direito ao conhecimento - do conteúdo autêntico de uma narrativa histórica - impõe-se a crítica e uma vontade coerente com este conhecimento. Esta crítica necessita ter sempre bem presente qual a competência da História e os limites - desta competência. A vontade e a crítica, ilustrada pela razão, são necessárias a quem produz e consome História. Vontade e a crítica instrumentos valiosos para não resvalar para o mito e corromper o ótimo da autêntica História. Vontade e crítica para dirigir as perguntas corretas para a História e obter dela as respostas coerentes com o tempo e os fatos que estão no passado. Coerência entre passado e com quem realiza a pergunta a este passado.



[1] BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.

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