ARTES VISUAIS nos Sete Povos das Missões Jesuíticas
0.1 –
Contexto mundial arte dos Sete Povos das Missões. 0.2 - O PROJETO JESUÍTICO e as ARTES VISUAIS como
Propaganda da Fé concebida pelo Concílio de Trento e como identidade da
Contrarreforma 0.3 - A UNIVERSIDADE DE
CÓRDOVA e as ARTES VISUAIS das MISSÕES .04 – O JESUÍTA LUSITANO e o ESPANHOL .
0.5 – Uma verdade única e inquestionável 0.6 -O templo como lugar de um teatro.
0.7 – A verdade do meio geográfico local 0.8 – Perderam-se os testemunhos dos lavores
mais trabalhados 0.9 – O ILUMINISMO abala o projeto teórico, estética e político
dos jesuítas missioneiros. 0.10 – A
mitificação da MEMÓRIA do projeto
jesuítico missioneiro e a dificuldades da permanência do sentido de origem . 0.11
- A FORMA e a MENSAGEM do projeto jesuítico missioneiro. 0-12 – Um mundo
hierarquizado e fechado sobre si mesmo 0-13 Tentativas de institucionalizara a
memória do projeto jesuítico missioneiro
A intervenção do Estado Brasileiro em nome do Patrimônio Nacional 0-14 Um BEM SIMBÓLICO como IDENTIDADE e PATRIMÔNIO da HUMANIDADE. 0-15 Os IMPASSES e
os PROBLEMAS que as OBRAS MISSIONEIRA terão de ENFRENTAR no FUTURO PRÓXIMO ou
REMOTO. 0.15 A esperança republicana em GRUPOS de PESQUISA com projetos
voltados para as ARTES MISSIONEIRAS 0-16 Síntese da postagem
Um dos capítulos mais
controversos da ARTE praticadas no Rio Grande do Sul é construído pelas ARTES VISUAIS nos Sete Povos das
Missões Jesuíticas. A controvérsia
inicia pelo fato de elas se desenvolverem, entre 1630 e 1750, no território que, nesta época, não estava sob domínio do projeto lusitano do
Brasil. Outra controvérsia é estética. devido ao fato de que estas pretendidas ARTES
não teriam AUTONOMIA. Falta de AUTONOMIA por não possuírem a ASSINATURA do
ARTISTA e nem DATA, além serem EXPRESSÕES
a serviço de uma ideologia especifica datada e, assim, gozarem limitada LIBERDADE TÉCNICA e CONCEITUAL ou nulas.
No entanto, contornadas
estas objeções, existe um numero expressivo de bens materiais num vasto
território sul-rio-grandense e que no, mínimo, exigem um conhecimento e um
registro como se encontram e são rememoradas nos dias atuais. Além disto, as ARTES VISUAIS nos Sete Povos das
Missões Jesuíticas, ao perderem a sua
função a serviço de uma ideologia especifica datada, estas obras migraram para
a categoria de bens a serem preservados como objetos matérias testemunhos do seu
tempo e da função de sua origem.
Fig.
01 As OBRAS das MISSÕES do RIO GRANDE do
SUL naõ existiriam sem que mundo europeu se dividir em italiano REFORMA e CONTRA REFORMA após o Renascimento
Europeu A CONTRA REFORMA se
articulou a partir do CONCILO de TRENTO e usou a arma ideológica da PROPAGANDA
da FÈ em cujo nome a COMPANHIA de JESUS em prendeu uma vasta campanha que envolvendo o Rio Grande do
Sul por meio de jesuítas de Portugal e os
espanhóis
0.1 – O contexto mundial da arte dos Sete Povos das
Missões.
As COLÔNIAS sempre foram projeções de uma
cultura de origem em locais remotos e que os colonizadores consideram atrasados
em relação ao que eles traziam ou impunham. Desta forma toda atual CULTURA das
AMÉRICAS é projeção e ocupação de COLONOS EUROPEUS. As obras das ARTES VISUAIS dos
SETE POVOS das MISSÕES do Rio Grande do Sul se constituem FORMAS de EXPRESSÃO
EUROPEIA. Esta as consideram como meras
cópias técnicas e estéticas suas praticadas em terras e culturas atrasadas no
TEMPO e em SOCIEDADE arcaicas.
Assim convém examinar estas matrizes
estéticas e técnicas europeias. A Europa
estava vivendo a estética do MANEIRISMO e do BARROCO da CONTRA REFORMA no
TEMPO em que ARTES VISUAIS dos SETE POVOS das MISSÕES foram PRATICADAS. Esta prática
estética era comandada pela Igreja Católica e implementada, nas MISSÕES, pela
COMPANHIA de JESUS[1].
O PROGRAMA
ESTÉTICO das MISSÕES era aquele da PROPAGANDA da FÉ e seu ideário era expresso
no texto básico dos EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS de IGNÁCIO de LOYOLA, o fundador dos
Jesuítas.
Fig.
02 A AMÉRICA do SUL foi dividida entre
território lusitano (Brasil) e os domínios espanhóis comandados pelo VICE-REINADO
do PERU. Em sucessivos tratados esta situação ainda perdurava
de fato no ano de 1808 quando os britânicos traçaram o mapa acima. Apesar d o
Tratado de Madrid (1750) as terras da margem esquerda do Rio Uruguai ainda
continuavam ocupadas pelos espanhóis. Esta fronteira só avançou até a margem do
rio Uruguai em 1810 enquanto Santa Catarina só viria a regular e possuir o
território do CONTESTADO já em pleno século XX
0.2 - O PROJETO JESUÍTICO e as ARTES VISUAIS como Propaganda da Fé concebida pelo Concílio
de Trento e como identidade da Contrarreforma.
O PROJETO POLÍTICO da PROPAGANDA da FÉ
foi adaptado às condições SOCIAIS e
ECONÔMICAS vigentes nas terras banhadas pelos afluentes do Rio da Prata. Nesta
adaptação a cultura europeia criou, em 1630, a UNIVERSIDADE de CÓRDOVA[1]. Esta
UNIVERSIDADE permaneceu sob o controle dos jesuítas enquanto eles dominavam o seu claustro (ou conselho
universitário). Nela os missionários da COMPANHIA de JESUS procuravam estudar e
aprender a LÍNGUA INDÍGENA, entender os seus hábitos e as maneiras de se organizarem
Os jesuítas deflagraram uma larga e longa
campanha de criação de 30 REDUÇÕES. Iniciaram naquelas situadas no atual Paraguai, Argentina enquanto
sete destas no território do atual Rio Grande do Sul. Tanto a UNIVERSIDADE de
CORDOVA com cada REDUÇÃO contava com sólidas
lucrativas fundações econômico, estâncias e produção de alimentos,
Cada REDUÇÃO tinha no seu centro uma espaçosa igreja. Ao redor dela se
estabeleciam as escolas, habitações, oficinas e asilos. A IGREJA era o lugar
que recebia toda a atenção estética. Nelas as ARTES VISUAIS buscavam meios
físicos para atrair os CINCO SENTIDOS HUMANOS. Captados estes, orientavam toda
a atenção do indígena. Atenção captada para o acolhimento da mensagem de que os
missionários eram portadores. Ao mesmo tempo tratavam de bloquear qualquer
ruído externo a esta mensagem tornando-a VERDADE SUBLIMINAR, ÚNICA e
INQUESTIONÁVEL.
[1] Nas colônias latino-americanas
sob o domínio da Espanha as UNIVERSIDADES FORAM INSTALADAS um século antes
daquela de CÓRDOVA, Em 1531
instalou a de São Domingos e em 1551 as
do México e de Lima. Tratava-se da universidade teológica escolástica,
destinada as regiões nas quais o ameríndio havia chegado até as sociedades
teológicas de base social e cultural complexas, como dos maias, dos astecas e
dos incas Mas as primeiras universidades implantadas no Novo Mundo vieram
depuradas e controladas, no seu antagonismo, pela Inquisição, e reforçadas e
estimuladas pelos instrumentos sofisticados da Propaganda da Fé desencadeada
pela Contra-Reforma do Concilio de Trento. Essa universidade podia funcionar
acima e por fora dos problemas de toda ordem efetivadas na América pela cultura
européia.
Fig.
03 A UNIVERSIDADE de CÓRDOVA expandiu a sua influência sobre as terras banhadas
pelos afluentes do Rio da Prata, A
CONTRA REFORMA se articulou a partir do CONCILIO de TRENTO e usou a arma
ideológica da PROPAGANDA da FÈ em cujo nome a COMPANHIA de JESUS em empreendeu
uma vasta campanha que envolveu o Rio
Grande do Sul tanto pelo lado da Espanha
como de Portugal
[clique sobre o mapa para poder ler]
0.3 - A
UNIVERSIDADE DE CÓRDOVA e as ARTES VISUAIS das MISSÕES.
Até o momento não há noticia de programa,
escola e ensino das ARTES VISUAIS mantido pela Universidade de Córdoba entre os
anos de 1630 e 1750.
No entanto por ela passaram missionários
jesuítas com solida formação em Música, em Arquitetura, em Escultura e nas
ARTES VISUAIS, adquirida antes de seu ingresso na Companhia de Jesus.
Porém com esta formação consolidada,
incorporou poucos elementos indígenas. Estes vestígios da estética indígena são
necessários procurar em intervenções ocasionais e secundárias dos aprendizes e dos
artesões.
A formação em ARTES VISUAIS dos jesuítas
missioneiros é uma das diferenças dos jesuítas portugueses entre os quais não
há noticia que alguns deles tivessem formação estética e que a tivesse exercida
no Brasil Colonial.
Fig.
04 As 30 REDUÇÕES se estabeleceram as
margens e entre os rios PARANÁ e URUGUAI Era o território de caça dominada pelos guerreiros
guaranis desde o século 8 d. C. Com a colonização agressiva castelhana viram-se
em perigo de seres escravizados pelos “COMANDEIROS” a serviço de recrutamento
compulsivo das minas de prata de POTOSI; Do lado lusitano os BANDEIRANTES
vinham buscar escravos para as suas lavouras no planalto paulista. . A solução
foi aceitar a organização e as reduções comandadas pela COMPANHIA de JESUS. No
entanto houve resistências a estas reduções entre os próprios guaranis como aquela comandada pelo cacique Ñheçu[1]
além de outras etnias como dos caingangues, minuanos, tapes sem contar as tribos nômades dos
primeiros habitantes do Rio Grande do Sul.
[clique sobre o mapa para poder ler]
04 – O JESUÍTA LUSITANO e o ESPANHOL
Conforme os soberanos, a natureza e estatutos
dos seus territórios a COMPANHIA de JESUS fazia distinções na sua maneira de operar.
Em Portugal estes estatutos eram severos e o próprio Padre Viera, por pouco,
escapou das garras da SANTA INQUISIÇÃO, da MESA da CONSCIÊNCIA e o braço armado
do ESTADO LUSITANO que exigia uma obediência cega.
As Missões gozavam incentivos e regalias da COROA
ESPANHOLA para garantir a ocupação. o
estabelecimento e a posse dos territórios dos afluentes do Rio da Prata.
Enquanto isto MADRID segurava e concentrava as suas atenções e energias sobre
as riquezas minerais das minas do PERU.
Em consequência as ARTES VISUAIS PRATICADAS
nas IGREJAS das REDUÇÕES do Rio Grande do Sul não há vestígios da profusão de
uso de metais preciosos. Estes foram sendo amplamente supridos pelos materiais
da Natureza desta região.
Enquanto isto foi negada aos jesuítas lusitanos ou severamente vigiada a ocupação de terras
com finalidade de cria fundações[2] do
interior do Brasil e sua URBANIZAÇÃO . Quando as minas de ouro de Minas Gerais foram descobertas começaram a
serem exploradas após 1700 esta
restrição tornou-se ainda amais estreita e definitivamente eliminada com a
extinção da ordem no ano de 1756.
Enquanto as MISSÕES JESUÍTICAS ESPANHOLAS do RIO GRANDE do SUL iniciavam pela ocupação de enormes glebas
eram planejados pelo URBANISMO e constituídas em “POVOS”. Enquanto isto os JESUÍTAS LUSITANOS - que
agiam na colônia brasileira - se limitavam à ARQUITETURA dos seus prédios e aos
ELEMENTOS VISUAIS da ESTÉTICA RELIGIOSA[3]
HAMERMULLER, Luiz et KUIAVA,
José O
CACIQUE ÑHEÇU ÀS VISTAS DA LITERATURA E DA HISTÓRIA Revista TRAVESSIAS,
vol 11 nº X pp 261-283 2017
[2] SOUZA CAMPOS,
Ernesto. Educação Superior no Brasil:
esboço de um quadro histórico de
1549-1939. Rio de Janeiro: Ministério de Educação, 1940. 611p.
[3] Para conhecer a estética religiosa da ARQUITETURA ICONOGRAFIA e DECORCAÇAO que eram
comum aos jesuítas espanhóis e lusitanos convém consultar COSTA Lúcio ARQUITETURA dos JESUITAS no
BRASIL 0 Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artísitico
Nacional Rio de Janeiro – Ministério da
Educação, Cultura e Saúde Publica nº 5 1941
Fig.
05 Os jesuítas portugueses foram
freados, já no século XVI pelas leis lusitanas e pela estreita vigilância dos
BISPOS que eram funcionários estatais nomeados pelos REIS de LISBOA. Assim
foram proibidos de terem e administrarem terras, gente e bens moveis para
sustentar na autonomia as suas fundações severamente controladas. Assim foram
mantidas no litoral com eventuais entradas. No entanto não criaram reduções
fixas e definitivas sob o seu controle e administração
[clique sobre o mapa para poder ler]
0.5 – Uma verdade única e inquestionável
Um projeto elaborado pelo fundador da Companhia
de Jesus recorria aos CINCO SENTIDOS HUMANOS impondo-lhes uma VERDADE ÚNICA e INQUESTIONÁVEL. Qualquer ruído externo era eliminado e bloqueado pela
organização do espaço físico, pela sua organização militar e pelo centralismo
das deliberações e a das decisões.
Numa cultura básica, próxima da Natureza, as
ARTES VISUAIS tornavam-se um precioso instrumento da PROPAGAÇÃO da FÉ. A sua
permanência era garantida pela materialidade sensorial própria das ARTES
PLÁSTICAS. Esta armadilha física e mental tornava as mensagens subliminares e sem
alternativas
Fig.
06 A COMPANHIA DE JESUS criada pelo espanhol IGNÀCIO de LOYOLA tinha seu projeto original o texto dos EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS A CONTRA REFORMA se articulou a partir do CONCILIO de TRENTO e usou a arma ideológica da PROPAGANDA da FÈ em cujo nome a
COMPANHIA de JESUS em prendeu uma vasta
campanha que envolveu o Rio
Grande do Sul or meio de jesuítas de
Portugal e os espanhóis
[clique sobre o texto para poder ler]
0.6 – O templo como lugar de um teatro.
Os jesuítas se valiam dos templos para a
inculcamento da PROPAGANDA da FÉ como mestres do teatro e de eventos. O templo
era o lugar de cantorias coletivas no meio de longas cerimônias orientadas pela
sua retórica magistral. Tudo isto era condicionado pelo URBANISMO, ARQUITETURA e
reforçado pelas ARTES VISUAIS em todas as suas manifestações possíveis.
Este projeto é atualíssimo se transposto para
a PROPAGANDA e o COMERCIO praticado SHOPPING CENTERS. Nestes ambientes atuais não
existem janelas para que a VISÃO se volte exclusivamente para os produtos
ofertados. Até, o ar não só e condicionado, mas PERFUMADO com essências
subliminares. O SOM é controlado, os objetos estão dispostos ao TOQUE das mãos
e os produtos são oferecidos para o OLFATO e o SABOR de potencias clientes.
Fig.
07 O ordenamento cartesiana e a
hierarquia das construções das REDUÇÔES prenunciam a produção serial em escala
da ERA INDUSTRIAL Pode-se cogitar,
inclusive, numa etapa preliminar da LINHA de MONTAGEM FABRIL com as suas vilas
operárias rigidamente controladas pelo demiurgo que tudo planeja, faz executar
e distribui os produtos com o objetivo de manter o sistema funcionando e
produtivo,
0.7 – A verdade do meio geográfico local.
A contrapartida desta verdade ideal única e
inquestionável eram as terras férteis da mesopotâmia formada pelos afluentes do
Rio da Prata[1].
O frágil equilíbrio entre este mundo ideal e o mundo empírico conferia sentido religioso ao mesmo tempo um sustento
material para o projeto das 30 reduções jesuíticas. Uma próxima da outra e
complementares na assistência moral, na
defesa recíprocas e na suas diversidade das produções agrícolas e pastoris,.
O viajante francês Arsène ISABELLE[2] encontrou
os vestígios de um REDUÇÃO destes SETE
POVOS que ele descreve (1834 p. 196 ed. 2006):
“À esquerda da igreja estava situado o
colégio, atrás do qual estendia-se um soberbo jardim plantado de laranjeiras,
limoeiros, figueiras, plantas indígenas, etc., e cercado de um muro de pedras
em toda a sua extensão. O colégio, como é de imaginar, era confortável e solidamente
construído. Ao lado, ficava um hospital e viam-se em seguida oficinas públicas,
lojas públicas, cozinhas públicas, etc., etc”
O acúmulo desta produção econômica era a base
para mais uma nova redução. Se de um lado a distância da corte e de Madrid era
um obstáculo, de outro lado esta mesma distância geográfica era um desafio e
incentivo que obrigava a criatividade com os meio locais.
Assim as ARTES VISUAIS tiveram de seu
reinventar com os meios disponíveis em vez de praticar a importação de imagens
e alfais como prestativa a colônia lusitana cujos artesões permaneciam em
Lisboa enviando esculturas, alfaias e imagens para a colônia americana.
[2] ISABELLE Arsène.(1806-1888) Viagem ao Rio da Prata e ao Rio Grande do
Sul / Arsène Isabelle ; tradução e nota sobre o autor Teodemiro Tostes ;
introdução de Augusto Meyer. -- Brasília : Senados Federal, Conselho Editorial,
2006. XXXII+314 p. -- (Edições do Senado Federal ; v. 61)
VISTA de uma
MISSÃO JESUÍTICA
Fig.
08 - O “POVO de uma REDUÇÃO” ganhava corpo físico por meio da madeira, do barro e de eventuais
pedreiras pedra grés. Assim chegou aos metais como o ferro usado nos sinos, nas
ferramentas e nos pregos. Os técnicos e artesões destas obras e técnicas miravam
entre as trinta reduções. As carretas
missioneiras transportavam estes materiais que eram trocados por produtos
agrícolas e pastoris. Era vigência do escambo econômico. Os jesuítas foram
acusados, sem provas materiais, de cunharem como fabricar moedas o que lhes
valeu mais um ponto para a sua erradicação. A cunhagem de moedas era privilégio
régio e punido como delito
0.8 –
Perderam-se os testemunhos dos lavores mais trabalhados.
As ARTES VISUAIS, PRATICADAS nas MISSÕES,
atingiram FORMAS de EXPRESSÃO que beiram à GRATUIDADE. Os testemunhos desta GRATUIDADE estão no
lavor e nas invenções que cobriam estátuas, paredes e prédios. Como se afirmou
acima, estes vestígios de originalidade resultam das intervenções ocasionais
dos aprendizes e artesões indígenas em obras secundárias. A fragilidade destes
valores foram os primeiros afetados pelo abandono das MISSÕES e pela falta da
manutenção dos originais.
COSTA Lúcio ARQUITETURA dos JESUITAS no BRASIL 0
Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artísitico Nacional Rio de Janeiro – Ministério da Educação,
Cultura e Saúde Publica nº 5 1941
Fig.
09 Um retábulo missioneiro numa fotografia de
Lúcio Costa do anos de 1940 O “HORROR ao VAZIO” segue a tendência estética do BARROCO e expressa a PROPAGANDA da FÈ na inculcação da CONTRA REFORMA articulada a partir do CONCILO de TRENTO.
Assim qualquer parede, nicho ou teto é
recoberto com imagens, decorações e
mensagens visuais;
Do lavor e nas invenções que cobriam
estátuas, paredes e prédios permanecerem alguns trabalhos em cantaria e
estatuas das quais desapareceu a pintura e a carnação. Para a PINTURA
MISSIONEIRA aconteceu o mesmo que na
PINTURA GREGA da qual se perderam os vestígios devem serem procurados na cerâmica e alguns
raros vestígios daquela realizada sobre a escultura e arquitetura. O que restou
das ARTES VISUAIS na PINTURA MISSIONEIRA predominantemente na ESCULTURA e as ruínas da
ARQUITETURA
A precariedade da conservação destas esplendorosas
PINTURAS MISSIONEIRAS foi descrita (1834
p. 197. ed. 2006) por ISABELLE numa das suas visitas a uma destas ruínas:
“Hesitamos algum tempo, antes de visitarmos a igreja,
porque temíamos que seu teto desabasse de um momento para outro. Cada vez que o
vento sopra, desprendem-se do alto enormes vigas que, rolando com estrondo,
sacodem o resto do antigo edifício, cuja forma é um quadrado longo sem corpo
lateral nem campanário. À entrada do coro, sobre a tribuna, elevava-se a cúpula
de madeira, de que falei, decorada de belas pinturas. Duas filas de colunas
também de madeira, de ordem toscana ou rústica, sustentavam o teto e formavam
uma nave. Os ornamentos tinham sido retirados. Restavam, apenas, dois altares
laterais; mas encontramos grande parte dos ornatos do coro, amontoados
desordenadamente em duas peças, que serviam outrora de sacristia. Os dourados
ainda estavam em bom estado; os jesuítas tinham sido pródigos com eles, como
também com as imagens e pinturas. Esse conjunto de capitéis, de frontões, de
colunas torcidas, estriadas ou lisas; esses quadros, esses ornamentos
sobrecarregados de dourados finos, essas pinturas notáveis e delicadas
esculturas, esses santos de todos os tamanhos, de todas as ordens monásticas,
destinados a representarem um papel importante no meio de um povo de neófitos
facilmente crédulos, tudo isso nos deu a impressão de um depósito de teatro e
nada mais... Senti uma grande piedade, pensando na condição miserável dos
cristãos, cuja sorte se decide num concílio de Trento ou na cela de um
discípulo de Loiola, sobre este tema fundamental: todos os meios são bons para
fascinar os povos!”...
Depois
desta descrição - anterior à Revolução Farroupilha - estes precários vestígios permaneceram mais
um século ao relento, abandono e intempérie.
A cobiça dos “TESOUROS dos JESUÍTAS”[1] colaborou
para se praticassem insensatas e sistemáticas destruições dos parcos sinais que
teimavam em resistir ao TEMPO e as não poucas INTEMPÉRIES que se abatiam
ciclicamente sobre as terras baixas dos afluentes do Rio da Prata.
Lintel
da porta da Missão de San Ignácio de Mini,[1]
Fig.
10 A COMPANHIA de JESUS, fundada pelo
espanhol IGNÀCIO de LOYOLA, tinha seu projeto original expresso no texto dos EXERCÌCIOS
ESPIRITUAIS Este ideário era coerente com a CONTRA REFORMA
a partir do CONCILO de TRENTO e se valendo=se das ARTES como, uma das armas ideológicas da PROPAGANDA
da FÈ. No Rio Grande do Sul a COMPANHIA de JESUS empreendeu uma vasta campanha conduzida pelos jesuítas espanhóis e diferentes daqueles
jesuítas mais contidos por Portugal na sua colônia brasileira.
0.9 – O– O ILUMINISMO
abala o projeto teórico, estética e político dos jesuítas missioneiros.
Todo novo projeto político traz também no seu
bojo outro projeto estético que necessita aniquilar o anterior para ocupar o mesmo
espaço mental e físico. Na metade do século XVIII triunfou o projeto político da
RAZÃO, da ILUMINAÇÃO e os primórdios da ERA INDUSTRIAL. A ESTÉTICA da RAZÃO
trouxe na sua esteira o confronto direto com o BARROCO e as suas bases
EMOCIONAIS na PROPAGANDA da FÉ. A ESTÉTICA da RAZÃO se expressou e ganhou mundo
por meio da Enciclopédia Francesa, das primitivas máquinas e dos produtos da
imprensa. O projeto político da RAZÃO e da ILUMINAÇÃO usou o suporte técnico
para EXPRESSAR a nova MENTALIDADE cultural e estética e estabelecer um
confronto de VIDA e MORTE com sua etapa
anterior, Neste confronto as NOVAS ARMAS e as primitivas TÉCNICAS INDUSTRIAIS
descritas e ilustradas pela ENCICLOPÉDIA FRANCESA[2] golpearam de morte as REDUÇÕES por meio do
ferro, do fogo e esvaziando-as definitivamente e sem possível retorno.
[2] A ENCICLOPÈDIA FRANCESA como PRODUTO e PRECURSORA da
ERA INDUSTRIAL https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12800/1/José%20M.Amado%20Mendes%2023.pdf
- Vittorio
BUCCELLI - 1906 p.460b - Ruinas da
Igreja de S. Miguel
Fig.
11 - O estado de abandono que o deputado
italiano BICCELLI encontrou a igreja do “POVO”
de SÃO MIGUEL no ano de 1906 após o
abandono e silêncio de um século e meio. Em outros POVOS s vestígios
materiais já haviam desaparecido completamente e sem volta, A estabilização do que
restara destas REDUÇÕES só foi efetivado após a Revolução de 1930 e cujo líder era de
SÂO BORJA. Uma das primeiras a ser atendida pelo recém criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional foi esta Igreja. Obra orientada pelo arquiteto Lúcio Costa autor do
Plano Urbanístico de Brasília. Graças a estas providência, esta ruinas estão
inscritas, hoje, no PATRIMÔNIO MUNDIAL da UNESCO.
0.10 – A
mitificação da MEMÓRIA do projeto
jesuítico missioneiro e a dificuldades da permanência do sentido de origem.
As FORMAS de EXPRESSÃO - vigentes no Rio
Grande do Sul – distinguem-se pelos eternos, apaixonados e irredutíveis CONTRA
ou a FAVOR, sem um possível meio termo. As FORMAS de EXPRESSÃO, PRATICADAS nas
MISSÕES JESUÍTICAS, não escapam deste MANIQUEÍSMO. De um lado cultivava-se justificativas
favoráveis à sua eliminação da face da
Terra. Para tanto, levanta-se todo arsenal de argumentos pela sua condenação de
uma forma ou outra. Do lado oposto cultiva-se uma MEMÓRIA que justifica a sua presença e ação ao longo
dos 130 anos de sua vigência efetiva. Esta MEMÓRIA sofre todo tipo de
acréscimos da sua projeção heroica e mítica posterior avivadas pelos “TESOUROS
dos JESUÍTAS” e sem prova material fidedigna, Do lado oposto o seus
esquecimento, meias verdades pavimentam o caminho de sua pura e simples eliminação .
A presente postagem alimenta o projeto de uma
TESE que busca a SUA IMPORTÂNCIA e SENTIDO, sem se furtar à ANTÍTESE para
atingir uma possível SÍNTESE. Com a mente voltada pata a TESE- a ANTÍTESE e a
SÍNTESE distancia-se de qualquer
MANIQUEÍSMO do MAL ou do BEM. Ao mesmo
tempo não aprova qualquer ECLETISMO FÁCIL e REFÚGIO de CANALHAS.
As FORMAS de EXPRESSÃO, PRATICADAS na MISSÕES
JESUITÍSTICAS, observadas objetivamente estão
longe de atingirem esta SÍNTESE. Ao admitir a
TESE como um PROBLEMA este mesmo PROBLEMA não e colocado para ser
RESOLVIDO mas para FAZER ANDAR na BUSCA de uma SÍNTESE provisória entre os contra e a favor das ARTES VISUAIS dos SETE
POVOS. Amanhã os combates se acirram enquanto os descendentes destes “POVOS” continuam o seu caminhos em direção à “TERRA
sem MAL”[1]
indiferentes esta polêmica.
Esta DIALÉTICA parece salutar para as ARTES
VISUAIS praticadas nos SETE POVOS. O exercício continuado desta DIALÉTICA evita
as frequentes exaltações míticas, superficiais e elogios recíprocos do GRUPO de
DENTRO tanto os “A FAVOR” como aqueles “OS CONTRA” as FORMAS de EXPRESSÃO,
PRATICADAS na MISSÕES JESUÍTICAS. Elogios recíprocos exaltações míticas e
superficiais que não passam de projeção, deste PASSADO, sobre DESEJOS e SENTIMENTOS
ATUAIS[2]. Projeções descabidas que abalam os fundamentos mais coerentes e
sadios da origem das ARTES VISUAIS dos SETE POVOS, o seu desenvolvimento e
desaparecimento abrupto e dramático.
Quanto é possível esperar das FORMAS de
EXPRESSÃO, PRATICADAS na MISSÕES JESUÍTICAS é mesmo de todas as culturas humanas que alimentam
as mentes dos seus integrantes com ILÍADAS, com ODISSEIAS, com ENEIDAS ou com LUSÍADAS.
Estas são aceitas sem objeção, na medida em que esta OBRAS de ARTE são “ÚTEIS”
para a formação de uma consciência coletivo do grupo ou de uma nação e mesmo de
uma civilização.
No contraditório provém daqueles são estranhos
a esta dialética e que buscam distância deste processo pois não lhes diz
respeito algum. Em consequência as projeções das OBRAS MISSIONEIRAS pouco dizem
para a ARTE do BRASIL e muito menos para a estética europeia. Estas só percebem
nela dissincronia com as suas próprias EXPRESSÕES ESTÉTICAS. Nesta condição a
ARTE MISSIONEIRA e percebida e assimilada como exótica e como nota de rodapé negativa
nas suas projeções de aspirações coloniais e de lucro fácil e sem fim.
[1] Os guaranis – depois
de perderem o abrigo das suas REDUÇÔES e a proteção dos JESUITAS - continuaram
tranquilos- e sem reivindicações em relação à MEMÒRIA do PASSADO PROSSEGUIRAM - o seu CAMINHO para a “TERRA
SEM MAL” ou YVY MARANE’Ý https://www.poder-originario.com/news/yvy-maraney/
[2] . LUGON, C. A República “Comunista” Cristã dos
Guaranis. Tradução de Álvaro Cabral. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1977
Fig.
12 O artista visual Plínio BERNHARDT[1]
fazia frequentes estágios estéticos nas ruínas das MISSÕES. Isto era realizado desde
a sua formação no Instituto de Artes e por intermédio da Associação ARAUJO
PORTO ALEGRE [2]
Assuas obras evocam a essência da MEMÓRIA e do SENTIDO mais nobre que a
COMPANHIA de JESUS conferia à PROPAGANDA
da FÉ em cujo nome empreendeu na vasta
campanha do Rio Grande do Sul
0.11 - A
FORMA e a MENSAGEM do projeto jesuítico missioneiro.
Admite-se a OBRA de ARTE como PRIMORDIAL e
desencadeadora de milhares de referencias que ela agregou ao longo de sua
peregrinação pelo TEMPO, por LUGARES e através de SOCIEDADES diferentes.
Necessita-se a VOZ e a VEZ da CONTEMPLAÇÃO da PRÓPRIA OBRA de ARTE face à
dialética conceitual e as suas circunstâncias no Rio Grande do Sul. Só com a
força desta concentração do olhar e da atenção mental sobre esta OBRA FÍSICA ela
adquire possibilidades de escapar da capsula conceitual que é alheia à sua
natureza. Esta OBRA de ARTE MISSIONEIRA, como PRIMORDIAL, impõe um conhecimento
objetivo do contexto de sua origem, do sentido de sua encomenda e
materialização física e única.
Esta PRIMORDIALIDADE nos faz aproximar destas
OBRAS as ARTES VISUAIS PRATICADAS nos “POVOS das REDUÇÕES”. Esta proximidade
destes objetos materiais - castigadas pelo TEMPO, pelas INTEMPÉRIES e pelos
LONGOS SILÊNCIOS - não assusta o verdadeiro pesquisador. Antes ao contrário, as
chagas, as incúrias e os longos silêncios são significativos tanto para a
origem como para descobrir o percurso de CADA OBRA de ARTE. Este frágil
vestígio - a ser examinado qual fóssil que passou milhões de anos no abandono no
lugar onde esta vida tombou - rompe os silêncios da sua origem que tornam
tênues e quase interromperam a sua DIACRONIA de sua migração até nós. A sua
DIACRONIA é precária pela falta de ASSINATURA, de CONTRATOS seguros e objetivos.
Os frágeis argumentos de origem e da intenção do autor de CADA OBRA de ARTE.
Cada aproximação, estudo e conclusão
tornam-se autoral e ao sabor das evidências percebidas, registradas e
conectadas com as redes culturais da nossa civilização. No estado que se encontram em si mesmas estas
obras são desafios e problemas que não passam de obstáculos de alerta, mas
transponíveis ou contornáveis. Como muitas destas obras tiveram o destino de algum
MUSEU[3],
esta mesma instituição as tomba, faz a sua ficha cadastral, as exibe e as
divulga com a sua a própria identidade e meios. Raras são abrigadas em MUSEUS
de ARTE. Este fato evidencia que há dúvidas nestas instituições se as “OBRAS
das MISSÕES são EXPRESSÕES de ARTE” de fato e de direito. A criação,
desenvolvimento do MUSEU[4] é
um fato recente e posterior à vigência das ARTES VISUAIS MISSIONEIRAS. No
contraditório é possível afirmar que a ERA INDUSTRIAL criou e alimentou os
MUSEUS com o objetivo de abrigar neles as obras físicas que perderam, ou estavam
em vias de perder, a sua função que tinham no período anterior.
[1] Plínio LIVI BERNHARDT
http://profciriosimon.blogspot.com/2010/09/arte-em-porto-alegre-e-historia-em.html
[2] ASSOCIAÇÁO
ARAÚJO PORTO-ALEGRE
[3] SPINELLI, Teniza
Esculturas missioneiras em museus do Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
Evangraf, 2008 105 p.
São
Francisco Xavier- - estátua missioneira do Museu Júlio de Castilhos POA-RS no dia
01 de setembro de 2016 n
Fig.
13 Ao aproximar nos e examinar de perto
o rosto da estátua de São FRANCISCO de XAVIER abrigada e cadastrada no MUSEU Júlio de CASTILHO de Porto Alegre estamos quebrando o projeto jesuítico das MISSÕES. Neste projeto esta obra foi
executada para fazer parte de um cenário
que desapareceu. Rosto concebida em diagonal e com carnação, teve ressaltado alguns detalhes significativos
que são contrastados por meio de vazios
ou “silêncios visuais” e pela madeira
bruta das florestas subtropicais.
0-12 – Um mundo hierarquizado e fechado sobre si
mesmo
A férrea disciplina da COMPANHIA de JESUS era
comandada por um projeto hierarquizado e fechado nos cânones da PROPAGANDA da
FÉ e inspirado nas COMPANHIAS MILITARES que floresciam, nesta época pela Europa
e estavam à disposição de reis e de príncipes.
As ARTES constituem EXPRESSÕES VIVAS e
SENSÍVEIS aos seus condicionamentos. No caso das EXPRESSÕES MISSIONEIRAS as
ARTES VISUAIS PERMANECERAM ENCAPSULADAS neste mundo hermético. Cercadas pelas
florestas e de grupos rivais a espreita para caírem sobre estes “POVOS de
REDUZIDOS”. A ARTE ali praticada abrigou-se em cápsulas ao modelo no OCO
das volumosas ESTÁTUAS de MADEIRA e
infensas a QUALQUER MUDANÇA de concepção ou crítica externa .
No
contraditório as FORMAS de EXPRESSÃO MISSIONEIRAS das ARTES tinham um forte
componente indígena, tradicional e subliminar e diferente do projeto
hierarquizado e fechado nos cânones da PROPAGANDA da FÉ.
Esta PROPAGANDA da FÉ entendeu e se valeu da
milenar e ininterrupta tradição indígena do fechamento social sobre o clã de
origem, o mando inconteste e absoluto do cacique e o distanciamento de qualquer
mudança ou aproximação aos estranhos à sua tradição e também hierarquizada em
paradigmas ritualizados.
O interregno no qual se inscrevem a ARTES
VISUAIS MISSIONEIRAS houve um pacto e um contrato no qual os dois lados cediam
algo próprio. Contrato pactuado entre os rígidos JESUITAS e os CACIQUES que
permaneciam no mando de seus clãs. Produziu-se uma terceira realidade frágil,
artificial e precária.
Rompido, este pacto e contrato, desapareceu
esta terceira realidade. O jesuíta e
indígena seguiram para a sua origem. Nenhum dos dois lados reivindicou a posse
ou a guarda das OBRAS de ARTES VISUAIS que haviam produzido em conjunto,
muito menos a abrigaram sob seus cuidados.
Para a mentalidade indígena - despida de
qualquer posse individual - restou o longo e penoso caminho para as “TERRAS SEM
MAL”. Atravessaram assim a ERA INDUSTRIAL e na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL estão
sentados nas calçadas urbanas e obedientes aos caciques e as tradições
profundas dos seus clãs hierarquizados em paradigmas ritualizados. Entre eles
desapareceram completamente os traços da ARTE MISSIONEIRA e sem volta. O jesuíta,
quando foi expulso da civilização europeia, refugiou-se na Rússia profunda. Retornou
com projetos que em nada lembram as suas REDUÇÕES e os seus TRINTA “POVOS” que floresceram na bacia dos afluentes do Rio
da Prata.
ESTÁTUAS
MISSIONEIRAS do MUSEU JÚLIO DE CASTILHOS no dia 01 de setembro de 2016
Fig.
14 - Ao contornar as estátuas de madeira elas se revelam ocas. As mentes mal
informadas e maliciosas imediatamente- e sem exame ou prova alguma - afirmavam
que eram esconderijos e lugar de transporte dos “tesouros dos jesuítas”. Eventualmente
até podem terem usadas mas pelas mãso do caluniadores, No entanto a explicação destas
imagens ocas é devido às madeiras das florestas úmidas e subtropicais fornecem
madeiras muito resinosas e que se fragmentam e racham, as longo da secagem e
assim se forem mantidas maciças. Outro objetivo era facilitar o seu
transporte e exibição em procissões e cerimonias ao ar livre. Como peças de teatros
religiosos podiam abrigar pequenos autores e que as faziam falar conforme um
roteiros.
0-13 Tentativas
de institucionalizar a memória do projeto jesuítico missioneiro A intervenção do Estado Brasileiro em nome do
Patrimônio Nacional.
As obras das ARTES VISUAIS MISSIONEIRAS
permaneceram ao relento e abandono entre os anos de 1750 e 1937. Neste longo
período não há registro de tentativas de estudo e muito menos algum esforço de
salvá-las das intempéries.
Atualmente são PATRIMÔNIO da
HUMANIDADE.
As autoridades eclesiásticas brasileiras não
esboçaram qualquer politica de estudo, de identificação, catalogação ou
reivindicação do todo ou de alguma parte disto que é atualmente patrimônio da
Humanidade. Autoridades intimamente associadas ao ESTADO NACIONAL até o final
do Regime Imperial brasileiro do qual eram servidores remunerados.
O Estado Nacional Brasileiro esboçou alguma
iniciativa prática na sua preservação após a Revolução de 1930 e com o
presidente originário de São Borja. Foi uma das iniciativas pioneira do
“SERVIÇO do PATRIMÔNIO HISTÓRICO e ARTÍSTICO NACIONAL” e tomou corpo, em 1937,
sob o comando de Lúcio Costa, futuro urbanista de Brasília. Escolheu-se a RUÍNA
da IGREJA de SÂO MIGUEL. Esta foi completamente desmontada, as pedras numeradas
e posteriormente remontadas uma a uma no seu lugar original.
Ao pé
desta ruína preservada ergue-se o MUSEU[1] numa
réplica das casas das Missões e que recebeu as estátuas ainda conhecidas.
ESTÁTUA
MISSIONEIRA do MUSEU JÙLIO DE CASTILHOS no dia 01 de setembro de 2016
Fig.
15 A imagem de Nossa Senhora da CONCEIÇÃO, era para Flavio de Carvalho a representação da fertilidade feminina
expressa nos anjinhos que emergem sob a suas vestes, Do lado indígena a representação
da FERTILIDADE FEMININA era a materializada na “ PACHÃ MAMA”. Nesta imagem é visível a
incorporação visual e plástica do rosto indígena e os longos cabelos lisos e
negros desta etnia.
0-14 - Um BEM SIMBÓLICO como IDENTIDADE e de PATRIMÔNIO da HUMANIDADE.
A ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL vem se firmando
técnica e conceitualmente após a IIª GUERRA MUNDIAL. Esta ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL
entendeu os perigos de uma RAZÃO armada até os DENTES com ARMAS que PODEM
LIQUIDAR SETE VEZES a VIDA em TODO PLANETA.
A ONU através da UNESCO trabalha para
mostrar o lado positivo que esta mesma RAZÃO HUMANA pode implementar por meio
de motivações CIVILIZATÓRIAS tendo por BASE a ARTE, a CULTURA e a EDUCAÇÃO
MUNDIAL.
As abandonadas, desgastadas e depredadas RUINAS das MISSÕES certamente não rivalizam, em
si mesmas, com a moda fugaz das maravilhas tecnológicas Nem podem e nem querer
torrentes de turistas consumistas onde cada um deseja levar um pedaço original.
Assim se impõe o plano ideal do CONHECIMENTO sua
origem, da VONTADE deu esplêndido florescimento num lugar inesperado e os
SENTIMENTOS HUMANOS diante de sua abrupta e inesperada decadência.
Os
vestígios, que restaram das ARTES VISUAIS PRATICADAS na MISSÕES do Rio Grande
do Sul, prometem uma sobrevida como FORMAS de EXPRESSÃO de um potencial humano
que se nasce e desabrocha em ambientes adversos, com um povo ainda preso a
muitos aspectos das forças primitivas e
sem minas de ouro e de prata
Se as ARTES dos POVOS da REDUÇÕES não tiveram
GRATUIDADE e LIBERDADE ao longo de sua produção e vigência. Na ÉPOCA
PÓS-INDUSTRIAL e após o desaparecimento destas condicionantes nada impede
atingir o MUNDO SIMBÓLICO.
Neste imenso campo
de FORMAS de EXPRESSÃO
São Francisco
Xavier- - estátua missioneira do Museu Júlio de Castilhos POA-RS no dia 01 de
setembro de 2016
Fig.16 A MUSEIFICAÇÂO
das OBRAS da ARTE MISSIONEIRA não possui um PROJETO e muito menos uma UNIDADE
CONCEITUAL e MUITO DISTANTE de uma IDENTIDADE PRÓPRIA e ESPECIFICA O
que restou ainda está no processo de migração da propriedade privada para
instituições mais ou menos publicas. Com a perda de sua função primeira e pelo
desinteresse secular das esferas eclesiásticas passaram para típicas peças de museu e se
inscrevem no acervo das obras que vieram da época agrícola postoril, foram
identificadas pela ERA INDUSTRIAL como peças que perderam sua função. Na
ÈPOCA PÒS-INDUSTRIAL são vista como BENS SIMBÒLICOS e PATRIMONIAIS
0-15 Os IMPASSES e os PROBLEMAS que as OBRAS MISSIONEIRAS terão de ENFRENTAR
no FUTURO PRÓXIMO ou REMOTO.
O acúmulo de peças exóticas que a ERA
INDUSTRIAL acumulou em ACERVOS, MUSEUS e INSTITUIÇÕES atinge tradicionais
culturas colonialistas que percebiam como troféus de conquista as ARTES dos povos
que colonizavam, Troféus dos dominados e
uma extensão do seu poder político e econômico mas do qual faziam questão de desconhecer
a sua origem e a profunda carga simbólica destes povos dominados.. Com a descolonização
e a retomada das soberanias nacionais estas mesmas antigas colônias percebem
uma época de opróbrio e de heteronomia de suas vontades, inteligências e
sentimentos. Este tabu está distante de ser vencido por uma consciência e uma
identidade coletiva. Esta consciência coletiva jamais foi permitida ais nativos
pelo colonizador. Além de manter a COLONIA FECHADA SOBRE SI MESMA e APENAS
ABERTA para o CONTROLE da METRÓPOLE promoviam sistemáticas DIVISÕES entre
ESCRAVOS e DOMINADOS. Para tanto promoviam festejos, eventos e hábitos alienantes
de sua férrea dominação colonial.
As OBRAS PROVENIENTES das MISSÕES resultaram
dos hábitos alienantes e são expressões de cultos, de festejos, de eventos e da férrea dominação
ideológica e do controle externo. O silencia e o abandono, ao longo de dois
séculos, permitiram que se dissipasse a memória direta desta dominação.
Permanece um acúmulo desordenado de OBRAS
MISSIONEIRAS que migraram por um comércio desordenado e pouco rastreável de um
nutrido MERCADO de ARTE. MERCADO movido pior interesses patrimoniais de peças
exóticas e sem conexão com a sua origem e caminho realizado até chegar e este
proprietário especulador
O ESPAÇO VIRTUAL oferecido pelas atuais culturas
dominantes poderia realizar este cadastramento e ordenamento daquilo que
restou das OBRAS MISSIONEIRAS e a descrição das CONDIÇÕES nas QUAIS se
ENCONTRAM. No contraditório a CULTURA
BRASILEIRA e SUL-RIO-GRANDENSE são MEROS USUÁRIAS destas ferramentas e usinas
de armazenamento de dados situadas em terras estranhas. Repetem-se assim os
MUSEUS COLONIAIS.
EXPOSIÇÃO das
OBRAS das MISSÕES no MARGS set. 2000[1]
Fig.
17 – O MUSEU de ARTE do RIO GRANDE do
SUL não possui um acervo de obras da ARTE MISSIONEIRA. No entanto presta o seu prestígio
e equipe de museológica de pesquisadores
e a ajuda da sua ASSOCIAÇÇAO de AMIGOS e
seus apoiadores financeiros para apresentar didaticamente e destacar
devidamente estas obras icônicas deste passado sul-rio-grandense Ao mesmo
tempo sedimenta o espaço conceitual com a passagem de pesquisadores que tem por
objeto este estudo além de renir pessoas interessadas em conhecer in loco este
passado
0.15 A esperança republicana em GRUPOS de PESQUISA
com projetos voltados para as ARTES MISSIONEIRAS
Na medida em que as praticas dos ESTADOS
NACIONAIS estão se inviabilizando pelo acúmulo de uma fé cega e irracional num
centralismo absurdo e administrável, rebrotam pequenos grupos civis. Estes
organizam-se sob a proteção do regime republicano em instituições reconhecidos
e legitimados e tomam vida para exercer estudos críticos das ARTES VISUAIS das
MISSÕES do Rio Grande do Sul.
Estudos crítico exercidos por grupos
legitimados por programas de graduação, de pós-graduação, museus, instituto
municipais ou da iniciativa com o apoio de algum anfitrião e mecenas
ilustrados.
Certamente não há novidades nisto na medida em
que este patrimônio se formou a margem dos ESTADOS NACIONAIS IBÉRICOS. No Rio
Grande do Sul republicano a primeiro INSTITUTO de ARTES foi sustentado por uma
Comissão Central e por 63 Comissões regionais espalhadas em todo território estadual.
Em 1957, o professor Ado MALAGOLI ao inaugurar a primeira sede do MARGS para o
qual criou
uma Associação dos Amigos do Museu. O objetivo era a aquisição de obras
valiosas e de interesse às Artes do Rio Grande, mediante a cooperação destes
associados. No entanto, até o presente, não consta no acervo do MARGS nenhuma OBRA autêntica e original PROVENIENTE das MISSÕES
O
que se defende aqui são PROJETOS CIVILIZATÓRIOS COMPENSADORES da VIOLÊNCIA que
o ESTADO se veja COMPELIDO a USAR POR DELEGAÇÃO e CONTRATO com o seu CIDADÃO.
Distingue-se a ingerência e administração burocrática do ESTADO nas ARTES, da
delegação e garantia legal da LIBERDADE dos seus CIDADÃOS em PESQUISA ESTÉTICA PERMANENTE, a ATUALIZAÇÃO da sua INTELIGÊNCIA convergindo para a FORMAÇÃO de uma
CONSCIÊNCIA e de uma IDENTIDADE COLETIVA por MEIO de AUTÊNTICAS OBRAS de ARTE.
[1] EXPOSIÇÃO de
ARTE MISSIONEIRA no MARGS http://profciriosimon.blogspot.com/2015/06/arte-no-rio-grande-do-sul-04.html
SESSÃO do GRUPO
de PESQUISAS da AAMARGS no dia 01 de setembro de 2016 com o tema ESTATUAS MISSIONEIRAS do MUSEU JÚLIO DE
CASTILHOS
Fig.
18 - Um flagrante do GRUPO de PESQUISAS da AAMARGS em ação numa visita ao
MUSEU JÚLIO de CASTILHOS. Ao centro do GRUPO está Luiz Inacio MEDEIROS, tendo ao seu lado
direito Tenisa SPINELLI e ao lado esquerdo Flavio Gil Medeiros foi diretor
doa Museu Jíulio de Castilhos e do mARGS,, SPINELLI escreveu um livro das obras
MISSINEIROS que constam em Museus do Rio Grande do Sul enquanto GIL está
desenvolvendo um tese de doutorado no Rio de Janeiro e com tema da ARTE MISSIOINEIRA..
0-16 Síntese da postagem
Na
síntese - realizada sob as influências
da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL e dos seus meios tecnológicos - os índices das ARTES
VISUAIS do período MISSIONEIRO do Rio
Grande do Sul – permitem ter e manter a dialética entre o que se PRETENDE como
SÓLIDO e ETERNO ei que OIDE SER DESACATADO e ESQUECIDO. O que PERMANECE da UMA CIVILIZAÇÃO são as suas OBRAS de ARTE Como todo este conjunto sempre está
ameaçado de DESMANCHAR no AR - na hora
mais inesperada e sob os argumentos os mais absurdos e improváveis
- existe um imenso trabalho para colocar
as OBRAS
MISSIONEIRAS à margem deste processo
entrópico.
Garantir-lhes um trânsito interno e além-fronteiras do RIO GRANDE do SUL. Trata-se de descobrir, entender, catalogar e garantir uma sobrevida aquilo que,
alguma vez, foi alma e carne. Ao AUTÊNTICAR estas OBRAS MISSIONEIRAS
como ARTE estão aptas para colaborar positivamente para a IDENTIDADE COLETIVA
sul-rio-grandense e além-fronteiras.
No passado estas PRÁTICAS e OBRAS tinham compromissos
sérios, com realidades externas à ARTE. Atualmente
estas mesmas FORMAS de EXPRESSÃO gozam de LIBERDADE, de GRATUIDADE própria de
um MUNDO SIMBÓLICO.
A ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL anuncia o MUNDO
SIMBÓLICO a ser implementado em instituições locais, municipais, estaduais,
nacionais e internacionais abalizadas pela UNESCO[1]. Figuram
também - nesta ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL - as ARTES VISUAIS do período MISSIONEIRO
do atual Rio Grande do Sul
FONTES BIBLIOGRÀFICAS
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COSTA Lúcio ARQUITETURA
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Ministério da Educação, Cultura e Saúde Publica
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ISABELLE Arsène.(1806-1888) Viagem
ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul / Arsène Isabelle ; tradução e nota
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LEON, Aurora. El Museu: teoria, práxis y
utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.
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SOUZA CAMPOS, Ernesto. Educação
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SPINELLI, Teniza Esculturas missioneiras em museus do Rio
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HAMERMULLER, Luiz et KUIAVA, José O CACIQUE ÑHEÇU ÀS VISTAS DA
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2017
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
COMPANHIA de JESUS
OS JESUITAS e as
sua ESCOLAS e REDUÇÔES
Ñheçu
VISTA de uma MISSÃOJESUÌTICA
BIOMA do PAMPA
SUL-RIO-GRANDENSE
ESCULTURA MISSIONEIRA
SÂO BORJA MUSEU
MISSIONEIRO SILVA RILO
BRASANELLI na
ARTE MISSIONEIRA
JOSE BRASANELLI
PINTURA
MISSIONEIRA
ESCULTURA MISSIONEIRA
Plínio LIVI
BERNHARDT
ASSOCIAÇÁO ARAÚJO PORTO-ALEGRE
YVY MARANE’Ý ou “TERRA SEM MAL” da
mitologia GUARANI
MUSEU de SÂO MIGUEL
Redução de San
Ignacio MINI
+
Lendas e mitos
dos Tesouros dos Jesuítas https://www.youtube.com/watch?v=asTEQvOjp10&feature=youtu.be
A ENCICLOPÈDIA
FRANCESA como PRODUTO e PRECURSORA da ERA INDUSTRIAL https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12800/1/José%20M.Amado%20Mendes%2023.pdf
REPRESENTAÇÂO da
UNIESCO no BRASIL http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/jesuit-missions-of-the-guaranis/
VEJA NESTE BLOG SOBRE O MESMO TEMA
EXPOSIÇÂO de ARTE
MISSIONEIRA no MARGS http://profciriosimon.blogspot.com/2015/06/arte-no-rio-grande-do-sul-04.html
ICONOGRAFIA MISSIONEIRA
SUL-RIO-GRANDENSE.
CONTINUAÇÂO e COMPLEMENTO 02 -o projeto civilizatório jesuítico
no Rio Grande do Sul
[1] REPRESENTAÇÂO da UNIESCO no BRASIL http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/jesuit-missions-of-the-guaranis/
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