O MITO na ARTE NEOCLÁSSICA até a
PÓS-INDUSTRIAL.
00 – DONDE VIEMOS?
O QUE SOMOS? PAR ONDE VAMOS? - 01 – ERA INDUSTRIAL REINVENTA e RENOVA o MITO - 02-
– A AFIRMAÇÃO e a NEGAÇÃO do MITO na
DIALÉTICA da FABRICAÇÃO e OBSOLESCÊNCIA
PROGRAMADA da ERA INDUSTRIAL - 03 O ARTISTA ENCANTADO com as MAQUINAS 04 - O ARTISTA do ROMANTISMO PERCEBE as suas
PERDAS. - 05 – NATURALISMO e REALISMO e
encanto do ARTISTA com as
CIÊNCIAS e os seus MITOS – 06 – O IMPRESSIONISMO busca a IDENTIDADE dos seus MEIOS PICTÓRICOS com os SEUS PRÓPRIOS MEIOS - O7
O PÔS IMPRESSIONISMO e os TRÊS ARTISTAS BASILARES da ARTE do SECULO XX – 08 –As PROPOSTAS RADICAIS do FUAVISMO, CUBISMO e FUTURISMO -
09 – A I GUERRA
MUNDIAL faz desmoronar EXPRESSÕES CULTURA OCIDENTAL
- 10 – A TENTATIVA FRUSTRADA da VOLTA À ORDEM na ARTE–
11- A EPOCA PÒS INDUSTRIAL emerge da II GUERRA MUNDIAL
GAUGUIN Paul -(1848-1903)[1] - Donde
Viemos - O que Somos - Para Onde Vamos. 1897
Fig.01
– A IMAGEM da OBRA de GAUGUIN
resultou do ESPANTO deste EUROPEU diante MITOLOGIA dos INDÍGENAS da
POLINÉSIA Esta Mitologia Indígena
- em rápida entropia diante da avassaladora cultura hegemônica da
ERA INDUSTRIAL - ainda teve o dom d despertar as interrogações
básicas de todas as civilizações o “Donde
Viemos - O que Somos - Para Onde Vamos”
que o arista salvou sobre o pano de uma veleiro naufragado.
00 - DONDE VIEMOS? - O QUE SOMOS? - PARA ONDE VAMOS?
Até o presente três
perguntas de PAUL GAUGUIN - lançadas de uma ilha solitária do Oceano Pacífico
- não encontraram respostas ou, então,
tiveram hipóteses muito distantes de qualquer consenso
Fig.02
–
A MITOLOGIA EUROPEIA nos pinceis de um artista do iluminismo europeu
A
Enciclopédia Francesa havia banido de suas páginas a Teologia e
qualquer referência religiosa.
Os mitos gregos não tinham nenhuma pretensão teológica. Assim
foram confiados à HISTORIA. A A Ciência do artista consistia em
estudo anatômico, encontrar uma semiótica adequado a HISTORIA
CONHECIDA na ÉPOCA e vestir os seus personagens com o planejamento
colorido fabricado na nova ERA INDUSTRIAL NASCENTE
1
Antonio Raphale MENGS
https://www.wikiart.org/pt/anton-raphael-mengs/all-works#!#filterName:all-paintings-chronologically,resultType:masonry
Evidente que a função de uma pergunta, de um
problema ou de uma tese, NÃO é encontrar uma resposta unívoca, linear,
reversível a contento de quem a formulou. A função primordial é fazer andar o
SER[2]
HUMANO na busca de uma resposta. No entanto, o maior benefício é o de desgrudar
este SER HUMANO do conforto do seu próprio repertório, fazê-lo caminhar em
outras sendas e verificar que as PALAVRAS podem se revestir de MILHARES de
OUTROS SENTIDOS e SIGNIFICADOS além dos habituais.
[2] HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da
Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5
George
CRUIKDHANK –(1792-1878) Monstruosidades de 1822.b cor j
Fig.03
–
Indiferentes a ESTÁTUA NUA CLÁSSICA a sociedade da PRIMEIRA ERA
INDUSTRIAL apresenta as extravagâncias da sua moda resultante dos
tecidos fabricados pelos primeiros teares industriais da Inglaterra
A
imprensa indústria ao mesmo tempo que projetava estas extravagâncias
da moda fazia uma bem-humorada crítica destes novos tempos
01 - – A ERA
INDUSTRIAL REINVENTA se RENOVA o MITO
O desafio do problema das três perguntas de PAUL
GAUGUIN - lançadas no final século XIX de uma ilha solitária do Oceano Pacífico
- permite uma revisão das sucessivas tendências estéticas do século XIX que
buscaram a hegemonia, a atenção do público e, ao longo do século XX, a continuidade das especulações dos
historiadores de Artes Visuais ao redor
do seu objeto de estudo.
As tendências estéticas do século XIX ganharam sólidas bases científicas, marketing e
reforço na audaciosa ascensão do NOME do ARTISTA. Este NOME do ARTISTA foi um
objeto preferencial do MARKETING e PROPAGANDA da ERA INDUSTRIAL. Este NOME do ARTISTA
recebeu emprestado muito da força do MITO reforçado ao longo das sucessivas
tendências estéticas do século XIX que culminou com a obra de GAUGUIN pintada
em 1897. A MITIFICAÇÃO saturante do ARTISTA recebeu os louros e auréola de
GÊNIO sob o pedestal científico e técnico da ERA INDUSTRIAL. Este MITO
conhece uma rápida sucessão de NOMES. Estes são esquecidos na etapa
seguinte. Porém o mais das vezes são execrados - pela tendência estética subsequente - como
heresias estéticas e danosas para o PROGRESSO ILIMITADO e LINEAR da ARTE. Na
verdade, são apenas MANIFESTAÇÕES PONTUAIS da ARTE que se desenvolve sob as
forças da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA inerente as máquinas da ERA INDUSTRIAL
Joseph WRIGHT of DERBY (1734-1797)
- O vácuo[1]
ig.04
–
O espanto e horror da criança ao ver morrer uma pomba na campânula
de vácuo evidencia uma experiência com o VÁCUO conduzida por
ISAAC NEWTON no âmbito da CLUBE da LUA CHEIA
A FORÇA das MAQUINAS INDUSTRIAIS irá reforçar o MITO do ESPANTO
e HORROR pela será rapidamente adotado pelos exércitos. Este
exército continua a promover guerras de extermínio massivo em
sucessivas guerras. As suas armas serão provenientes de laboratórios
e de sofisticadas máquinas que fabricam armas cada vez mais letais.
Nunca se fabricou alguma arma que não fosse usada contra algum
inimigo.
02 - – A ERA INDUSTRIAL AFIRMA e a NEGA o MITO na DIALÉTICA da
FABRICAÇÃO e da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA
Uma vez desencadeado o PROCESSO INDUSTRIAL as
MÁQUINAS NÃO PODEM PARAR, sob pena da FALÊNCIA de TODO SISTEMA. Neste SISTEMA a
entrada, o desenvolvimento e a saída dos PRODUTOS são continuados e constantes.
O CONSUMO dos PRODUTOS das MÁQUINAS também deve ser constante e
preferencialmente em escala de expressivo aumento. Neste aumento entram
MÁQUINAS de nova geração que tornam obsoletas as antigas junto com os seus
produtos. Neste PROGRESSO CONSTANTE é necessário desqualificar e tornar
obsoleto e ridículo do estágio anterior.
A
INGLATERRA foi o berço da “CIÊNCIA do FOLCLORE” proposta por WILLIAM TOMS em
1846. O objeto desta “CIÊNCIA” era estudar a “MITOLOGIA ou CIÊNCIA do POVO”.
Porém com objetivos um pouco claros e éticos. Na prática esta “CIÊNCIA do POVO”
servia muito bem para a indústria têxtil inglesa para “inventar” diversos
padrões de tecidos específicos e diferentes para cada clã britânico. Este
experimento doméstico se expandiu mundo afora com amplos e fantasiados trajes e
roupas que consumiam o maior número possível de metros dos tecidos fabricados
nos teares ingleses.
A indústria inglesa fabricou, numa destas
ocasiões de um potencial negócio, uma partida de bombachas para o exército
turco em luta na ilha da CRIMEIA. No entanto, esta guerra terminou antes do
previsto. Os ingleses trouxeram estas bombachas para MONTEVIDÉU. Com muita
propaganda e marketing as impuseram aos nativos gaúchos. Os ingleses e os
comerciantes, sob o seu controle, justificavam e alegavam que os gaúchos
platinos eram descendentes legítimos e diretos dos beduínos e bérberes que
ocuparam a Península Ibérica em tempos remotos. Assim o gaúcho autêntico teve os
seus tarjes tradicionais desqualificados substituídos por BOMBACHAS, CAPAS de
FELTRO e de PALAS INDUSTRIAIS ingleses. As damas foram vestidas com SETE SAIAS
de PRENDAS.
Em
resumo uma das características da ERA INDUSTRIAL é a CRIAÇÃO e o imediato
DESCARTE POSTERIOR desta mesma CRIAÇÃO com o objetivo de não aconteça que “as
MÁQUINAS PAREM” [2].
O COLAPSO e o FIM da FÁBRICA.
A
ARTE - com suas tendências estéticas, obras[3] e “GÊNIOS” inventados - não escapou deste processo dialético entre a CRIAÇÃO e
IMEDIATO DESCARTE POSTERIOR. Ao longo do século dezenove as tendências
estéticas se sucederam e se devoraram. A primeira tarefa, destas tendências,
foi a de desqualificar cada uma das obras e os “GÊNIOS” da etapa anterior.
[1]
EXPERIÊNCIA com o VÀCUO https://www.researchgate.net/figure/Figura-7-Detalhe-do-quadro-Experimento-com-um-passaro-na-bomba-de-vacuo-1768-do_fig6_275833065
[3] Segue-se a distinção entre OBRA diferente de TRABALHO
conforme
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de
l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983. 369 p.
- Guillaume HARANG CABASSON - Apoteose de Napoleão III - 1854 b
Fig.05
–
A MITIFICAÇÃO de NAPOLEÃO III da França convoca todo o OLIMPO
GREGO e o tio NAPOLEÃO BONAPARTE que assiste e aprova a cena sob a
sua ÁGUIA ROMANA A
fabricação de uma vasta galeria de grandes painéis patrióticos
atingiu todas as nações da época. No Brasil as obras de Vitor
MEIRELES e PEDRO AMÉRICO se inscrevem neste projeto de produzir
estas “MAQUINAS PINTADAS” com claros objetivos de marketing e
propaganda do ESTADO NACIONAL dominado pela ERA INDUSTRIAL.
Segue assim a lógica de manter as máquinas em
constante produção. Com o objetivo de NÃO PARAR a PRODUÇÃO das MÁQUINAS a ERA
INDUSTRIAL desqualifica a MODA da estação anterior. A cada nova tendência
estética que comanda estas máquinas segue-se outra que inicia por descartar e
desqualificar tudo aquilo que a anterior produziu.
George CRUIKDHANK -1792-1878
Detalhe da pintura “A Obra de Baco”
Tate Galeri[1]
Fig.06
–
O artista inglês George CRUIKDHANK exalta “OBRA de BACO” no meio
do MITO das chaminés fumegantes e o lendário FOG LONDRINO que
desaparecerem na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL e despoluição do Rio TÂMISA.
A
ERA `do TRIUNFO da MAQUINAS usou e abusou do MITO dos DEUSES GREGOS e
os reproduziu a sua imagem estereotipada em escala INDUSTRIAL
03 - – O ARTISTA ENCANTADO com as MÁQUINAS.
Com a ERA INDUSTRIAL desaparece a sazonalidade e
as estações do ano são tornados uniformes sem deixar repousar a terra. O dia
invade a noite e as cidades cintilam e pulsam sem descanso ou trégua.
Num primeiro momento o ARTISTA se ENCANTA com as MAQUINAS O POLÍTICO cria ESTADOS NACIONAIS ADEQUADOS às EXIGÊNCIAS das MAQUINAS. O EDUCADOR instaura MÉTODOS e TÉCNICAS para CONDICIONAR ao AMBIENTE FABRIL as
NOVAS GERAÇÕES.
A invenção da fotografia, as tintas
prontas em bisnagas, as sucessivas técnicas de impressão e multiplicação
mecânica das IMAGENS são paralelas ao desenvolvimento das comunicações
terrestres e marítimas enquanto o telégrafo possui cada vez maior alcance e penetração
mundial.
Gaspar David FRIEDRICH
1774-1840) Vista por cima das nuvens 1817 FRANKFURTER ALLGEMEINE 30.05.2018
Fig.07
–
O artista voltou-se para a pintura da PAISAGEM. O pintor fixava na
tela a NATUREZA que o seu semelhante ainda não havia ocupada e
depredada. PAISAGEM comprometida com a DESTRUIÇÃO e desqualificação
do MEIO AMBIENTE causada pela fétida poluição das máquinas da ERA
INDUSTRIAL. O indivíduo busca erguer-se acima das montanhas onde
antes acreditava ser a morada dos deuses. Deste omito do ÍCARO
sonhava elevar o seu corpo, acima das nuvens com os os aparelhos
industriais e rumar para o espaço externo.
Esta “PINTURA da PAISAGEM NÃO MAIS EXISTENTE” firmou-se com a
tendência romântica e atravessou o século XIX. Este MITO foi
renovado e cultivado constantemente levou aos esforços para atingir
a técnica industrial com a criação e uso da fotografia
04 - O ARTISTA do ROMANTISMO PERCEBE as suas
PERDAS –
Com a massificação, acumulação e a produção em
série o ARTISTA do ROMANTISMO começou a PERCEBER
as suas PERDAS com esta ESCOLHA Começou
a se conta de que nenhum homem é uma ilha ao estilo do Róbinson CRUSOÉ e do
posterior Pequeno Príncipe de Sant-Exupéry. Porém em vez do aceitar o senso
comum começou a erguer catedrais na tipologia gótica que clamar aos seus ou
mantar castelos medievais como o NEUSCHWANSTEIN de Ludovico II.
As pinturas de Eugêne Delaccoix mostram estes
indivíduos lutando contra a inexorável socialização e a invasão do seu
imaginário.
O mestre Jacob Christoph BURCKHARDT
(1818-1897)[1]
da
nascente disciplina acadêmica de HISTÓRIA da ARTE:
“ discordava
da história compreendida a maneira Hegeliana e rejeitava todo o tipo de
teorização filosófica sobre o curso da história. Sobre a filosofia de Hegel, o
historiador, em uma carta escrita para o jovem estudante Albert Brenner, em
1865 - alguns anos antes da publicação do “Reflexões sobre a História Universal”
- adverte: “ela é como uma droga no mercado, deixe-a ficar onde está.”[2]
(in PEREIRA ARAÚJO, 2014 p. 15)
BURKHARDT
acreditava na potencialidade da OBRA de ARTE ORIGINAL. Para ele, esta OBRA de
ARTE ORIGINAL, exercia um poderoso
impacto sensorial e que era o fundamento neste campo em formação. Ele reagia contra
a invasão do seu imaginário individual singular e contra estéticas estranhas
que tentavam colonizar o objeto de sua percepção e de estudo. De BURCKHARDT
permaneceu o princípio geral de que a OBRA de ARTE é PRIMORDIAL e vem colocada antes
do discurso, da narrativa ou da especulação estética e filosófica.
A busca da AUTONOMIA do EU ROMÂNTICO estava, na
época de BURCKHARDT. em pleno processo e afirmação erudita, mesmo nas CIÊNCIAS.
AUTONOMIA que significava distinguir-se e separar-se do conforto da Estética de
Hegel já está fora assimilada e marcada pela dialética entre o ideal e a
prática atingindo os níveis mais baixos da intriga conceitual. Intriga fonte e
motivação dos eternos processos de desqualificação das tendências estéticas
anteriores com o firme propósito de um novo poder, um outro começar onde se
torna necessária a morte do pai REI e a posse da mãe ARTE no eterno do mítico
complexo ÉDIPO.
No contraditório muita
coisa que não pode ser dito e mesmo representado pela IMAGEM e do qual o NATURALISMO e o REALISMO se encarregaram de trazer
ao mundo
[2]PEREIRA ARAÚJO Ana Carolina - Entre a História e a Arte: Considerações
sobre a apreensão do conhecimento histórico na obra de Jacob Burckhard Rio
de Janeiro: PUC-RIO, Dissertação, 2014
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25078/25078_1.PDF + https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25078/25078_3.PDF
SPITZWEG Carl - 1808-1886 Der_arme_Poet_(Neue_Pinakothek)
Fig.08
–
Outra tendência romântica concentrou-se no EU do artista criador
que aspirava ao título de “GÊNIO” revelado e divulgado pelas MÁQUINAS da ERA INDUSTRIAL. Esta
tendência EGOCÊNTRICA do ARTISTA CRIADOR SOLITÁRIO foi duramente
atacada por artistas e críticos e caricaturista como Carl SPITZWEG
implacável com o poeta romântico cuja grande façanha é caçar uma
das suas numerosas pulgas...
..
05 - NATURALISMO e REALISMO e reencantam o ARTISTA com as CIÊNCIAS e os
seus MITOS–
Os estudos sociais e naturais continuaram o seu
caminho aberto e municiados pela ERA INDUSTRIAL. As CIÊNCIAS e as PESQUISAS
continuadas da natureza levaram para o Evolucionismo de Darwin. Enquanto isto
filósofos, artistas, sociólogos e historiadores apontavam para formas políticas novas nas quais o POVO,
as massas urbanas aglomeradas pela ERA
INDUSTRIAL e o mercado de produtos ganhavam novas expressões fazendo brotar novos proventos e organizações
sócias[1]
.
[1]MOUNK. Yascha (1982 - ) O
povo contra a democracia: por que nossa Liberdade corre perigo e como salvá-la (1ª ed.) São Paulo: Companhia das Letras , 2019, 443 p. ISBN
978-85-359-1208-9
Leon FRÉDÉRIC
(1856-1940) Les Ages de l'ouvrier belges 1895 óleo - laterais 163 c 95 cm
central 163x 187 cm
https://www.histoire-image.org/fr/etudes/ouvriers-belges-vus-leon-frederic
Fig.09
–
O MITO das MASSA HUMANA como origem, razão de ser e destino de todas
as coisas encontrou expressão no SOCIALISMO, COMUNISMO e POSITIVISMO
do século XIX. Religiões, ideologias e projetos políticos tiravam
deste MITO POPULISTA a sua força e razão de serem. Na
contramão a CIÊNCIA, a TÉCNICA e a ECONOMIA resistiam e este
POPULISMO que se dizia NEUTRO
A possibilidade da VIDA ao AR LIVRE (PLEIN AIRE)
tornou-se uma forma de escapismo destes aglomerados urbanos, sociais e
econômicos coerentes com a ERA INDUSTRIAL. As praias, os sitos de lazer, as
regatas e cavalgadas começaram a inspirar os artistas impressionistas em
rápidas fugidas aos campos e às águas.
Este momento fugazes e únicos necessitam de uma
estética nova. Os esboços tornaram-se obras definitivas na medida que o projeto
destes pintores era captar somente a luz, a atmosfera e as cores que se
apresentavam para a retina humana em constante mudança.
Não concorriam com a câmara fotográfica, pois
esta não deliberava e nem decidia por si mesma. Muito menos era autônoma para
se deslocar por seus próprios meios e selecionar, por ela mesma, o objeto de
sua obra.
Claude MONET (1840-1926) Impressão ao
Nascer do Sol1872 Óleo sobre tela -48x63 cm
Fig.10
–
Os pintores impressionistas voltaram-se para as suas tintas e pinces.
Sem se entregar a qualquer especulação metafísica extraiam os
efeitos visuais que podiam captar com estes precários, pobres e
limitados meios. Pintores
que se porfiavam em registrar o instante passageiro pelos seus meios
pictóricos As séries das catedrais de Ruão - pintados por Claude
MONET1
- evidenciam estes instantes únicos e sem fundo no qual o artista
tinha oportunidade de mostrar que a ARTE ESTÁ em QUEM PRODUZ e PINTA
o INSTANTE do qual as obras são apenas documentos de algo que não
volta mais.
06 - O IMPRESSIONISMO busca a IDENTIDADE os
SEUS PRÓPRIOS MEIOS PICTÓRICOS–
Os pintores impressionistas foram construindo os
fundamentos estéticos novos por meio da força da sua escolhas, deliberações e
decisões daquilo que podiam levar para o quadro e o que deveria ser ignorado e
não representado.
Esta autonomia estética os colocou os fundamentos
das escolhas posteriores de outras gerações de artistas e das mais variadas
propostas, tendências e estéticas posteriores.
Paul CÉZANNE – banhistas
Fig.11
–
A obra de Paul Cézanne1
é uma série antítese à fragmentação e à dissolução das
formas na construção de quadro. Para compor os seus quadros buscou
sólidas e racionais formas plásticas colocou todas as sua energia,
dinheiro e tempo nesta longa e incompreendida busca pictórica. Esta
busca foi descoberta pelo jovem espanhol Pablo Picasso e se tornou
basilar para todas as tendências estéticas formalistas e
construtivistas do século XX
07 - O PÓS IMPRESSIONISMO e os TRÊS ARTISTAS
BASILARES da ARTE do SÉCULO XX.
Um dos primeiros frutos desta autonomia do pintor
impressionista estava no próprio grupo e que os críticos denominaram de os PÓS IMPRESSIONISTAS.
As obras de Van GOGH[2]
buscavam a autonomia da expressão psicológica
com os vigoroso meios pictóricos contra a neutralidade os PINTORES
IMPRESSIONISTAS diante da escolha do seu tema. A duras penas Paul Cézanne tentava
reconstruir as formas dos objetos diante do plano do quadro dissolvidas pelos
PINTORES IMPRESSIONISTAS. Já Gauguin buscava os símbolos arcaicos e universais
da espécie humana aos quais os PINTORES IMPRESSIONISTAS não prestavam muita
atenção e tempo.
Os três foram autênticos fracassos no mercado de
arte do seu tempo e vida. Os três não escaparam da implacável desqualificação,
descrédito e descarte[3]
enquanto não foram MITIFICADOS pelos cânones da PROPAGANDA e do MARKETING da ERA INDUSTRIAL. Esta MITIFICAÇÃO só se
concretizou após as suas obras serem considerados os autênticos documentos de
seu tempo, lugar e sociedade. O posterior EXPRESSIONISMO viu nas obras de VAN GOGH
uma das suas fontes. O CUBISMO e a série de tendências construtivas retornavam
para a obra de CÉZANNE para fundamentar os seus caminhos. O SURREALISMO e
demais tendências simbolistas da ARTE não esqueceram as dúvidas levantadas na
obra de GAUGUIN.
[3]-
Conta-se que a uma parte da OBRA de VAN GOGH foi descartada e colocada numa calçada n
rua de PARIS por um dono de um restaurante onde o artista fazia sua rerfeiçoes
em troca de quadros. Um nobre russo apanhou este conjunto de telas as levou
para a sua terra natal
Pablo PICASSO (1881-1973) - Demoiseles d
Avignon – 1907
Fig.12
–
O quadro “DEMOISELLES d’AVIGNON” resultou, em 1907, dos
contatos de Pablo Picasso com a obra de Paul Cézanne e do impacto da
estética e dos mitos que ele foi visitar numa coleção de
esculturas africanas. Amparado
pelas visitas diárias de Kahnweiler1
aos seu atelier e releases que este colecionador e marchand de arte
confiava à imprensa mundial criaram as bases do movimento mundial
cubista. Estava formado um novo MITO e do qual o próprio Picasso
afastou-se rapidamente pois a ARTE ESTÁ EM QUEM a FAZ e NÃO no que
produz
08 - As PROPOSTAS RADICAIS do FAUVISMO, CUBISMO
e FUTURISMO.
As sucessivas propostas e movimentos artísticos
do século XIX foram desclassificados e devorados pelos seus sucessores. Esta
antropofagia estética gerou uma violenta carga estética que explodiu nos
primeiros anos do século XX.
Os experimentos com as cores liberadas por
GAUGUIN conduziram a uma estética da tinta sobre o plano do quadro dos FAUVISTAS. Num campo
distinto as formas geométricas de CÉZANNE começaram a preencher as superfícies
com traços violentos e planos que desembocou no CUBISMO. Na Itália, MARINETTI
criou o MANIFESTO FUTURISTA[2]
publicado SIMULTANEAMENTE em PARIS. O seu projeto girava ao redor do MITO da
máquina, da velocidade e a aceleração da percepção do tempo comandado pelo
ritmo do pulsar sem parar das MÁQUINAS da ERA INDUSTRIAL.
Marcel DUCHAMP – (1887-1968) - A Noiva 1913-1923 - O grande vidro
Fig.13
–
Marcel DUCHAMP tornou radical a sua pesquisa estética e autônoma do
MERCADO de ARTE. Para viver lecionava francês para norte-americanos
e organizava torneios de xadrez A
sua obra, que ele denominou sucessivamente de “ O GRANDE VIDRO”
ou a NOIVA DESPIDA PELOS SEUS PRETENDENTES ” ou simplesmente “
NOIVA” foi uma longa experimentação prensada entre dois vidros.
Em dois planos trata na parte superior as nuvens e o tríptico (a
NOIVA) e embaixo a MÁQUINA MOVIDA pelos PRETENDENTES, cada um com um
nome Quando os VIDROS RACHARAM ele declarou a sua obra concluída
após dez anos de pesquisas estéticas e plásticas.
09 - A I GUERRA MUNDIAL faz desmoronar
EXPRESSÕES CULTURA OCIDENTAL
As audaciosas experiências dos pintores
fauvistas, as propostas do Simultaneismo e do Cubismo as propostas ferozes dos
Futuristas foram abafadas e silenciaram com os canhões da I Guerra Mundial. Este
tumulto devorou - nas trincheiras
cobertas de gazes letais - multidões de vidas de soldados. Muitos deles artistas de talento.
David Alfaro
SIQUEIROS (*1896-+1974) “ECOS de um
GRITO”1937
Fig.14
–
Os muralistas mexicanos, os pintores do "New Deal" norte-americano e as
pesquisas de Cândido PORTINARI. Geraram uma MITOLOGIA que
correspondem ao apogeu da ERA INDUSTRIAL No contraditório
mostravam as dores, as contradições e os descartes que este
triunfo da Máquinas impunham ao DEUS MENINO Este
horror tornou-se evidente e se materializou em Guernica, e nos
exércitos armados com as últimas invenções da INDÚSTRIA BÉLICA
da II GUERRA MUNDIAL.
10 - A TENTATIVA FRUSTRADA da VOLTA À ORDEM na ARTE.
Ao longo do período (1918-1939) entre as duas
GUERRAS MUNDIAIS do SÉCULO XX houve, na ARTE, uma desesperada e múltipla
tentativa de VOLTA à ORDEM. A Itália
fascista popôs o termo ARTE do "NOVECENTTO". Os Norte americanos colocaram em
prática a o seu "NEW DEAL" na ARTE. O governo do MÉXICO incentivou os seus
muralistas a produzir obras que espantaram o mundo. No Brasil as obras de
PORTINARI e DI CAVALCANTI encheram galerias e paredes de edifício públicos e
particulares. O nazismo optou pala intriga entre os sua ARTE NEO_CLÁSSICA
requentada em confronto com os “ARTISTAS DEGENERADOS”.
Com a erupção da II Guerra MUNDIAL estes
ambiciosos projetos foram abandonados ou retornaram para praticas indivíduais
sem repercussão no marketing e propaganda da ERA INDUSTRIAL.
Edouard BARIBEAUD
– O Minotauro - Velha História no Tempo
Moderno 2018 Aquarela 77.5 x 73 cm
Fig.15
–
A ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL sente-se à vontade em convocar todas as
épocas, tendências estéticas e MITOS que a humanidade já viveu.
Assim a solidariedade das épocas ganha corpo e obras. O MINOTAURO
perdido nos seus aposentos e preso no labirinto é metáfora de uma
época sem rumos, norte ou grandes discursos salvadores com alguma
credibilidade Assim
a Mitologia torna-se fonte de questões que buscam DONDE VIEMOS? QUEM
SOMOS? E PARA ONDE VAMOS?
11 - A ÉPOCA PÓS INDUSTRIAL emerge da II GUERRA
MUNDIAL
A II GUERRA MUNDIAL foi um FLAGELO, um PESADELO e
uma HECATOMBE provocada pelas ARMAS da ERA INDUSTRIAL. Esta HECATOMBE
evidenciou que a Técnica e Ciência necessitam da proporção humana, freios e são
TABUS a serem canalizados para sublimar os seus instintos de TÂNATOS (morte-destruição)
em TOTENS do EROS (vida-construção)
ou YIN e o YANG[1]
da cultura chinesa.
Estes totens resultaram do uso da energia
nuclear, as inesgotáveis aplicações da Eletrônica da Biotecnologia que fez com
que as MAQUINAS da ERA INDUSTRIAL recebem rotinas numéricas que substituem o
controle direto e cansativo sobre elas. A robótica, a cibernética e a
informática permitiram a criatura humana criar rotinas que colocaram as
máquinas cada vez mais sob o domínio humano, Este novo ambiente convenciona-se
denominar ÉPOCA PÓS INDUSTRIAL[2].
Touro
de Cnossos - Creta
Fig.16
–
O MITO do DEUS TOURO precedeu o MITO do DEUS MENINO. A metamorfose
das forças brutas da Natureza possui um longo e difícil caminho
para encarnar um PROJETO CIVILIZATÓRIO no qual o fraco e o indefeso
não se sintam vítimas.
O estágio da transcendência das aparentes desvalidos é um estágio
que raras culturas atingem
De um lado esta ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL gerou o ócio
e do outro, ao contrário, permitiu à criatura se aventurar em campos simbólicos
insuspeitos.
A ARTE ganhou energias, forças e tempo humano
como nunca havia recebido antes. O que havia silenciado e ocultado por longo
tempo ganhou potencialidades para se mostra, permanecer por tempo indeterminado
e se reproduzir.
Damien HIRST (1965 )- O Bezerro
de Ouro - 2008 - vendido por 16.5 milhões de dólares
Fig.17
–
A obra de arte intitulada “O BEZERRO de OURO” de Damien HIRST
foi leiloada por 16.5 milhões de dólares. Assim
a MITOLOGIA transforma o TABU dos MITOS condenados pelas religiões
como IDOLATRIA e os transforma em TOTENS coerentes com os valores
simbólicos vigentes na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL
As forças primordiais e os mitos fundantes das
culturas e civilizações estão na ARTE sempre na ordem do dia. A imensa carga
simbólica dessas obras não delimita e nem esmaga o artista criador. A portas da
criatividade se abrem na medida em que ele é único e capaz de SER ele MESMO. No
entanto ele não pode repetir, plagiar nem a sua própria obra do dia anterior
pois cada dia, cada época da vida é diferente.
O imenso patrimônio do passado é o combustível, a
motivação e o desafio de ser tão ou mais criativo do que os seus antepassados.
O TOURO da WALL STREET NEW YORK
https://dicasnovayork.com.br/charging-bull-touro-wall-street/
Fig.18
–
O TOURO em frente ao prédio da BOLSA de VALORES de NOVA YORK MOSTRA
um INOCENTE e INDEFESO BRINQUEDO para os TURISTAS TIRAR FOTOS . No
entanto a FORÇA SIMBÓLICA
desta ESCULTURA não revela nenhuma fraqueza ou inocência
deste povo acumulador e agressivo. Voltado
à exaltação dos instintos mais profundos de uma NATUREZA
COMPETITIVA está distante de qualquer estágio
da transcendência das aparentes desvalidos é um estágio que raras
culturas atingem.
Quando
a civilização humana atinge progressivamente os ambientes técnicos e
científicos da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL ela penetra nos espaços simbólicos nos
quais residem todas as OBRAS de ARTE do passado. A OBRA de ARTE possui esta
PERMANÊNCIA por TEMPO INDETERMINADO como resultado do PENSAMENTO, das IDEIAS e
SENTIMENTOS UNIVERSAIS na espécie humana.
Assim revivem e rebrotam os MITOS que estas obras
de ARTE carregam. Na antítese havia muita coisa que não pode ser dito e mesmo
representado na IMAGEM. Assim o PROBLEMA da OBRA de ARTE nos conduz a outros
caminhos, obras e pensamentos.
As três perguntas de Gauguin continuam tão atuais e desafiadores como
sempre. Elas cumprem a função primordial
da pergunta, do problema e da tese que é
fazer o SER[1]
HUMANO andar na busca de uma resposta. Na próxima curva deste caminho continuam
a se erguerem desafiadoras e enigmáticas as três perguntas: DONDE VIEMOS? - O
QUE SOMOS? - PARA ONDE VAMOS? O presente texto apenas deixou alguns rastros
neste caminho.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975)
Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983. 369 p. https://fr.wikipedia.org/wiki/Condition_de_l%27homme_moderne
HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da
Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5
MOUNK. Yascha (1982 - ) O povo contra a democracia: por que nossa Liberdade corre perigo e como
salvá-la (1ª ed.) São Paulo: Companhia das Letras , 2019, 443 p. ISBN
978-85-359-1208-9
PEREIRA
ARAÚJO, Ana Carolina - Entre a História e a Arte: Considerações
sobre a apreensão do conhecimento histórico na obra de Jacob Burckhard Rio
de Janeiro, – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro, Dissertação, 2014.
110 p.
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25078/25078_1.PDF + https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/25078/25078_3.PDF
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
PERGUNTAR NÂO É SINAL de IGNORÂNCIA.
-DE ONDE VIEMOS? - QUEM
SOMOS? - PARA ONDE VAMOS?
Paul GAUGUIN - 1897 – Óleo sobre tela- 139 x 374 cm Museu de arte de BPSTON USA
Paul GAUGUIN - 1897 – Óleo sobre tela- 139 x 374 cm Museu de arte de BPSTON USA
Antonio Raphale MENGS
Leon FRÉDÉRIC (1856-1940) Les Ages de
l'ouvrier belges 1895 óleo - laterais 163 c 95 cm central 163x 187 cm
George CRUIKDHANK - A
OBRA de BACO –
BURCKHARDT
FUNDAÇÃO MONET
CÉZANNE, Paul
(1839-1908)
GAUGUIN
Paul (1848 -1903)
VAN GOGH VIncent ( 1853-1890)
KAHNWEILER, Daniel-Henry (1884-1979)
MANIFESTO FUTURISTA
YN
– YANG
ÉPOCA
PÓS- INDUSTRIAL
[1] HEIDEGGER, Martin. (1889-1979) SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da
Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5
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