sábado, 27 de abril de 2019

263 – ESTUDOS de ARTE

O MITO na ARTE NEOCLÁSSICA até a PÓS-INDUSTRIAL.


00 – DONDE VIEMOS?  O QUE SOMOS? PAR ONDE VAMOS?  - 01 – ERA INDUSTRIAL  REINVENTA e RENOVA o MITO  -  02- –   A AFIRMAÇÃO e a NEGAÇÃO do MITO na DIALÉTICA da  FABRICAÇÃO e OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA    da  ERA INDUSTRIAL - 03  O ARTISTA ENCANTADO com as MAQUINAS 04  - O ARTISTA do ROMANTISMO PERCEBE as suas PERDAS. - 05 – NATURALISMO e REALISMO e  encanto do ARTISTA  com as CIÊNCIAS e os seus MITOS – 06 – O IMPRESSIONISMO busca a  IDENTIDADE dos seus MEIOS PICTÓRICOS  com os SEUS PRÓPRIOS MEIOS   - O7  O PÔS IMPRESSIONISMO e os TRÊS ARTISTAS BASILARES  da ARTE do SECULO XX – 08 –As PROPOSTAS  RADICAIS do FUAVISMO, CUBISMO e FUTURISMO - 09 – A I GUERRA MUNDIAL faz desmoronar EXPRESSÕES CULTURA OCIDENTAL - 10 – A TENTATIVA FRUSTRADA da VOLTA À ORDEM na ARTE– 11- A  EPOCA  PÒS INDUSTRIAL emerge da II GUERRA MUNDIAL
                    GAUGUIN  Paul -(1848-1903)[1] - Donde Viemos - O que Somos - Para Onde Vamos. 1897
Fig.01 – A IMAGEM da OBRA de GAUGUIN resultou do ESPANTO deste EUROPEU diante MITOLOGIA dos INDÍGENAS da POLINÉSIA Esta Mitologia Indígena - em rápida entropia diante da avassaladora cultura hegemônica da ERA INDUSTRIAL - ainda teve o dom d despertar as interrogações básicas de todas as civilizações o “Donde Viemos - O que Somos - Para Onde Vamos” que o arista salvou sobre o pano de uma veleiro naufragado.

00 - DONDE VIEMOS? - O QUE SOMOS? - PARA ONDE VAMOS?

Até o presente três perguntas de PAUL GAUGUIN - lançadas de uma ilha solitária do Oceano Pacífico -  não encontraram respostas ou, então, tiveram hipóteses muito distantes de qualquer consenso



·         [1]GAUGUIN  Paul  (1848 -1903)   https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Gauguin
Antonio Raphael MENGS (1728-1779) PARNASSO 17601
Fig.02 – A MITOLOGIA EUROPEIA nos pinceis de um artista do iluminismo europeu A Enciclopédia Francesa havia banido de suas páginas a Teologia e qualquer referência religiosa. Os mitos gregos não tinham nenhuma pretensão teológica. Assim foram confiados à HISTORIA. A A Ciência do artista consistia em estudo anatômico, encontrar uma semiótica adequado a HISTORIA CONHECIDA na ÉPOCA e vestir os seus personagens com o planejamento colorido fabricado na nova ERA INDUSTRIAL NASCENTE

Evidente que a função de uma pergunta, de um problema ou de uma tese, NÃO é encontrar uma resposta unívoca, linear, reversível a contento de quem a formulou. A função primordial é fazer andar o SER[2] HUMANO na busca de uma resposta. No entanto, o maior benefício é o de desgrudar este SER HUMANO do conforto do seu próprio repertório, fazê-lo caminhar em outras sendas e verificar que as PALAVRAS podem se revestir de MILHARES de OUTROS SENTIDOS e SIGNIFICADOS além dos habituais.




[2] HEIDEGGER, Martin. (1889-1979)  SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5

George CRUIKDHANK –(1792-1878) Monstruosidades de 1822.b cor j
Fig.03 – Indiferentes a ESTÁTUA NUA CLÁSSICA a sociedade da PRIMEIRA ERA INDUSTRIAL apresenta as extravagâncias da sua moda resultante dos tecidos fabricados pelos primeiros teares industriais da Inglaterra A imprensa indústria ao mesmo tempo que projetava estas extravagâncias da moda fazia uma bem-humorada crítica destes novos tempos

01 - A ERA INDUSTRIAL REINVENTA se RENOVA o MITO

O desafio do problema das três perguntas de PAUL GAUGUIN - lançadas no final século XIX de uma ilha solitária do Oceano Pacífico - permite uma revisão das sucessivas tendências estéticas do século XIX que buscaram a hegemonia, a atenção do público e, ao longo do século XX,  a continuidade das especulações dos historiadores de Artes Visuais  ao redor do seu objeto de estudo.
 As tendências estéticas do século XIX ganharam sólidas bases científicas, marketing e reforço na audaciosa ascensão do NOME do ARTISTA. Este NOME do ARTISTA foi um objeto preferencial do MARKETING e PROPAGANDA da ERA INDUSTRIAL. Este NOME do ARTISTA recebeu emprestado muito da força do MITO reforçado ao longo das sucessivas tendências estéticas do século XIX que culminou com a obra de GAUGUIN pintada em 1897. A MITIFICAÇÃO saturante do ARTISTA recebeu os louros e auréola de GÊNIO sob o pedestal científico e técnico da ERA INDUSTRIAL. Este  MITO  conhece uma rápida sucessão de NOMES. Estes são esquecidos na etapa seguinte. Porém o mais das vezes são execrados -  pela tendência estética subsequente - como heresias estéticas e danosas para o PROGRESSO ILIMITADO e LINEAR da ARTE. Na verdade, são apenas MANIFESTAÇÕES PONTUAIS da ARTE que se desenvolve sob as forças da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA inerente as máquinas da ERA INDUSTRIAL
Joseph WRIGHT of DERBY (1734-1797) -  O vácuo[1]
ig.04 – O espanto e horror da criança ao ver morrer uma pomba na campânula de vácuo evidencia uma experiência com o VÁCUO conduzida por ISAAC NEWTON no âmbito da CLUBE da LUA CHEIA A FORÇA das MAQUINAS INDUSTRIAIS irá reforçar o MITO do ESPANTO e HORROR pela será rapidamente adotado pelos exércitos. Este exército continua a promover guerras de extermínio massivo em sucessivas guerras. As suas armas serão provenientes de laboratórios e de sofisticadas máquinas que fabricam armas cada vez mais letais. Nunca se fabricou alguma arma que não fosse usada contra algum inimigo.



02 - A ERA INDUSTRIAL AFIRMA e a NEGA o MITO na DIALÉTICA da FABRICAÇÃO e da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA 

Uma vez desencadeado o PROCESSO INDUSTRIAL as MÁQUINAS NÃO PODEM PARAR, sob pena da FALÊNCIA de TODO SISTEMA. Neste SISTEMA a entrada, o desenvolvimento e a saída dos PRODUTOS são continuados e constantes. O CONSUMO dos PRODUTOS das MÁQUINAS também deve ser constante e preferencialmente em escala de expressivo aumento. Neste aumento entram MÁQUINAS de nova geração que tornam obsoletas as antigas junto com os seus produtos. Neste PROGRESSO CONSTANTE é necessário desqualificar e tornar obsoleto e ridículo do estágio anterior.
  A INGLATERRA foi o berço da “CIÊNCIA do FOLCLORE” proposta por WILLIAM TOMS em 1846. O objeto desta “CIÊNCIA” era estudar a “MITOLOGIA ou CIÊNCIA do POVO”. Porém com objetivos um pouco claros e éticos. Na prática esta “CIÊNCIA do POVO” servia muito bem para a indústria têxtil inglesa para “inventar” diversos padrões de tecidos específicos e diferentes para cada clã britânico. Este experimento doméstico se expandiu mundo afora com amplos e fantasiados trajes e roupas que consumiam o maior número possível de metros dos tecidos fabricados nos teares ingleses.
A indústria inglesa fabricou, numa destas ocasiões de um potencial negócio, uma partida de bombachas para o exército turco em luta na ilha da CRIMEIA. No entanto, esta guerra terminou antes do previsto. Os ingleses trouxeram estas bombachas para MONTEVIDÉU. Com muita propaganda e marketing as impuseram aos nativos gaúchos. Os ingleses e os comerciantes, sob o seu controle, justificavam e alegavam que os gaúchos platinos eram descendentes legítimos e diretos dos beduínos e bérberes que ocuparam a Península Ibérica em tempos remotos. Assim o gaúcho autêntico teve os seus tarjes tradicionais desqualificados substituídos por BOMBACHAS, CAPAS de FELTRO e de PALAS INDUSTRIAIS ingleses. As damas foram vestidas com SETE SAIAS de PRENDAS.
 Em resumo uma das características da ERA INDUSTRIAL é a CRIAÇÃO e o imediato DESCARTE POSTERIOR desta mesma CRIAÇÃO com o objetivo de não aconteça que “as MÁQUINAS  PAREM” [2]. O COLAPSO e o FIM da FÁBRICA. 
 A ARTE - com suas tendências estéticas, obras[3] e “GÊNIOS” inventados - não escapou deste processo dialético entre a CRIAÇÃO e IMEDIATO DESCARTE POSTERIOR. Ao longo do século dezenove as tendências estéticas se sucederam e se devoraram. A primeira tarefa, destas tendências, foi a de desqualificar cada uma das obras e os “GÊNIOS” da etapa anterior.



[2]  “QUANDO as  MÁQUINAS PARAM”  Plínio MARCOS https://www.brasildefato.com.br/node/6331/

[3] Segue-se a distinção entre OBRA diferente de TRABALHO conforme
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983. 369 p.   

- Guillaume HARANG CABASSON - Apoteose de Napoleão III - 1854 b
Fig.05 – A MITIFICAÇÃO de NAPOLEÃO III da França convoca todo o OLIMPO GREGO e o tio NAPOLEÃO BONAPARTE que assiste e aprova a cena sob a sua ÁGUIA ROMANA A fabricação de uma vasta galeria de grandes painéis patrióticos atingiu todas as nações da época. No Brasil as obras de Vitor MEIRELES e PEDRO AMÉRICO se inscrevem neste projeto de produzir estas “MAQUINAS PINTADAS” com claros objetivos de marketing e propaganda do ESTADO NACIONAL dominado pela ERA INDUSTRIAL.
           
Segue assim a lógica de manter as máquinas em constante produção. Com o objetivo de NÃO PARAR a PRODUÇÃO das MÁQUINAS a ERA INDUSTRIAL desqualifica a MODA da estação anterior. A cada nova tendência estética que comanda estas máquinas segue-se outra que inicia por descartar e desqualificar tudo aquilo que a anterior produziu.
George CRUIKDHANK -1792-1878  Detalhe da pintura “A Obra de Baco”  Tate Galeri[1]
Fig.06 – O artista inglês George CRUIKDHANK exalta “OBRA de BACO” no meio do MITO das chaminés fumegantes e o lendário FOG LONDRINO que desaparecerem na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL e despoluição do Rio TÂMISA. A ERA `do TRIUNFO da MAQUINAS usou e abusou do MITO dos DEUSES GREGOS e os reproduziu a sua imagem estereotipada em escala INDUSTRIAL


03 - – O ARTISTA ENCANTADO com as MÁQUINAS.

Com a ERA INDUSTRIAL desaparece a sazonalidade e as estações do ano são tornados uniformes sem deixar repousar a terra. O dia invade a noite e as cidades cintilam e pulsam sem descanso ou trégua.
Num primeiro momento o ARTISTA se ENCANTA com as  MAQUINAS O POLÍTICO cria ESTADOS NACIONAIS ADEQUADOS às EXIGÊNCIAS das MAQUINAS. O  EDUCADOR instaura MÉTODOS e TÉCNICAS para CONDICIONAR ao AMBIENTE FABRIL as NOVAS GERAÇÕES. 
A invenção da fotografia, as tintas prontas em bisnagas, as sucessivas técnicas de impressão e multiplicação mecânica das IMAGENS são paralelas ao desenvolvimento das comunicações terrestres e marítimas enquanto o telégrafo possui cada vez maior alcance e penetração mundial.



[1] George CRUIKDHANK  - A OBRA de BACO -  https://pt.wahooart.com/@@/9DH3GM-culto-dos-baco-

Gaspar David FRIEDRICH 1774-1840) Vista por cima das nuvens 1817 FRANKFURTER ALLGEMEINE 30.05.2018
Fig.07 – O artista voltou-se para a pintura da PAISAGEM. O pintor fixava na tela a NATUREZA que o seu semelhante ainda não havia ocupada e depredada. PAISAGEM comprometida com a DESTRUIÇÃO e desqualificação do MEIO AMBIENTE causada pela fétida poluição das máquinas da ERA INDUSTRIAL. O indivíduo busca erguer-se acima das montanhas onde antes acreditava ser a morada dos deuses. Deste omito do ÍCARO sonhava elevar o seu corpo, acima das nuvens com os os aparelhos industriais e rumar para o espaço externo. Esta “PINTURA da PAISAGEM NÃO MAIS EXISTENTE” firmou-se com a tendência romântica e atravessou o século XIX. Este MITO foi renovado e cultivado constantemente levou aos esforços para atingir a técnica industrial com a criação e uso da fotografia

04 - O ARTISTA do ROMANTISMO PERCEBE as suas PERDAS –

Com a massificação, acumulação e a produção em série o ARTISTA do ROMANTISMO começou a PERCEBER as suas PERDAS com esta ESCOLHA Começou a se conta de que nenhum homem é uma ilha ao estilo do Róbinson CRUSOÉ e do posterior Pequeno Príncipe de Sant-Exupéry. Porém em vez do aceitar o senso comum começou a erguer catedrais na tipologia gótica que clamar aos seus ou mantar castelos medievais como o NEUSCHWANSTEIN de Ludovico II.
As pinturas de Eugêne Delaccoix mostram estes indivíduos lutando contra a inexorável socialização e a invasão do seu imaginário.
O mestre Jacob Christoph BURCKHARDT (1818-1897)[1]  da nascente disciplina acadêmica de HISTÓRIA da ARTE:
discordava da história compreendida a maneira Hegeliana e rejeitava todo o tipo de teorização filosófica sobre o curso da história. Sobre a filosofia de Hegel, o historiador, em uma carta escrita para o jovem estudante Albert Brenner, em 1865 - alguns anos antes da publicação do “Reflexões sobre a História Universal” - adverte: “ela é como uma droga no mercado, deixe-a ficar onde está.”[2] (in PEREIRA ARAÚJO, 2014 p. 15) 
 BURKHARDT acreditava na potencialidade da OBRA de ARTE ORIGINAL. Para ele, esta OBRA de ARTE ORIGINAL,  exercia um poderoso impacto sensorial e que era o fundamento neste campo em formação. Ele reagia contra a invasão do seu imaginário individual singular e contra estéticas estranhas que tentavam colonizar o objeto de sua percepção e de estudo. De BURCKHARDT permaneceu o princípio geral de que a OBRA de ARTE é PRIMORDIAL e vem colocada antes do discurso, da narrativa ou da especulação estética e filosófica.
A busca da AUTONOMIA do EU ROMÂNTICO estava, na época de BURCKHARDT. em pleno processo e afirmação erudita, mesmo nas CIÊNCIAS. AUTONOMIA que significava distinguir-se e separar-se do conforto da Estética de Hegel já está fora assimilada e marcada pela dialética entre o ideal e a prática atingindo os níveis mais baixos da intriga conceitual. Intriga fonte e motivação dos eternos processos de desqualificação das tendências estéticas anteriores com o firme propósito de um novo poder, um outro começar onde se torna necessária a morte do pai REI e a posse da mãe ARTE no eterno do mítico complexo ÉDIPO.
No contraditório muita coisa que não pode ser dito e mesmo representado pela IMAGEM e do qual o NATURALISMO e o REALISMO se encarregaram de trazer ao mundo



[2]PEREIRA ARAÚJO Ana Carolina - Entre a História e a Arte: Considerações sobre a apreensão do conhecimento histórico na obra de Jacob Burckhard Rio de Janeiro: PUC-RIO, Dissertação, 2014

SPITZWEG Carl - 1808-1886 Der_arme_Poet_(Neue_Pinakothek)
Fig.08 – Outra tendência romântica concentrou-se no EU do artista criador que aspirava ao título de “GÊNIO” revelado e divulgado pelas MÁQUINAS da ERA INDUSTRIAL. Esta tendência EGOCÊNTRICA do ARTISTA CRIADOR SOLITÁRIO foi duramente atacada por artistas e críticos e caricaturista como Carl SPITZWEG implacável com o poeta romântico cuja grande façanha é caçar uma das suas numerosas pulgas...
..



05 - NATURALISMO e REALISMO e  reencantam o ARTISTA com as CIÊNCIAS e os seus MITOS–

Os estudos sociais e naturais continuaram o seu caminho aberto e municiados pela ERA INDUSTRIAL. As CIÊNCIAS e as PESQUISAS continuadas da natureza levaram para o Evolucionismo de Darwin. Enquanto isto filósofos, artistas, sociólogos e historiadores apontavam  para formas políticas novas nas quais o POVO, as massas urbanas  aglomeradas pela ERA INDUSTRIAL e o mercado de produtos ganhavam novas expressões  fazendo brotar novos proventos e organizações sócias[1] .



[1]MOUNK. Yascha (1982 - ) O povo contra a democracia: por que nossa Liberdade corre perigo e como salvá-la  (1ª ed.) São Paulo:  Companhia das Letras , 2019, 443 p. ISBN 978-85-359-1208-9


Leon FRÉDÉRIC (1856-1940) Les Ages de l'ouvrier belges 1895 óleo - laterais 163 c 95 cm central 163x 187 cm
https://www.histoire-image.org/fr/etudes/ouvriers-belges-vus-leon-frederic
Fig.09 – O MITO das MASSA HUMANA como origem, razão de ser e destino de todas as coisas encontrou expressão no SOCIALISMO, COMUNISMO e POSITIVISMO do século XIX. Religiões, ideologias e projetos políticos tiravam deste MITO POPULISTA a sua força e razão de serem. Na contramão a CIÊNCIA, a TÉCNICA e a ECONOMIA resistiam e este POPULISMO que se dizia NEUTRO


A possibilidade da VIDA ao AR LIVRE (PLEIN AIRE) tornou-se uma forma de escapismo destes aglomerados urbanos, sociais e econômicos coerentes com a ERA INDUSTRIAL. As praias, os sitos de lazer, as regatas e cavalgadas começaram a inspirar os artistas impressionistas em rápidas fugidas aos campos e às águas.
Este momento fugazes e únicos necessitam de uma estética nova. Os esboços tornaram-se obras definitivas na medida que o projeto destes pintores era captar somente a luz, a atmosfera e as cores que se apresentavam para a retina humana em constante mudança.
Não concorriam com a câmara fotográfica, pois esta não deliberava e nem decidia por si mesma. Muito menos era autônoma para se deslocar por seus próprios meios e selecionar, por ela mesma, o objeto de sua obra. 
Claude MONET (1840-1926) Impressão ao Nascer do Sol1872 Óleo sobre tela -48x63 cm
Fig.10 – Os pintores impressionistas voltaram-se para as suas tintas e pinces. Sem se entregar a qualquer especulação metafísica extraiam os efeitos visuais que podiam captar com estes precários, pobres e limitados meios. Pintores que se porfiavam em registrar o instante passageiro pelos seus meios pictóricos As séries das catedrais de Ruão - pintados por Claude MONET1 - evidenciam estes instantes únicos e sem fundo no qual o artista tinha oportunidade de mostrar que a ARTE ESTÁ em QUEM PRODUZ e PINTA o INSTANTE do qual as obras são apenas documentos de algo que não volta mais.
1 FUNDAÇÂO MONET http://fondation-monet.com



06 - O IMPRESSIONISMO busca a IDENTIDADE os SEUS PRÓPRIOS MEIOS PICTÓRICOS–

Os pintores impressionistas foram construindo os fundamentos estéticos novos por meio da força da sua escolhas, deliberações e decisões daquilo que podiam levar para o quadro e o que deveria ser ignorado e não representado.
Esta autonomia estética os colocou os fundamentos das escolhas posteriores de outras gerações de artistas e das mais variadas propostas, tendências e estéticas posteriores.




Paul CÉZANNE – banhistas

Fig.11 – A obra de Paul Cézanne1 é uma série antítese à fragmentação e à dissolução das formas na construção de quadro. Para compor os seus quadros buscou sólidas e racionais formas plásticas colocou todas as sua energia, dinheiro e tempo nesta longa e incompreendida busca pictórica. Esta busca foi descoberta pelo jovem espanhol Pablo Picasso e se tornou basilar para todas as tendências estéticas formalistas e construtivistas do século XX

07 - O PÓS IMPRESSIONISMO e os TRÊS ARTISTAS BASILARES da ARTE do SÉCULO XX.

Um dos primeiros frutos desta autonomia do pintor impressionista estava no próprio grupo e que os críticos denominaram de os PÓS IMPRESSIONISTAS. As obras de Van GOGH[2] buscavam a autonomia da expressão psicológica  com os vigoroso meios pictóricos contra a neutralidade os PINTORES IMPRESSIONISTAS diante da escolha do seu tema. A duras penas Paul Cézanne tentava reconstruir as formas dos objetos diante do plano do quadro dissolvidas pelos PINTORES IMPRESSIONISTAS. Já Gauguin buscava os símbolos arcaicos e universais da espécie humana aos quais os PINTORES IMPRESSIONISTAS não prestavam muita atenção e tempo.
Os três foram autênticos fracassos no mercado de arte do seu tempo e vida. Os três não escaparam da implacável desqualificação, descrédito e descarte[3] enquanto não foram MITIFICADOS pelos cânones da PROPAGANDA e do MARKETING  da ERA INDUSTRIAL. Esta MITIFICAÇÃO só se concretizou após as suas obras serem considerados os autênticos documentos de seu tempo, lugar e sociedade. O posterior EXPRESSIONISMO viu nas obras de VAN GOGH uma das suas fontes. O CUBISMO e a série de tendências construtivas retornavam para a obra de CÉZANNE para fundamentar os seus caminhos. O SURREALISMO e demais tendências simbolistas da ARTE não esqueceram as dúvidas levantadas na obra de GAUGUIN.



[2]VAN GOGH Vincent ( 1853-1890)  https://pt.wikipedia.org/wiki/Vincent_van_Gogh

[3]- Conta-se que a uma parte da OBRA de VAN GOGH foi descartada e colocada numa calçada n rua de PARIS por um dono de um restaurante onde o artista fazia sua rerfeiçoes em troca de quadros. Um nobre russo apanhou este conjunto de telas as levou para a sua terra natal
Pablo PICASSO (1881-1973) - Demoiseles d Avignon – 1907

Fig.12 – O quadro “DEMOISELLES d’AVIGNON” resultou, em 1907, dos contatos de Pablo Picasso com a obra de Paul Cézanne e do impacto da estética e dos mitos que ele foi visitar numa coleção de esculturas africanas. Amparado pelas visitas diárias de Kahnweiler1 aos seu atelier e releases que este colecionador e marchand de arte confiava à imprensa mundial criaram as bases do movimento mundial cubista. Estava formado um novo MITO e do qual o próprio Picasso afastou-se rapidamente pois a ARTE ESTÁ EM QUEM a FAZ e NÃO no que produz
1KAHNWEILER, Daniel-Henry (1884-1979) https://en.wikipedia.org/wiki/Daniel-Henry_Kahnweiler



08 - As PROPOSTAS RADICAIS do FAUVISMO, CUBISMO e FUTURISMO.
As sucessivas propostas e movimentos artísticos do século XIX foram desclassificados e devorados pelos seus sucessores. Esta antropofagia estética gerou uma violenta carga estética que explodiu nos primeiros anos do século XX.
Os experimentos com as cores liberadas por GAUGUIN conduziram a uma estética da tinta sobre  o plano do quadro dos FAUVISTAS. Num campo distinto as formas geométricas de CÉZANNE começaram a preencher as superfícies com traços violentos e planos que desembocou no CUBISMO. Na Itália, MARINETTI criou o MANIFESTO FUTURISTA[2] publicado SIMULTANEAMENTE em PARIS. O seu projeto girava ao redor do MITO da máquina, da velocidade e a aceleração da percepção do tempo comandado pelo ritmo do pulsar sem parar das MÁQUINAS da ERA INDUSTRIAL.
Marcel DUCHAMP – (1887-1968) - A Noiva  1913-1923 - O grande vidro 
Fig.13 – Marcel DUCHAMP tornou radical a sua pesquisa estética e autônoma do MERCADO de ARTE. Para viver lecionava francês para norte-americanos e organizava torneios de xadrez A sua obra, que ele denominou sucessivamente de “ O GRANDE VIDRO” ou a NOIVA DESPIDA PELOS SEUS PRETENDENTES ” ou simplesmente “ NOIVA” foi uma longa experimentação prensada entre dois vidros. Em dois planos trata na parte superior as nuvens e o tríptico (a NOIVA) e embaixo a MÁQUINA MOVIDA pelos PRETENDENTES, cada um com um nome Quando os VIDROS RACHARAM ele declarou a sua obra concluída após dez anos de pesquisas estéticas e plásticas.

09 - A I GUERRA MUNDIAL faz desmoronar EXPRESSÕES CULTURA OCIDENTAL

As audaciosas experiências dos pintores fauvistas, as propostas do Simultaneismo e do Cubismo as propostas ferozes dos Futuristas foram abafadas e silenciaram com os canhões da I Guerra Mundial. Este tumulto devorou -  nas trincheiras cobertas de gazes letais - multidões de vidas de soldados.  Muitos deles artistas de talento. 
David Alfaro SIQUEIROS (*1896-+1974)  “ECOS de um GRITO”1937
Fig.14 – Os muralistas mexicanos, os pintores do "New Deal" norte-americano e as pesquisas de Cândido PORTINARI. Geraram uma MITOLOGIA que correspondem ao apogeu da ERA INDUSTRIAL No contraditório mostravam as dores, as contradições e os descartes que este triunfo da Máquinas impunham ao DEUS MENINO Este horror tornou-se evidente e se materializou em Guernica, e nos exércitos armados com as últimas invenções da INDÚSTRIA BÉLICA da II GUERRA MUNDIAL.


10 - A TENTATIVA FRUSTRADA da VOLTA À ORDEM na ARTE.

Ao longo do período (1918-1939) entre as duas GUERRAS MUNDIAIS do SÉCULO XX houve, na ARTE, uma desesperada e múltipla tentativa de VOLTA à ORDEM.  A Itália fascista popôs o termo ARTE do "NOVECENTTO". Os Norte americanos colocaram em prática a o seu "NEW DEAL" na ARTE. O governo do MÉXICO incentivou os seus muralistas a produzir obras que espantaram o mundo. No Brasil as obras de PORTINARI e DI CAVALCANTI encheram galerias e paredes de edifício públicos e particulares. O nazismo optou pala intriga entre os sua ARTE NEO_CLÁSSICA requentada em confronto com os “ARTISTAS DEGENERADOS”.
Com a erupção da II Guerra MUNDIAL estes ambiciosos projetos foram abandonados ou retornaram para praticas indivíduais sem repercussão no marketing e propaganda da ERA INDUSTRIAL.
Edouard BARIBEAUD – O Minotauro  - Velha História no Tempo Moderno 2018 Aquarela 77.5 x  73 cm
Fig.15 – A ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL sente-se à vontade em convocar todas as épocas, tendências estéticas e MITOS que a humanidade já viveu. Assim a solidariedade das épocas ganha corpo e obras. O MINOTAURO perdido nos seus aposentos e preso no labirinto é metáfora de uma época sem rumos, norte ou grandes discursos salvadores com alguma credibilidade Assim a Mitologia torna-se fonte de questões que buscam DONDE VIEMOS? QUEM SOMOS? E PARA ONDE VAMOS?


11 - A ÉPOCA PÓS INDUSTRIAL emerge da II GUERRA MUNDIAL

A II GUERRA MUNDIAL foi um FLAGELO, um PESADELO e uma HECATOMBE provocada pelas ARMAS da ERA INDUSTRIAL. Esta HECATOMBE evidenciou que a Técnica e Ciência necessitam da proporção humana, freios e são TABUS a serem canalizados para sublimar os seus instintos de TÂNATOS (morte-destruição) em  TOTENS do EROS (vida-construção) ou  YIN e o YANG[1] da cultura chinesa.
Estes totens resultaram do uso da energia nuclear, as inesgotáveis aplicações da Eletrônica da Biotecnologia que fez com que as MAQUINAS da ERA INDUSTRIAL recebem rotinas numéricas que substituem o controle direto e cansativo sobre elas. A robótica, a cibernética e a informática permitiram a criatura humana criar rotinas que colocaram as máquinas cada vez mais sob o domínio humano, Este novo ambiente convenciona-se denominar ÉPOCA PÓS INDUSTRIAL[2].
          
           Touro de Cnossos - Creta
Fig.16 – O MITO do DEUS TOURO precedeu o MITO do DEUS MENINO. A metamorfose das forças brutas da Natureza possui um longo e difícil caminho para encarnar um PROJETO CIVILIZATÓRIO no qual o fraco e o indefeso não se sintam vítimas. O estágio da transcendência das aparentes desvalidos é um estágio que raras culturas atingem

                  
De um lado esta ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL gerou o ócio e do outro, ao contrário, permitiu à criatura se aventurar em campos simbólicos insuspeitos.
A ARTE ganhou energias, forças e tempo humano como nunca havia recebido antes. O que havia silenciado e ocultado por longo tempo ganhou potencialidades para se mostra, permanecer por tempo indeterminado e se reproduzir. 
Damien HIRST (1965  )- O Bezerro de Ouro - 2008 - vendido por 16.5 milhões de dólares
Fig.17 – A obra de arte intitulada “O BEZERRO de OURO” de Damien HIRST foi leiloada por 16.5 milhões de dólares. Assim a MITOLOGIA transforma o TABU dos MITOS condenados pelas religiões como IDOLATRIA e os transforma em TOTENS coerentes com os valores simbólicos vigentes na ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL



As forças primordiais e os mitos fundantes das culturas e civilizações estão na ARTE sempre na ordem do dia. A imensa carga simbólica dessas obras não delimita e nem esmaga o artista criador. A portas da criatividade se abrem na medida em que ele é único e capaz de SER ele MESMO. No entanto ele não pode repetir, plagiar nem a sua própria obra do dia anterior pois cada dia, cada época da vida é diferente.
O imenso patrimônio do passado é o combustível, a motivação e o desafio de ser tão ou mais criativo do que os seus antepassados. 
O TOURO da WALL STREET NEW  YORK
             https://dicasnovayork.com.br/charging-bull-touro-wall-street/
Fig.18 – O TOURO em frente ao prédio da BOLSA de VALORES de NOVA YORK MOSTRA um INOCENTE e INDEFESO BRINQUEDO para os TURISTAS TIRAR FOTOS . No entanto a FORÇA SIMBÓLICA desta ESCULTURA não revela nenhuma fraqueza ou inocência deste povo acumulador e agressivo. Voltado à exaltação dos instintos mais profundos de uma NATUREZA COMPETITIVA está distante de qualquer estágio da transcendência das aparentes desvalidos é um estágio que raras culturas atingem.





 Quando a civilização humana atinge progressivamente os ambientes técnicos e científicos da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL ela penetra nos espaços simbólicos nos quais residem todas as OBRAS de ARTE do passado. A OBRA de ARTE possui esta PERMANÊNCIA por TEMPO INDETERMINADO como resultado do PENSAMENTO, das IDEIAS e SENTIMENTOS UNIVERSAIS na espécie humana.
Assim revivem e rebrotam os MITOS que estas obras de ARTE carregam. Na antítese havia muita coisa que não pode ser dito e mesmo representado na IMAGEM. Assim o PROBLEMA da OBRA de ARTE nos conduz a outros caminhos, obras e pensamentos.
As três perguntas de Gauguin  continuam tão atuais e desafiadores como sempre. Elas cumprem  a função primordial da  pergunta, do problema e da tese que é fazer o SER[1] HUMANO andar na busca de uma resposta. Na próxima curva deste caminho continuam a se erguerem desafiadoras e enigmáticas as três perguntas: DONDE VIEMOS? - O QUE SOMOS? - PARA ONDE VAMOS? O presente texto apenas deixou alguns rastros neste caminho.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983. 369 p.    https://fr.wikipedia.org/wiki/Condition_de_l%27homme_moderne

HEIDEGGER, Martin. (1889-1979)  SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5

MOUNK. Yascha (1982 - ) O povo contra a democracia: por que nossa Liberdade corre perigo e como salvá-la  (1ª ed.) São Paulo:  Companhia das Letras , 2019, 443 p. ISBN 978-85-359-1208-9

PEREIRA ARAÚJO, Ana Carolina - Entre a História e a Arte: Considerações sobre a apreensão do conhecimento histórico na obra de Jacob Burckhard Rio de Janeiro, – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Dissertação, 2014. 110 p.


FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
PERGUNTAR NÂO É SINAL de IGNORÂNCIA.

-DE ONDE VIEMOS? - QUEM  SOMOS? - PARA ONDE VAMOS?
Paul GAUGUIN - 1897 – Óleo sobre tela- 139 x 374 cm Museu de arte de BPSTON USA

Antonio Raphale MENGS

Leon FRÉDÉRIC (1856-1940) Les Ages de l'ouvrier belges 1895 óleo - laterais 163 c 95 cm central 163x 187 cm

QUANDO as  MÀQUINAS PARAM”  Plínio MARCOS https://www.brasildefato.com.br/node/6331/

George CRUIKDHANK  - A OBRA de BACO –

BURCKHARDT 

FUNDAÇÃO MONET

CÉZANNE, Paul  (1839-1908)

GAUGUIN  Paul  (1848 -1903)

VAN GOGH VIncent ( 1853-1890)

KAHNWEILER, Daniel-Henry (1884-1979)

MANIFESTO FUTURISTA
YN – YANG

ÉPOCA PÓS- INDUSTRIAL




[1]             HEIDEGGER, Martin. (1889-1979)  SER e TEMPO. Tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ).- Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Edit. Vozes, 2012, 1199 p ISBN 978-85-268-0963-5

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