quarta-feira, 25 de julho de 2012

ISTO é ARTE - 038



O PREÇO da COERÊNCIA ou a
NATUREZA da ARTE é diferente do
 SIGNIFICADO da ARTE

Fig. 01 –  “MÃO”,  detalhe de um pintura de Miguel Ângelo no teto da Capela Sistina.  Nesta imagem é possível conferir como o artista permaneceu coerente com o Desenho e a Pintura de um ESCULTOR. Conforme ditado popular “conhece-se o artista pela sua mão”. Contudo, acima desta peculiaridade, esta mão revela a pessoa do artista capaz de expressar os seus projetos e as circunstâncias da sua criação. Para tanto o artista recomeçou a obra do teto da Capela Sistina, várias vezes, para que ela expressasse a coerência entre o seu projeto e com a sua verdade.

Este blog insiste no tema do “QUE É ARTE e prioriza o projeto da “NATUREZA da ARTE. Enquanto isto remete o tema do “QUE SIGNIFICA a ARTE, para um plano posterior, porém não inferior.
Um projeto torna histórica a criatura humana. Contudo esta historicidade não se encontra na formulação “daquilo que significa este projeto. Ao contrário, o teste do “QUE É ARTE é o  que ele é em si mesmo”, e não apenas pela sua propaganda ou pela sua descrição.

Fig. 02 –  Uma das versões do nascimento de Atenas que nasce adulta, inteligente e guerreira da mente de Zeus. No centro deste mito aponta para a dolorosa ruptura que todo mortal necessita praticar com os conhecimentos anteriores e as condições necessárias para um saber vivo e dinâmico.

 Para o artista o seu preço de um projeto de ARTE é a coerência entre a obra e a vida do proponente, e preço que é pago por ele. O fato histórico nasce desta íntima relação. O teste desta historicidade realiza-se na coerência entre o ENTE e o SER desta criatura humana. Aristóteles não podia ser mais claro e coerente. Segundo (1973: 243 114a 10[1])  ele, “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
A natureza das mudanças mentais e culturais faz com que os mártires paguem com a própria vida esta busca da coerência com o seu projeto. Novos paradigmas científicos, do mundo, induzem sábios a pagarem, o seu projeto, com a extrema pobreza, com o desprezo dos outros e com desqualificações de toda ordem. Os projetos de fornecer novas fronteiras da percepção humana faz com que artistas enfrentem a condição de serem qualificados, pela sociedade, como temerários e os mais inúteis.


[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.


Fig. 03 – O jovem Masaccio (Tommaso di Ser Giovanni di Mone (Simone) Cassai 1401-1428) recriou uma das imagens  fundamentais da cultura  ocidental Contudo antes de qualquer sentido é necessário observar a construção com tinta e pincel que ele retomou de Giotto de Bondone (1266-1337) e se desvia da corrente bizantina e gótica. Na sua breve existência colocou uma das pedras fundamentais no caminho de Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio e Miguel Ângelo. Num recente restauro evidenciou a figura universal e atemporal da  pessoa humana com que o Renascimento depositou no humanismo como medida de todas as coisas.

Os artistas, os sábios e os mártires são agentes de mudanças estéticas, conceituais e culturais. Na contramão, nenhum ser humano pretende mudanças radicais e imprevistas, pois carrega, profundamente no seu inconsciente, o trauma da mudança radical do útero materno ao mundo externo. Sigmund Freud ainda acentua que qualquer civilização é aversiva ao ser humano natural.

Fig. 04 –  Uma das expressões maiores da Poesia Universal, Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) pagou alto a sua opção pela sua opção pela arte pura. Nos seus textos, poesia e ditos ele distingue o campo da das forças da ARTES e as distinguem da forças entrópicas da NATUREZA.

O marketing e a propaganda contornam e reforçam esta aversão profunda pela mudança. Para este contorno, implantam necessidades subliminares, vontades alheias e que parecem naturais. Necessidades “fabricadas” que impõe a mediação em relação “o que as coisas significam”. Estas vontades alheias contornam a necessidade de mudanças essenciais e da própria natureza humana. Com esta busca de um significado útil – para estes medidores contornam a natureza “das coisas” e o trabalhar o que são”.  Levam as vontades alheias do marketing e propaganda assumirem posições de um professor que busca impor ideologias, das quais este pseudo mestre se julga estar por cima e por fora. A ética é descartada neste processo para a fortuna destas vontades alheias. Elas conduzem, contornam e escamoteiam a natureza “das coisas” e o trabalhar o que são. Os conquistadores das Américas agiam dentro destas armaduras. Impunham “o que as coisas significavam para o “Rei e por Deus”. Os conquistadores das Américas sempre esta posição ideológica, mesmo diante das mais brilhantes civilizações. As civilizações das Américas eram desqualificadas, pois não tinham o menor direito a “SEREM o QUE ERAM” diante do que “significavam para os conquistadores. Para estes eram apenas “obras do demônio”.

Fig. 05 –  A imagem, acima, evidencia o significado dos negócios  religiosos coerentes com a concepção do lucro e do fazer. Porém infinitamente distantes de toda concepção, deliberação e decisão coerente com a natureza da mediação gratuita e autônoma da criatura humana e o seu Criador.

A corrupção dos ótimos é péssima. Assim a autonomia humana pode ser corrompida facilmente pela escravidão voluntária. A recompensa desta corrupção - da renúncia da autonomia e da vontade própria - é a possibilidade de dissimular e até escapar de qualquer sanção moral dos seus atos. Esta corrupção contenta-se em usufruir o seu bem estar pontual apenas “o que as coisas significam  e para ao lucro fácil e amoral. Nesta corrupção renunciam a “SEREM o QUE SÃO em si mesmos” perdendo definitivamente o seu projeto e coerência com ele. Para o artista esta corrupção ocorre quando ele se entrega ao significado econômico e social de seu projeto.

Fig. 06 –   Renan Santos  constrói uma imagem  do processo de escravidão voluntária. Para tanto visualiza a  contradição do ser humano enjaulado numa gaiola e do pássaro livre e provedor de quem deseja ser provido nas suas necessidades básicas além de usufruir da absoluta falta de sanção moral dos seus atos.

Para os artistas, Nietzsche apontou para o centro do problema, quando afirmou (2000, p. 134) que .
A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário
Com esta mentalidade este autor distingue ARTE, de CULTURA e de FORMAÇÂO. No entanto esta distinção não constitui exclusividade da natureza da Arte e do artista. A natureza da Democracia e as doutrinas relativas a ela, distinguem-se em condições semelhantes. Mary FOLLET adverte (apud CARVALHO, 1979, p.60[1]) e põe limites para quem quiser promove-la de fato:
“só teremos democracia verdadeira quando os jovens não mais forem doutrinados, mas formados no caráter da democracia. Portanto o meu dever como cidadão não se esgotou naquilo que trago para o Estado. Meu teste como cidadão é quão plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim”.
Evidente que o escravo não pode expressar em si mesmo o todo no qual se encontra, a sua natureza e sua própria condição. A opressão o coloca na heteronímia e corta, pela raiz, a vontade de fugir da sua condição e expressar o todo em si mesmo. Esta distorção projeta-se no próprio futuro de escravo liberto. Ele reproduz inconscientemente a condição anterior. Ou pior, no seu frágil equilíbrio do recém liberto, corre o risco de passar ao papel do opressor com requintes e conhecimento de causa.


[1] CARVALHO, Maria Lúcia R.D.  Escola e Democracia. Subsídios para Um Modelo de Administração segundo as Idéias de M.P. Follet.  São Paulo: E.P.U. Campinas, 1979. 102p



                                                              http://en.wikipedia.org/wiki/Roman_Cie%C5%9Blewicz
Fig. 07 –   O cartaz clássico de Ciesiewicz Roman, realizado no ano de 1975.para  o teatro polonês, enfoca a pessoa que perdeu o seu próprio rosto e sua identidade própria. Imagem coerente com os processos de Marketing e Propaganda que desejam eliminara e reduzir os consumidores a uma massa uniforme e sem rosto.

O mesmo pode ser dito da natureza da ignorância, inclusive diante do maior acúmulo intelectual. É o temor expresso por Tony JUDT quando afirma que o maior perigo não está em ignorar ou não seguir o passado, mas citá-lo - e tentar reproduzi-lo - a partir da ignorância e da onipotência”. Assim, ele afirma, com frio e calculo do humor britânico, que a principal tarefa do intelectual e filósofos políticos não será o  de imaginar mundo melhores, mas pensar como evitar que sejam piores do que os atuais”. Evidente esta posição só é possível para quem domina e for competente para entender o QUE É O PASSADO. Só após domínio desta questão primordial, o SEU SIGNIFICADO poderá ser colocado no presente e projetado para o futuro.


Fig. 08–  Uma das manifestações de indígenas brasileiros ao longo do evento da RIO 92 + 20. Apesar do meio milênio de dominação europeia aa cultura ancestral continua sendo cultivada e os seus rituais adequados ao novos tempos de internacionalização planetária. 

As condições, de uma ruptura epistêmica saudável e produtiva, estão na possibilidade, de quem a pratica, entender a natureza daquilo QUE FOI O SEU PASSADO com o qual está rompendo. Esta ruptura é obra de quem delibera e decide.  Neste deliberar e decidir inclui-se administrar as perdas, como ocorre em toda escolha consciente. A obra do escravo não possui valor moral e estético, pois ele não delibera e nem decide por si mesmo.



Fig. 09 –  O emblema da  Universidade do Brasil que foi colocada, em 1931,  como paradigma das demais universidades nacionais ostenta a efígie da deusa Atenas(Minerva)  que venceu o concurso para ser a protetora dos atenienses ao lhes ofertar um muda de oliveira, A sua efigie evoca o seu nascimento mitológico como guerreira,  adulta, e virgem.
O mal estar, a necessária ruptura da sua condição anterior e os sofrimentos do que sentiria o Pai dos Deuses, neste ato, foram projetados para o interior do plano humano na mitologia grega e descritos na cena do nascimento de Atenas. No entanto em qualquer mudança - consciente ou inconsciente - estes sofrimentos e mal estar decorrentes são idênticos aqueles que todo ser humano atravessa no momento de assimilar um novo saber. Se estas mudanças quiserem ser coerentes, elas impõe uma atenção integral para a nova escolha, além da disposição dos preços a pagar nas respectivas perdas, mesmo para os que estão mais habituados a esta rotina de crescimento. 


Fig. 10 –  A imagem de Helios SEELINGER (1878-1956) que tenta dar forma e cor aos impulsos republicanos numa pintura é coerente com estes sentimentos vagos, não lineares e não unívocos.

Este site insiste no QUE É ARTE ou o QUE NÂO É ARTE e passa para um plano posterior a questão do SIGNIFICADO da ARTE.  No entanto não pode deixar de reconhecer que a OBRA de ARTE É PRIMORDIAL para poder responder O QUE É ou NÂO É ARTE.

FONTES
Tony Judt  e a CULTURA do SÉCULO XX
ESCRAVOS no MUNDO
Amériques  États-Unis Près de 27 millions d'esclaves dans le monde, selon un rapport américain
Le Monde.fr avec AFP | 20.06.2012 à 12h01 • Mis à jour le 20.06.2012 à 12h01


LUTAS MARCIAIS para FIEIS de IGREJA


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