terça-feira, 19 de junho de 2012

ISTO é ARTE - 036


ARTE compensadora da VIOLÊNCIA do ESTADO.

Fig. 01 –  O Palácio de VERSALHES , construído ente 1660-1682,  foi uma obra que pode ser vista na perspectiva de um projeto civilizatório cujos efeitos se prolongam até os dias presentes ultrapassando vicissitudes de toda ordem ao longo de mais de três éculos. Além de conferir  visibilidade ao Estado Francês e muito além de servir monarcas iluminados, ou déspotas esclarecidos, superou regimes,  revoluções e hoje continua a ser uma fonte de rendimentos diretos e indiretos para a nação francesa, Na época de sua construção, como nos dias presentes, foi um imenso canteiro de obras onde arquitetos, escultores, ebanistas e simples artesões encontraram e ainda encontram o seu sustento com o seu trabalho. O mesmo pode ser dito de grande gama de manifestações artísticas encontram meio e cenário  para as sus manifestações .
O Estado contemporâneo assumiu a prática da violência contra os seus cidadãos que não se enquadram no seu projeto civilizatório do bem estar coletivo. É um contrato público e notório, que este Estado necessita cumprir,  para coibir a violência, o caos e a anarquia que indivíduos isolados, grupos, ou mesmo contra outros Estados que atentam contra o bem estar coletivo. Para tanto ele necessita armar-se física, jurídica e ideologicamente. Ele sabe, desde Hobbes, que as pessoas humanas só obedecem a quem lhes poder dar ou tirar algo. Cabe ao Estado  tirar algo de quem não se enquadra neste bem estar coletivo.
Fig. 02 –  A civilização suméria registrou na arte deste mosaico uma pequena amostra do seu projeto civilizatório quando um músico, portando sua harpa zoomorfa acompanha a cantora que se apresenta numa cerimônia publica dedicada à PAZ.

 Não é só competência deste Estado do bem estar social, mas constitui um contrato com os seus cidadãos no caso de falhar, ou a violência criar corpo. O Estado pratica esta violência, em geral, ao tirar a liberdade daquele incapaz de viver o projeto civilizatório do qual ele se julga o fiel depositário. Pode tirar est liberdade devida ao crime ou a doenças contagiosas. Presídios, hospitais psiquiátricos, colônias de leprosos.. são algumas das instituições que o Estado mantém como uma amostra física deste potencial de retirar a liberdade de seus cidadãos que não se enquadram no seu projeto civilizatório do bem estar coletivo.
Fig. 03 –  Numa visão completa da arte do  mosaico da  PAZ da fig. 02, esta figura  mostra o seu conjunto e aquele dedicado à GUERRA. Eram mosaicos que figuravam simétricos nos dois lados da harpa zoomorfa que o músico portava.  O contraste complementar mostra na figura superior o exercício da violência da guerra que o estado assumira com os seus cidadãos e no inferior as razões que levaram a esta prática coletiva da GUERRA e que certamente era aversiva a todos.  

Cabe aqui uma digressão, pois o Estado contemporâneo professo a sua condição de leigo. Por isto está fora de sua alçada a promessa do bem estar futuro ou da eternidade. Era o seu refúgio no tempo em que Igreja e Estado interagiam e os limites entre poder temporal e imaterial não eram bem definidos. Esta interação e falta de limites continua existindo no mundo islâmico ou budista. No mundo islâmico o Estado e a Religião se confundem e os mártires marcham para a morte com a promessa de um paraíso de virgens. No mundo oriental a promessa de atingir o Nirvana pleno no eterno conflito da construção e destruição ou no taoísmo os complementos  YNG (trevas) – YANG (luz) ou EROS e TANATOS do mundo ocidental.
Fig. 04 – O flagelo e o cajado, ostentados por esta figura Amenofis IV ou Akenaton, apontam para o coração deste faraó egípcio. Como vértice do Estado e da civilização egípcia ele armar-se física, jurídica e ideologicamente tanto para  tirar ou dar. Cabe a ele tirar liberdade e conforto de sua civilização como dar a orientação pelo cajado. Esta dupla ação constituiu a unidade que permitiu ao Egito Antigo atingir estágios civilizatórios únicos, quando o restante da humanidades estava entregue ao caos primitivo,  à Natureza, e barbárie
Desarmado, desta transcendência, o Estado necessita recorrer a outros meios para dar ou retribuir algo que o seu cidadão considera como positivo. Assim recorre a projetos compensadores desta violência e que ele deve exercer contratualmente.
Fig. 05 – O flagelo agora é a espada e o cajado nas mãos do Leviatã, imaginado, em 1651, por Thomas Hobbes (1588-1679)  num momento crítico da cultura britânica. Agora o vértice deste Estado é constituído e é formado pelas multidões que constituem o PODER ORIGINÀRIO britânico. Eles delegam simbolicamente este PODER a alguém que não passa de um símbolo contratual e sem poderes executivos, legislativos ou judiciários. Cabe ao  PODER ORIGINÀRIO  tirar ou dar física, jurídica e ideologicamente castigos ou prêmios. Cabe ao Leviatã-povo  tirar a liberdade, a riqueza e o conforto de sua civilização como dar a orientação pelo cajado. Como no Egito Antigo esta dupla ação constituiu a unidade que permitiu ao Império Britânico atingir estágios civilizatórios únicos e superar um a um povos e culturas que abriram as suas rotas de navegação e trouxeram tesouros das terras novas e distantes e que se encaminharam um a um para os seus bancos ingleses e que permitiram dar o salto de uma primeira industrialização massiva e coerente,

Neste exercício recorre, desde a mais remota antiguidade, à Arte, à Cultura e, mais recentemente,  à Ciência. A Ciência demonstrou que pode facilmente ser transformada em tecnologia e que se traduz em poluição e em guerras tecnológicas e industriais que colocaram a espécie humana a beira de sua extinção.
Fig. 06 –  Um Teatro Romano em  Leptis Magna na atual Líbia  Esta civilização humana antiga, além dos serviços básicos das comunicações e do abastecimento das necessidades básicas empreendia obras públicas sob o lema “Pão e Circo” com a função de estetizar o seu poder brutal levado à níveis intoleráveis.

No caso da Cultura o esporte, os espetáculos públicos deram a fórmula do Império Romano do “Pão e Circo” que no máximo permite encobrir o exercício do poder aversivo deste estado que espalhou, pelas suas estradas, os mais atrozes espetáculos públicos de execuções dos seus cidadãos e inimigos reais ou imaginados. Cumpria-se o antigo ditado: “com as lanças dá para fazer tudo, menos ficar sentado sobre as suas pontas”.
Foto colorida, de 1900, da Ópera.
Fig. 07 –  A Opera de Paris (1862-1875) projetada por Charles Garnier (1825-1898). Esta obra pode ser vista como uma resposta francesa ao desenvolvimento inglês, aos desastres nacionais externos, como da guerra franco prussiana e, internamente, d Comuna de Paris.  Sem um projeto civilizatório não teria sido possível a remodelação radical e estratégica da cidade de Paris pelo barão George-Eugène Haussmann (1809-1891) que abriu espaço privilegiado para a Ópera, hoje denominada Nacional da França. A resposta efetiva francesa veio em 1889 com o Centenário da Revolução, a Grande Exposição Universal e a emblemática Torre Eiffel símbolo da cultura francesa. Acumulavam a experiência do Versalhes de 1660-1682.

Nos Estado contemporâneo os retornos econômicos nos esportes são muito modestos se comparado aos fantásticos investimentos e marketing neles investidos. Isto pode ser visto no efeito das Olimpíadas de Atenas[1], na copa mundial da África do Sul[2] ou na Eurocopa de 2012[3]. O máximo que conseguem é a alienação temporária da população e o desvio da atenção do poder em mãos inábeis ou com outros interesses.



Joseph PAXTON- 1803-1865
Fig. 08 –  A Rainha Vitória (1819-1901), como símbolo do  PODER ORIGINÁRIO do  Império Britânico inaugura o  Crystal Palace em 1851.  As manifestações civilizatórias britânicas caracterizam-se pelas massivas manifestações populares enquanto os soberanos ingleses, sem poderes executivos, legislativos ou judiciários, exercem apenas um poder simbólico. O seu trono ergue-se no centro de uma intensa e movimentada rede das suas rotas marítimas, de posse das terras novas e distantes e dos tesouros que culturas mais ricas encaminharam, um a um, aos seus bancos como salto positivo de seu comercio, mas com menos habilidade e diligência coletiva dos britânicos. Com estes tesouros acumulados nos seus bancos, os ingleses deram o salto de uma primeira industrialização massiva e coerente. É esta era industrial que forma o cenário do  Crystal Palace constituído por módulos industrias produzidas pelas suas fábricas 

A Cultura e a Ciência colocadas sob desconfiança, resta ao Estado o difícil caminho da Arte. Começando a examinar a Arte pela economia. É fato concreto e comprovado que há culturas inteiras vivendo 365 dias por ano, das obras criadas onde floresceu a Arte alguma vez e há séculos no seu território. É só conferir as legiões de turistas que invadem diariamente o Palácio Versalhes, visitam São Petersburgo ou Acrópole de Atenas e centenas outros lugares que lotam os hotéis e restaurantes destes lugares.
Fig. 09 –  O Castelo de Neuschwanstein da Baviera  iniciado em 1869 por   LUDOVICO II ( Ludwig Otto Friederich Wilhel von Wittelsbach 1845-1886)  Rei da Baviera . Em sintonia como o músico Richard Wagner (1813-1883) este rei valeu-se da Arte para eternizar o seu reinado conduzido a um triste desfecho e sufocado pelas ambições de Otto von Bismarck (1815-1896). Em compensação hoje são 3 milhões e meio de visitantes anuais desta sua obra audaciosa. Os investimentos, nesta obra, foram cobertos, não só pelos milhares de empregos que esta obra de Arte gerou, como pelos retornos financeiros em  restaurantes e hospedagem na Baviera

 A dimensão econômica da Arte, no entanto, é mínima diante do seu aspecto civilizatório e da realização pessoal de quem se entrega à sua prática ou ao seu usufruto material e imaterial.  Contudo, quando ela se torna inatingível - para quem não está preparado para a Arte - passa a desqualificá-la como sinônimo de infantilismo, de transgressão até de delinquência. No contraditória a esta concepção a Arte é aquilo que permanece das civilizações, dos Estados ou dos indivíduos e daquilo que eles foram capazes de contribuir de positivo e consolidar em obras que orgulham a espécie humana. Cada obra de Arte carrega - no mínimo de sua forma física - o máximo de conteúdo que uma criação humana pode carregar para qualquer lugar ou tempo.

Le Monde 20.11.2011
Fig. 10 –  O pintor mexicano DIEGO RIVERA enfocou, nesta obra de ARTE, a imensa massa humana na horizontal, enquanto se erguem na vertical  os arranha-céus, da cidade de Nova York . Nesta imagem torna-se evidente o VIGIAR e o PUNIR de Michel Foucault (1926-1984), aplicado a uma civilização humana que adotou o comportamentalismo, a estatística, a Ciência e a tecnologia como ferramentas do seu fazer político e social.

A Arte também como qualquer bem corre sérios perigos de corrupção. A Arte entregue à heteronímia do Estado, da Igreja, das Universidades, das Academias, do Capital especulativo ou de propaganda do marketing, a colocam no campo amplo e aberto das forças da Cultura destes âmbitos. Âmbitos nos quais o máximo que a Arte consegue é contribuir para alienações pontuais temporários da população e o desvio da atenção do poder em mãos que a usam para outros interesses. Esta heteronímia que se avoluma na medida em que a ARTE é apenas pretexto destes poderes se perpetuar, fazerem o se marketing sem a menor coerência e legitimidade da base do PODER ORIGINÁRIO.
Fig. 11 –  Ao longo de Estado Novo Brasileiro (1937-1945) ergue-se o prédio do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP). Pode-se considera tanto o ministro Gustavo Capanema co esta obra um verdadeiro projeto civilizatório compensador da violência e arbítrio político da época. É verdade, que na mesma época, a maioria dos Estados Nacionais, estava próxima do mesma concentração do poder em mãos individuais e que fustigavam a própria Arte pela desqualificação de “degenerada”.  A compensação,  a este exercício explicito da violência,  veio da Arte. Este prédio contou com a colaboração de Le Corbusier e forneceu aos arquitetos brasileiros um firme contraponto no exercício da autonomia de sua Arte.  O prédio contou com a colaboração de escultores, pintores e o design do seu mobiliário.

As dificuldades são mais que evidentes no campo de forças da Arte. A dificuldade inicial é de o Estado oferecer algo positivo, atrativo em vez de praticar a violência e tirar a liberdade daquele incapaz de viver o projeto civilizatório do qual ele se julga o fiel depositário. Por mais necessário que seja o TRABALHO ele - corrompido pela ESCRAVIDÃO - liquida qualquer projeto civilizatório para o Estado e para o povo. A dificuldade continua no interior da própria da Arte  para transformar o seu Tabu em Totem.
Fig. 12 –  . O design do mobiliário do prédio do MESP tomou em conta a coerência com as obras dos arquitetos,  escultores e pintores fornecendo-lhes a oportunidade do exercício da brasilidade e tropicalidade. Assim cumpria o que Mário de Andrade ensinou aos estudantes da UNE em 1942 quando estabeleceu os pilares conceituais da “pesquisa estética permanente, a atualização da inteligência brasileira e a formação de uma consciência nacional, não em bases individuais, mas coletivas”.  
A criatura humana natural não deseja mudanças. Qualquer esforço de ultrapassar a linha da Natureza bruta, e dada, é imediatamente anulado pela entropia que reconduz, esta mesma criatura,  à sua condição da Natureza animal. Este projeto civilizatório só se consolida em instituições que exercem o papel de origem, promoção e conservação deste legado positivo e do quais todos usufruem e se orgulham sem reservas.
Fig. 13 –  Uma das contribuições brasileiras para a ONU, além do projeto de sua sede, foram dois imensos painéis, um dedicado à GUERRA e o outro, à  PAZ. Obras de Cândido Portinari (1903-1962) eles atualizam, para o nosso tempo,  as representações sumérias das figuras 02 e 03. Estes dois temas, contrastantes e complementares, visualizam o eterno conflito da construção e destruição ou os complementos  YNG (trevas) – YANG (luz) do taoísmo ou o TANATOS e o EROS, do mundo ocidental. Estes conflitos travam, este mesmo conflito, no íntimo de cada SER humano, antes de estarem no mundo externo e se evidenciarem nas ruinosas e sangrentas GUERRAS declaradas e nos sucessivos tratados de PAZ. A Arte cumpre o seu papel catártico individual e coletivo a constituir índices e signos que levam à terapias individuais ou a prevenção coletiva de conflitos evidentes e contornáveis por uma civilização. A ONU e a UNESCO trabalham política, diplomática e contratualmente a estes signos, antes que seja tarde demais e que podem levar à extinção da espécie humana. Portanto os murais GUERRA e PAZ  de Cândido Portinari cumprem, no lugar certo, este papel na sua condição obras da Arte.


 O historiador Marques dos Santos nos mostra, (1997-p.141)  como no Brasil a Academia Imperial de Belas Artes associou-se com D. Pedro II, que “cumpria um decisivo papel simbólico na representação do Estado brasileiro e na legitimação no plano internacional, mas que se constituiu num agente empenhado do ideal civilizatório”. Estado brasileiro que possui atualmente instrumentos legais e jurídicos que permitem uma conduta exemplar de qualquer um dos seus agentes que pretenda agir em algum projeto civilizatório compensador. O caput do artigo 37, pede, a estes mesmos agentes, a prática da “legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” (LIMPE). A impessoalidade já foi magistralmente descrito, em 1908, pelos fundadores do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul quando afirmavam “o que constitue a pessoa juridica em associações do typo da nossa, não é propriamente o conjuncto dos socios; é antes o seu patrimonio, o qual no caso  occorrente, será formado pelas doações e liberalidades, das pessôas que verdadeiramente se interessem pelo desenvolvimento das artes entre nós[1].  Assim qualquer um que ocupe algum cargo público, tanto no âmbito federal, estadual, municipal ou institucional, sabe e conhece os parâmetros de competência, funções e ações no âmbito de projeto civilizatório compensador da violência que tiver de praticar em nome do contrato público com o bem comum e coletivo.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS.

ANDRADE, Mário. O movimento modernista. Rio de Janeiro : Casa do Estudante do  Brasil, 1942, 81 p..

GOMES, Ângela de Castro. (org)  Capanema: o Ministro e seu ministério. Rio de Janeiro  : Fundação Getúlio Vargas, 2000. 269 .

SANTOS – Afonso Carlos Marques dos (1950-2004) . A Academia Imperial de Belas Artes e o Projeto Civilizatório do Império in 180 anos da Escola de Belas Artes  - Anais do Seminário EBA 180 Anos -  Rio de Janeiro : UFRJ, 1997,  pp.127- 146.

FONTES DIGITAIS.

ACRÓPOLE – Atenas - 437-422 a. C.

CASTELO de NEUSCHWANSTEIN - 1869 – 1.3 milhões de visitas anuais

EFEITOS MODESTOS nos INVESTIMENTOS PÚBLICOS nos ESPORTES

PREDIO MESP- RJ  1936-1945
www.vitruvius.com.br/ minhacidade/mc192/mc192.asp 

SÃO PETERBURGO – 1703-1712

VERSALHES 1660-1682

VIGIAR e PUNIR – 1975 - Michel FOUCAULT

YNG – YANG – taoista


[1] - Livro de Atas nº 1 da Comissão Central do Instituto de Belas. Artes do RS – Sessão de 01.05.1908, fl. 3v

Este material possui  uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...



  blog :

sábado, 16 de junho de 2012

ISTO é ARTE - 035


QUANDO o ÓTIMO é INIMIGO do BOM

ou quando os CRIADORES de CULTURA  marcham solidários, interativos e civilizados na  LUTA CONTRA a OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA.

Fig. 01 –  A civilização humana considerada pelos vetores cartesianos dos eixos x - y  dispostos na x-sincronia horizontal [Volksgeist] pelo progressão do tempo considerado na y-diacronia vertical [Zeitsgeist] na qual se acumulam uma sobre a outra as diversas etapas. Falta o eixo z-dispersão espacial [Weltgeist], nesta representação bidimensional, indicando os diversos lugares do planeta nos quais se desenvolveram estas civilizações.

O ÓTIMO é inimigo do BOM. Este parece também o mote da luta da PÓS-MODENIDADE contra a MODERNIDADE. Em termos materiais seria a luta da ERA PÓS-INDUSTRIAL com a ERA INDUSTRIAL Uma das características da ERA INDUSTRIAL foi a produção em série com a marca da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA embutida nos seus produtos. A indústria automobilística fabricava um modelo para um ano. No ano seguinte lançava outro modelo no mercado que tornava o ano anterior não só obsoleto, mas arcaico por melhor que fosse.

Fig. 02 –  Uma  imagem do prédio, em ruinas, da antiga fábrica de laticínios DEAL, depois CORLAC, de Porto Alegre. Funcionando vinte quatro horas e sete dias por semana acumulava [entrada] todo o leite produzido na região, o industrializava [processava] e o distribuía [saída] num legítimo e autêntico SISTEMA da ERA INDUSTRIAL ao modelo taylorista. Reinando soberano sobre este sistema estava o relógio como controle de cada fase. As micro industrias, de cada bacia leiteira, tornaram obsoleto este caro e concentrador sistema industrial.

Na ERA INDUSTRIAL uma casa não podia ser mais personalizada, pois estaria fora dos bens simbólicos produzidos pelo e para o mercado imobiliário que trabalha com produtos estandardizados e com preços coerentes com esta classificação impessoal. Os resultados foram enormes conjuntos residenciais em série absolutamente iguais e até o menor elemento ao estilo do nosso antigo BNH.
Fig. 03 –  A capital brasileira foi concebida e construída ao modelo da era indústria. Nesta imagem torna-se evidente a rápida e a irreversível obsolescência da parte original (1956-1960) e a sobreposição de prédio concebido e executado na pós-modernidade com meios eletrônicos de planejamento e peças produzidas especificamente para a obra.

A ERA PÓS-INDUSTRIAL deu um passo a mais neste caminho, mas personalizando cada peça com a ajuda do robô e da informática. Tornou os seus produtos virtuais e diferentes peça a peça. Um dos exemplos extremo na informática é trabalho em “nuvens”. O produto individualizado, com o seu IP numérico-digital, possui  mecanismos e programas virtuais e descartados logo após o seu uso, pois estes produtos estão em rede mundial.
Porto Alegre não possui vestígios, no seu isolamento pontual, nem índices de haver participado ativa e pioneiramente dos movimentos estéticos que se autodenominam de e glorificam com “contemporâneos”. Autodenominados heróis e pioneiros que forçam  a sua passagem e a querem continuada, brilhante e glorioso num  PROGRESSO UNIVERSAL de uma carruagem impossível de frear. Contudo a arte praticada em Porto Alegre não pode ser desqualificada, contornada e morta como algo abjeta. Muito menos ser isolada pontualmente e sem o direito de continuar no caminho.  
Fig. 04 –  A pós-modernidade temporã para a cultura de Porto Alegre e produzido na obra do  MATA-BORRÃO projeto do  arquiteto Marcos David HECKMANN. Uma obra fora da série industrial, com os materiais desta, contudo sem se submeter a linha de montagem em série. Certamente também não é uma obra do artesanato, mas elas estão marcando presença e que, na pós-modernidade, são planejadas peça a peça no computador e produzidas com os cortes a laser. O MATA-BORRÃO faz pensar na concepção da pirâmide do Louvre pelo arquiteto chinês Pei e a produção de cad peça única e exclusiva para esta obra.

O caso do “Mata Borrão” construído no lugar do prédio projetado por Oscar Niemeyer de época posterior ao seu projeto do IPE-RS. Ou o caso de Brasília com arquitetura inteiramente degradada recebendo uma camada superior em outra época e com outros materiais [fig. 03] . Com certeza não é mais concebível o grito passageiro e isolado de quem sozinho quer mudar a História, ou, ao menos, mostrar que foi o vanguardeiro na área. No contraponto a este grito isolado é cada vez mais necessária na marcha solidária, interativa e civilizatória que necessita da capacidade  de cada um para atingir projetos que tornem estas marchas históricas.
Este grito isolado não se constitui uma simples quebra de protocolos, de contratos e de tradições - sem um projeto instaurador de algo capaz de suportar as adversidades e os seus contraditórios – continua sendo uma pirraça infantil, uma barbárie de bugres ou até um assalto de delinqüentes qualificados. Em especial numa época em que a humanidade dispõe os bens culturais provenientes de projetos de todos os quadrantes, de todos os tempos num gigantesco acervo virtual de bens simbólicos e materiais. No entanto, não é só este patrimônio gigantesco que enrique a humanidade, mas, e sobretudo, é a capacidade de mudança individual e coletiva, de educação continuada e de vitalidade na circulação no âmbito das novas circunstâncias.
Fig. 05 –  Uma das figuras lembradas em cada passo da pós modernidade é FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900) aqui numa foti ao lado da mãe.  A produção compulsiva do pensamento deste filósofo alemão foi de dimensões gigantescas e de um caos continuado. Este pensamento foi organizado pelas mãos de sua mãe e, especial, pelas das suas irmãs. A pós-modernidade permite as interações  femininas para muito além da modernidade da era industrial e infinitamente mais do que na era agrícola quando pareciam puras e simples posses familiares e do clã a que pertenciam

Esta capacidade de flexibilidade mental também atinge o universo das forças estéticas. Se na era industrial a Arte seguia tendências - e que alguns consideravam estilos artísticos - a pós-modernidade oferece uma gama múltipla na sua produção como na recepção de cada uma das suas manifestações. De um lado não é mais possível reduzir  estas manifestações a leituras e narrativas lineares e unívocas, ao modelo da linha de montagem industrial. Estas manifestações da pós-modernidade, exigem não só produtores coerentes com esta virtualidade como observadores competentes para a sua adequada decodificação.
Um sistema é característico da era industrial visto pelo lado da semiótica. Um sistema possui a entrada de implementos, uma fase de elaboração e que culmina na sua saída e recepção da parte de consumidores. Este sistema também entrou e uma fase de obsolescência apesara de mover ainda o Mercado de arte físico. A pós-modernidade, com os seus produtos, que se desviam do múltiplo físico e ingressam no mudo virtual, trabalha em rede e interação.
De um lado esta concepção da arte - retomada da sua raiz -permite afirmar, de novo, que ela reside em quem a produz e não no produz e que passa ser um mero índice de que produz. De outro lado aproxima a Arte da concepção de Leonardo da Vinci de que “um quadro era algo mental”.
Não faltam precursores desta retomada da Arte a partir dos seus fundamentos. Assim o percurso das obras e pensamentos de  Friedrich Wilhelm Nietzsche, Marcel Duchamp e John Cage mostram as múltiplas possibilidades de o ENTE materializar-se no modo de SER. Nas Artes Visuais Marcel Duchamp chegou a materializar um grande número de índices do seu pensamento e que se afastam de produtos em série com a marca da OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA da era industrial.
Fig. 06 –  MARCEL DUCHAMP -1889-1968
Esta concepção pós-moderna resguarda o ENTE humano do perigo de seu SER tornar-se um produto que se confunde com os resultados da máquina e de sistema controlado  por poderes
Cabe o contraditório a qualquer entusiasmo precoce, pois a pós-modernidade não pode ser mitificada e ser vista como mais uma retomada da antiguidade clássica, Renascimento italiano o modernidade clássica. Ele é apenas mais uma passagem como foi o Helenismo e Maneirismo.
A pós-modernidade possui respostas bem mais amplas, circunstanciadas e objetivas para a pergunta de QUEM REALIZA o BEM-ESTAR, a CIVILIZAÇÃO e o PROGRESSO. O mesmo pode ser dito em relação à Arte onde desapareceram os grandes ícones, o gênios da Arte e os chefes de escolas, movimentos e tendências.
Fig. 07 –  MARCEL DUCHAMP -1889-1968 A noiva despida pelos seus pretendentes 1915-1923

Nas narrativas, e própria História, muitas vezes parece que o progresso no Brasil foi realizado por tal ou qual regime. Quando o bem-estar, a civilização e o progresso são, e foram realizados, pelo PODER ORIGINÁRIO.
Muitas vezes este PODER ORIGINÁRIO estava distante, seguia outro caminho dos chefes nominais e nem tomava conhecimento do que o governo tal ou qual estavam realizando ou defendendo de forças adversas a ele.
Evidente que todos olham para o vértice da pirâmide e que está sentado sozinho neste topo. Muitas vezes estes ocupantes, deste lugar elevado, não faziam outra coisa do que se equilibrar neste vértice e se vangloriar do tempo em permaneciam neste exercício.
Fig. 08 –  MARCEL DUCHAMP -1889-1968 “A noiva despida pelos seus pretendentes” 1915-1923 ou o “GRANDE VIDRO numa reconstrução museológica . O original é único e irreconstruível, pois o vidro trincou, após 8 anos de trabalho nesta obra. Diante disto o artista deu a obra como concluída. 
Para o historiador também fica mais fácil e para os seus leitores mais evidente acompanhara a ascensão, a permanência e queda deste vértice de um único sujeito singular. Na verdade é uma biografia deste sujeito que se dedica a este projeto ambicioso. No entanto escapa para esta narrativa e fica obscuro para a maioria dos leitores e publico em geral o que de fato ocorreu neste período abduzido por um sujeito singular.
Historicamente já foi comprovado o contraponto de que não é possível admitir que a “quantidade gera a qualidade”, ou a tese da socialização igualitária da Arte. Alguns indivíduos conseguem, como num fractal do todo ao qual pertencem, expressar, em si mesmos, este todo como o artista Marcel Duchamp percebeu e expressou (1960) esta questão do fractal do todo em cada indivíduo da espécie:
E sob a aparência, estou tentado dizer sobre o disfarce, de um dos membros da raça humana, o indivíduo é de fato sozinho e único e no qual as características comuns a todos os indivíduos, tomados no conjunto, não possuem nenhuma relação com a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo[1].
Trata-se deste grito isolado que é cada vez mais necessário na marcha solidária e interativa na multidão anônima. Explosão e grito isolado que dependem da capacidade de cada um para entender e atingir projetos que tornem estas marchas históricas e civilizatórias.


[1] Alocução em inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13 de maio de 1960
in SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239
Fig. 09 –  O músico JOHN CAGE 1912-1992 foi o mestre de uma geração de artistas norte-americanos em especial da Pop Art.. Ele passou por um mosteiro budista no Japão. De volta aos EEUU apresentou, em  1952 , a sua obra mais conhecida que é a peça 4´33´´ que é uma performance de quatro minutos e trinta e três segundo do mais puro silencio e inação do pianista sentado diante do seu instrumento.  

Estes indivíduos, competentes para realizar, em si mesmos, esta fantástica somatória e a expressam na sua obra, não estão, em geral, no vértice de uma sociedade ou são seus lideres. Agem silenciosamente como John Cage na sua peça 4´33´´.  Neste silêncio e nesta “epoqué clássica, expressam esta somatória que revoluciona uma mentalidade e um mundo. Não se trata de retornar para o mundo da vulgaridade, da entropia e da Natureza. E neste sentido que destacamos aqui Friedrich Wilhelm Nietzsche, Marcel Duchamp e John Cage que nunca ocuparam posto de vértice de algum poder de uma sociedade, mas foram competentes para expressá-la em si mesmos.
Fig. 10 –  Os vetores cartesianos dos eixos x - y  dispostos na x-sincronia horizontal [Volksgeist] pelo progressão do tempo considerado na y-diacronia vertical [Zeitsgeist] na qual se acumulam uma sobre a outra as diversas etapas. Falta o eixo z-dispersão espacial [Weltgeist], nesta representação bidimensional, indicando os diversos lugares do planeta nos quais se desenvolveram estas civilizações.
No entanto este ÓTIMO possui o seu preço. Toda a civilização é aversiva à criatura humana natural, além de “não haver almoço grátis”, mesmo para este criatura natural. O primeiro preço é o esforço e a ruptura epistêmica necessária para a mudança de mentalidade para quem está preso aos estágios inferiores.



Alocução em inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13 de maio de 1960
in SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris  
         Flammarrion, 1991, pp. 236-239

INFORMÁTICA em NÙVENS

PREÇO da INFORMÀTICA na AMÈRICA LATINA

Este material possui  uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...

  blog :