ARTE
compensadora da VIOLÊNCIA do ESTADO.
Fig.
01 – O Palácio de VERSALHES , construído ente 1660-1682, foi uma
obra que pode ser vista na perspectiva de um projeto civilizatório cujos
efeitos se prolongam até os dias presentes ultrapassando vicissitudes de toda
ordem ao longo de mais de três éculos. Além de conferir visibilidade ao Estado Francês e muito além de
servir monarcas iluminados, ou déspotas esclarecidos, superou regimes, revoluções e hoje continua a ser uma fonte de
rendimentos diretos e indiretos para a nação francesa, Na época de sua
construção, como nos dias presentes, foi um imenso canteiro de obras onde
arquitetos, escultores, ebanistas e simples artesões encontraram e ainda encontram
o seu sustento com o seu trabalho. O mesmo pode ser dito de grande gama de
manifestações artísticas encontram meio e cenário para as sus manifestações .
O Estado contemporâneo
assumiu a prática da violência contra os seus cidadãos que não se enquadram no
seu projeto civilizatório do bem estar coletivo. É um contrato público e
notório, que este Estado necessita cumprir, para coibir a violência, o caos e a anarquia
que indivíduos isolados, grupos, ou mesmo contra outros Estados que atentam
contra o bem estar coletivo. Para tanto ele necessita armar-se física, jurídica
e ideologicamente. Ele sabe, desde Hobbes, que as pessoas humanas só obedecem a
quem lhes poder dar ou tirar algo. Cabe ao Estado tirar
algo de quem não se enquadra neste bem estar coletivo.
Fig.
02 – A civilização suméria registrou na
arte deste mosaico uma pequena amostra do seu projeto civilizatório quando um músico, portando sua harpa zoomorfa
acompanha a cantora que se apresenta numa cerimônia publica dedicada à PAZ.
Não é só competência deste Estado do bem estar
social, mas constitui um contrato com os seus cidadãos no caso de falhar, ou a
violência criar corpo. O Estado pratica esta violência, em geral, ao tirar a
liberdade daquele incapaz de viver o projeto civilizatório do qual ele se julga
o fiel depositário. Pode tirar est liberdade devida ao crime ou a doenças
contagiosas. Presídios, hospitais psiquiátricos, colônias de leprosos.. são
algumas das instituições que o Estado mantém como uma amostra física deste
potencial de retirar a liberdade de seus cidadãos que não se enquadram no seu projeto
civilizatório do bem estar coletivo.
Fig.
03 – Numa visão completa da arte do mosaico da
PAZ da fig. 02, esta figura mostra o seu conjunto e aquele dedicado à GUERRA. Eram mosaicos que figuravam
simétricos nos dois lados da harpa
zoomorfa que o músico portava. O
contraste complementar mostra na figura superior o exercício da violência da
guerra que o estado assumira com os seus cidadãos e no inferior as razões que
levaram a esta prática coletiva da
GUERRA e que certamente era aversiva a todos.
Cabe aqui uma digressão,
pois o Estado contemporâneo professo a sua condição de leigo. Por isto está
fora de sua alçada a promessa do bem estar futuro ou da eternidade. Era o seu
refúgio no tempo em que Igreja e Estado interagiam e os limites entre poder
temporal e imaterial não eram bem definidos. Esta interação e falta de limites
continua existindo no mundo islâmico ou budista. No mundo islâmico o Estado e a
Religião se confundem e os mártires marcham para a morte com a promessa de um paraíso
de virgens. No mundo oriental a promessa de atingir o Nirvana pleno no eterno
conflito da construção e destruição ou no taoísmo os complementos YNG
(trevas) – YANG (luz) ou EROS e
TANATOS do mundo ocidental.
Fig.
04 – O flagelo e o cajado, ostentados por esta figura Amenofis IV ou Akenaton,
apontam para o coração deste faraó egípcio. Como vértice do Estado e da civilização
egípcia ele armar-se física, jurídica e ideologicamente tanto para tirar
ou dar. Cabe a ele tirar liberdade e conforto de sua
civilização como dar a orientação
pelo cajado. Esta dupla ação constituiu a unidade que permitiu ao Egito Antigo
atingir estágios civilizatórios únicos, quando o restante da humanidades estava
entregue ao caos primitivo, à Natureza,
e barbárie
Desarmado, desta
transcendência, o Estado necessita recorrer a outros meios para dar ou
retribuir algo que o seu cidadão considera como positivo. Assim recorre a
projetos compensadores desta violência e que ele deve exercer contratualmente.
Fig.
05 – O flagelo agora é a espada e o cajado nas mãos do Leviatã, imaginado, em
1651, por Thomas Hobbes (1588-1679) num
momento crítico da cultura britânica. Agora o vértice deste Estado é constituído
e é formado pelas multidões que constituem o PODER ORIGINÀRIO britânico. Eles delegam
simbolicamente este PODER a alguém que não passa de um símbolo contratual e sem
poderes executivos, legislativos ou judiciários. Cabe ao PODER ORIGINÀRIO tirar
ou dar física, jurídica e
ideologicamente castigos ou prêmios. Cabe ao Leviatã-povo tirar
a liberdade, a riqueza e o conforto de sua civilização como dar a orientação pelo cajado. Como no Egito
Antigo esta dupla ação constituiu a unidade que permitiu ao Império Britânico atingir
estágios civilizatórios únicos e superar um a um povos e culturas que abriram
as suas rotas de navegação e trouxeram tesouros das terras novas e distantes e
que se encaminharam um a um para os seus bancos ingleses e que permitiram dar o
salto de uma primeira industrialização massiva e coerente,
Neste exercício recorre,
desde a mais remota antiguidade, à Arte, à Cultura e, mais recentemente, à Ciência. A Ciência demonstrou que pode facilmente
ser transformada em tecnologia e que se traduz em poluição e em guerras tecnológicas
e industriais que colocaram a espécie humana a beira de sua extinção.
Fig.
06 – Um Teatro Romano em Leptis Magna na atual Líbia Esta civilização
humana antiga, além dos serviços básicos das comunicações e do abastecimento
das necessidades básicas empreendia obras públicas sob o lema “Pão e Circo” com
a função de estetizar o seu poder brutal levado à níveis intoleráveis.
No caso da Cultura o
esporte, os espetáculos públicos deram a fórmula do Império Romano do “Pão e Circo” que no máximo permite
encobrir o exercício do poder aversivo deste estado que espalhou, pelas suas
estradas, os mais atrozes espetáculos públicos de execuções dos seus cidadãos e
inimigos reais ou imaginados. Cumpria-se o antigo ditado: “com as lanças dá para fazer tudo, menos ficar sentado sobre as suas pontas”.
Foto colorida, de 1900,
da Ópera.
Fig.
07 – A Opera de Paris (1862-1875)
projetada por Charles Garnier (1825-1898). Esta obra pode ser vista como uma
resposta francesa ao desenvolvimento inglês, aos desastres nacionais externos,
como da guerra franco prussiana e, internamente, d Comuna de Paris. Sem um projeto civilizatório não teria sido
possível a remodelação radical e estratégica da cidade de Paris pelo barão
George-Eugène Haussmann (1809-1891) que abriu espaço privilegiado para a Ópera,
hoje denominada Nacional da França. A resposta efetiva francesa veio em 1889
com o Centenário da Revolução, a Grande Exposição Universal e a emblemática
Torre Eiffel símbolo da cultura francesa. Acumulavam a experiência do Versalhes
de 1660-1682.
Nos Estado contemporâneo
os retornos econômicos nos esportes são muito modestos se comparado aos
fantásticos investimentos e marketing neles investidos. Isto pode ser visto no
efeito das Olimpíadas de Atenas[1],
na copa mundial da África do Sul[2]
ou na Eurocopa de 2012[3].
O máximo que conseguem é a alienação temporária da população e o desvio da
atenção do poder em mãos inábeis ou com outros interesses.
[1] - OLIMPÍADAS
2004 Atenas http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_de_Ver%C3%A3o_de_2004
[2] - COPA da FIFA
2010 África do Sul http://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_2010
Joseph PAXTON- 1803-1865
Fig.
08 – A Rainha Vitória (1819-1901), como símbolo do PODER ORIGINÁRIO
do Império Britânico inaugura o
Crystal Palace em 1851. As manifestações civilizatórias britânicas
caracterizam-se pelas massivas manifestações populares enquanto os soberanos
ingleses, sem poderes executivos, legislativos ou judiciários, exercem apenas um poder simbólico. O
seu trono ergue-se no centro de uma intensa e movimentada rede das suas rotas marítimas,
de posse das terras novas e distantes e dos tesouros que culturas mais ricas encaminharam,
um a um, aos seus bancos como salto positivo de seu comercio, mas com menos
habilidade e diligência coletiva dos britânicos. Com estes tesouros acumulados
nos seus bancos, os ingleses deram o salto de uma primeira industrialização
massiva e coerente. É esta era industrial que forma o cenário do Crystal Palace constituído por módulos
industrias produzidas pelas suas fábricas
A Cultura e a Ciência
colocadas sob desconfiança, resta ao Estado o difícil caminho da Arte. Começando
a examinar a Arte pela economia. É fato concreto e comprovado que há culturas
inteiras vivendo 365 dias por ano, das obras criadas onde floresceu a Arte
alguma vez e há séculos no seu território. É só conferir as legiões de turistas
que invadem diariamente o Palácio Versalhes, visitam São Petersburgo ou
Acrópole de Atenas e centenas outros lugares que lotam os hotéis e restaurantes
destes lugares.
Fig.
09 – O Castelo de Neuschwanstein da Baviera iniciado em 1869 por LUDOVICO II ( Ludwig Otto Friederich
Wilhel von Wittelsbach 1845-1886) Rei da
Baviera . Em sintonia como o músico Richard Wagner (1813-1883) este rei
valeu-se da Arte para eternizar o seu reinado conduzido a um triste desfecho e
sufocado pelas ambições de Otto von Bismarck (1815-1896). Em compensação hoje
são 3 milhões e meio de visitantes
anuais desta sua obra audaciosa. Os investimentos, nesta obra, foram
cobertos, não só pelos milhares de empregos que esta obra de Arte gerou, como
pelos retornos financeiros em
restaurantes e hospedagem na Baviera
A dimensão
econômica da Arte, no entanto, é mínima diante do seu aspecto civilizatório e da realização
pessoal de quem se entrega à sua prática ou ao seu usufruto material e imaterial. Contudo, quando ela se torna inatingível - para
quem não está preparado para a Arte - passa a desqualificá-la como sinônimo de
infantilismo, de transgressão até de delinquência. No contraditória a esta
concepção a Arte é aquilo que permanece das civilizações, dos Estados ou dos
indivíduos e daquilo que eles foram capazes de contribuir de positivo e
consolidar em obras que orgulham a espécie humana. Cada obra de Arte carrega - no
mínimo de sua forma física - o máximo de conteúdo que uma criação humana pode
carregar para qualquer lugar ou tempo.
Le Monde 20.11.2011
Fig.
10 – O pintor mexicano DIEGO RIVERA
enfocou, nesta obra de ARTE, a imensa massa humana na horizontal, enquanto se
erguem na vertical os arranha-céus, da
cidade de Nova York . Nesta imagem torna-se evidente o VIGIAR e o PUNIR de Michel
Foucault (1926-1984), aplicado a uma civilização humana que adotou o
comportamentalismo, a estatística, a Ciência e a tecnologia como ferramentas do
seu fazer político e social.
A Arte também como
qualquer bem corre sérios perigos de corrupção. A Arte entregue à heteronímia
do Estado, da Igreja, das Universidades, das Academias, do Capital especulativo
ou de propaganda do marketing, a colocam no campo amplo e aberto das forças da
Cultura destes âmbitos. Âmbitos nos quais o máximo que a Arte consegue é
contribuir para alienações pontuais temporários da população e o desvio da
atenção do poder em mãos que a usam para outros interesses. Esta heteronímia
que se avoluma na medida em que a ARTE é apenas pretexto destes poderes se
perpetuar, fazerem o se marketing sem a menor coerência e legitimidade da base
do PODER ORIGINÁRIO.
Fig.
11 – Ao longo de Estado Novo Brasileiro
(1937-1945) ergue-se o prédio do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP).
Pode-se considera tanto o ministro Gustavo Capanema co esta obra um verdadeiro
projeto civilizatório compensador da violência e arbítrio político da época. É
verdade, que na mesma época, a maioria dos Estados Nacionais, estava próxima do
mesma concentração do poder em mãos individuais e que fustigavam a própria Arte
pela desqualificação de “degenerada”. A
compensação, a este exercício explicito
da violência, veio da Arte. Este prédio
contou com a colaboração de Le Corbusier e forneceu aos arquitetos brasileiros
um firme contraponto no exercício da autonomia de sua Arte. O prédio contou com a colaboração de
escultores, pintores e o design do seu mobiliário.
As dificuldades são mais
que evidentes no campo de forças da Arte. A dificuldade inicial é de o Estado
oferecer algo positivo, atrativo em vez de praticar a violência e tirar a
liberdade daquele incapaz de viver o projeto civilizatório do qual ele se julga
o fiel depositário. Por mais necessário que seja o TRABALHO ele - corrompido
pela ESCRAVIDÃO - liquida qualquer projeto civilizatório para o Estado e para o
povo. A dificuldade continua no interior da própria da Arte para transformar o seu Tabu em Totem.
Fig.
12 – . O design do mobiliário do prédio
do MESP tomou em conta a coerência com as obras dos arquitetos, escultores e pintores fornecendo-lhes a
oportunidade do exercício da brasilidade e tropicalidade. Assim cumpria o que
Mário de Andrade ensinou aos estudantes da UNE em 1942 quando estabeleceu os
pilares conceituais da “pesquisa estética
permanente, a atualização da inteligência brasileira e a formação de uma
consciência nacional, não em bases individuais, mas coletivas”.
A criatura humana
natural não deseja mudanças. Qualquer esforço de ultrapassar a linha da
Natureza bruta, e dada, é imediatamente anulado pela entropia que reconduz,
esta mesma criatura, à sua condição da
Natureza animal. Este projeto civilizatório só se consolida em instituições que
exercem o papel de origem, promoção e conservação deste legado positivo e do
quais todos usufruem e se orgulham sem reservas.
Fig.
13 – Uma das contribuições brasileiras
para a ONU, além do projeto de sua sede, foram dois imensos painéis, um dedicado
à GUERRA e o outro, à PAZ. Obras
de Cândido Portinari (1903-1962) eles
atualizam, para o nosso tempo, as
representações sumérias das figuras 02 e
03. Estes dois temas, contrastantes e complementares, visualizam o
eterno conflito da construção e destruição ou os complementos YNG
(trevas) – YANG (luz) do taoísmo ou
o TANATOS e o EROS, do mundo ocidental. Estes conflitos travam, este mesmo
conflito, no íntimo de cada SER humano, antes de estarem no mundo externo e se
evidenciarem nas ruinosas e sangrentas GUERRAS declaradas e nos sucessivos
tratados de PAZ. A Arte cumpre o seu papel catártico individual e coletivo a
constituir índices e signos que levam à terapias individuais ou a prevenção
coletiva de conflitos evidentes e contornáveis por uma civilização. A ONU e a
UNESCO trabalham política, diplomática e contratualmente a estes signos, antes
que seja tarde demais e que podem levar à extinção da espécie humana. Portanto
os murais GUERRA e PAZ de Cândido Portinari cumprem, no lugar certo, este
papel na sua condição obras da Arte.
O historiador Marques dos Santos nos mostra,
(1997-p.141) como no Brasil a Academia
Imperial de Belas Artes associou-se com D. Pedro II, que “cumpria um decisivo papel simbólico na representação do Estado
brasileiro e na legitimação no plano internacional, mas que se constituiu num
agente empenhado do ideal civilizatório”. Estado brasileiro que possui atualmente
instrumentos legais e jurídicos que permitem uma conduta exemplar de qualquer
um dos seus agentes que pretenda agir em algum projeto civilizatório
compensador. O caput do artigo 37, pede, a estes mesmos agentes, a prática da “legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência” (LIMPE). A impessoalidade já foi magistralmente
descrito, em 1908, pelos fundadores do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do
Sul quando afirmavam “o que constitue a
pessoa juridica em associações do typo da nossa, não é propriamente o conjuncto
dos socios; é antes o seu patrimonio, o qual no caso occorrente, será formado pelas doações e
liberalidades, das pessôas que verdadeiramente se interessem pelo desenvolvimento
das artes entre nós”[1].
Assim qualquer um que ocupe algum cargo
público, tanto no âmbito federal, estadual, municipal ou institucional, sabe e
conhece os parâmetros de competência, funções e ações no âmbito de projeto
civilizatório compensador da violência que tiver de praticar em nome do
contrato público com o bem comum e coletivo.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS.
ANDRADE, Mário. O
movimento modernista. Rio de Janeiro : Casa do Estudante do Brasil, 1942, 81 p..
GOMES, Ângela de Castro. (org) Capanema: o Ministro e seu ministério.
Rio de Janeiro : Fundação Getúlio
Vargas, 2000. 269 .
SANTOS
– Afonso Carlos Marques dos (1950-2004)
. A
Academia Imperial de Belas Artes e o Projeto Civilizatório do Império in
180 anos da Escola de Belas Artes - Anais
do Seminário EBA 180 Anos - Rio de
Janeiro : UFRJ, 1997, pp.127- 146.
FONTES
DIGITAIS.
ACRÓPOLE – Atenas
- 437-422 a. C.
CASTELO de
NEUSCHWANSTEIN - 1869
– 1.3 milhões de visitas anuais
EFEITOS MODESTOS
nos INVESTIMENTOS PÚBLICOS nos ESPORTES
PREDIO MESP- RJ 1936-1945
www.vitruvius.com.br/
minhacidade/mc192/mc192.asp
SÃO PETERBURGO – 1703-1712
VERSALHES 1660-1682
VIGIAR e PUNIR – 1975 - Michel FOUCAULT
YNG – YANG –
taoista
[1] - Livro
de Atas nº 1 da Comissão Central do Instituto de Belas. Artes do RS – Sessão de
01.05.1908, fl. 3v
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