domingo, 4 de novembro de 2018

254 – ESTUDOS de ARTE


INSTITUIÇÕES de ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL
A presente postagem continua o projeto do GRUPO de PESQUISA da AAMARGS, do ano de 2018, do estudar e de socializar  pesquisas relativas às INSTITUIÇÕES de ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL.


ATELIER LIVRE da 
PREFEITURA de PORTO ALEGRE

 - BREVE HISTÓRICO
                                                                                  
Apresentado ao GRUPO de PESQUISA da AAMARGS, 
no dia 01 de novembro de 2018, 
por Rosemari Sarmento

O Atelier Livre da Prefeitura é uma instituição criada pela prefeitura de Porto Alegre, através da coordenação de Artes Plásticas e da Secretaria Municipal de Cultura. Dedicado à prática e aprendizado em Artes (para o público adulto), em suas mais amplas linguagens, está estruturado com amplas salas, equipamentos adequados voltados para à produção plástica e visual, e corpo docente qualificado. Sendo mantido pelo poder público, com custos mínimos ao frequentador, é um espaço público aberto a população, proporcionando assim acesso democrático ao conhecimento nas diversas áreas da produção visual e plástica (eventualmente teóricas) e, por todas as atividades que realiza, contribui para a formação do público produtor, consumidor e interessado em arte.
(Foto acervo Paulo PERES  . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 01–  Uma aula de IBERÊ CAMARGO nos primórdios do ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE.   Presentes Ana Walkiria Borba, Iberê Camargo, Edíria Carneiro, Maria de Lourdes Sanches, Enio Lippmann, Paulo Peres e Susana Mentz. Produzindo obras de arte para a exposição inaugurada no dia 03 de janeiro de 1961 nos altos do Abrigo do Bondes de Porto Alegre  

Em novembro de 1960 numa entrevista polêmica, Iberê acusou a cidade de “marasmo cultural nas artes plásticas”, como resultado em dezembro foram promovidos pela Prefeitura de Porto Alegre, na então Galeria de Arte Municipal que estava localizada nos altos do Abrigo de Bondes na Praça XV, no centro de Porto Alegre "Encontros com Iberê Camargo" originando assim o embrião do Atelier Livre de Porto Alegre. Os encontros aconteceram com um grupo de jovens artistas convidados a realizar seus trabalhos de pintura, sob a orientação de Iberê. Além de Iberê, o crítico de arte Carlos Scarinci também ministrou palestras sobre história e teoria das artes plásticas.
(Foto acervo da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 02–  Uma aula teórica de ARTES de Carlos  SCARINCI nos ano de 1961-1962 do ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE nos altos do abrigo dos bondes.   Presentes  Regina Silveira, Xico Stockinger, Maria de Lourdes Sanches.
  
No encerramento dos encontros, foi realizada uma mostra com as pinturas produzidas (mais de trinta), no mesmo local,  com vernissage e discursos do Secretário Municipal de Educação e Assistência Carlos de Britto Velho e do artista Iberê Camargo que propôs então a criação de um atelier livre – respondendo à inquietação e mobilização do grupo de artistas para obter um espaço onde pudessem continuar a produzir plasticamente. Tal ideia foi aceita e com o empenho de Istelita da Cunha Knewitz do setor de cultura da SMEA – outra idealizadora na proposta, fundou-se o “Atelier Livre”. Em primeira mão o jornalista Aldo Obino, do jornal Correio do Povo, em sua coluna de 1o de janeiro de 1961, tornou pública a intenção da Prefeitura Municipal de Porto Alegre de buscar esse espaço para os artistas.
(Foto acervo da  Secretaria de Transportes da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 03–  Entre os ano de 1961 – 1962 o ATELIER LIVRE ARTES da PREFEITURA de PORTO ALEGRE funcionou nos altos do abrigo dos bondes da Praça XV de NOVEMBRO.   Lugar de convergência ao redor das  obras de arte que estavam nascendo num espaço público e livre.

E assim em 1961 fundou-se o ALP nos altos do Abrigo de Bondes, como o primeiro espaço municipal para os artistas desenvolverem suas produções plásticas em Porto Alegre. Neste momento Iberê volta ao Rio de Janeiro e Xico Stockinger é convidado a coordenar as atividades do novo espaço, além de ministrar aulas de xilogravura.  No ano seguinte, em março, Carlos Scarinci[1] iniciou o seminário "Artes Plásticas Contemporâneas"
 Como destaca a historiadora Kern (2007, p. 74): “Essa instituição, formada por jovens mestres, constitui uma modalidade de ensino mais aberta e receptiva aos movimentos modernos e à formação de artistas oriundos de grupos sociais menos privilegiados”. Ainda vários dos jovens artistas convidados para o curso promovido pela Prefeitura eram também alunos, à época, do Instituto de Belas Artes (IBA) e, nesses encontros, descobriram outra forma de apreender o fazer artístico, a liberdade de criação, a possibilidade de experimentação, diferentes dos absorvidos na academia.  Tornou-se, portanto, uma instituição de ensino não formal de Artes Plásticas, além de uma forma de inserção e legitimação de artistas plásticos no sistema das artes local. Bulhões afirma:
Assim, galerias, museus e escolas de arte são instituições onde se legitima um determinado objeto ou evento como artístico; o crítico, o professor, o artista, o curador e outros especialistas são os atores que, nestes espaços, recebem o poder de realizar esta legitimação (BULHÕES, 2011).

O artista Carlos Scliar substituiu o crítico Scarinci nas palestras do seminário promovido pelo ALP. Mesmo que seu nome não conste nas listas de professores oficiais da instituição, considera-se como o terceiro professor do ALP. Neste contexto, os jovens artistas e os professores do ALP movimentavam o circuito local, com participações individuais, em exposições locais, refletindo o anseio de se manterem através da cooperação mútua, como escreve Scarinci (1982, p. 129):
“Dessa maneira, podia-se falar num “atelier livre”, que os jovens discípulos de Iberê tinham a intenção de manter associativamente”. Tem-se, portanto, um momento histórico de importante protagonismo do grupo dos jovens artistas frente à mobilização para a criação do ALP.
(Foto acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 04–  A segunda sede ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE nos altos do MERCADO PUBLICO  com as janelas voltadas ao atual largo Glênio Peres e os fundos sobre o telhado das bancas do mercado com os seus famosos gatos.  Entre 1962 e 1972 era local de convergência e o núcleo  de pesquisa e produção obra de artes visuais

O ALP funcionou em quatro sedes, na antiga Galeria Municipal, localizada nos altos do Abrigo de Bondes (1961-1962) — duas salas, nos altos do Mercado Público (1962-1972), e em uma casa locada na Rua Lobo da Costa (1972-1978), mudando-se para a sede definitiva, planejada e construída, na Av. Érico Veríssimo, em novembro de 1978. Nas mudanças de sedes do ALP, ocorriam alterações em suas rotinas, fossem no setor administrativo, no número de funcionários, nas oficinas oferecidas ou nas atividades realizadas nas salas de aula, como a implantação da oficina de desenho para gravura, ministrada por Danúbio Gonçalves, em 1962, no Mercado Público. Também houve o aumento gradativo de alunos e de novos professores e, consequentemente, de novas oficinas, abrangendo outras áreas de produção plástica. 

(Foto acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 05–  A  terceira sede ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE foi num sobrado alugado da Rua Lobo da COSTA nº 291 onde funcionou entre 1972 – 1978 .   Esta localização era uma contribuição para que este bairro  atraísse outras instituições, ateliers e artistas. Estava próximo do que viria ser a sede atual do Atelier Livre.

Alguns orientadores do ALP participaram do curso de Criatividade promovido pela Escolinha de Arte do Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria Estadual de Educação, com o renomado artista e arte-educador, o inglês Tom Hudson, em 1974. Houve então uma significativa mudança na didática do Atelier, que atribuo à participação dos professores do ALP no referido curso.
(Foto acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 06–   O arte educador britânico Tom HUDSON   atuando em 1974 no ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE num sobrado alugado da Rua Lobo da COSTA nº 291.   A soma das energias das ESCOLINHAS de ARTE e dos ATELIERES INDIVIDUAIS dos ARTISTAS propiciava estes momentos de atualização das inteligências por meio de experimentados artistas

E assim no ano seguinte, foi introduzido o curso de Criatividade no ALP, com o objetivo de atender os iniciantes nas artes. As metodologias das aulas tomaram justamente como ponto de partida o curso do inglês Tom Hudson, com experiências compositivas no espaço, com materiais não tradicionais e o uso de outras linguagens artísticas — o teatro e a poesia, proporcionando ao aluno uma vivência interdisciplinar. Assim, em 27 de fevereiro de 1975, o jornal local Correio do Povo publica, em nota, essa alteração, anuncia que as matriculas estão abertas e informa sobre o curso para iniciantes com duração de um semestre. Esse curso deu origem ao curso básico, o qual passou a ser realizado após a mudança para a sede definitiva.
(Foto acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 07 –   O prédio próprio do  ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE resultou, em 1978,  da somatória de energias de outras manifestações artísticas e culturais..   Evidente que o prédio não é sinônimo de instituição. Mas na precariedade represente o ponto de convergência de vontades, inteligências e sentimentos comuns de uma comunidade que se fortalece com este índice material.

A realização da construção de uma sede própria e definitiva foi certamente uma grande conquista para o meio cultural municipal – liderada pelo empenho do então diretor,  o artista Danúbio Gonçalves. E frutificou, pois resultou também na construção do Centro Municipal de Cultura (CMC) que, além da sede do ALP, conta com a Biblioteca, o Teatro Renascença, a sala multiuso (hoje sala Álvaro Moreira), o Saguão para exposições, além de um café/bar. Além disso, o ALP, no início dos anos 1980, trouxe a Porto Alegre alguns artistas que ministraram oficinas gráficas: Carlos Martins, Romildo Paiva e Marília Rodrigues, o que proporcionou uma aproximação da produção do eixo Rio-São Paulo tão inacessível aos artistas locais até então, além da atualização técnica e do convívio mais intenso entre os artistas locais. Era comum, nos finais de tarde, encontrar artistas conversando nas salas ou no bar do CMC, assim como o acesso às informações das produções plásticas fora do Estado era muito diferente de hoje. O ALP era, portanto naquele momento, o centro das atividades em Artes Plásticas e de encontros dos artistas plásticos da cidade, destacado pela flexibilidade e abertura das linguagens artísticas, ressaltado no depoimento de José Augusto Avancini no livro Atelier Livre: 30 anos:

A ressonância do Atelier Livre no sistema das artes é de significativa importância. Já não cabe apenas interagir com os movimentos do sistema, mas ter a capacidade de propor, no seu dia-a-dia, uma atitude renovadora. É o “espaço” para fazer, sentir ou aprender arte. O Papel do Atelier é fazer uma atualização das artes plásticas no Rio Grande do Sul. Poderia até, forçando a expressão, dizer que o surgimento do Atelier em 1961, representou para nós o que foi, em nível nacional, a Semana de Arte Moderna. E por essa estrutura muito flexível e muito aberta que ele teve, e ainda mantém até hoje, possibilitou a presença em “confronto de várias tendências artísticas, de vários movimentos com diferentes pressupostos estéticos”. (POSSAMAI,1992, p. 32).

Para as comemorações dos 25 anos do Atelier, em 1986, foram realizadas diversas atividades, entre as quais, o Festival de Arte Cidade de Porto Alegre, considerado uma ampliação dos festivais de desenho realizados desde 1981.
(Impresso, arte de Danúbio Gonçalves -  acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
Fig. 08–   Os eventos do  ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE marcaram o meio cultural e continuaram a tradição inaugurada por Iberê CAMARGO no espaço de  TEATRO de ARENA Nestes evento o ATELIER se abria para a comunidade, atualizava as inteligências e mostrava PESQUISAS ESTÈTICAS que não tinham  como serem socializadas em outras instituições

Artistas plásticos originários de diversas áreas e localidades foram convidados a ministrar cursos durante as duas semanas do inverno de julho. Essas atividades foram realizadas nos três turnos. Em poucos anos, o Festival se tornou o principal evento das artes plásticas da cidade, onde era aguardado pela comunidade artística e extrapolava as fronteiras do Estado, sendo prestigiado a nível nacional.
O Festival foi, durante muitos anos, a possibilidade de atualização de linguagens e teorias das Artes Plásticas na cidade, pois não havia outra instituição que proporcionasse semelhante atividade. Durante o evento, os artistas da cidade estavam lá para participar, conhecer uma nova técnica, refletir sobre uma questão teórica, rever ou conhecer os artistas visitantes, ano após ano.
Blanca Brittes, em seu texto titulado Breve Olhar Sobre os Anos Oitenta, analisando os espaços de formação, cita o Festival como destaque local nas atividades artísticas:

Como parte do nosso sistema de arte, registra-se que o Atelier Livre da Prefeitura, devidamente institucionalizado, continuou como espaço de iniciação e aprendizado, servindo também aos jovens estudantes do Instituto de Artes - UFRGS e a artistas que se utilizavam das oficinas do Atelier. Isso, no entanto já estava no cerne de sua criação. A inovação que marcou a citada década foi a criação do I Festival de Arte Cidade de Porto Alegre. Projetado como um momento de reciclagem de linguagens e técnicas, o Festival compunha-se de oficinas de curta duração, seminário foi consolidando-se como ocasião de especial efervescência, por reunir artistas vindos de diversos pontos do país e exterior. Serviu como dinamizador junto à comunidade Gaúcha, permanecendo ainda hoje como evento reconhecido e esperado em nosso calendário artístico (BRITTES, 2007, p. 153).

Assim o Atelier Livre além de oferecer cursos práticos e teóricos, e realizar diversas atividades paralelas durante o ano como exposições, palestras criou a tradição do Festival de Artes da Cidade de Porto Alegre. Hoje já na 32° edição FESTIVAL DE ARTE DE PORTO ALEGRE (com oficinas, atrações culturais, debates, exposições, performances, feira gráfica  voltadas a fomentar as artes visuais e a produção artística local).
(Foto acervo do  Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre . Pesquisa de Rosemari SARMENTO)
01 Gastão HOFSTETTER  02 Plínio BERHARDT 03 Marisa VEECK 04 José Carlos MOURA 05 Anico HERKOVITZ 06 Alfredo NIKOLAISKI 07 Maria TOMASELLI 08 Paulo PERES  09 Paulo PORCELLA 10 Gustavo NAKLE 11 Maria Helena WEBSTER 12 Danúbio GONÇALVES 13 Britto VELHO 14 Francisco STOCKINGER 15 Wilson ALVES 16 Vera CHAVES BARCELLOS 17 Ado MALALAGOLI
Fig. 09–   Uma das grandes contribuições do ATELIER LIVRE de PORTO ALEGRE foi o de reunir o disperso  CAMPO de FORÇAS das ARTES VISUAIS.   A foto do arquivo desta instituição é uma prova de um momento desta competência institucional
[CLIQUE sobre a FOTO para AMPLIAR e IDENTIFICAR os personagens]

Em 2010 o ATP celebrou seus 50 anos de história. História essa contada por reconhecida atuação na comunidade cultural não só da cidade, mas também do estado e do país. Ao longo de sua trajetória, foi e ainda é fundamental para a formação dos artistas plásticos e visuais da região metropolitana, fato já conhecido. Proposto como um espaço de experimentação e pesquisa em Artes explorando diversas linguagens artísticas e suas expressividades em um exercício contínuo de criação. Visto que relações humanas que permeiam as aulas e atividades do ALP extrapolam a instituição, e muitos artistas que frequentavam as oficinas do ALP começaram a se organizar e a formar seus ateliers particulares, mantendo uma produção e participação em mostras e exposições, reverberando sua característica essencial – a disseminação da experiência/prática artística. Deste modo o ALP foi vital para que ocorressem essas formações de ateliers, pois possibilitou (e ainda o faz- mesmo que em menor escala) o convívio dessas pessoas com interesses comuns, sendo um lugar onde se podia/pode criar, adquirir conhecimento técnico e estar inserido no sistema da arte local, além de contribuir para a construção de novos relacionamentos.
FONTES BIBLIOGRÁICAS
     
BRITTES, Blanca .Breve Olhar Sobre os Anos Oitenta. In: GOMES, paulo (org). Artes plásticas no rgs: uma panorâmica. Porto Alegre. 2007.
BULHÕES, Maria Amélia. Do que Falamos quando Falamos de Arte? Jornal Sul 21, 2011. Disponível em: . Acesso em: 10/09/2018
KERN, M LUCIA BASTOS. A EMERGENCIA DA ARTE MODERNISTA NO RGS. In: GOMES, Paulo (org). Artes plásticas no rgs: uma panorâmica. Porto Alegre. 2007.
Scarinci, CARLOS. A GRAVURA NO RGS 1900-1980 . Porto Alegre: Mercado Aberto.1982
Pettini, Ana Maria. ATELIER LIVRE DA PREFEITURA: GRUPOS DE ARTISTAS. UFRGS- Pós graduação em Educação, 1992.
Prefeitura Municipal. Sec. Educação e Cultura. Coord. Artes Plásticas. ATELIER LIVRE 30 ANOS. Porto Alegre, 1992


FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS
SECRETARIA MUNICIPAL de CULTURA de PORTO ALEGRE
ATELIER LIVRE da PREFEITURA de PORTO ALEGRE
FACE
Carlos SCARINCI

CONTEXTO das ORIGENS do ATELIER

TOM HUDSON


**Equipe hoje do ALP:
Professores: Ana Flávia Baldisserotto, Daisy Viola, Eleonora Miranda, José Francisco Alves, Renato Garcia, Wilson Cavalcante, Nelcindo Roza, Paulo Rogério da Rosa; duas secretarias e duas estagiarias
Anexo:
Discurso feito por Iberê Camargo por ocasião abertura de Exposição dos “Encontros com Iberê” – em 03 de janeiro de 1961,
ATELIER LIVRE: 30 anos. Porto Alegre: secretaria municipal de cultura/  Coordenação de Artes Plásticas.    
       1992, pp.14-15.

Esta exposição é um esforço e uma resposta. Não pretendo fazer aqui uma análise dos quadros que apresentamos, prefiro analisar o significado  deste esforço e desta resposta que traduzem a inquietação e a rebeldia. Eu me alegro com esta inquietação  e com esta rebeldia que conduzem para à criação, condição de ser da arte. Refiro-me à rebeldia que exclui o estado paciente, tenaz,  necessário na elaboração de uma linguagem própria e viva. Nestes vinte dias de trabalho em comum, procuramos estudar o desenho, os ritmos. A composição, os valores cromáticos do quadro, enfim, todos os elementos que constituem a linguagem da  pintura. Fomos exigentes nesta busca e também humildes. Abrimos os livros e dialogamos com Kandinski, Leger, Matisse, Braque, Klee, estres da pintura contemporânea. Para melhor  nos informarmos da evolução de nosso meios, pedimos e recebemos de Carlos Scarinci uma dissertação clara e concisa. Agora podemos dizer que o problema  está posto, tomamos consciência, das nossa deficiências reformulando nosso propósitos. Este movimento foi uma arrancada: é intenção dos jovens  prosseguir associados num Atelier Livre (...)
Amigos,  celebramos hoje o nosso último encontro, quero lembrara a vocês que a pintura é uma amante exigente ela só se dá  àqueles que também a ela integralmente se entregam. A sinceridade em arte significa uma expressiva resposta da vida e esta resposta está no meio que também é vida (...)
A técnica do pintor seria coisa de pouca valia se fosse mero jogo de cores que o espírito não transformasse na forma e no conteúdo vivente da obra de arte. Intuir não é simples jogo de cores, assim como poesia não é simples jogo de palavras. Direi que pintura se faz com a cor, com a forma e com o coração. Procurei nestes breves encontros transmitir a vocês o pouco que tenho, não com o fim de fazer discípulos, mas com o propósito de coloca-los diante da pintura de hoje. Aí estão quadros, este é o nosso esforço, esta é a nossa resposta. Com o decorrer do tempo nossa voz  se tornará mais, cada vez mais nítida, mais poderosa porque nós falamos a linguagem do nosso século”.
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