sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

153– LOGÍSTICA em ESTUDOS de ARTE: da representação

O quadro da representação e algumas das suas figuras[1]

MARIN, Louis «O quadro da representação e algumas das suas figuras» in De la Represéntation. Paris : Gallimard- Seul. 1994 pp342-363
.

    Antes de entrar no âmago da questão não é inútil, sem dúvida, recordar, no plano teórico da arte, como naquele da arte de escrever, alguns elementos da reflexão filosófica nos quais se constrói a problemática da representação da pintura e se colocam os problemas do quadro: - Num prólogo, não conviria, sem cair numa questão estéril, esboçar quadros filosóficos do quadro da representação pictoral ?

   No Dictionnaire de Furetière encontra-se no século XVII, no início do verbete «representar», uma frutuosa tensão que atravessa o sentido: «representar», significando, no início, substituir alguma coisa do presente por algo ausente (que é, para dizê-lo de passagem, a estrutura mais geral de um signo). Esta substituição é sabidamente regulada por uma economia mimética, a similaridade postulada do presente e a ausência autorizando esta substituição[2]. Mas, além disso, representar significa mostrar, exibir algo do presente. Assim é próprio do ato de apresentar que constitui a identidade do que é representado, que se identifica como tal[3]. De um lado, pois, uma operação mimética entre o presente e a ausência, permite o funcionamento e autoriza a função do presente no lugar do ausente. De outra parte é uma operação espetacular, uma auto representação que constitui uma identidade e uma propriedade dando-lhe um valor legítimo[4].

   Em outros termos, representar significa apresentar-se representando alguma coisa. Toda representação, todo signo representacional, todo processo de significação compreende duas dimensões que costumo denominar primeira, reflexiva –se apresentar- e a segunda, transitiva – representar alguma coisa -; duas dimensões que não são facilmente separadas do que a semântica e a pragmática contemporâneas conceitualizaram como a opacidade e a transparência do signo representacional[5].
  Explorando essas duas dimensões, entre reflexividade do sujeito e a transitividade em relação ao objeto, a Lógica de Port Royal[6]  numa das mais  destacadas elaborações, durante o século XVII, da teoria do signo-representação, propôs dois exemplos paradigmáticos do signo que são, para os lógicos deste tempo, o mapa e  o retrato[7], eu encontrei o quadro, seus operadores e os processos do ato de enquadrar e o enquadramento e sua figuras, entre esses dispositivos que toda representação comporta para se apresentar na sua função, seu funcionamento, até a sua funcionalidade da representação. Esses dispositivos passam tanto mais despercebidos, são tanto mais inconfessáveis pelo discurso de descrição das obras de pintura, que insisti com maior força na dimensão transitiva, que se manifesta com tanto mais sedução na transparência mimética, que na prenhes da imagem, os jogos e os prazeres da substituição ocupam com mais força a atenção do olhar e ativam seu desejo[8].
     Esses dispositivos funcionam aparentemente por si mesmos; como o dizia Yves Michaud num texto já antigo[9], essa pintura de quadro, de decoração, não é vista, e da qual não se fala. Façamos pois «retornar», de seu esquecimento ou do desconhecimento, ao primeiro plano da atenção teórica e do olhar descritivo, três de seus dispositivos de apresentação da representação da pintura, o fundo, o plano, o quadro, três dispositivos que, para bem compreendê-los, constituem o enquadramento geral da representação, o fechamento, como se dizia a uma década atrás.
  O fundo, o suporte material, a superfície da inscrição e da figuração, o fundo, pelo qual toda figura chega ao olhar, se apresenta nas suas relações com outras figuras na sua eventual referência[10]. É esse fundo que nega a profundidade realizada ilusoriamente pelo aparelho perspectivo que cava, até pontos distantes[11], mesmo até o infinito, um ilimitado representado, e pintura, pelo trabalho atmosférico do horizonte[12], limite na instância do ilimitado[13]. Assim no Desembarque de Cleópatra em Tarso, de Claude (Lorrain) ou na Ponte de Pedra de Rembrandt. Para caminhar ainda um pouco sobre esse limite pelo qual uma superfície «quadro», a representação caminha  inversamente sobre o seu fundo, assiste-se a uma colocação para frente do fundo pela neutralização relativa da profundidade e pela negação de toda a figura ou de toda representação do longínquo; a tela do fundo constitui uma superfície como muro, parede, como uma superfície negra ou gris.. O fundo aparece como superfície, é então que o quadro se apresenta como quadro, ele se apresenta, menos representando alguma coisa do que como representação. Assim o fundo negro da Vanitas atribuída a Champaigne (Fig.01), cujo discurso apenas o pode descrever como  nada senão que ele representa nada, no momento mesmo em que o olhar descobre que é esse nada que concede às figuras da Vanitas a sua fertilidade[14].



[1] - Conferência pronunciada no Centre Georges- Pompidou no dia 19 de dezembro de 1987, e publicado em Art de voir : art de décrire II, n° esp. dos Cahier du Musée d’ art moderne, 1988. Pp. 62-81
[2] - Confira A. Furetière.. Haia – Rotterdam, Arnout & Reiniers, p. 62-81. 1690, rubrica «Represntation» : s. f. Imagem que nos remete, através da idéia e da memória, aos objetos ausentes, e que nos pinta tais quais são [...] Quando se vê os Príncipes mortos nos seus carros fúnebres, não são vistos que na representação da efigie..»
[3] - «Representação : diz-se de algo exibido no palácio das exposições {...} Quando se faz o processo de  um acusado, faz a representações das armas das armas com os quais foi surpreendido, do corpo mesmo do próprio assassinado. .» « Representar, significa também, comparecer em pessoa em juízo, de exibir as coisas» (Ibid)
[4] - Esta valorização e esta legitimação se caracterizam pelo uso essencialmente jurídico do termo nesse sentido.
[5] - Cf. F. Racanani , La Transparence et l’Énonciation, Paris :  Seul, 1979
[6] -La logique ou l’Art de penser.., Paris : Desprez, 1683, 5ª ed. revista e aumentada.
[7] Ibid. p. 55, 205-205
[8] - É esse prazer da substituição mimética que os lógicos de Port-Royal denunciam em proveito de uma instrumentalização do signo representacional no seu uso sob o título de comunicação racional.
[9] - Y Michuad, « a arte à qual não se presta atenção ( a respeito de Gombrich)» Crítique, 416, jan. 1982, pp. 22-41
[10] - Apresentação da figura a mesmo tempo pela sua circunscrição sobre a superfície e pelo suporte do fundo
[11] - O dispositivo perspectivo pela sua inscrição  sobre a superfície do fundo tem como efeito anulara essa mesma  superfície que permite a operação, efeito particularmente eficácia na pintura da paisagem
[12] - É particularmente frutuoso analisar rigorosamente o que se denomina perspectiva atmosférica na sua relação com um conceito  tão histórico e epistemologicamente determinado como aquele do infinito.
[13] - Sobre as variações teóricas, plásticas e poéticas da noção de horizonte, , ver os trabalhos de Collot. L’Horizon Fabuleux, Paris : Corti, 1988
[14] - Sobre a relação  entre o discursos da descrição e nominação confira o nosso estudo «Mimésis et description», Word &  Image, 4 (1), 1988, p. 25-36. Cf. supra p. 251-266 NdE
Fig. 01 - CHAPAIGNE Philippe (1602-1674)  MEMENTO MORIS – Vanitas1671 óleo 28 c 37 cm.

Ou ainda o famoso ex-voto de 1662 do mesmo Champaigne no qual, sem qualquer solução de continuidade entre o canto da cela,  cava o espaço representado no qual filha do pintor é miraculada, e o suporte da inscrição que faz da imagem representação um ex-voto[1], (Fig.1 b), o fundo perde sua profundidade fingida de «imagem» para tornar-se a superfície escrita de uma reza[2].



[1] Philippe de CHAPAIGNE - Ex VOTO - 1662 https://en.wikipedia.org/wiki/Ex-Voto_de_1662

[2] - Confira o nosso estudo sobre o Ex-Voto de 1662 de Chamapaigne, «Escritura-pintura : O ex-Voto de Chamapaigne» em Vers una Esthétique sans entrave. Mélanges offerts à Mikel Dufrenne. Paris : Union génerale d’edition. 1975, pp. 409-429 (10-18)
Fig. 01 b - CHAPAIGNE Philippe (1602-1674)  EX VOTO (1662)  óleo  164.8 x228.9 cm – Museu do Louvre.
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 O plano de representação, segundo elemento do enquadramento da  representação que se desprega all over, de borda a borda, da esquerda  para a direita, de alto a baixo, sobre toda a obra, tanto mais esquecida quanto ele é perfeitamente transparente, quarta parede «frontal» do cubo cenográfico, aquele que Michael Fried evoca a respeito de Diderot, que pedia que  a supor fechada sobre a cena para que as figuras da narrativa  ali se comportassem como  se elas ali não fossem olhadas, em representação e na representação, presentes totalmente aos seus atos[1]; assim nos (quadros) de Greuze no qual nenhum olhar exterior atravessa essa fronteira invisível e assim distrair as figuras das suas funções. A menos que, inversamente, esse plano-quadro não apareça obliquamente ao olho pelo excesso que deposita ali por uma gota de água de um ‘tromp-l’œil’ ou a mosca numa natureza morta[2], excesso que aparece no pepino um tanto quanto obsceno na Anunciação de Crivelli[3] (Fig. 2) . E vocês irão perceber  como, pela comparação,  no Ex-Voto de Champaigne, a superfície escrita joga,  indecidida, entre o fundo-superfície e o plano-representação.



[1] - Michael Fried, Absorption and Theatricality. Paynting and Beholder in the Age of Dideirot, BerkeleyLos Angeles : University of California T]Press, 1980, 1980 * Trad. Fr. Por C. Brunet : La Place du spectatauer, Paris : Gallimard, 1990, NdE
[2] -  Sobre a mosca em trompe-l’œil, cf. G. Vasari, Vies de meillers peintres... edition e trad. De A. Castel et ali., Paris : Berger- Lecrault, 1984, vol. 2, p. 120
[3] - Cf. L. Marin «Imitação e trope-l’œl na teoria clássica da pintura no século XVII» in L’Imitation. Rencontres de l’École du Louvre. Paris : La Documentatoion française. 1984, p. 181-196 * o pepeino do qual se escreve é uma «abobri nha» no artigo de P. Cahrapetrant comentada por L.M. supra, p. 301-312, DdE
[3] - Michael Fried, Absorption and Theatricality. Paynting and Beholder in the Age of Dideirot, BerkeleyLos Angeles : University of California  Press, 1980, 1980 * Trad. Fr. Por C. Brunet : La Place du spectatauer, Paris : Gallimard, 1990, NdE
Fig. 02-  CRIVELLI, Carlo (1435-1495).  Anunciação (1486) (detalhe).

   O quadro, enfim, a tela com bordas e rebordas, fronteira e limite[1]. É esse quadro que será, entre os diversos dispositivos do enquadramento da representação que o apresenta, o objeto essencial da minha reflexão. Cadre, cornice, frame:  parece que as três línguas cooperam trocando as palavras e significações para designar a problemática do quadro, da moldura e do enquadramento : o quadro como «quadro» significando a borda de madeira, ou outro material, sobre o qual se estende uma tela. Mme de Sévigné escrevendo « Eu não vos aconselho de colocar uma moldura nesta pintura», ao que Rousseau respondeu, interpondo o dicionário «Aos desenhos  os mais grosseiros, eu coloco molduras bem brilhantes[2]». Ainda que “quadro”  significa etimologicamente quadrado, no entanto se fala em quadro redondo ou oval.. O francês insiste pois sobre a noção de borda: o quadro  guarnece o limite extremo da superfície geométrica recordada da tela. 
   O italiano  apropria-se,  em cornice[3],  de um termo arquitetônico : é o avanço ao redor do corpo do prédio  que o protege da chuva: moldura em saliência que coroando todo tipo de obras e especialmente o friso do entablamento nas ordens : os valores do ornamento e de proteção, as noções de prenhes e de avanço juntam-se ao termo[4].
 O quadro como frame seria antes um elemento estrutural de construção do painel estendido do que representação ou imagem, mais como tela. Frame, no quadro é o chassis que estende a tela para torná-la apta para receber os pigmentos. Antes que uma borda ou moldura, antes que um instrumento de extremidade, ele é estrutura de suporte  da superfície de representação[5].
  Notável polissemia do artefato quadro suplemento e complemento, ornamento gratuito e dispositivo necessário:  Poussin escrevia para Chantelou ao lhe enviar o quadro  o  Maná (Fig.3):
Quando tiverdes recebido o vosso trabalho, eu vos solicito de orná-lo de uma pequena cornija, pois ele tem necessidade,  afim de que o considerando em todas as suas partes, as linhas do olhar sejam retidas e não dispersas pelo lado de fora ao receber as espécies de outros objetos vizinhos que vindo em desordem com as coisas  pintadas confundindo o dia[6]



[1] - Cf. A.M. Lecoq «Quadro e borda», Revue de l’art, 26, 1974;  e, sobre o quadro e suas funções semióticas e sublimadores do limite, L. Marin, Do quadro à decoração ou a questão do ornamento na pintura» em L’ornamento, n° esp. de Rivista di estetica, XXII, 12, 1982, p. 16-35
[2] - Essas duas citações do dicionário apontam, em especial em Rousseau, um dos valores ideológicos do quadro. Ver também a esse respeito os interessantes documentos trazidos por Bruno Pons em De Paris à Versalhes, 1699-1736, Strasbourg :  Association des publications près les universités de Strasbourg, 1986
[3] - Cornice: sf, moldura. Arquite: cornija, caixilho Fig: situação, ambiente, quadro.  (Dicionário Eletrônico Michaelis)
[4] - Cf o número 76 da Revue de l’art, 1987, consagrado ao problema dos quadros: em particular os artigos de P. J.T. Van Thiel, «Elogio do quadro : a pratica holandesa» e de Milena Mosco , «Os quadros de Leopoldo de Medicis».
[5] - Sobre a relação do quadro como moldura e de chassis, cf. M. Schapiro , « On some Probelems in semioticas of Visual Art : Field  Vehicle in Image- Signs» Semiótica, 1 (3), 1969, pp. 223-242  trad. Fr. In M.S. Style, artiste societé, Paris : Gallimard, 1982 pp.7-34 NdE
[6] - N. Poussin, Lettres et propos sur l’art, ed. par A. Blunt, Paris : Hermann,  1964, p. 35-36 (carta de 28 abril de 1639) *sublinhado por L. M. DdE
Fig. 03 - Nicolas-Poussin (1594-1955)  - Maná c.1637 óleo 149 x 200 cm - Louvre Paris

  Numa palavra parergon necessário, suplemento constitutivo, o quadro autonomiza a obra no espaço visível[1]; ele coloca a representação em estado de presença exclusiva ele fornece a justa definição das condições da recepção visual e da contemplação da representação como tala. Ao analisar de perto as recomendações de Poussin a Chantelou – se encontraria idênticos conselhos nos tratados sobre a pintura[2] - o quadro transforma o jogo variado da diversidade sensível, materiais da síntese perceptiva do reconhecimento das coisas que as articulam por diferenças, numa oposição entre  a representação que se identifica como tal pela exclusão do campo do olhar de todo outro objeto[3] estranho ao quadro. Pelo quadro, o painel não é simplesmente dado para ser visto, entre as outras coisas : ele torna-se objeto de contemplação. As coisas que animam simplesmente o espaço do mundo de suas diferenças, as árvores,  o céu, os palácios as nuvens, o lago, seus barcos ... tornam-se, na sua representação na tela de Claude ou de Poussin, paisagem a contemplar[4], ideal pastoral, heróico, exclusivo das espécies dos objetos vizinhos, como o diz Poussin, pela virtude de suas margens e das suas bordas que assumem o seu quadro. O mundo está contido ali inteiramente, fora do qual não há nada para contemplar. Operação de autonomia da construção representativa, mudança de aspecto, simples apreensão perceptiva das coisas em prospecto, ofício da razão, como escreve ainda Poussin,[5] modificação, modalização do olhar: lá, olhando, contemplava-se o mundo, a natureza; aqui, contempla-se a obra de arte e somente ela. Inútil acrescentar que essa operação do quadro e enquadramento será investido pelos poderes, modalizada pelas instituições,  observada atentamente pelas instâncias de determinação econômica, social e ideológica[6]. A representação, na sua dimensão reflexiva, se apresenta a alguém. A apresentação representativa é tomada na sua estrutura dialógica de um destinador e de um destinatário, quem quer que eles sejam, aos quais o quadro fornecerá um dos lugares privilegiados do «fazer saber» e «fazer crer», do «fazer sentir», instruções e injunções que o poder de representação, e em representação, se dirige ao espectador leitor[7].
  É assim que entramos no mundo das figuras do quadro e do enquadramento. As figuras de ostentação no início, as figuras de ornamento das bordas, flores e frutos, tecendo, de sua simetria e de sua repetição calculada, as bordas[8] : na sua operação pura, o quadro mostra:  é uma exibição, uma demonstração icônica :  « é aqui». As figuras de guarnição das bordas «insistem» na indicação, a ampliam : a deixis[9]  torna-se epideixis, a mostração, de-monstração, a narração da história representada, discurso de elogio[10] articulando mais sutilmente que se poderia crer no espaço de presentificação, no espaço do espectador. Assim na tapeçaria  da História do Rei do  cartão desenhado por Le Brun[11], o quadro (Fig. 4)  não é só um poderoso dispositivo ostentatório de auto-apresentação da cena histórica representada, mas ainda ele é construído como um dispositivo de captação da luz natural, aquela que ilumina o lugar de exposição da tapeçaria, pois que as bordas internas da direita e inferior do quadro estão iluminados, enquanto que os dois outros lados estão na sombra.




[1] - J. Derrida,La vérité en Peinture, Paris : Flamarrion, 1978, p. 44 sq. Em particulara pp. 83-90
[2] -  Por exemplo, as observações de G. Mancini, “Regole per comprare, collocare e conservare la pintura” in G. M. Considerazioni sulla pittura [ca. 1620], ed. par A. Marucchi, Rome, Accademia nazionale dei Lincei, 1956-57, p. 141-146ç ou as de Florent Le Comte, Gabinet des singularitez d’arachitecture..., Paris, E. Picart & N. Le Clerc, 1699-1700, vol. 3 p. 241-273
[3] - Em termos semióticos, a transformação  de uma oposição de contrários de A contra B em uma oposição de contraditórios A contra não-A.
[4] - A operação de enquadramento ou de moldura não é assim um momento empírico de uma operação ideal ou essencial da constituição de um objeto percebido em objeto teórico
[5] - N. Poussin, Lettres et Propos.., p. 62-63 (carta a Sublet de Noyer, 1642)
[6] - Conviria, sem dúvida, distinguir cuidadosamente investimentos, modalização e distinções que não dependem nem do mesmo nível da descrição, nem dos mesmos dispositivos da inscrição
[7] - É nessa perspectiva que, da forma mais geral,  o quadro revela o aparelho de enunciação e é susceptível de ser analisado segundo os mesmos procedimentos metodológicos e técnicos do que aqueles aplicados ao discurso.
[8] - Cf. E. H. Gombrich, The Sense of Order, Itahaca -New York : Corneill University Press, 1979, p. 95 sq.
[9] - Deitico: provém do grego de dei kt ikoz «ostensivo», «exibição», «mostrativo». Do verbo dei knumi. Dicionário de Filosofia Ferrater Mora, 1994 p.800
[10] - - Sobre a transformação da deixis em epideixis, cf. L. Marin, Le portrait du roi, Paris : Minuit, 1981, pp. 49-143
[11] - D. Meyer, A História do Rei, Paris : Reunion des musées nacionaux, 1 1980
Fig. 04  Charles de Le Brun - Audiência com o Conde de FUENTES _ tapeçaria Gobelin
 A partir daí a luz interna «artificial» que ilumina a cena entre a coerência com a luz externa «natural» : é a mesma. Através disso o espaço do espectador é neutralizado ou mais ele é convertido em espaço de representação[1]. ¿A tapeçaria não faz parte do mobiliário do Versalhes? A decoração ornamental do quando através de sua figuras torna-se assim uma «meta-representação», poderoso instrumento de apropriação e de propriedade da representação mesma, no seu motivo – aquilo que é representado sobre a cena da história – a seu respeito do seu tema – o tema desta história : e no caso, o rei[2].
   É assim igualmente o quadro (eu entendo por isso os processos de procedimentos de enquadramento, a dinâmica e o poder de encerrar) delegará algumas das sua funções a uma figura particular que,  participando da ação, a história recontada, representada, enunciará por seus gestos, sua postura, seu olhar, menos o que seja ver, mas o que o espectador deve ver, que a maneira de o ver: são figuras patéticas do enquadramento. . Por ser honesto, Le Brun ou Poussin não fazem nada mais do que explorar um preceito de Alberti relativo a representação da storia, ou seja o de colocar  uma das figuras em posição de comentarista, de admonitor e de advocator da obra :
Numa história, eu gosto de ver alguém que avisa e que nos indica o que aconteceu lá: que através de sua mão nos convida para ver; ou nos ameaça com a sua face encolerizada e seus olhos brilhantes que ninguém se aproxime, ou mostra algum perigo ou maravilha; ou nos convida a chorar ou rir com eles[3]”.
 Para continuar a trabalhar com o corpus real e clássico, é de se notar que esta, ou estas figuras de enquadramento na maioria das vezes são figuras da bordas da cena, a primeira da esquerda ou da direita, não delegada do espectador ( e-ou do pintor) mas delegada do quadro para significar ao espectador a modalidade empática (patética) do olhar que ele deve levar sobre a storia[4]. Assim o camponês contemplando, na borda direita a cena, a epifania real da Entrada em Dunkerque (fig. 5), uma cabeça que é a retomada, com algumas variações, de um perfil de expressão do próprio Le Brun, com o espanto no sentido de século XVII[5]. Ou ainda, já destacado numa conferência da Academia, a figura da borda extrema da esquerda no O Maná, figura de reverente admiração diante da cena da Caridade romana que se desdobra sobre seus olhos[6]. Compreende-se pois que decorre do discurso da descrição deva, no seu desdobramento o mais exato sobre a obra, desviara-se de alguma maneira de ela mesma e da leitura interna, menos por uma interpretação externa que uma marcação de pontos de referência e sobretudo formulara através de construções conceituais adequadas os processos significantes e os limites pelo quais a representação da pintura define as modalidades específicas de sua apresentação[7].



[1] - Encontraria-se também no interior das obras da pintura elementos figurativos  não determinados pelo quadro e que operam a integração do espaço representado na obra e o espaço real no qual a obra é apresentado. Assim na Anunciação de Piero della Francesca na igreja de São Francisco de Arezzo, a sombra pintada da barra de madeira igualmente pintada, mas produzida ficticiamente pela luz natural da grande janela do fundo da capela
[2] - Cf. L. Marin O retrato do rei, p. 49 sq
[3] - L. B. Alberti , De pictura, livro II (1435), ed. e trad. Por J. Spencer, Yale University Press, 1956, p. 78. * Trad. Fr. Por J.-L-Shefer, De la peinture, Paris : Macula, 1992, p. 179. NdE
[4] - É necessário convir que disposição – o lugar cênico – da figura sobre a borda interna da representação que  predispõe para a função de figura-de-quadro, que é que não aliás absolutamente exclusiva de uma função narrativa determinada
[5] - Cf. C. Le Brun «Conferência sobre a expressão geral e particular»,pronuncaiado em 1668,publicados por Testielin em 1696, ed. Por Hubert Damissh em Nouvelle Revue de psychanalyse, 21, 1980, pp. 93-121
[6] - Cf. C. Le Brun «Confere [..] sobre O Maná (1667, in Felibien, Conferences da l’Academie riyale de peinture e de sculpture, Londres : d. Martier, 1705, p. 69-71
[7] - Cf a este respeito em particular   M.Schapiro, «Field na Vehicle»
Fig. 05 - Charles de Le Brun – ENTRADA em DUNQUERQUE _ tapeçaria Gobelin

   Já indiquei no início que os lógicos de Port-Royal encontravam no mapa e no retrato os exemplos paradigmáticos do signo representacional. É pois sobre alguns mapas e alguns retratos que gostaria de continuar  as operações de encerramento e de enquadramento, esse trabalho sobre as margens e sobre as bordas. E para começar , o modelo do mapa geográfico : seja, por exemplo,, esse fragmento de um plano de Paris de Gomboust em 1652 (fig.6).
GOMBOUST Plano de Paris 1652    https://de.wikipedia.org/wiki/Jacques_Gomboust
Fig. 06 - GOMBOUST – Mapa de Paris - França - ano de 1652 .
(Reimpresso  Geographicus_-_Paris 1900)
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Exemplificação a primeira vista ao mesmo tempo exata e rigorosa da dimensão transitiva do signo, a representação torna presente de novo uma coisa que não é  mais assim ou não existe mais;   a carta de Paris nos coloca sob os olhos, por uma hipótese icônica,[1] uma Paris que ninguém jamais verá, mesmo Gomboust na época em que ele levava ao  plano «científico» a capital[2] : a carta de Paris, configuração real da coisa, Gomboust o sabe muito bem pois ele coloca, no canto superior da esquerda de sua carta, um quadro com a legendo escrita « Paris vista de Mont Marte»(fig. 7a) e, na parte superior direita, um outro com a legenda «Galerie du Louvre»(fig. 7b).



[1] - Cf. meu estudo sobre essa planta in L. Marin, Utópicas : Jogos do espaço, Paris : Minuit, 1973
[2] - O que indica com toda clareza Gomboust na apresentação de seu plano ao rei. É possível notar que essa mapa foi feita com a ajuda de J. Petit, engenheiro militar, o mesmo que assistirá Pascal nas suas experiências sobre o vácuo. O mapa foi gravado por  A. Bosse.

Duas imagens, dois quadros de uma configuração da borda que propõe utilizar o mapa, como representação  mimética de Paris, um percurso privilegiado de sua aproximação exterior pelo norte até o centro onde a cidade se concentra : o lugar do rei. 
GOMBOUST Plano de Paris 1652    https://de.wikipedia.org/wiki/Jacques_Gomboust
Fig. 07b - GOMBOUST – Mapa de Paris - França - ano de 1652 .- Ângulo direito superior   (Reimpresso  Geographicus_-_Paris 1900
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Pelo duplo quadro da borda, a cidade no mapa, e o mapa da cidade, cidade e mapa numa coexistência exata e idealmente perfeita, se apresenta uma como representada, e a outra como representante, uma na outra como representação; elas se apresentam pois, mas segundo um percurso particular e segundo uma modalidade singular no qual se afirma, numa representação construída segundo uma modalidade singular onde se afirma, numa representação construída segundo a ordem da razão a geometria universal na verdade do seu rigoroso e exato de sua referenciação empírica, o poder político do monarca[1]. Ao olhar de mais perto o mapa, eis que na parte inferior da esquerda e da direita, uma segunda configuração de quadro com pequenas figuras humanas que, de uma colina fictícia do lado de Charenton, contemplam Paris, olhando como nós o fazemos, seu mapa, sua representação (fig. 7c)... No alto e em embaixo, dois processos de quadro, dois efeitos modalizados de opacidade reflexiva : as pequenas figuras são os representantes, sobre a margem inferior, daquilo que os quadros o são para a borda superior o são, de «se presentificar representando Paris» do mapa, pela qual o sujeito da representação, como efeito do dispositivo de representação, entra no mapa, sobre a lei do poder, sobre a lei da representação do príncipe[2].



[1] - Cf. L. Marin O retrato do rei, p. 209 sq.
[2] - Cf. L. Marin «Os caminhos dos mapas» in Cartes et Figures de la Terre, p. 47-54 e, em particular, pp. 50-52


GOMBOUST Plano de Paris 1652    https://de.wikipedia.org/wiki/Jacques_Gomboust
Fig. 07c  - GOMBOUST – Mapa de Paris - França - ano de 1652 .- Ângulo direito inferior    (Reimpresso  Geographicus_-_Paris 1900
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 Um contra exemplo dessas figuras do quadro, nas bordas e margens no mapa, propõe-se com duas imagens de enquadramento, de um livro que no seu tempo, no início do século XVI, foi um best-seller europeu : dois frontispícios, imagens de entrada nas leituras do livro, a primeira   gravada por um anônimo e a segunda pelos irmãos Holbein, para a primeira em 1516 (fig.8a)  e a segunda em 1518(fig.8b)   da Utopia de Thomas More[1]. Esses frontispícios mostram, nas suas semelhanças e diferenças, os sutis jogos modais das figuras do quadro da representação, visto que a utopia é representada (no livro e pelo  texto de More) como um mapa, produzido através da arte de escrever, muito sábia, que faz «ser»,o que ele mostra e faz «ver» o que ele escreve [2] :  um mapa pois que a utopia é uma representação cartográfica que constitui sua representação como referente fictício, um mapa que não está nos mapas entre os quais se encontra, sem que ela ali seja localizável [3].




[1] - Cf ..The Complete Works of St. Thomas More, éd. Par E. Surtz, S.J., et J. H. Hexter, New Hvan – Londres, Yale University Press, 1965, vol. 4, p. 16-17
[2] - Cf. L. Marin,Utopiques.., Cap. 5 et 6
[3] - Sobre os textos ‘quadrantes’ a Utopia na época de sua publicação em 1516, que, que entretém ironicamente a incerteza dos correspondentes de More sobre a situação geográfica da ilha da Utopia, cf. L. Marin « Viagens em Utopia» O Espírito criador (Universidade da Louisiane, 25 (3), 1985, p. 42-51. Retomado em L.M. Leitura transversais, Paris Ç A Michel, p.39-49 NdE.
Fig. 08 a - UTOPIA capa – 1516 – Gravura dos  Irmãos Holbein
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  Naquele de 1516, a caravela está amarrada diante da entrada da baia interior, sob a ponte do navio, com as velas recolhidas, chegando ao termo de sua viagem, uma pequena silhueta,  olha a ilha, e- ou o seu  mapa : ela contempla a vista topográfica de sua capital na paisagem e lê os eu nome , Civitas Amauratum, gravado sobre o mapa. O barco de 1518 é uma reprodução exata, mas invertido, sua imagem no espelho : ele não mais está amarrado, ele corre sobre a sua rota no qual três homens se elevam sobre uma falésia sobre o mar. Por essa reversão da imagem, esta re-flexão, ele volta em nossa direção, para o nosso mundo, e o pequeno personagem sobre a ponte, de costas voltado para ilha, olha sua pátria se aproximar. Nenhum dos homens em cima da falésia olha para a ilha, mas um, entre eles, empoleira-se sobre um cartucho no qual está escrito o seu nome, mostra com o dedo a ilha e-ou seu mapa a seu companheiro, Thomas More : ele lhe conta sua viagem, ele lhe mostra, ele lhe faz ver, mas pela descrição pela linguagem, a ilha maravilhosa. O terceiro, um soldado, com a espada de lado, de perfil, escuta a conversação[1].



[1] - Esse soldado foi objeto de inúmeros comentários. ¿ significaria, a título de «enquadramento» da obra, os projetos da conquista do novo mundo¿
Fig. 08 b - HOLBEIN Ambrosius  1494- 1519 - ILHA da UTOPIA - capa  - 1518 -  Xilogravura 17.8 x 11. cm.
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 Repitamo-lo, nenhum a ilha, e-ou seu mapa, no espaço do mundo, no espaço da imagem. Ele tornou-se objeto de linguagem, de escuta e de escrita, um texto, e nós – que iremos ler a Utopia de Thomas More, que vemos a sua imagem e retornamos ao que a imagem representa,  não vemos que através da mediação das duas figuras de Rafael e More, que através do diálogo, a narração e a descrição que essa figuras representam, como ekphrasis  que a narrativa de um e escritura do outro ali  construíram: ficção[1].
  Os Holbein, sábia e ironicamente,  gravaram esse jogo de viagem e de mapa, do real e da ficção : em 1516, o artista anônimo havia  escrito três toponímios, Civitas Amarrotam., Fons Anydri, Ostium Anydri sobre o mapa da ilha. Em 1518, os Holbein, os escreveram em três cartuchos que estão suspensas através de guirlandas fixadas no quadro de representação. (fig.8 c)    



[1] - Cf L. Marin, Utopiques..., e a noção da prática ficção em oposição à «representação» utópica
Fig. 08 c - HOLBEIN Ambrosius  1494- 1519 - ILHA da UTOPIA - capa  - 1518 -  Xilogravura Detalhe e cartuchos
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Esses toponímicos, que nos mapas, estão escritos sobre os lugares que eles nomeiam, operando a coincidência do referente, da representação e do nominado[1], esses nomes na gravura dos Holbeins, pelo aparelho decorativo que os leva, visualmente vem antes dos objetos representados dos quais eles são os nomes, ele vem antes da imagem, eles pertencem ao seu quadro, ao seu bordo. Eles são colocados, se é possível dizê-lo, sobre o quadro transparente da tela (ecran) da representação. Eles mostram de forma obliqua esta parte  irrepresentável do signo icônico, esta parte que, se ela é representada, neutralizaria e anularia pela sua opacidade o que a representação representa[2]. Eles mostram que a utopia (ilha, o mapa) é somente uma representação, um ekphrasis discursiva, uma ficção das coisas pelas palavras. Mas eles mostram também inversamente de toda a representação esconde, por suas bordas e de seus limites, pelo trabalho de seus quadro e das suas forças de enquadramento, uma utopia, a ficção de um desejo realizado aliás e dos quais os desenhos de Cristo para Surroundede Islands seriam, em 1983, a representação, um eco da gravura dos irmãos Holbeins em 1518[3].
 O modelo do retrato é outro paradigma do signo representação. Ele exemplifica diretamente a dimensão reflexiva do signo. Todo signo, no momento mesmo no qual ele torna presente um ser abstrato ou morto, redobra,  reflete ou insiste na operação de representação: a representação dessa operação. A representação dessa operação, como o ato de um modelo de representação e  identificando o retorna a esse modelo como sua representação, é particularmente evidente no retrato. O EU é representado como se apresentando no signo representado[4]. O retrato é a figura mesma da presentificação de representação, a fortiori quando se trata do auto-retrato. De este ponto de vista, o que não seria um dos menores paradoxos do auto-retrato em geral, não seria considerado enquanto como figura de quadro. É o que me parece entre a intenção explicita de Poussin no auto-retrato do Louvre de 1650[5](fig.9).




[1] - Cf. C. S. Peirce , «sobre o mapa de uma ilha, colocado sobre o chão de desta ilha, deve haver ali ter normalmente um lugar, um ponto, marcado ou nome, que representada sobre o mapa o lugar que o mapa ocupa na ilha...» in Collected Paper,  trad. Fr. Et ed. por G. Deledalle, Escitos sobre o signo, Paris, 1978, p. 123, n° 2230
[2] - É pelo mesmo que, apesar da sua «transparente», o plano da representação se encontra presente.
[3] - «Surrounded Islands. Project for Biscayne Bay, Greather Miami, Florida, 1982-83» in W. Spies, Christo, Ctaloque de l’exposition de Cologne Hambourg, : Dumont, 1985
[4] - J. Pope Henessy, The Portrait in the Renaissance, New York : Pantheon Books, 1966, cap. 1., « The Cult of Personality» e cap. 4, «The Court Portriat»
[5] - Sobre os auto retratos de Poussin, cf L. Marin, «Variações sobre um retrato ausente: os auto-retratos de Poussin, 1649-1650» Corps écrit, 5, 1983, p. 87-107
Fig. 09 - Nicolas-Poussin (1594-1655)   - auto retrato
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Não é o indivíduo Poussin, a pessoa singular, o eu da Normandia vivendo em Roma que o pintor representa. É antes o sujeito-pintor, e mais ainda o sujeito do trabalho da pintura, da pintura em trabalho e do trabalho com seus instrumentos e seus meios. Dois atributos deslocam a inicialmente este trabalho sobre a imagem representada do pintor : o portofolio de desenho que contém, invisível, os esboços preparatórios, o disegno, além do quadro, o diamante montado no anel, emblema, sobre a mão do mestre, da gênese de toda a variedade de cores pela refração no prisma de sua transparência, da luz do sol[1]. Mas a figura do pintor remete esses dois atributos ao campo da pintura mesma, ao espaço do quadro representado reflexivamente como aquele do processo da fabricação do quadro, representado reflexivamente como aquele do processo de fabricação  da obra e suas diferentes etapas : confrontação comovente do pintor com os limites e os quadros da representação do pintor.  O fundo do quadro  representa, com efeito, entre dois chassis voltados de costas e uma tela preparada mas não pintada, um fragmento de quadro-tela e um tela acabada insinuada na direção esquerda, mas da qual não se percebe a não ser que um fragmento do que ela representa. Ao fundo mais longe ,o quadro representa quadros que mostram o que não se mostra habitualmente , as costas. Mais próximo do fundo e servindo de fundo à figura do pintor, uma tela mostra o que não se vê  no quadro, , o que existe em baixo, o espaço subjacente ao espaço representação. O que é imostrável e invisível no quadro da pintura e aqui não são só mostrado, mas ainda representado como se aquilo que não é mostrável, nem visível. O pintor pinta a superfície de seu quadro na tela que ele representa – o que é efetivamente debaixo e atrás ao a tela que ele pinta mas aos quais a sua figura vira as costas.
 É necessário ir mais longe nessa exploração  reflexiva dos quadros e dos limites pelo pintor. A tela que mostra a parte inferior impede o quadro da esquerda de mostrar tudo aquilo que ele representa : o quadro da tela dissimulada esconde uma parte e aquele do quadro que nos olhamos, a auto-retrato do pintor oculta um outro. Entre os dois, sobre o quadro interno da obra, está pintada a figura de mulher, figura do quadro que parece não aparecer senão para escapar da tela : alegoria da pintura, nos diz Bellori[2]: figura da teoria da arte, a teoria da arte de pintar, como demonstrou o professor Posner[3]. A teoria da arte, a teoria da pintura está representada como «termo» parcialmente visível da prática da pintura.
 Ora, nesse quadro duas vezes escondido, apercebem-se duas mãos de uma figura fora do quadro que contornam a alegoria da teoria da arte, duas mãos da prática da pintor, desse pintor do qual nós espectadores, jamais veremos as mãos na representação : nós jamais veremos em todo caso a alegoria da prática juntando-se à teoria da pintura, pois que a autorretrato destinado a Chantelou, o quadro que nós olhamos, realiza esta junção a praticando, na obra, a unidade indissolúvel da teoria e da prática da pintura. Esta unidade não pode ser apresentada que por falta da representação figurada de um dos seus termos, se bem que o quadro, nos seus efeitos de emoldura, inerente sua função de apresentação da representação da pintura ou antes o colocar em trabalho no intervalo de suas bordas : em apresentando a representação do pintor, o quadro esconde a representação figurada do que se realiza na representação mesma, a obra que vemos. Mas essa defecção no enquadramento indica que o trabalho da pintura é o que se percebe entre uma tela e uma apresentação
  Em contraponto, com o auto-retrato de Poussin, e o trabalho dos quadros sobre o motivo da pintura, me parece que a tela bem conhecida de Cremonini, Guet-apens (1972-1973)., seria o comentário pictoral e teórica moderna[4] : aqui como lá, os quadros representados se  sobrepõe e empilham e se interrompem uns aos outros, qual seja o objeto «representado» que eles enquadram, portas, espelhos, janelas ou nada, como o quadro vazio sobre a direita. Todos esses quadros, como as molduras, telas e chassis no retrato de Poussin, articulam um espaço muito estreito,  «in-fragmento», que se reduz só  a sobreposição de planos. O quadro que apresenta o painel, que olhamos, interrompe o os quadros que esse mesmo painel nos re-presenta,  como se fosse precisamente a rigorosa lei do enquadramento e da moldura que torna as coisas visíveis, as ocultando parcialmente à visibilidade. Quanto às crianças, anões ou monstros, que aparecem entre os quadros empilhados, parece que obedecem a mesma lei, uma cabeça sem corpo à direita, uma cabeça, um corpo sem braços nem pernas no centro. No primeiro plano, a criança cega, braços estendidos, braços e mãos cortados pelo quadros. No entanto que à direita, um braço sem corpo faz deslizar um quadro para centro.
 A monumental figura do tema da representação que Poussin havia desenhada sobre o fundo, o auto-retrato da pintura, moldura, chassis e fundo, essa figura está aqui desmembrada em quatro figuras infantis (ou monstruosas) que parecem jogar cabra-cega; ver, ser visto sem ver, entre os quadros vazios. Ou ainda, figuras  presas ou em movimento, móveis como no sonho onde todos esses quadros tentariam prendê-los, os enquadrar, ou colocá-los em representação: «O espaço dos meus quadros é para mim um espaço de contradição e de conflito[5].» Guet-apens (cilada) é o título, nome de um jogo de cegamente num labirinto de barreira retangulares...Colocado em profundidade da representação e a sua colocação em cena, em presença do jogo dos quadros .. Cremonini descreveu seu quadro como «uma relação muito tensa entre o quadro do espelho e o chassis de um  painel », que é também aquela que tenciona o pintor entre o desejo de enclausurar o visível no quadro do seu painel e sua fascinação para que aquilo que se  esconde: a realidade desse visível[6]. Encontra-se esse mesmo jogo de quadros entre os holandeses, em Vermeer – como Svetlana Alpers nos comentou[7] – ou em Velasquez – no qual, com Foucault, é possível ver o nascimento da idade da representação[8].  
    Um pequeno quadro (fig.10) de Klee, que eu encontrei by chance, na forma de uma «mot d’esprit» - pela oportunidade de ter recebido de seu pintor seu nome, seu título em latim que é o mesmo (ou em parte) deste estudo : ele se denomina Ad Marginem[9], à margem, em direção da margem, em direção do quadro da representação em pintura. Eu disse que o pintor o nomeia, mas o quadro também se nomeia – breve paráfrase das observações de Klee na sua conferência de Iena [10] - : a pintura o nomeia e escreve seu nome na margem «Ad Marginem», e o quadro se denomina Ad Marginem, «à margem».



[1] - O diamante, que o pintor ostenta, não é definido como prisma por Furetière, Dictionnaire Universel.., rubrica «Diamante» : ‘ele possui a particularidade que quando o Sol  incide sobre ele projeta tantos raios quantas faces ele possui, e todas as difrentes cores, vermelho, verde, amarelo e azul’
[2] - G. P. Bellori, Le vite de’pittori.. (Rome, 1672), ed, par Borea, Turin : :Enaudi, 1976, p. 455 : «Nicolo Pussino»
[3] - D. Posner «The Picture of Painting in Poussin’s Sel Portrait» in Essays presenteted to R. Witkower, Londes, Pahaidon Press. 1967, vol. 1 pp. 200-203
[4] - L. Cremonini e M. Le Bot, Les parethèses du regard.  Paris : Fayard, 1979, p. 71, 77
[5] - Ibid. p. 61
[6] - Ibid. p. 79
[7]  - S. Alpers, The Art of Describing. Dutch Art inthe seventteent Century, Chicago, The University of Chicago Press, 1983,p. 119 sq. *Trad, fr. : L’Art de depeindre. La Peiture hollandaise au XVIIe siècle, Paris : Gallimard, 1990, p. 209 sq., NdE
[8] - M. Foucault, Le Mosts et les choses.
[9] - Paul Klee, Ad Marginem, 1930 (museu de Bâle)
[10] - P. Klee, Conferência de Iena (1924), In theoria de l’art moderne, Gnebra : Gonthier, 1968 p. 15-33
Fig. 10 – KLEE, Paul   “Ad_marginem
 Este pequeno quadro (46 cm X 35 cm) do museu de Bale nos permitirá, se não responder às questões que eu coloquei, ao menos fechar algumas bordas, algumas margens. Grohmann, escreve no seu comentário:
Ad Marginem parece um velho documento com um planeta vermelho dominando o centro de um verde-feno . Uma escritura fantasmática está disperso ao longo das margens como num desenho de criança. Existe também hieróglifos de plantas, um pássaro, fragmentos de figuras e letras do alfabeto – um diploma do reino da Natureza[1]»

Disperso, é verdade, sobre as bordas do quadro, sobre as margens, mais precisamente apoiando-se sobre elas, no início uma vegetação refinada, preciosa, de gramíneas e de umbríferas, mais abundante sobre um lado do que sobre os três outros : formigamento raro de objetos nos quais o olhar se dispersa na medida da dispersão dessas figuras botânicas do quadro. Mas o olhar é, sem cessar, recentrado pelo disco vermelho central dotado de uma irradiação sombria que desenha sobre o fundo verde uma espécie de halo cruciforme. Hesitação do olhar sobre a outra borda do quadro que é o fundo : esse halo pertence ao planeta vermelho - «figura» ou a «superfície-fundo da tavola¿ Essa irradiação sombria pertence ao sol vermelho pela intensificação de suas fronteiras ou é de um astro que por uma espécie duma eclipse inversa, o sol veio se ocultar¿
  - Existiu alguma vez, na natureza, um pássaro capaz de caminhar sobre a borda, de cabeça para baixo mesmo sendo apenas uma silhueta, um signo de pássaro, hieróglifo com diz Grohmann? Hieroglifos ou pictogramas, nunca foram escritos invertidos de fato assim. Sim, sem dúvida, se o olhar desejar ler corretamente, convenientemente as quatro letras do alfabeto escritas sobre as margens : «v» perto da margem superior, «r» à esquerda, «l» à direita sobre a borda lateral, «u» sobre a margem inferior. Três consoantes, uma vogal : o «u» central sobre a margem superior, «v» tão próximo graficamente do «u», mas que, consonar , e é condenado a consoara com sua vogal , «v-u», «vu». Assim da mesma forma o «r» e o «l» : «r-u», «u-l».
   À margem do quadro, entre as plantas aquáticas,  a voz sob os signos gráficos que a representam, nomeia de hieróglifos-pictogramas que só pertencem à língua de Klee, a voz de uma vogal ou  antes uma vogal ausente do quadro : u que faz pronunciar três outras letras. Eis o olhar percorrendo a margem do quadro em todos os sentidos, na busca de um sentido, rodando em círculo ( ou antes em retângulo) ao redor do círculo vermelho central.  À favor desse percurso, no entanto, o pássaro sobre a margem caminha corretamente sobre suas patas e não de cabeça para baixo: mas eis a surpresa, o «u» tornou-se «n» enquanto os seus três companheiros consonantes tornam-se signo de uma escritura indecifrável. Para ver melhor, somos rejeitados para margem a mais extrema da voz[2].
Essa busca de sentido à margem da voz e sobre o quadro interno da representação, entre o signo vocálico e os signos consonânticos que a representam para a audição e para visão, supõem, para se efetuar, um deslocamento do olho no quadro externo do quadro ou uma rotação do quadro ao redor de seu centro vermelho. Esse processo de anamorfose interroga o sujeito moderno pelo seu quadro e sua representação, por suas margens e suas figuras da borda.. Com efeito, se, para deslocar-me ao redor do quadro eu o coloco no chão, como Pollock o fará para os seus grandes drippins, vinte anos mais tarde,  então as margens do quadro Ad Marginem  tornar-se-á um posso quadrangular, no qual, na água esverdeada fundo, vem refletir um planeta vermelho e tomar, ao menos que ele não venha das profundezas, muito exatamente no lugar de meu olho que olha e se descobre com a forma de um astro com radiações sombrias : deslocamento petrificador da reflexividade do dispositivo, deslocamento estupefativo da representação pelo instrumento mesmo do fechamento : a margem.
 Gostaria de concluir este percurso sobre as margens da representação e suas figuras, para medir talvez essas apostas mais diretamente, evocando um momento  do quadro (fig.11) de Frank Stella, Gran Cairo[3]. Ele pertence a uma série de pinturas do mesmo tipo e da mesma organização, nos quais me parece que Stella explora com uma espécie de atenção sistemática as diversas dimensões da problemática do quadro da representação da pintura : eu sinto que esta exploração possui algumas relações com as observações que fizemos , de Poussin até Klee, de Holbeins até Cremonini[4].



[1] - W. Grohmann, Paul Klee Drawings, Nw York : Harry N. Abrams, 1960, p. 311
[2] - Sobre a relação de P. Klee com o sonoro e  com o musical, cf. Klee e a Música, Catálogo da exposição, Paris : Editions du Centre Pompidou-ADAG-Genève : Cosmopress, 1985
[3] - Frank Stella, Gran Cairo, 1962 (Whitney Museum). Essa obra pertence à série dita «Concentric Squares»dos anos 1962-63 do qual os protótipos foram Sharpeville et Cato Manor. Em 1947, Frank Stella retomou essa fórmula, mas segundo um formato maior, numa série conhecida como «Diderot Pictures», pois a maioria são nomeados segundo os títulos de Diderot, com referência ao trabalhos de Michael Fried sobre Diderot, critico de arte.
[4] -Cf. W. Rubin. Frank Stella. New York, The Museum of Modern Arte, 1970, p. 75 sq.
Fig. 11 STELLA, Frank – “Grande Cairo-1962
 Esta tela, à primeira vista, é feita de quadros. O plano de representação é invadido por eles da sua borda a mais exterior até o centro: triunfo do quadro e enquadramento –da apresentação – sobre a representação. A tela é o campo de uma força toda poderosa: aquela do seu limite exterior inteiramente dirigida para o centro. Os traços que esta força deixou inscritos sobre a tela, são os quadros.. A menos que  consideremos que o tema do quadro, o que ele visa representar, seja exatamente o processo de enquadramento, e, ali o movimento se inverte : do centro em direção à periferia, do interior ao exterior, em particular com as quatros potentes flechas centrífugas que desenham as diagonais no plano[1]. No lugar de serem traços das forças da alteridade, os quadros são assim as de uma força interna em expansão, a força da forma regularmente repetindo as mesmas formas, as mesmas cores a partir de uma matriz inicial e sem outra razão que dirigir-se arbitrariamente a um fim, uma forma final englobante.
     Se o quadro é um dos meios pelos quais a representação se apresenta e é representando alguma coisa, que esta obra de Stella representa a sua própria apresentação. A pintura é inteiramente reflexiva e sua dimensão transitiva consiste em representar a sua dimensão reflexiva. Como no Auto-Retrato de Poussin, Guet-apens de Cremonini ou Ad Marginem de Klee, nós assistimos a uma colocação em profundidade icônica da opacidade do signo representacional na transparência ou o inverso um regressus ad infinitum icônico, pelos quadros da apresentação à sua representação e da representação para a sua apresentação. À partir do quadro violeta mais externo, o olhar descritivo nota  que ele enquadra um quadro azul do qual ele está separado por um fino quadro linear branco :depois  um novo quadro azul enquadrando um quadro amarelo com uma interferência ótica entre as duas cores que desestabiliza o azul. Do ponto de vista da cor, parece que esses três primeiros quadros constituem um quadro dominante na qual a dominante é azul frio e, no interior desse, um outro com cores quentes, amarelo, vermelho, vermelho saturado, vermelho depois amarelo. Esse quadro colorido calorosamente enquadra um outro, denso e poderoso, cinco quadros quadrados separados por quatro linhas brancas de enquadramento : verde profundo, azul, violeta, azul, verde profundo, num arranjamento simétrico de cores frias exaltando o quadro central violento. Eis nos chegado ao centro da pintura : um quadro amarelo enquadrando um quadro vermelho e este, um pequeno quadro de um vermelho brilhante cercado da mesma linha fina branca que  já encontramos antes[2].
    Este pequeno quadrado vermelho central – lembremo-nos que quadro significa quadrado – coloca uma questão ao mesmo tempo visual-ótico e intelectual-teórico : enquadrado por todos os quadros enquadradores e enquadrados ele não  é enquadrado por nada, a não ser que se sugeríssemos o paradoxo de um quadro que se emoldurasse a si mesmo, paradoxo que não é outro que de uma infinita reflexividade: paradoxo que é, me parece, aquele apresenta visualmente esta pintura, como os demais da série. - O pequeno quadro central é a figura, a única e extrema figura de um quadro que emoldurado por quinze quadros coloridos? - Ou é esse último, o último quadro que não enquadraria mais nada a não ser a si mesmo ou ele enquadraria uma figura zero (ao infinito), uma figura invisível? Notamos que cada quadro largo é enquadrado por um quadro constituído por uma linha fina branca. - Esta linha é de uma certa forma de um quadro regularmente distribuído sobre a tela? sim e não. Pode-se, considerar, com efeito, que essas linhas são quadros-limites, quadros tendendo ao limite, ao seu limite sem jamais atingi-lo; mas essas linhas brancas são também restos e traços da tela de suporte, subsistindo sobre as camadas de cor.. Essas linhas, contudo, não se tornam os vestígios do suporte no momento da origem depois do traçado dos quadros coloridos: descobrimos lá, visualmente, uma forma de extrair do tempo pelo espaçamento, ou, inversamente, estruturar o espaço através de uma precisão temporal[3].
    E isso que aparece, no meu entendimento, se, no lugar de  desdobrar nossa descrição na superfície plana da tela colorida, como se graças aos quadros quadrados, houvesse aí uma coincidência sem sobra, entre o representado e do plano de representação. Observamos que nosso olhar, visualmente, oticamente, desce para a profundidade, para o interior da superfície plana da pintura, como por uma escadaria colorida que escavaria a superfície do plano a partir do seu limite mais externo. Nosso olhar descendo esta escada para juntar-se ao quadrado central, quadrado «ponto» de fuga que por ele mesmo representa o «ponto» do tema, quer dizer o lugar da reflexividade infinita.
  Mas eis, de repente, que tudo muda. Acontecimento visual, catástrofe ótico, a escadaria em direção ao fundo torna-se uma pirâmide colorida de cujo vértice, o pequeno quadrado vermelho, tende ao ponto de vista, ao lugar de meu olho, pirâmide saindo toda ela do plano da representação com os seus quadros quadrantes e quadrados, entranho no espaço do espectador, no espaço da apresentação da obra[4].
 Esse acontecimento de inversão ótica ou de conversão visual é como se sabe pela leis da psicologia da forma e da fisiologia  do olho, ao mesmo tempo aleatória na sua aparição e complemento determinado pelo nosso aparelho ótico e perceptivo. Tal é o tempo do quadro ou do enquadramento, dos quais os quadrados de Stella seriam a figura, um tempo rítmico ( que é no fundo aquele das bordas ornamentadas das representações clássicas, um tempo de construção espacial), mas sem medida  definida, um tempo-fluxo:  quanto mais ele é determinado pelo processo de enquadramento do signo-representação, mais ele aparece fortuito ao tema da representação; um tempo no qual esse tema é ao mesmo tempo um produto completamente determinado do dispositivo de representação e o produtor fortuito desse dispositivo[5]
     - Esses quadrados-quadros de Stella, são um poço ou uma pirâmide[6]?  Um poço e uma pirâmide, mas jamais os dois ao mesmo tempo. O olho não pode  predizer o momento da conversão, necessária e arbitrária, onde me parecem se concentrar  todos os jogos sérios do quadro e de suas figuras modernas e contemporâneas: o jogo do ritmo da apresentação e da representação,  esse motivo da arte de ver e da arte de escrever.

Texto do Seminário: «Modernidade: arte e arquitetura»  
Profa Drª  Maria Lúcia Bastos KERN.
FFCH -  PUC - RS 
Tradução de Círio SIMON,   abril 2000


REPRESENTAÇÃO SINCRÉTICA BRASILEIRA



[1] - Sobre as forças centrífugas diagonais ou angulares do quadro, Cf. G. Simmel,Der Bilderrahmens (as molduras)», Tag, 54, 1902: e mais recentemente, G. Grimm, «Históire du cadre : un panorama». La Revue de l’art, 76, 1987, p. 19
[2] - Cf. a este respeito as observações de W. Rubin, Frank Stella, p. 3-52
[3] - É ocasião de reler os estudos fundamentais de Michael Fried sobre a arte de Stella do período ao qual pertencem Gran Cairo : para começara, Three American Pinter : Noland,Olinki Stella, Catálogo da exposição do Fogg Art Museum, Harvard University, abril-maio de 1965 (trad. Fr. Por F. Stouliim]ng-Marin, Revue d’Estheteique, 1, 1976,p. 247-338) ; em seguida «Shape as form : Frank Stellas’s New Pianting», Art Forum, nov. 1966, p. 18-27, e « na Objecthood», Art Forum, jun 1967,p. 116-117.
[4] - Ver as notas de Frank Stella sobre a potência do espaço pictural de Caravaggio em Working Space, Cambridge- Londres, Harvarad University Press, 1986, p. 11 sq.
[5] - Ver  a esse respeito as minhas observações sobre o acidente a acaso em Pollock : L. Marin « L’Espace Pollock» Cahiers du Musée national d’art moderne, 10, 1983, p. 327.
[6] - Sobre a referência do Gran Cairo e de Cipango na conquista do México pelos espanhóis Cf. Ricard H. Axson. The prints of Frank Stella. A. Catalogue raisonné, 1967-1983, New York, Hudson Hills Press, 1983, p. 97-116
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