7.
Poderes e limites
da representação.
Marin,
o discurso e a imagem.
CHARTIER
1998, pp. 173 -189
A
TEORIA da REPRESENTAÇÃO.
«Representação: A imagem que nos remete em ideia
e memória aos objetos ausentes, e que nos pinta tais quais são» ... Representar, no sentido político e jurídico,
é também «ter o lugar de alguém, ter em
mãos a sua autoridade»
De
maneira mais geral, o conceito de representação tal como ele (Marin) o compreende
e maneja foi um apoio precioso para
pudessem ser marcados e articulados, melhor, sem dúvida, que o permitia
a noção de mentalidade, as diversas
relações que os indivíduos ou os grupos entretém com o mundo social: inicialmente, as operações de recorte e de
classificação que produzem as múltiplas configurações graças aos quais a realidade é percebida,
construída, representada; em seguida, os
signos que visam a fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira, Enfim,
as formas institucionalizadas pelas quais os «representantes» encarnam de
maneira visível, «presentificam», a coerência de uma comunidade, a força de uma
identidade ou permanência de um poder.
A DOMINAÇÃO SIMBÓLICA.
O trabalho de Marin permite assim
compreender como os enfrentamentos fundados sobre a violência bruta, a força
pura, transformam-se em lutas simbólicas – quer dizer em lutas que possuem a
representação por armas e por alternativas. A imagem possui esse poder porque
ela:
«opera a substituição da manifestação exterior
onde uma força não aparece que para aniquilar outra força numa luta de morte,
signos da força ou melhor sinais e
índices que não tem necessidade de serem vistos, constatados, mostrados, eme
seguida contados e recitados para que a força eles são os efeitos sejam acreditados».
A
constatação retoma a hipótese do conjunto que sustenta a demonstração do Retrato do Rei e que considera que:
«o dispositivo representativo opera a
transformação da força em potência, da força em poder, e isso duas vezes, de uma
parte modalizando a força em potência e de outra parte valorizando a potência
em estado legítimo e obrigatório, justificando-a».
A referência a Pascal está aqui próxima.
Colocando a nu o mecanismo de «mostrador»,
que se característica de ser no mundo, significando um estatuto, um lugar, um
poder; dirige à imaginação ao produto da crença, Pascal opõe os que tem
necessidade de um tal «aparelho» e para aqueles para quem é supérfluo. Do lado
dos primeiros, os juízes e os médicos:
«nossos
magistrados, conhecem bem esse mistério. As roupas vermelhas, os seus arminhos,
com os quais se enfaixam como gatos
recheados, os palácios nos quais julgam, as flores de lis, todo augusto
aparelhamento é muito necessário; e se
os médicos não tivessem batas e
pantufas, e se os doutores não tivessem bonés quadrados e roupas amplas, eles
jamais teriam ludibriado o mundo que não resiste a essa demonstração de
autenticidade. Se eles possuíssem a verdadeira justiça, e o médicos a
verdadeira arte de curara, eles só necessitariam fazer bonés quadrados; a majestade,
dessas ciências, seria suficientemente veneráveis por si mesmas. Mas não sendo
senão imaginárias, é necessário que usem esses instrumentos vãos que chama
atenção sobre a ocupação que possuem; e dessa forma, eles conseguem
efetivamente o respeito.»
Os
soldados não necessitam fazer esta
manipulação dos signos de produzir respeito:
«Os
que se ocupam da guerra não precisam disfarçar, porque o seu quinhão é mais
essencial, eles estabelecem pela força o
que os outros fazem pela careta».
Reformulado por Marin, o contraste indicado
por Pascal possui uma dupla coerência para toda a história das sociedades do
‘Ancien Régime’. Ele permite situar as formas de dominação simbólica, pela
imagem, o «mostrador» ou o «aparelho» (a palavra é cara para La Bruyère), como
o corolário do monopólio sobre o uso legítimo da força que pretende se reservar
o monarca absoluto. A força não desapareceu com a operação que a transforma em
potência. Escutemos Pascal que continua assim o fragmento sobre a imaginação:
«é
assim que nossos reis não precisam procurar disfarçar. Eles não estão
fantasiados com roupas extraordinárias para parecer como tais: mas eles se
fazem acompanhar com guardas, com armas. Essas tropas armadas que não possuem
ajuda e força que por si mesmos, as trombetas os tambores que marcham na
frente, e essas legiões que os cercam fazem tremer os mais corajosos. Eles não
possuem só o uniforme, possuem a força.»
Mas
essa força, que permanece sempre à disposição do soberano colocando como
reserva pela multiplicação de dispositivos (retratos, medalhas, louvações,
textos, etc..) que representam a potência do rei e que devem produzir, sem
recurso a qualquer violência que for, a obediência e a submissão. Os
instrumentos da dominação simbólica garantem, pois, de uma vez:
« a
negação e a conservação do absoluto da força: negação, pois que a força não se
exerce e nem se manifesta, pois ela está calma nos signos que a significam e a
designam; conservação, pois que a força através e na representação se manifesta
como justiça, quer dizer como lei obrigatoriamente impositiva sob pena de morte».
O
processo da erradicação da violência, cujo manejo é confiscado pelo estado
absolutista, tornou possível um exercício de dominação política que se apoia
sobre a ostentação das formas simbólicas, sobre a representação da potência
monárquica, dada a ver e a crer durante
a ausência do rei graças aos signos que indicam a sua soberania.. Prolongando
essa esse encontro entre Marin e Elias, poderia juntar-se que é essa mesma
pacificação (pelo menos relativa) do espaço social que transformou, entre a
Idade Média e o século XVII, os confrontos sociais abertos e brutais em lutas
de representação cujo objetivo é ordenamento do mundo social, distribuindo o
lugar reconhecido para estado, a cada corporação, à cada indivíduo.
FAZER CRER e CRENÇA
É com efeito, o crédito concedido (ou
recusado) para as representações que um
poder político ou um grupo social se propõe de si mesmo que depende a
autoridade do primeiro e o prestígio do segundo. Por essa constatação, Marin
designou os contornos de uma dupla história: história das modalidades do
fazer-crer, história das formas de crença. Sua obra reuniu num única busca a
análise dos dispositivos, discursivos ou formais, retóricas ou narrativas, que
devem coagir o leitor (ou o espectador), o submeter, o «prender», e, de outra
parte, o estudo das opções possíveis face a esse mecanismo persuasivos tanto
mais poderosos quanto mais dissimulados, mas tanto menos eficazes quando eles
são desmontados. A tensão conduz necessariamente Pascal que despe os recursos
do dispositivo representativo das condições da sua própria credibilidade. Assim
nesse fragmento, citados na «Introdução» do Retrato
do Rei, que evidencia como os mecanismo que movem a força em potência
produzem respeito e terror evocando ao seu espectador a violência originária
fundadora de todo o poder: « o hábito de er os reis acompanhados de guardas,
tambores, de oficiais e de todas as coisas que movem a máquina para o respeito
e o terror, faz com que seu rosto, quando está alguma vez só e sem os seus
acompanhantes, imprima nos seus súditos o respeito e o terror, porque não se
separa no pensamento as suas pessoas dos seu séquito, que em geral andam ordinariamente juntos. E o mundo,
que não sabe que esse efeito vem desse costume, acredita que procede de uma
força natural; disso vem a sentença: “ As caraterísticas divinas estão
impressas no seu rosto, etc. “»
Philippe
CHAMPAIGNE (1602-1672) -
Abadia de Port Royal des Champs
A tensão entre de fazer-crer e a crença
conduz assim a lógica de Port-Royal
e ao capítulo XIV de segunda parte, «Das proposições nas quais se dá aos signos
o nome de coisas», que identifica as duas condições necessárias para que a
relação da representação seja inteligível: de um lado, o conhecimento de um
signo como signo, na sua diferença com a coisa significada; de outra parte, a
existência de convenções compartilhadas regulando a relação do signo à coisa. O
texto localiza as razões de uma possível desvelamento e uma possível
incompreensão da representação. Seja que uma relação arbitrária «extravagante»,
seja estabelecido entre o signo e o significado: assim se um homem tivesse a
fantasia de dizer que uma pedra é um cavalo, ou um asno um rei da Pérsia. Seja
que o destinatário, por falta de «preparação», não pudesse compreender o signo
como signo. É porque não se pode dar aos signos da instituição o nome de
coisas, como, por exemplo, na parábola ou na profecia, a não ser que aqueles a
quem se dirige sejam capazes de conceber que o signo não é a coisa significada
que em figuração e em figura. Mesmo que ele tenha, sobretudo chamado a atenção
aos mecanismos discursivos ou visuais que tem por objetivo manipular o leitor,
e a fazer crer o que se quer que ele creia, o trabalho de Marin, apoiado sobre
as referências à Port-Royal, ajuda a pensar as condições próprias da eficácia
ou de fracasso de um tal intenção. Nisso ele atravessa diretamente as interrogações
de Michel Certeau sobre as formas da crença, entendida dessa forma:
«Eu
entendo por “crença” não o objeto da crença (um dogma, um programa, etc.), mas o investimento dos sujeitos numa
proposição, o ato de enunciar tendo com verdadeiro – dito de outra forma, uma
“modalidade” da afirmação e não seu conteúdo.»
As condições do ato de crer remetem, primeiro, aos lugares e às
formas de inculcação das convenções, às modalidades da:
«preparação» para compreender os princípios
da representação da qual os lógicos de Port-Royal. Elas supõem também que a
leitura, a decifração, a interpretação não jamais totalmente nem controlados
nem abrangidos pelos discursos e as imagens. É verdade, não se encontra em
Marin nem teoria de recepção, nem história da leitura. Portanto, o cuidado
minuciosos que ele colocou para compreender «os estratagemas, astúcia e
maquinações»
desdobrado
em textos e em quadros para impor uma significação unívoca, para enunciar e
produzir sua correta interpretação, me parece repousar sobre o postulado que o
leitor ou espectador pode sempre ser rebelde. Submeter-se ao sentido não é
coisa fácil, e a subtileza dos laços que lhe são armadas na medida da sua
capacidade, sábia ou desastrada, em usar da sua liberdade. Como em Michel
Foucault, para quem analisar os aparelhos disciplinares não é pata concluir que
a sociedade é necessariamente disciplinada, em Marin, desmontar as máquinas
textuais que constroem o leitor-destinatário como efeito de mensagem emitidas
não obriga a supor que o leitores reais se conformam em todas as partes a «leitor-simulacro» do discurso.
Os artífices podem ser os mais hábeis, e os «golpes» muito espertos, como, por
exemplo, os jogados por Pellisson no seu
Projeto da História de Luiz XIV que tem por objetivo um relato da história
seja lido por seu receptor como um discurso de louvação pois:
«o que não é dito a emissão (epítetos e
elogios) o é – e necessariamente – para a recepção. O que não é representado no
relato e pelo narrador e a leitura pelo narrador, ao título do efeito do relato».
Essa
engenhosidade produtora de efeitos, sempre pensados como necessários, não é
portanto jamais segura do leitor que sua falta do saber ou seu mau pode tornar
muito difícil de persuadir. È esse possível desvio, jamais designado mas sempre
temida, que justifica as maquinação discursivos de Pellisson como desmontagem
minuciosa de sua competência. É ela que funda o objeto do trabalho,
complementar do que conduzido por Marin, que visa identificar os limites e as
figuras, as regularidades e as singularidades de tal liberdade.
O TEXTO e a IMAGEM
Nessa tensão entre os efeitos do sentido
procurados pelos discursos ou pelas pinturas e sua decifrações, as relações
entre o texto e a imagem tiverem sempre para Marin uma extrema importância. No
seu livro, Dos Poderes da Imagem, a
proposta não é o de analisar os procedimentos da apresentação da representação
– que era o objeto de seus ensaios
reunidos em a Opacidade da Pintura -,
mas o estudar os textos que, de diversas maneiras, reconhecem e provam os
poderes das imagens. A tentativa é justificada da seguinte forma:
«é
nessa fraqueza do visível frente aos textos – ‘visível’ que é no entanto o seu
objeto – que os textos assim glosado e entreglosados podem, por essa estranha
referenciliadade, uma capacidade renovada da aproximação da imagens e de seus
poderes, como se a escritura e seus poderes específicos se encontrassem
excitados e exaltados por esse objeto que se subtrairia necessariamente, pela
sua heterogeneidade semiótica, a sua toda poderosa empresa; como se o desejo da
escritura ( da imagem) ensaiasse cumprir ‘”imaginariamente” em se colocando
fora da linguagem, no que, em vários aspectos, constitui seu reverso ou sua
outro, a imagem.»
«Fraqueza do visível nos textos»,
«heterogeneidade semiótica» da imagem face a escritura: essa fórmulas são um
ponto de apoio preciosos para quem recusa identificar todas as produções
simbólicas, as imagens mas também os rituais
ou a «invenção do quotidiano», a uma textualidade. Contra tal posição
que anula todas as distinções fundadoras do trabalho historiador ( entre texto
e contextualização, entre discurso e imagem, entre prática e escritura), é
necessário colocar a diferença radical entre a lógica na obra na produção do
discurso e as outras lógicas, que povoam a «a colocação em visão», o rito ou o
sentido prático. O trabalho de Marin foi
sempre fundamentado sobra a aguda consciência dessa heterogeneidade,
partindo da historicidade e da descontinuidade dos funcionamentos simbólicos.
De lá a sua conveniência para todos os que
tem por ilegítima a redução das práticas constitutivas do mundo social e de
todas as formas simbólicas que não recorrem à escrita, aos princípios que
comandam os discursos. Reconhecer que as realidades passadas não são acessíveis,
na maioria das vezes, a não ser por textos que
esperavam organizá-las, as descrever, os prescrever ou proscrever, não
obriga, portanto, postular a identidade entre a lógica que governa a produção
de discursos e a lógica pratica que regula as condutas ou a lógica «icônica»
que governa a obra da pintura. Da sua irredutibilidade ao discurso decorre uma
prudência necessária no uso da categoria «texto», aplicado demasiadas vezes indevidamente a formas ou a práticas onde os
modos de construção, os princípios de organização não são em nada semelhantes
às estratégias discursivas.. Daí, a tensão que habita os textos destinados no Os Poderes da Imagem e que encontram
todos colocados diante da mesma dificuldade, lembrada aqui no tema dos Salões de Diderot:
« como
fazer com as palavras uma imagem ou ainda [...] como dar, a uma imagem construída
dentro e pelas palavras, sua potência própria, ou o inverso, como transferir às
palavras, ao seu arranjo e suas figuras, o poder que a imagem esconde pela sua
própria visualidade, a imposição de sua presença.»
Com
essa transposição necessária mas impossível, apesar de toda a arte da ekphrasis, marcam-se na sua
singularidade, as forças e os poderes que, diversamente, são os da imagem e da
linguagem.
Há uma dupla conveniência ao conceito de
representação tal como o compreendeu e maneja Marin. Inicialmente, considerado como um instrumento
essencial para compreender os modelos de pensamento e os mecanismos da
dominação característicos da sociedade da época clássica, o conceito obrigou os
historiadores banir de seu repertório a noções anacrônicas úteis para dar conta
de realidades que lhe são contudo estranhos. A introdução do Retrato do Rei
descreve com acuidade a trajetória seguida: depois de haver marcado
«o
lugar capital que ocupava, nos gramáticos e os lógicos de Port-Royal, a noção
de representação e seu equivalente geral era colocado ou pressuposto por eles
com a noção de signo no nível na qual se analisava a linguagem (termo,
proposição, discurso), a algum domínio ao qual essa linguagem pertence (verbal,
escrita, icônica)»,
Marin
identificou a matriz eucarística a esta teoria, pois ele reconheceu as
modalidades e os efeitos do dispositivo da representação no campo da política.
A operação encontra-se assim solidamente amarrada ao ferramental nocional que
os próprios contemporâneos utilizam para tornar a sua sociedade menos opaca
para o seu entendimento.
Além desse primeiro uso, historicamente
localizado, a noção de representação é encarregada de uma conveniência mais
larga, designando o conjunto das formas teatralizadas e «estilizadas» (segundo
a palavra de Max Weber) graças aos quais os indivíduos, os grupos, os poderes constroem
e propõe uma imagem de si mesmos. Como escreve Pierre Bourdieu:,
«a representação que os indivíduos e os
grupos fornecem inevitavelmente através de suas práticas e suas propriedades
faz parte integrante de sua realidade social. Uma classe é definida por seu
ser-percebida como pelo seu ser, por sua consumação – que não tem necessidade de
ser ostentatória para ser simbólica – como pela sua posição nas relações de
produção (mesmo se é verdadeiro que esta comanda aquela)».
Assim
entendida, o conceito de representação conduz a pensar o mundo social no qual o
exercício do poder segundo um modelo relacional. As modalidades de
presentificação de si mesmo são determinadas pelas propriedades sociais do
grupo ou dos recursos próprios de um poder. Elas não são, no entanto, uma
expressão imediata, automática, objetiva, do estatuto de um ou da potência do
outro. A sua eficácia depende da percepção e do julgamento dos seus
destinatários, da adesão ou da distância face aos mecanismos de presentificação
e de persuasão empregada.
No século XVII, esta pluralidade de
apreciações inquieta. Donde a pesquisa de relações necessárias, de
equivalências estáveis: nos tratados de civilidade, entre a classe e o parecer;
no ritual político, entre o príncipe e a soberania monárquica e as formas de
sua expressão simbólica; na teoria do signo, entre a coisa que representa e a
coisa representada. Marin colocou no centro de seu trabalho essas convenções
que objetivam fixar e congelar os funcionamentos sociais, para assegurar uma
plena eficácia aos modos simbólicos da dominação política, tanto mais potentes
quanto os que eles devem submeter o conhecimento e reconhecimento como
legítimos. Mas entre ‘monstração’ e a
imaginação, entre a representação proposta e o sentido construído, são
possíveis discordâncias. Não só na sociedade menos rigidamente codificado
depois da Revolução, mas mesmo no século XVII. Escutemos la Bruyère:
«te
enganas, Filomon, se com esta carruagem brilhante, este grande número de
espertalhões que te seguem, e essas seis bestas que te levam, tu pensas que a
gente te estima por isso: a gente ao retira todo esse aparato que te é estranho
para penetrar em ti, que não que um fátuo. Não é necessário algumas vezes
perdoar a quem, que, com um grande cortejo, com rico traje e com carro de luxo,
parece melhor nascido e com maior inteligência: ele lê isso na atitude e nos
olhos dos que lhe falam» (Les Caractères de Théophraste traduits du grec, avec
les Caractères ou les mŒurs de ce siècle, 1688, «Do mérito pessoal»).
De
um lado, no contato da força de representação que manipula os destinatário,
faz-lhe reconhecer o lugar e o mérito atrás da «mostração», o transforma em
espelho onde a potência vê e se persuade da sua própria potência. Mas de outro
lado, o texto diz das fraquezas do engodo, o desvelamento do artifício, a
percepção do desvio entre os signos exibidos, o «aparelho» ostentatório, e a
realidade que eles não podem disfarçar.
A obra de Marin situou-se sempre entre a
onipotência da representação e os seus possíveis desmentidos. É uma tal tensão
que organizou suas últimas pesquisas sobre os processos e os efeitos da
representação para a constituição do sujeito político na Europa dos séculos XVI
e XVII. O relatório de seu seminário da ‘Ecole des hautes études’ de 1990-1991
o indica claramente:
«No
centro da problemática da política, foi colocada a questão do poder do Estado,
centrando-a exatamente sobre a manobra do governo e das técnicas objetivando
criar o consentimento necessário a sua constituição e sua reprodução. Como
nessa época, são analisados e construídas lógicas passionais subentendendo os
comportamentos individuais e coletivos e como essas lógicas são utilizadas e
desenvolvidas na manipulação das paixões com o
objetivo de sua subjugação
?»
Faltou tempo para as respostas, mesmo se em
1991-1992, num seminário que deveria ser o último. Marin, retornando sobre
quiasma
do poder político e da representação do teatro, cruzando a figura do rei em
autor – Jacques I, autor do Basilokon
Doron – com o do rei poeta – o Prospero-Shakespeare da Tempestade.
Faltou tempo mas, mas deixando as perguntas, Marin nos disse também como era
necessário se aproximar:
«como atravessar esse texto, na sua
intimidade, sem dilacerações, na saída, no momento de o deixar? É necessário
praticar o texto como atravessar habitualmente a rua ‘Traversière (XIª)’
tomando um passo numa parte de seu percurso sem vadiar pela curiosidade nem se
retardar pelo interesse. Simplesmente para passar mais depressa para outros
lugares ou abrir mais facilmente outros espaços. É esse também o sentido da
travessa (atalho) :« caminho particular mais curto que o grande caminho ou
levando a um lugar ao qual o grande caminho não leva”,
mas sem dúvida com um efeito de surpresa ou de
espanto: o percurso que eu tomo, de forma singular, eis que ele conduz-me
alhures, lá onde:
“o grande caminho não me conduz”, a um outro
final, que eu não suspeitava : descoberta. Não era que eu queria ir e contudo,
secretamente, este lugar revela-se de um verdadeira desejo, do desejo da
verdade.»
AU BORD DE LA FALAISE
CHARTIER
PORT ROYAL
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