quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ISTO é ARTE – 044


A FORMA é a MORTE da ARTE.

Boa é a formação, má é a forma,
 porque a forma é fim, é morte.
                                                   Paul Klee[1]



[1] - Klee in Bosi, 1995, p. 71

Fig. 01 – Os apontamentos rápidos e instantâneos de Paul KLEE (1879-1940) buscam o menor caminho entre o universo mental e o a forma física da obra de Arte. Numa escrita estenográfica e criptografada este músico suíço escolheu os meios formais mais adequados e característicos deste universo sonoro onde sons e suas modulações ganham corpo nas cores, formas possíveis à aquarela.

A Arte e a forma estão em antagonismo continuado e numa dialética permanente. Dialética e antagonismo entre a forma física que obra de Arte venha a tomar. Forma com a qual a Arte reveste a ideia como objetivo de ser percebida pelos sentidos humanos e, assim, ganhar o mundo. A Arte teme forma física por diversas razões.  Entre estas razões, a Arte trata de precaver-se de toda forma que a possa corromper, simplificar e desviar de sua autonomia e competência próprias do seu campo de forças. Escudada neste campo de forças, a Arte pode decretar, a qualquer momento, o fim ou a morte de uma das suas determinadas formas e devido ao poder que lhe é inerente. A Arte possui o direito de se evadir de uma determinada forma, por mais cômoda, canônica e legível que ela tinha sido. Depois de a Arte se evadir de uma forma cômoda, canônica e legível, permanece o seu simulacro da moda, do kitsch e do obsoleto.

Fig. 02 – A grande contribuição de Pablo Picasso foi de aproximar as formas da Arte das suas concepções mentais O exercício de desenhar com a luz de uma vela enquanto uma câmara fotográfica registra o desenho formado no espaço permite ao criador diminuir a distância e o tempo entre a sua concepção mental e o mundo empírico. Esta flexibilidade permitiu ao artista ter sobre o sewu controle numerosas tendências estéticas e passar incólume de uma para outra. Inclusive aquelas, como o cubismo, que ele havia tornado canônico e legível não o prenderam numa escravidão voluntária. Aqui um dos momentos desta proximidade

A maioria dos seres humanos não quer enfrentar este trabalho para superar este antagonismo.  Ou não possui meios de transferir as suas concepções mentais ao mundo empírico. Esta incompetência faz com que a maioria destas concepções jamais cheguem aos seus semelhantes. 
O resultado é que 90% da criação humana perece com os seus criadores originais e destina-se ao cemitério. No entanto conferir uma forma equivocada ao seu universo interior e um corpo sensorial incompetente para fazer esta ponte coerente entre os seus criadores e receptores produz evidentemente o mesmo efeito entrópico.
Uma forma equivocada - ou incoerente com o universo interior do seu autor - faz com que ela seja percebida pelos sentidos humanos como um embuste ou uma corrupção.  O que deveria ser cristalino e fazer transparecer a sua origem, ganha o mundo dos seus semelhantes de uma forma turva, como meia verdade ou farsa.

Fig. 03 – O pensamento cartesiano - subvertido nesta pichação - realiza um ato de resistência à fugacidade da moda, do lugar comum e do reducionismo fixo. O autêntico artista possui o direito de se explorar o seu tempo e lugar sem se dobrar à concepções alheias, pré construídas e não coerentes com as suas circunstâncias.

O trabalho do criador original é imenso para construir e manter esta coerência entre os meios que pretendem ou deveriam transferir ao mundo empírico as suas concepções mentais.
 A forma da obra de arte teme a Arte é perceptível ao extremo. A forma da obra de arte sabe que ela é constitui como uma casca da semente. Não haverá vida nova, se esta semente não anunciar, concordar e encenar a morte de sua forma. Sem esta ruptura, as melhores ideias e os pensamentos mais brilhantes acompanham o seu criador ao túmulo.

Fig. 04 – O trabalho de filósofo e do teórico se dá e se completa num universo bem acima dos confrontos e, lutas e equívocos entre a Arte e suas possíveis formas. Conforme Jorge Guilherme Frederico HEGEL (1770-1831) o filósofo não pode descer - nas suas especulações do geral e do universal – e de lá experimentar e usufruir das formas sensíveis o mundo empírico. Estas formas sensíveis, ao tentarem acompanhar o filósofo, não só se perdem neste caminho,  mas perdem a sua razão de ser e não fazem sentido no universo das ideias puras e universais.

A corrupção, ou embuste, podem ocorrer na própria luta e tornar-se evidente por meio da dúvida da busca da forma que as concepções mentais irão buscar para a sua permanência. O trabalho do artista criador consiste na luta para não entregar a suas concepções mentais aos repertórios reducionistas, de duplo sentido e contenham apenas meia verdade.
O filósofo Maurice Merleau Ponty (1908-1961) no seu texto (1945) intitulado de a “Dúvida de Cezanne” percebe este eterno antagonismo entre a Arte e a sua forma. O filósofo observa a luta entre o universo mental do artista, as formas e as ferramentas que  dispunha, no seu tempo, para tornar evidente as suas criações mentais. Este pintor, devido à forma honesta e coerente da sua pintura, abriu um universo pelo qual ganhou corpo uma série de tendências importantes da Arte do século XX.
Nestas tendências estéticas há críticos que distinguem Forma (maiúscula) com a forma (minúscula). A distinção é significativa para as obras nas quais existe um predomínio das estruturas geométricas ou matéricas. Contudo esta tendência formal é apenas um dos caminhos possíveis para a Arte ir ao encontro do seu criador, mediador ou público.
Esta amplidão é possível na medida em que permanece aquilo que é o pensamento, como se afirmou a postagem anterior. A forma, por mais sólido que seja construída, continua a ser vítima da entropia.

Fig. 05 – Uma das capas da revista alemã “KUNSTFORUM” , que possui por título “A Arte sem a Obra”  e no subtítulo inverte a questão “Estética sem intenção”. Nestes polos opostos  percorrem a dialética entre  o universo mental dos artistas criadores que buscam situar-se para além do limite físico do mundo empírico . Evidente que na Filosofia esta posição é legítima, na Arte cada criador necessita realizar escolhas criteriosas,  pois, para ela, a Obra de Arte é primordial para que este pensamento do esteta possa se ampliar e solidificar.

No entanto a recepção - destas formas originais e únicas - necessita de um público atento e competente para fazer o caminho inverso a partir das formas sensoriais até alcançar a sua fonte. Público capaz de atingir às ideias que iluminaram e motivaram o criador da obra a escolher, e trabalhar,  as formas sensoriais das suas concepções.
O mediador, pouco preparado, pode corromper este processo, falsificá-lo ou naturalizá-lo. Pode ser infeliz de tal maneira que quebre a ponte entre a obra física e o universo mental no qual o artista teve êxito. O mediador faz sentido, pois, muitas vezes, este mesmo artista sente-se impotente para traduzir para o código da fala ou da escrita este processo onde trabalhava por outros meios e outros códigos nos quais é competente. Porém na maioria das vezes o artista criador esta ausente pois viveu outra época e tempo do que o seu público. Assim a profissionalização do mediador é cada vez mais urgente. Profissional que não só do comunicador mediático, mas especialmente o filósofo, o esteta, o museólogo, arquivista e criador de eventos que lhe dão suporte e preparam as suas pautas relativas à Arte. Contudo todos estes profissionais estão corrompidos, ou praticam desvio de conduta, ao não considerarem a natureza e as circunstâncias da origem da obra de arte. Municiados com este saber, vontade correta certamente possuem todo o direito de preparar o público para perceber os abismos que a obra de Arte abre e também aqueles que as separam entre si mesmas.

FLUXUS J. C. MALLANDER 2002
Fig. 06 – Uma obra que dialoga com a Natureza e ao mesmo destaca-se dela pelas múltiplas formas geométricas e artificiais. A tendência minimalista aqui possui duas LEITURAS. Uma é das próprias formas geométricas puras e sólidas. A outra é pelas dimensões mínimas das diversas formas diante do amplo parque. De outra o artista se diverte na ambiguidade destas formas e o sistema dos parques urbanos no qual dispôs estas formas. .

O mediador não pode permanecer na superfície que confunde o tema e o título. Evidente que o título não é sinónimo de algum sentido de uma obra de Arte. Também no plano da natureza da obra de Arte: “a forma é uma noção ambígua nas artes visuais: ela designa ali tanto a configuração do objeto representado como elementos e o sistema do qual se serve para dar conta dos objetos”, conforme ensinou Wölfflin, (1990 :  74).

Fig. 07 – O mal estar da Civilização fica evidente neste sacrifício de uma obra de arte realizada pelo diretor Antônio Manfredi do Museu de Arte Contemporânea de Casória, na Itália. Evidente este ato comprova o contrário do que Miguel Ângelo apregoava a favor da Itália e da sua cultura estética.

Nas circunstâncias em quem se encontro o criador da obra  como o seu observador não pode ser desconsiderado o fator do “Mal Estar  de uma Civilização”. “Mal Estar” que atinge o mediador como o observador da obra de arte. As instituições, o comércio da Arte, os estudiosos e os próprios meio de comunicação, impõem a sua lógica formal e provocam um distanciamento e um “Mal Estar”. Este “Mal Estar” afugenta tanto os potencias observadores e até os mais dedicados mediadores das obras de Arte. Neste caso o diretor Antônio Manfredi do Museu de Arte Contemporânea de Casória ná Itália, que, não obtendo as verbas do Estado, resolveu sacrificar, publica e midiaticamente, as próprias obras de Arte, dando-lhes a morte física diante da “Cegueira Branca” das autoridades públicas e privadas.


Fig. 08 – O trânsito da obra de arte, do domínio privado para o espaço e domínio publico, provoca este congestionamento visível nesta instalação de obras de Arte voltadas, aparentemente de castigo, contra a parede. De outra parte, esta imagem sugere que a instituição museológica é proveniente da era industrial. Destina-se, ainda, a se constituir no repositório de objetos cujas formas perderam a sua função e numa potencial busca de outra função. Os museus hoje representam um vigorosos suporte à espaço simbólico e sendo intensamente explorada como apoio ao turismo cultural e massivo.

Além do mais este “Mal Estar  de uma Civilização” projeta-se no futuro do observador, mediador e do próprio criador. Este “Mal Estar” proclama a morte da Arte no contexto das muitas outras “mortes anunciadas”. Evidente, aquilo que morre são os conceitos, muitas vezes infantis, outras vezes mal intencionadas, as meias verdades, as impossíveis de estabelecer uma correlação unívoca entre o que se enuncia com o que pretende enunciar. “Rei morto”, “viva o rei.


Fig. 09 – O escritor português José Souza Saramago (1922-2010), “prêmio Nobel de Literatura” (1998) soube, como poucos cultivar esta passagem das suas concepções estéticas para o domínio público. Transição que a sua obra acompanhada, reforça e torna coerente com  todas as circunstâncias de sua época e daquelas de sua terra lusitana de origem.

A contradição do “Rei morto”, “viva o rei” foi bem percebida  e interpretada por Saramago. Ele declarou ao Jornal “El Nacional” da Venezuela,  em 18 de outubro de 1998 para criar um personagem sem significado específico é necessário cria-lo o mais real possível”. Nesta dialética Saramago estava construindo uma das suas obras mais emblemática que é “A Cegueira Branca”. Neste texto ele trabalha como mediador preparado e competente para enfrentar a corrupção do processo, a falsificação ou simplificação que a naturalização da percepção da obra de Arte pode provocar no seu observador. Muitos habitantes de Congonhas do Campo percebem as esculturas de “Os Profetas “ do Aleijadinho e ingressaram na “Cegueira Branca” devido a qual naturalizaram esta criação. Este hábito naturalizador reduz a se discurso fixo, único e linear que os tronam cegos para atravessar a ponte entre a obra física e o universo mental no qual o artista teve êxito. Muitas menos para guiar outros cegos que chegam teorias prontas pelos quais se intoxicaram e os tornam tão cegos como aqueles que possuem estas obras no seu quotidiano. Muitas vezes este mesmo artista sente-se impotente para traduzir para o código da fala ou da escrita este processo onde trabalhava por outros meios e outros códigos nos quais é inquestionavelmente competente.



Fig. 10 – A culminância de um longo processo da indústria do restauro conduziu a uma imagem bem visível da “Cegueira Branca” de quem se apodera de uma obra de Arte é destrói de fato. Se aqui o caso é flagrante, e “midiado” mundialmente, ocorre muito mais vezes na prática. Se a distância do mundo mental para uma obra física já é longo, incerto, e, o mais das vezes, redunda em fracasso, imagine alguém em outra cultura ser o temerário para se abalançar a devastar e reinterpretar o pensamento de alguém, pensamento doa qual já possui uma obra degradada pela entropia do tempo e dos meios materiais.


A Arte apresenta-se diante de uma instituição como uma perpétua revolução e um caos imponderável. Nesta sua natureza, própria e única, a Arte teme ser acomodada e naturalizada numa ordem perpétua de uma instituição. Surge, pois, a necessidade de  entender o equilíbrio homeostático entre os contrários da arte e da instituição. De um lado, Foucault escreveu (1995: 124) “o poder circula de forma permanente”  e, admite-se que acontece o mesmo entre a arte e a instituição. Do outro lado,  esse equilíbrio entre a autonomia da arte e a segurança da instituição, acontece “somente dentro de um estado já bem equilibrado, que se apoie numa estrutura social equilibrada”,  na suposição de  Wright Mills   (1975: 315). Por esta razão a Arte constrói valiosos índices para a qualidade, competência e altura de uma determinada civilização. A obra de arte carrega, no mínimo de suas formas físicas, o máximo de informações da civilização de sua origem. Uma série de obras, linearizadas no tempo, também pode se constituir em índice do nascimento, apogeu e decadência de uma determinada civilização e independente do código escrito.

WAS IST KUNST - Kunstforum nº 162 ano 2002.b
Fig. 11 – A obra de Arte é sempre um equilíbrio precário e homeostático entre o seu nascimento na sua concepção mental e a sua morte na sua forma física. O confronto entre o ‘Eros’ e o ‘Tanatos’ deixa vestígios em qualquer obra de Arte.

Na conclusão é necessário admitir, com Paul Klee, que “a formação é boa”, pois ela representa a vida,  a busca e a luta. Porém “a forma é má” pois “a forma é o fim”  e todo fim “é a morte”. A morte é a vitória da entropia, da naturalização e do irreversível. Por isto em Arte não existes desculpas possíveis. Se o artista teve êxito em enfrentar a forma mesmo sabendo que ela é a morte, o que dizer da frustração do artista que fracassa na sua tentativa de conferir uma forma legível ao seu mundo conceitual?.

Fig. 12 – As três obras de Kazimir  Malevich (1878-1936) atingiram , por volta de 1915 formas radicais de um quadrado negro , de um círculo e de cruz grega nas quais o artista abandona qualquer figuração ou referência descritiva externa.. O contexto  da arte praticada nas circunstâncias da cultura  eslava,  conferem um suporte para a este passo estético deste pintor. Se, de um lado,  é necessário admitir que estas obras estão mortas em si mesmas. Contudo, apesar desta morte, estas obras avisam que elas constituem índices deste elevado grau cultural que o seu autor atingiu no momento de colocá-las no mundo físico. A sua eventual copia ou contra facção avisa também que a História não permite a sua repetição. Qualquer tentativa, neste sentido, seria mera farsa até crime.

De outro lado o artista, sabendo que esta obra destina-se à morte, o engrandece ao nível sobre-humano. Engrandecimento devido ao seu o triunfo de colocar neste mundo uma forma da obra de arte. Esta obra será vestígio material e positivo que ele deixa desta luta, desta busca e principalmente da vida de que esta obra constitui índice e apesar de sua morte. Todas as civilizações exibem este êxito material dos seus criadores artistas com muito orgulho e por justificadas razões.


Fig. 13 – A morte contendo o registro do tempo. A representação da morte lembrou, em todos os tempos, a finitude e os limites da onipotência, onsciêncai, eternidade e onipresença “ as pinturas, as esculturas e os objetos  das “Vanitas” perpassa as representações realizadas em período de instabilidade. Caveiras adoradas no México a partir das tradições astecas e maias



FONTES
ARTE

Henri Cartier-Bresson (1908-2004) DESENHOS
http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/?p=1229 

CEGUEIRA BRANCA

CEZANNE

Claude RUTAULT

FORMA e ESTÉTICA

FORMALISMO RUSSO

HEGEL
HEGEL Jorge Guilherme Frederico(1770-1831). De lo Bello y sus formas (Estética) Inroduccion  -II – Método a seguir en la inadagación filosófica de  lo bello y dela Arte – Buenos Aires  : Esoasa Calpe Argentina (Coelçaõ Austra – Volume extra) 1946, p. 33.

KITSCH

KLEE, Paul 1879-1940

JOSÉ SARAMAGO Lecciones para la certidumbre   Edmundo Bracho Manuel Guerreiro | 18 DE OCTUBRE DE 1998 

KUNST OHNE WERK Kunstforum fascículo nº 152 –ano 2000

METAFÌSICA nos JARDINS  FRANCESES [ 351 comentários em 26..8.2012]

NATUREZA MORTA

QUEIMA de OBRAS de ARTE

RESTAURADORA DESASTRADA

WAS IS KUNST ? Kunstforum fascículo nº 162 – ano 2002



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domingo, 19 de agosto de 2012

ISTO é ARTE - 043



SÓ o PENSAMENTO PERMANECE.
Nada é transmissível , a não ser o pensamento
Le Corbusier[1] in Boesiger, 1970, p.168.


[1]   BOESIGER, Willy .  Le Corbusier Les Derniers  œuvres  Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8,  208 p
.

http://www.youtube.com/watch?v=ZriW3CPU9G4 Fotograma do filme FAHRENHEIGTH 451. 
Fig. 01 – “Quem é capaz de queimar livros também é capaz de queimar pessoas”. As fogueiras, erguidas pela Inquisição, eram para queimar pessoas singulares que expressavam  o seu pensamento verbalmente. A industrialização criou as câmaras de gazes, progrom’s e campos de extermínio - ao modelo da linha de montagem fabril - para queimar e liquidar multidões, não só por motivos étnicos, mas devido ao modelo de pensamento que tentavam extirpar em franca oposição aquele  que se queria hegemônico, ortodoxo linear e único. 

A permanência do pensamento enseja as mais desesperadas ações para produzi-lo, dar-lhe uma forma linear de comunicação unívoca e universal na espécie humana. Esta mesma permanência do pensamento provoca, no contraponto, as mais inesperadas formas para aniquilá-lo, mudá-lo ou, ao menos, adequá-lo ao poder hegemônico de plantão em cada época e lugar. O século XXI não foge a regra dos demais períodos da História. Ele constitui-se, também num cenário de lutas de pensamentos, de mentalidades e de imaginários em espaços simbólicos em conflito. Porém os entrechoques, entre pensamentos antagônicos, devido á rápida e volumosa circulação das comunicações, são cada vez mais frequentes, mais visíveis e de maior magnitude. 

Fig. 02 – O gigantesco império Persa não teve muita dificuldade inicial para dominar a cidade de Atenas, saquear e incendiar a primitiva Acrópole. Os gregos reagiram por meio de um pensamento individualizado e a raiz do pensamento democrático. Pensamento democrático onde cada cidadão conhece e é competente para expressar em si mesmo o todo da sua identidade cultural. Este pensamento, ao se confrontar com o pensamento persa oriundo do medo e da coerção, soube impor, reverter a catástrofe inicial. Pensamento que transformou a Acrópole de Atenas num dos mais esplêndidos e perfeitos exemplos de harmonia e coerência com a proporção humana. Apesar de este equilíbrio durar pouquíssimo tempo, o pensamento que o alimentou, ressurge em diversos tempos e lugares nos quais os cidadãos são competentes para expressar em si mesmo o todo da sua identidade cultural.

A fortuna, de certos pensamentos tirânicos de moda, pode ser atribuída à preguiça mental de quem recebe e cultiva o pensamento alheio e hegemônico do momento. A escravidão voluntária é menos trabalhosa e oferece menos riscos. Esta capitulação preliminar do destinatário, faz com que o vencedor, das árduas guerras conceituais, na maioria das vezes, seja a mentalidade mais fraca, vulgar e fácil de assimilar. Este pensamento fraco, vulgar e fácil, recebe os louros da fortuna, tornando-se o pensamento hegemônico por longos períodos, largos espaços e para todas as idades humanas.

Fig. 03 – A bem da verdade não foi uma queima generalizada e indiscriminada dos livros promovida pelos nazistas. Mas a queima, desta foto, é aquela realizada em Berlim, na noite de 10 de maio de 1933, dos registros escritos do Instituto da Sexualidade [Institut für Sexualwissenschaft]  que estava pesquisando e mapeando as perversões sexuais de certos líderes nazistas e que se vingaram queimando o acervo desta instituição de pesquisa. O fato serviu para estimular outras queimas de livros apontados como pouco ortodoxos pelo partido nazista

O papel de uma obre de Arte pode ser o de conferir corpo aparente e suporte físico aos sentidos humanos para a felicidade deste pensamento fraco, vulgar e fácil. No contraditório pode constitui-se, também, no índice legível de uma primeira  mudança e a negação de uma longa e larga tradição de um pensamento hegemônico fraco, vulgar e fácil. Evidente que este pensamento reagirá, com todo peso de sua larga tradição, contra esta Arte inovadora, e em nome de uma maioria silenciosa e escravizada.

Fig. 04 – Cartaz nazista anunciando a exposição da Arte degenerada [ENTARTETE KUNST] a ser realizada no dia 19 de julho de 1937 em Munique na Alemanha.  Certamente os ideólogos do partido, e desta exposição, queriam colocar a Arte ao serviço do seu pensamento e ridicularizavam aquela que não se submetia aos seus próprio cânones estéticos que julgavam universais e destinada a durar 1.000 anos. Contudo a obra de Arte sempre foi primordial. Como tal ela é um índice seguro de sua época que estava doente e pervertida nos seus mais altos valores humanos. Assim esta ideologia apenas estava quebrando o seu próprio espelho e negando a sua própria imagem e identidade.

Contudo em ambas as situações, a Arte sempre lida com um corpo físico. Com este seu necessário corpo físico, ela está sujeita à queima, a execração e esquecimento da sua obra sensorial. Devido à sua condição de obra sensorial, a Arte paga tributo à entropia natural, característica de toda criação humana. 

Fig. 05 – Uma foto da exposição da Arte degenerada [ENTARTETE KUNST] inaugurada no dia 19 de julho de 1937 em Munique na Alemanha.  Os ideólogos do partido julgavam os seus próprios cânones estéticos universais e prometiam mantê-los por 1.000 anos. Uma década depois a Alemanha inteira estava dividida ao meio e era uma ruina só bem pior do que as obras premonitórias que desejavam ridiculizar em 1937. A obra de Arte sempre foi primordial e o seu pensamento permanece. Este pensamento está acima de eventuais aventureiros que teimam e colocá-la na sua heteronímia.  Os marqueteiros ou propagandistas, inspirados em ideologias pouco afeitas à autonomia de uma obra de Arte, pouco decidem ou podem. A obra de Arte aufere a sua teleologia que lhe imanente e de longa duração. A sua origem deriva de outras fontes do que a onipotência, a onisciência, a onipresença e a eternidade de que estes aventureiros se julgam  os portadores e legítimos representantes.

O incêndio que consumiu a coleção de quadros no Rio de Janeiro na madrugada do dia 13 de agosto de 2012 está sujeita a esta entropia. Em todos os comentários sobre esta perda física da valiosa e coleção única, surgiu a questão da guarda privada ou pública, contra esta entropia,  deste acervo artístico e as garantias da sua necessária segurança deste seu corpo material.

Fig. 06 – Foto da visita de Adolf Hitler á exposição da Arte degenerada [ENTARTETE KUNST] inaugurada no dia 19 de julho de 1937 em Munique na Alemanha.  Este líder, que prometia um Terceiro Reich, que duraria 1.000 anos, estava diante de obras de Arte que o condenavam e a todos os que acreditavam na sua ideologia, Este tiveram de contemplar uma catástrofe com aparências bem piores do que as obras de  Arte que queriam ridicularizar e colocar ao serviço do seu pensamento.  A obra de Arte na sua primordialidade nem sempre está a serviço de uma beleza aparente e transitória. Os seu universo e teleologia imanente depende da sua coerência com a Verdade. Como tal ela é um índice seguro de sua época que estava doente e pervertida nos seus mais altos valores humanos. Assim nesta exposição, esta ideologia estava quebrando apenas o seu próprio espelho e negando a sua própria imagem e identidade.

A cultura, como a civilização, são passageiras, pois são sustentadas por valores imateriais mutantes, específicos e limitados. Porém uma obra de arte possui também uma sua existência física e material. O pensamento, imanente a esta obra física e a partir de seus interesses maioresenfrenta longos períodos, por meio deste suporte material e em lugares estranhos à sua origem . 

Fig. 07 – A multidão esperando na entrada da exposição da Arte degenerada [ENTARTETE KUNST] inaugurada no dia 19 de julho de 1937 em Munique na Alemanha. A cartaz da exposição anunciava a entrada por 30 pfenigs,(fig.04) mas este anunciava a entrada livre.  Os ideólogos do partido, e desta exposição, estavam corretos ao apostar nos veículos de comunicação industrial e de massa. Porém, ao usá-los, estavam atropelando a autonomia da Arte e o direito do povo em buscar a Verdade.  Verdade de que as obras de Arte que queria ridicularizar eram índices seguros de sua época que estava doente e pervertida nos seus mais altos valores humanos. A coerência entre COMUNICAÇÂO e EXPRESSÃO não poder violentada sob nenhum pretexto ou interesse.

 Sem evidenciar o conhecimento e o reconhecimento destes interesses maiores de uma civilização, a própria criatura humana torna-se indiferente e naturaliza estas obras. Se  não os joga no lixo, ou na fogueira, como descartes inúteis ou mesmo perigosos e degenerados.

Fig. 08 – A arqueologia devolveu algumas obras de arte realizadas, em grande parte,  por escravos gregos a serviço da Roma Imperial. Como exemplo o grande afresco da denominada VILA dos MISTÉRIOS, em Pompéia. A desgraça da cidade e dos seus habitantes foi a salvação de uma das poucas obras de arte romanas entre as numerosas que pereceram devido ao tempo e à barbárie que não entendia o pensamento que lhes era subjacente,

Contudo na medida em que estas frágeis obras conseguem captar e registrar em formas universais o máximo de conteúdo da época e da vida de quem a criou ela terá um futuro. Formas que tomam corpo e suporte físico para os sentidos nas obras de Arte. Obras que se constituírem em índices universais do pensamento humano. 

Fig. 09 – Um dos numerosos desenhos de Leonardo da Vinci para a demorada concepção e execução da sua obra “A Última Ceia”. Como afirmava Miguel Ângelo, DESENHO significa um “DEUS em NÒS”. Esta noção da palavra “Desegno” da sua etimologia ”DIsegnO” que segundo Frederico Zuccaro deriva ao nome de Deus: sendo que as duas primeiras e a última letra do vocábulo Disengno constituem o vocábulo DIO.

A “pintura como algo mental”, na concepção de Leonardo da Vinci, conecta o mundo do pensamento aos signos materiais de uma obra de Arte. Esta se sustenta no mundo empírico, sem renunciar ao seu vínculo de sua origem no mundo imaterial. O campo da Arte estava apto ao banquete do príncipe, servido entre os convivas das demais profissões consideradas superiores e apta para constar na universidade.
Este algo mental que a literatura grega captou dos pintores dos quadros dos pintores helênicos dos quais não sobrou nem um único quadro físico. Apenas a sua cerâmico, ou que permaneceu da pintura romana sob as cinzas do Vesúvio.
A obra escrita de Giorgio Vasari (1511-1574) foi fundamental para a preservação do pensamento que sustentou as obras físicas dos artistas do Renascimento Italiano. Além de pintor foi responsável pela redação do primeiro estatuto de uma academia de Arte ocidental.
O Iluminismo trouxe no seu bojo a obra e o pensamento de Johannes Joachim Winkelmann (1717-1768),  que reabriu, e deu sentido, aos arqueólogos que se debruçaram sobre o pensamento originário da arte romana e da sua raiz no pensamento clássico grego. Simultaneamente os redatores da Enciclopédia Francesa e mantiveram como básico o pensamento originário da Arte, enquanto descartavam as especulações místicas tradicionais e originárias da Idade Média europeia. Este Iluminismo percebia, no pensamento emanado da obra de Arte, uma ponte com o saber cultivado na universidade. Esta ponte foi consolidada por Emanuel Kant (1742-1804).  Antoine Compagnon afirma (1996: 91) que “Kant via no julgamento estético o princípio da comunicação intersubjetiva e de todas as relações sociais, sendo o gosto o modelo da universalidade humana”.
 Entendendo esta mensagem do filósofo, os séculos XIX e XX, foram pródigos em pensadores,  teóricos e profissionais que tiveram por objeto as fontes primordiais das obras de Arte do passado e do seu próprio presente

Fig. 10 – Um fotograma do filme FAHRENHEIGTH 451 que possui por tema um batalhão de incendiários encarregado de buscar e eliminar qualquer livro impresso. Filme de 1966, dirigido por François Truffaut, sobre tema escrito por Ray Bradbury. Debruça-se sobre um futuro no qual é necessário um pensamento linear, fixo e unívoco e decorrente de uma sociedade industrial, que busca eliminar qualquer pensamento alternativo ou divergente da lógica que a informa e a constitui.. 

Diante dos conflitos, das ameaças e das destruições, os profissionais da História da Arte e os seus complementares como arquivistas, museólogos, comunicadores administradores culturais, não podem entrar e permanecer, no campo da Arte, desprevenidos e apenas pela ingênua motivação do “gostar de Arte”. Talvez a entrada seja fácil e até gloriosa. A permanência e a progressão, no campo das forças da Arte, se depender apenas deste “gostar” ingênuo, serão cada vez mais problemáticas e insustentáveis. Ao contrario das ditas Ciências Exatas, nas quais a entrada é dificílima, esta mesma dificuldade discrimina os aventureiros e descarta os menos aptos já no portal de entrada.

Fig. 11 – Uma pintura romana mostra a jovem escritora usando um fino estilete com o qual risca escrevendo na cera escura que cobre a superfície das tabuinhas. Uma espátula alisava estas tabuinhas apagando as anotações provisórias. No caso de o autor querer preservar esta escrita em cera,  as repassava sobre um pergaminho ou sobre rolos de papiros.

A formação do artista, do arquivista, do museólogo, do comunicador e administrador cultural inclui este amplo leque das circunstâncias nas quais se desenvolvem os trabalhos da natureza do trabalho em Arte. Este trabalho no campo das forças da  Arte envolve o pensamento que confere suporte a esta atividade humana. Assim é primordial que estes profissionais estejam aptos e municiados para entender, se posicionar em relação aos inevitáveis confrontos entre pensamentos contrários que atravessam este campo de forças. Não bastam os escudos políticos e econômicos para que estes profissionais estejam protegidos de serem fulminados mortalmente pelas descargas elétricas e pelos raios destas potências em confronto. A atenção, o cultivo e as distinções, inerentes ao pensamento que confere suporte ás obras de Arte autênticas, são testes continuados que irão consagrar ou descartar do campo de forças da Arte os seus candidatos.
A nova era, com os suportes numéricos digitais da rede mundial, só podem disseminar, por si mesmo, as mentalidades mais fracas, vulgares e fáceis de assimilar. Esta rede mundial, com os suportes numéricos digitais, como todos meios anteriores, irá constituir-se em mais um teste continuado e ampliado para consagrar ou descartar, do campo de forças da Arte, tanto o seu emissor como o seu receptor. Esta nova e revolucionaria mídia só terá sentido na medida quando for suporte do pensamento inerente á autênticas obras de Arte.

        Destaca-se o exemplo do filho de Portinari que repassou ao espaço numérico a obra do pai. João Cândido Portinari, como físico experiente, transformou os slides analógicos, cujas cores estavam esmaecendo, em códigos numéricos digitais. De um lado preservou as informações sobre as obras originais em mais uma base de dados que as valoriza. O pensamento de João Cândido está focado em devolver ao povo as informações fidedignas sobre as obras no qual este povo foi e é o protagonista e cujos originais lhe são inacessíveis ou já pereceram fisicamente.

Fig. 12 – O pensamento do caçador da era glacial preservada numa pintura rupestre. As preocupações primárias  e o repertório deste ser humano estão preservados nestes poucos gramas de terra vermelha aplicados sobre uma rocha e comandadas pelo pensamento do seu autor.  Perdemos qualquer som ou língua que esta criatura humana falava. Porém o pensamento do seu autor está preservado na sua obra e graças à atmosfera livre de perturbações estranhas. 

Reinam muitas dúvidas em relação à profissionalização do Historiador da Arte, diante do que foi exposto aqui. Uma destas múltiplas dúvidas refere-se ao próprio candidato. Como todos os candidatos, à algum curso superior, numa universidade autêntica, a sua permanência no campo de forças da Arte, irá depender da sua própria capacidade no cultivo continuado do seu hábito da sua integridade intelectual. Hábito que saberá encontrar meios de vencer a entropia natural, como das queimas físicas, ou as culturais, como os parcos recursos econômicos e as continuadas desqualificações internas e externas ao campo de forças da Arte.

Fig. 13 – A contradição da proibição do uso da parede para escrita polui visualmente estas paredes antes que alguém  intervenha sobre elas.

Só o cultivo deste hábito da integridade intelectual, testado e continuado, saberá dar um suporte continuado ao pensamento de uma época, de um lugar ou de um artista singular.

FONTES

COMPAGNON, Antoine (1950 - ).  O trabalho da citação. Belo Horizonte : Editora UFMG. 1996.  115p http://www.wook.pt/authors/detail/id/920529

ENTARTETE KUNST Munich 19.07.1937

FAHREINHEIT 451 o filme

Institut für Sexualwissenschaft Instituto para o Estudo da Sexualidade de Berlim 1919-1933 e Frankfurt 1973-2006

OBRA DIGITALIZADA de Cândido PORTINARI

QUEIMA de uma PINACOTECA  PARTICULAR  no RIO de JANEIRO

QUEIMA DE LIVROS pelos NAZISTAS  em 10.05.1933 controvérsias

VASARI, Giorgio.  (1511-1574)  Vidas de pintores, escultores y arquitectos [Le vite de’più celebri pittori, scultori e architettori ] Buenos Aires : El Ateneo, 1945, 2 vol il http://www.vasari.art.br/

WINCKELMANN, Johannes Joachim (1717-1768).  Historia del Arte en la antigüedad.     Con un estudo crítico por J.W.Goethe. Introducción y traducción del alemán por Manuel Tamayo Benito. Madrid : Aguilar, 1955.  1285p.

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1º  blog :
SUMÀRIO do 1º ANO de postagens do blog NÃO FOI no GRITO
Vídeo:  http://www.youtube.com/watch?v=qdqXEg7ugxA



Alessandro Gomes - 26 de agosto de 2012
alexesculp@gmail.com 


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Prezado professor Cirio


  Parabéns pelo blog, rico em conhecimentos de uma forma simples prática e objetiva , juntando pedaços da memória e história ,de maneira a desvendar a fonte original de todas as belezas da arte  e as manifestações das ideias,
O que hoje se chama arte parece hoje ser uma tendência de mercado não vem do trabalho do artista e de sua experiência, é pelo dinheiro.
 Meu nome é Alessandro Gomes ,  e as artes impulsionam  minha vida  me deslocam e me colocam no caminho e me acrescentam sempre mais sou entalhador  a já 28 anos, e entre meus trabalhos cito as novas portas da Igreja Nossa Senhora da Conceição e mais recentemente os altares laterais que estavam faltando o que me deu muita honra  pela continuação do trabalho de João de Couto e Silva pessoa de talentos apurados, que emprestou sua alma e corpo para ser conhecido e respeitado
Mas hoje esta difícil ser artista a concorrência é desleal, o que tem de gente, se achando e se dizendo artista é coisa incomum, coitado é do artista que estuda e se aprimora para viver de sua arte antes o artista tinha seu valor e a arte era a sustentação de sua vida, agora o artista de verdade é esquecido e as vezes até em dificuldade financeira, batalhar de sol a sol sua carreira é tarefa dura como de qualquer outro trabalhador e ainda por cima ser jogado para o esquecimento e nem sequer ser lembrado por essas  pessoas e mídia interessadas na futilidade e banalidade  e vulgaridade dessa gente que usa o nome de artista podem ser  o que eles quiserem ser , mais por favor  a vida de artista é muito dura para esses vai tomar o precioso
tempo  de suas vidas e dar muito trabalho mais muito trabalho....
      Envio imagem meus trabalhos porque o site é antigo e desatualizado.

             Grato e um abraço  
 Alessandro Gomes