O PREÇO da COERÊNCIA ou a
NATUREZA
da ARTE é diferente do
SIGNIFICADO da ARTE
Fig.
01 – “MÃO”, detalhe de um pintura de Miguel Ângelo no teto da Capela Sistina. Nesta imagem é possível conferir como o artista
permaneceu coerente com o Desenho e a Pintura de um ESCULTOR. Conforme ditado
popular “conhece-se o artista pela sua
mão”. Contudo, acima desta peculiaridade, esta mão revela a pessoa do
artista capaz de expressar os seus projetos e as circunstâncias da sua criação.
Para tanto o artista recomeçou a obra do teto da Capela Sistina, várias vezes, para
que ela expressasse a coerência entre o seu projeto e com a sua verdade.
Este blog insiste no
tema do “QUE É ARTE” e prioriza o projeto da “NATUREZA da ARTE”. Enquanto
isto remete o tema do “QUE SIGNIFICA a ARTE”, para um plano
posterior, porém não inferior.
Um projeto torna histórica
a criatura humana. Contudo esta historicidade não se encontra na formulação “daquilo
que significa este projeto”. Ao contrário, o teste do “QUE É
ARTE” é o “que ele é em si mesmo”, e não apenas
pela sua propaganda ou pela sua descrição.
Fig.
02 – Uma das versões do nascimento de Atenas que nasce adulta, inteligente e
guerreira da mente de Zeus. No centro deste mito aponta para a dolorosa
ruptura que todo mortal necessita praticar com os conhecimentos anteriores e as
condições necessárias para um saber vivo e dinâmico.
Para o artista o seu preço de um projeto de ARTE
é a coerência entre a obra e a vida do proponente, e preço que é pago por ele.
O fato histórico nasce desta íntima relação. O teste desta historicidade
realiza-se na coerência entre o ENTE e o
SER desta criatura humana. Aristóteles não podia ser mais claro e coerente.
Segundo (1973: 243 114a 10[1])
ele, “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
A natureza das mudanças
mentais e culturais faz com que os mártires paguem com a própria vida esta busca
da coerência com o seu projeto. Novos paradigmas científicos, do mundo, induzem
sábios a pagarem, o seu projeto, com a extrema pobreza, com o desprezo dos
outros e com desqualificações de toda ordem. Os projetos de fornecer novas
fronteiras da percepção humana faz com que artistas enfrentem a condição de
serem qualificados, pela sociedade, como temerários e os mais inúteis.
Fig. 03 – O jovem
Masaccio (Tommaso di Ser Giovanni di Mone
(Simone) Cassai 1401-1428) recriou uma das imagens fundamentais da cultura ocidental Contudo antes de qualquer
sentido é necessário observar a construção com tinta e pincel que ele retomou
de Giotto de Bondone (1266-1337) e se desvia da corrente bizantina e gótica. Na
sua breve existência colocou uma das pedras fundamentais no caminho de Leonardo
da Vinci, Rafael Sanzio e Miguel Ângelo. Num recente restauro evidenciou a
figura universal e atemporal da pessoa
humana com que o Renascimento depositou no humanismo como medida de todas as
coisas.
Os artistas, os sábios e
os mártires são agentes de mudanças estéticas, conceituais e culturais. Na
contramão, nenhum ser humano pretende mudanças radicais e imprevistas, pois
carrega, profundamente no seu inconsciente, o trauma da mudança radical do
útero materno ao mundo externo. Sigmund Freud ainda acentua que qualquer
civilização é aversiva ao ser humano natural.
Fig.
04 – Uma das expressões maiores da Poesia Universal, Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) pagou alto a sua
opção pela sua opção pela arte pura. Nos seus textos, poesia e ditos ele
distingue o campo da das forças da ARTES e as distinguem da forças entrópicas
da NATUREZA.
O marketing e a
propaganda contornam e reforçam esta aversão profunda pela mudança. Para este contorno,
implantam necessidades subliminares, vontades alheias e que parecem naturais.
Necessidades “fabricadas” que impõe a
mediação em relação “o que as coisas significam”. Estas
vontades alheias contornam a necessidade de mudanças essenciais e da própria
natureza humana. Com esta busca de um significado útil – para estes medidores – contornam a natureza “das
coisas” e o trabalhar “o que são”. Levam as vontades alheias do marketing e
propaganda assumirem posições de um professor que busca impor ideologias, das
quais este pseudo mestre se julga estar por cima e por fora. A ética é
descartada neste processo para a fortuna destas vontades alheias. Elas
conduzem, contornam e escamoteiam a natureza “das coisas” e o
trabalhar “o que são”. Os conquistadores das Américas agiam dentro destas
armaduras. Impunham “o que as coisas significavam” para o
“Rei e por Deus”. Os conquistadores
das Américas sempre esta posição ideológica, mesmo diante das mais brilhantes
civilizações. As civilizações das Américas eram desqualificadas, pois não tinham
o menor direito a “SEREM o QUE ERAM” diante do que “significavam” para os
conquistadores. Para estes eram apenas “obras do demônio”.
Fig.
05 – A imagem, acima, evidencia o
significado dos negócios religiosos coerentes com a concepção do
lucro e do fazer. Porém infinitamente distantes de toda concepção, deliberação
e decisão coerente com a natureza da mediação gratuita e autônoma da criatura
humana e o seu Criador.
A corrupção dos ótimos é
péssima. Assim a autonomia humana pode ser corrompida facilmente pela escravidão
voluntária. A recompensa desta corrupção - da renúncia da autonomia e da
vontade própria - é a possibilidade de dissimular e até escapar de qualquer
sanção moral dos seus atos. Esta corrupção contenta-se em usufruir o seu bem
estar pontual apenas “o que as coisas significam” e para ao lucro fácil e amoral. Nesta
corrupção renunciam a “SEREM o QUE SÃO em si mesmos”
perdendo definitivamente o seu projeto e coerência com ele. Para o artista esta
corrupção ocorre quando ele se entrega ao significado econômico e social de seu
projeto.
Fig.
06 – Renan Santos constrói uma imagem do processo de escravidão voluntária. Para
tanto visualiza a contradição do ser
humano enjaulado numa gaiola e do pássaro livre e provedor de quem deseja ser
provido nas suas necessidades básicas além de usufruir da absoluta falta de
sanção moral dos seus atos.
Para os artistas, Nietzsche
apontou para o centro do problema, quando afirmou (2000, p. 134) que .
“A arte não pode ter sua missão na cultura e
formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a
humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido
mais temerário”
Com esta mentalidade este
autor distingue ARTE, de CULTURA e de FORMAÇÂO. No entanto esta distinção não
constitui exclusividade da natureza da Arte e do artista. A natureza da
Democracia e as doutrinas relativas a ela, distinguem-se em condições
semelhantes. Mary FOLLET adverte (apud CARVALHO, 1979, p.60[1])
e põe limites para quem
quiser promove-la de fato:
“só
teremos democracia verdadeira quando os jovens não mais forem doutrinados, mas
formados no caráter da democracia. Portanto o meu dever como cidadão não se
esgotou naquilo que trago para o Estado. Meu teste como cidadão é quão
plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim”.
Evidente que o escravo
não pode expressar em si mesmo o todo no qual se encontra, a sua natureza e sua
própria condição. A opressão o coloca na heteronímia e corta, pela raiz, a
vontade de fugir da sua condição e expressar o todo em si mesmo. Esta distorção
projeta-se no próprio futuro de escravo liberto. Ele reproduz inconscientemente
a condição anterior. Ou pior, no seu frágil equilíbrio do recém liberto, corre
o risco de passar ao papel do opressor com requintes e conhecimento de causa.
[1] CARVALHO, Maria Lúcia R.D. Escola
e Democracia. Subsídios para Um Modelo de Administração segundo as Idéias
de M.P. Follet. São Paulo: E.P.U.
Campinas, 1979. 102p
Fig.
07 – O cartaz clássico de Ciesiewicz
Roman, realizado no ano de 1975.para o
teatro polonês, enfoca a pessoa que perdeu o seu próprio rosto e sua identidade
própria. Imagem coerente com os processos de Marketing e Propaganda que desejam
eliminara e reduzir os consumidores a uma massa uniforme e sem rosto.
O mesmo pode ser dito da
natureza da ignorância, inclusive
diante do maior acúmulo intelectual. É o temor expresso por Tony JUDT quando
afirma que “o maior perigo não está em
ignorar ou não seguir o passado, mas citá-lo - e tentar reproduzi-lo - a partir
da ignorância e da onipotência”. Assim, ele afirma, com frio e calculo do
humor britânico, que “a principal tarefa
do intelectual e filósofos políticos não será o
de imaginar mundo melhores, mas pensar como evitar que sejam piores do
que os atuais”. Evidente esta posição só é possível para quem domina e for competente
para entender o QUE É O PASSADO. Só
após domínio desta questão primordial, o SEU
SIGNIFICADO poderá ser colocado no presente e projetado para o futuro.
Fig.
08– Uma das manifestações de indígenas brasileiros ao longo do evento da RIO 92 +
20. Apesar do meio milênio de dominação europeia aa cultura ancestral
continua sendo cultivada e os seus rituais adequados ao novos tempos de
internacionalização planetária.
As condições, de uma
ruptura epistêmica saudável e produtiva, estão na possibilidade, de quem a
pratica, entender a natureza daquilo QUE
FOI O SEU PASSADO com o qual está rompendo. Esta ruptura é obra de quem
delibera e decide. Neste “deliberar e decidir” inclui-se administrar
as perdas, como ocorre em toda escolha consciente. A obra do escravo não possui
valor moral e estético, pois ele “não
delibera e nem decide” por si mesmo.
Fig. 09 – O emblema da Universidade do Brasil que foi colocada, em
1931, como paradigma das demais
universidades nacionais ostenta a efígie da deusa Atenas(Minerva) que
venceu o concurso para ser a protetora dos atenienses ao lhes ofertar um muda
de oliveira, A sua efigie evoca o seu nascimento mitológico como
guerreira, adulta, e virgem.
O mal estar, a
necessária ruptura da sua condição anterior e os sofrimentos do que sentiria o
Pai dos Deuses, neste ato, foram projetados para o interior do plano humano na
mitologia grega e descritos na cena do nascimento de Atenas. No entanto em
qualquer mudança - consciente ou inconsciente - estes sofrimentos e mal estar
decorrentes são idênticos aqueles que todo ser humano atravessa no momento de
assimilar um novo saber. Se estas mudanças quiserem ser coerentes, elas impõe
uma atenção integral para a nova escolha, além da disposição dos preços a pagar
nas respectivas perdas, mesmo para os que estão mais habituados a esta rotina
de crescimento.
Fig.
10 – A imagem de Helios SEELINGER (1878-1956) que tenta dar forma e cor aos
impulsos republicanos numa pintura é coerente com estes sentimentos vagos, não
lineares e não unívocos.
Este site insiste no QUE É ARTE ou o QUE NÂO É ARTE e passa para um plano posterior a questão do SIGNIFICADO da ARTE. No entanto não pode deixar de reconhecer que
a OBRA de ARTE É PRIMORDIAL para poder responder O QUE É ou NÂO É ARTE.
FONTES
Tony Judt e a CULTURA do SÉCULO XX
ESCRAVOS
no MUNDO
Amériques États-Unis Près de 27 millions d'esclaves dans le monde,
selon un rapport américain
Le Monde.fr avec AFP | 20.06.2012 à 12h01 • Mis à jour le
20.06.2012 à 12h01
LUTAS MARCIAIS
para FIEIS de IGREJA
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