sábado, 25 de junho de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 22

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

MÚMIAS não são ARTE.

A MORTE é universalmente temida pelos seres vivos e esconjurada por todos os meios ao seu alcance. A humanidade criou os mais diversos rituais para conviver com a idéia da MORTE com um mínimo de civilização, pois sabe que este é o seu destino final.


http://dementia.pt/o-bizarro-restaurante-caixao/

Fig. 01 – UCRANIA Restaurante

No pólo oposto a humanidade nega-se a se entregar ao que sabe que é o seu destino final. Para isto buscou formas de esquecer como aquelas de cremar e de deletar tudo aquilo que se relaciona a esta lembrança incômoda e assustadora.

Entre estes extremos a criatura humana estetizou e usou amplamente ARTE para esconjurar este conhecimento o terrível e inconcebível destino de todo ser vivo.


Fig. 02 – TUTANCAMON: máscara de ouro e esmaltes colocada sobre a múmia do jóvem faraó

Contudo a ARTE não se intimida à estetizar a MORTE ou a se reduzir face ao conhecimento do seu destino final. Ao contrário o seu desafio maior é incrementar projetos que ampliem e dignifiquem estes limites e temores universais representados pela da MORTE. No coração de cada obra de ARTE existe uma proclamação e uma mensagem daquilo que foi possível fixar e ampliar no interior do limite e do desafio representado pela MORTE.


Fig. 03 – TUTANCAMON a múmia embalsamada e depois coberta por três máscaras

Todas as espécies reconhecem os seus semelhantes mortos. A MORTE constitui algo concreto, contrário à VIDA e um limite como retorno impossível. Na medida em que a ARTE é manifestação da VIDA, ela constituiu os mais variados registros do terror da MORTE. Os trabalhos cemiteriais materializam esta estetização do inexplicável empreendida por esta humanidade. Esta manifestação é um entre tantos outros registros diretos desta possibilidade humana de conceber os seus próprios limites e de ampliar tudo o que se passa ao longo de uma vida humana.


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/19/arts/design/20110619-WIC-ss-2.html

Fig. 04 - MÚMIA e ESTUDANTES in NYT - 20.06.2001

No plano social a MORTE é algo que atinge a todos e no plano individual coloca o EU diante de sua finitude. Contudo esta finitude não é estática, fixa e dada de antemão. Com esta elasticidade deste limite permitiu um imenso espaço a ser conquistado. Neste espaço construído contra uma Natureza revelam-se os mais variados e criativos espaços. Onde existe criatividade afirma-se um espaço para a ARTE.


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/17/arts/design/20110617-MUMMIES-7.html

Fig. 05 - MÚMIA e ESTUDANTES in NYT - 20.06.2001

Em terras brasileiras, de rituais antropofágicos, de sambaquis e de urnas funerárias, a MORTE possui as mais variadas leituras. Leituras que vão da HONRA de mostrar a valentia a ser devorada fisicamente pelos seus inimigos, ao lixo de um sambaqui até os rituais comemorativos do QUARUP e das enfeitadas urnas funerárias.


Fig. 06 – QUARUP em aldeia indígena brasileiera

Estes rituais primevos foram continuados pelos monumentos aos guerreiros que sacrificaram a sua VIDA pela pátria, pelas comemorações dos finados e pelos vastos cemitérios coloniais e imperiais brasileiros que culminaram na Belle Epoque. O lixo industrial e o consumismo levaram aos lixões e a necessidade de administrar os vestígios do passado recente. Nesta administração a cultura contemporânea retorna às formas etruscas e romanas de lidar com os seus mortos.


Foto Círio SIMON

Fig. 07 – CAMPINA GRANDE – Paraíba – Túmulo residência no cemitério municipal.

Para esta cultura contemporâneas - com raízes brasileiras - é inconcebível que intelectuais e políticos estejam ruminando e estetizando múmias embalsamadas mesmo aquelas da modernidade européia e norte-americana recente. Esta regurgitação de múmias afasta, destes antropófagos da modernidade, qualquer um que queira alimenta-se da antropofagia da pós-modernidade local e também disponível na rede numérica digital planetária. Estes infelizes refugiados numa modernidade anacrônica, são tragados e silenciados pela torrente das idéias de novas gerações que percebem nos retardatários presos à ruminação de Gramsci, de Lênin e de Marx. Passam a categoria de sacerdotes de cultos e estetização de múmias sem sentido para as circunstâncias da pós-modernidade.


Fig. 08 - ZOFFANY Joahannes Josephus - 1733-1810 - Royal Academy - c.1771

Multidão que não mais reage às suas ideologias nas quais eles ainda se julgam oniscientes, onipotentes, universais e eternos. O “todo orgânico da consciência coletiva” proposto por Mário de Andrade não se interessa em estetizar múmias de cadáveres, pretendida pelos interesses limitados dos sacerdotes da antropofagia redivivos e sob os capas da pós-modernidade.

Na sua conferência, de 1942, Mario da Andrade evocava os resultados culturais da Semana de Arte Moderna de 1922. Ele havia sido umas das figuras centrais desta Semana. A sua conferência ocorria no auge desta ditadura que entrava em guerra com o Eixo. Mário coloca como primeiro principio da nacionalidade a busca da construção de uma consciência coletiva, contra estetização de múmias ou de um ecletismo para covardes. Em 1938 ele se indispusera com a estetização de múmias e do ecletismo tolerado ou promovido pelo Estado Novo.


Fig. 09 – Cena do filme PLANETA dos MACACOS 1967 Todas as espécies reconhecem os seus semelhantes mortos.

Contudo as universidades brasileiras, nas mãos de tais sacerdotes da estetização de múmias, populismo e ecletismo, tornaram-se instrumentos de heteronomia nas mãos das culturas planetárias hegemônicas e da reprodução interna da burocracia, no seu afã de regurgitarem os cadáveres do passado. O nacionalismo que dizem defender e procuram dar os últimos alentos mergulha em certezas infantis do século XX são tão condenáveis como as senis incertezas planetárias da poluída e imponderável atmosfera do século XXI. Como não é mais possível retornar à proporção da criatura humana como medida de todas as coisas também não é possível aceitar a desproporção do rebanho humano gerado pelas percepções da tecnologia comandada pelos instrumentos numéricos digitais.


http://adrianolobao.blogspot.com/2010/05/rembrandt-bilac.html

Fig. 10 – Rembrandt Harmeszoon Von Rjijn(1606-1669) A lição do Dr, Tulp (1632)

A homeostase múltipla, provocada por estas certezas infantis cultivadas por aqueles que se julgam oniscientes, onipotentes, universais e eternos, defronta-se com as incertezas senis daqueles que pensam e agem alertados pela entropia permanente que qualquer construção humana ou natural sofre de uma forma constante e irreversível.

Ninguém cogita na antropofagia ritual dos cadáveres recentes ou antigos embalsamados e nem deletá-los ou cremá-los num ato de anarquia infantil. Apenas propõe-se seguir o seu exemplo de consumir a mentalidade nacional ou dos seus contemporâneos universais vivos e que ainda possuíam sentido para o seu presente. Presente que, para ele, era o pré-revolucionário de 1930 e que também já foi embalsamado e que alguns ameaçam colocados nos altares, enquanto outros querem o contrário e remetê-los ao crematório.


Foto Círio SIMON

Fig. 11 – Adriano PITTANTI (1837-1917) dizeres da lápide do seu próprio túmulo e dos seus familiares erguido no antigo cemitério público de Novo Hamburgo.

O pensamento permanece, em tempos de idolatria do efêmero ou da cremação física e de deletação virtual e qualquer mensagem. Ele adquire vigor e vida na medida de sua coerência com o seu tempo, lugar e cultura. Não é a estetização deste pensamento que fornece o passaporte para o futuro. Este passaporte dependa da energia e condições para incrementar projetos que ampliem e dignifiquem estes limites e temores universais representados pela MORTE. Neste sentido as artes plásticas e visuais possuem registros em todos os recantos do planeta e desde períodos anteriores a qualquer outra civilização da qual se tenha outros registros. Não é o tema, não é a técnica ou os sentimentos que garantem esta permanência na História de Longa Duração, mas a força da mentalidade coerente com o tempo e lugar que garantem esta sobrevida da ação humana. As múmias não esgotam esta competência humana.

FONTES

ANDRADE, Mario O movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de 1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942, p.45.

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BELLOMO. Cemitérios do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros. Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1972, v.I e II.



Foto Círio SIMON

Fig. 12 – Adriano PITTANTI (1837-1917) dizeres do frontão do seu próprio túmulo e dos seus familiares erguido no antigo cemitério público de Novo Hamburgo.

FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS

MÚMIAS e ESTUDANTES

http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/17/arts/design/20110617-MUMMIES-7.html

http://www.nytimes.com/2011/06/17/arts/design/mummies-of-the-world-franklin-institute-review.html?_r=1&gwh=09A9797512CF397442BD13DD47ED4346

CEMITÉRIOS UCRANIANOS PÒS-MODERNOS

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/06/cemiterio-exotico-de-familias-mafiosas-vira-atracao-na-ucrania.html

http://www.pessoal.utfpr.edu.br/zasycki/ - corrige anterior

http://dementia.pt/o-bizarro-restaurante-caixao/

CEMITÉRIOS da IMIGRAÇÃO ALEMÂ no RS

http://cemiteriosalemaes.blogspot.com/

http://www.spectrumgothic.com.br/gothic/acervo_cemiterial/arte_cemiterial.htm

http://www.rootsweb.ancestry.com/~brawgw/cemiteriosi.html

OLAVO BILAC e a LIÇÂO do Dr. TULP de Rembrandt

http://adrianolobao.blogspot.com/2010/05/rembrandt-bilac.html

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